quinta-feira, 7 de março de 2024

Deus Amigo


    Com Sua Doutrina de renascimento espiritual, e assim de aperfeiçoamento das relações humanas, Nosso Salvador ensinou que entre os Apóstolos não haveria autoridade nos moldes da que vemos no mundo: "Jesus, porém, chamou-os e disse-lhes: 'Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as tiranizam. Não seja assim entre vós. Todo aquele que entre vós quiser tornar-se grande, faça-se vosso servo. E aquele que entre vós quiser tornar-se o primeiro, faça-se vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar Sua vida em resgate por uma multidão." Mt 20,25-28
    E para que isso ficasse bem claro, Ele deu um emblemático exemplo logo após a Santa Ceia, quando lavou os pés de todos, inclusive os de Judas: "Depois de lavar-lhes os pés e tomar Suas vestes, novamente sentou-Se à mesa e perguntou-lhes: 'Sabeis o que vos fiz? Vós chamai-Me Mestre e Senhor, e assim bem dizeis porque Eu o sou. Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, lavei-vos os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, também façais vós. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: o servo não é maior que Seu Senhor, nem o enviado é maior que Aquele que o enviou. Se compreenderdes e praticardes estas coisas, sereis felizes." Jo 13,12-17
    Outra grande inovação foi Seu amigável modo de tratar a todos. Isso encantava quem O conhecia, pois realmente agia com naturalidade. Ele recomendava: "... aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas." Mt 11,29
    Até nas acusações que Lhe faziam os falsos religiosos, Jesus era reconhecido por Seu amistoso proceder para com os mais afastados da . Diziam d'Ele: "É um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores." Mt 11,19
    Ao paralítico, descido numa maca através do telhado, Ele vai curar-lhe primeiro a alma, o que também fez com docilidade: "Meu amigo, teus pecados são-te perdoados." Lc 5,20
    E a Paz, realmente sobrenatural, que Ele derramou sobre Seus Apóstolos para que a distribuíssem, jamais se perderá: "Em qualquer casa em que entrardes, primeiro dizei: 'A Paz esteja nesta casa.' Se ali morar algum amigo da Paz, vossa Paz repousará sobre ele. Senão, ela retornará a vós." Lc 10,5-6
    Na parábola dos trabalhadores, na qual aqueles que começaram no fim do dia recebem o mesmo salário daqueles que trabalharam todo dia, Ele cordialmente responde a quem Lhe reclama de uma suposta injustiça: "Amigo, Eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que Me pertence?" Mt 20,13.15
    De outro que reclamava do irmão sua parte da herança, Ele delicadamente recusa a arbitragem: "Meu amigo, quem Me constituiu juiz ou árbitro entre vós?" Lc 12,14
    Assim como não julgou a mulher flagrada em adultério nem os escribas e fariseus, que dela se valeram para colocá-Lo à prova: "Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes: 'Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' Novamente inclinando-Se, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados pela própria consciência, eles foram-se retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante d'Ele. Então Se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: 'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: 'Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.'" Jo 8,7-11
    E àquele que numa parábola se comporta com humildade, sentando-se nos últimos lugares mesmo sendo importante pessoa, Jesus assim Se dirige: "Amigo, vem mais para cima." Lc 14,10
    A alegria por um pecador que se salva, em comparação a de quem acha uma ovelha perdida, segundo Ele deve ser repartida entre amigos: "... e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo: achei minha ovelha que se havia perdido.'" Lc 15,6
    E quando Lázaro faleceu, Jesus, numa das pouquíssimas vezes em que foi visto chorando, a ele referiu-Se com ternura: "Nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo." Jo 11,11


    Mesmo quando tratava das mais sérias questões, Ele amistosamente falava à multidão: "Digo-vos, Meus amigos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois disto nada mais podem fazer. Mostrá-vos-ei a Quem deveis temer: temei Àquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno! Sim, eu digo-vos: a Este temei." Lc 12,4-5
    Pois, como ensinava, a construção do Reino de Deus resume-se em fazer amigos, mesmo que estejamos nas situações de maior pecaminosidade: "Eu digo-vos: fazei-vos amigos com a injusta riqueza, para que, no dia em que ela vos faltar, eles recebam-vos nos eternos tabernáculos." Lc 16,9
    Desiludindo avarentos e ambiciosos, porém, deixava claro que não havia como enganar a Deus: "Ora, ouviam tudo isto os fariseus, que eram amigos do dinheiro e d'Ele zombavam. Jesus disse-lhes: 'Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece-vos os corações. Pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.'" Lc 16,14-15
    Mas até ao repreender um invasor, como se vê na parábola das Núpcias do Cordeiro, Ele vai ser afável: "Meu amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?" Mt 22,12
    E ao revelar Sua divina natureza, tranquilizou os principais dos judeus, afirmando Sua bondade: "Não julgueis que hei de acusar-vos diante do Pai. Há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais vossa esperança." Jo 5,45
    Contudo, advertia-os da imparcialidade e da perenidade da Divina Justiça: "Se alguém ouve Minhas palavras e não as guarda, Eu não o condenarei. Porque não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me despreza e não recebe Minhas palavras, tem quem o julgue: a Palavra que anunciei julgá-lo-á no Último Dia." Jo 12,47-48
    A dois dos Apóstolos, os filhos de Zebedeu, Ele já havia dito algo parecido num dia em que os samaritanos não os acolheram: "Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e os consuma?' Jesus voltou-Se e repreendeu-os. 'Não sabeis de que Espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.'" Lc 9,54-56a
    Realmente não Se prevalecia de Sua divindade, e tratava os Apóstolos como amigos: "Vós sois Meus amigos, se fazeis o que vos mando." Jo 15,14
    E explicou: "Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz Seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." Jo 15,15
    Esse não era um aparente costume, ou só internamente usado. Ele vai falar em amigos até para os seguidores de São João Batista, ao afirmar Sua presença como Deus entre os homens: "Podem os amigos do Esposo afligir-se enquanto o Esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o Esposo, então eles jejuarão." Mt 9,15
    Ora, o próprio Batista, que era parente de Jesus, identificava-se com um 'amigo do Esposo': "Aquele que tem a esposa é o Esposo. O amigo do Esposo, porém, que está presente e O ouve, regozija-se sobremodo com a voz do Esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,29
    Nosso Salvador usava de mansidão até para corrigir Seus opositores: "Jesus dirigiu-Se aos doutores da Lei e aos fariseus: 'É permitido ou não fazer curas no dia de sábado?' Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. Depois, dirigindo-Se a eles, disse: 'Qual de vós, se lhe cair o filho ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado?' A isto, nada Lhe podiam replicar." Lc 14,3-6
    Para nossa perfeita instrução, como parâmetro Ele deixou a dimensão de Seu amor: "Ninguém tem maior amor que Aquele que dá Sua vida por Seus amigos." Jo 15,13
    Não por acaso, Seu mais difícil ensinamento trata exatamente de amor aos inimigos: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?" Mt 5,43-46
    E como exemplo da bondade de Deus, Ele mencionou o Santo Paráclito como um presente: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que LhO pedirem." Lc 11,13
    Assim como a Si próprio: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu Seu Único Filho, para que todo aquele que n'Ele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna." Jo 3,16
    Inimigo mesmo, Ele só considerava Satanás, como explicou na parábola do joio e do trigo: "O inimigo, que o semeia, é o Demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos." Mt 13,39
    De fato, pouco antes de ser traído, Jesus vai chamar o próprio Judas Iscariotes de amigo: "Amigo, faz já o que tens a fazer." Mt 26,50
    Ironicamente, como sempre se flagra nas ações do Demônio, contra Jesus até os poderosos faziam as pazes: "Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes eram inimigos." Lc 23,12
    Mas Ele próprio não Se entregou à ira nem mesmo contra aqueles que O crucificavam: "E Jesus dizia: 'Pai, perdoa-lhes. Porque não sabem o que fazem.'" Lc 23,34
    E quando pela primeira vez apareceu aos Apóstolos, foi amável até para demonstrar-lhes que realmente havia ressuscitado na carne: "Amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?" Jo 21,5
    De São Pedro, pela extrema responsabilidade ao lhe confiar a Igreja, Ele cobrou a fidelidade de uma verdadeira amizade: "Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se ele O amava." Jo 21,17
    E era exatamente isso que Ele reclamava dos religiosos judeus: "Não espero Minha Glória dos homens, mas sei que em vós não tendes o amor de Deus." Jo 5,41-42
    São Paulo também testemunhou a redentora amistosidade de Deus, que Jesus encarnou: "Mas eis aqui uma brilhante prova do amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Se quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,8-10
    E recomendava este proceder aos tessalonicenses: "Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele. Porém, não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão." 2 Ts 3,14-15
    São Tiago Menor, por sua vez, rememorou como se deu a fundação de Israel: "Assim se cumpriu a Escritura, que diz: 'Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus' (Gn 15,6)." Tg 2,23
    Isso foi percebido pelo Eclesiástico: "Nada é comparável a um fiel amigo, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um fiel amigo é um remédio de Vida e imortalidade. Quem teme ao Senhor, achará esse amigo." Eclo 6,15-16
    E inspirou um cântico do salmista: "Sou amigo de todos aqueles que Vos temem e daqueles que seguem Vossos preceitos. De Vossa bondade, Senhor, está cheia a terra. Ensinai-me Vossas leis." Sl 118,63-64
    A traição de Judas Iscariotes foi profetizada por ele: "Até o próprio amigo em que Eu confiava, que partilhava do Meu pão, contra Mim levantou o calcanhar." Sl 40,10
    Prefigura de Cristo, o rei Davi também lamentou a traição de onde menos se espera: "Se o ultraje viesse de um inimigo, eu tê-lo-ia suportado. Se a agressão partisse de quem me odeia, dele me esconderia. Mas eras tu, meu companheiro, meu íntimo amigo, com quem me entretinha em doces colóquios, com quem, por entre a multidão, íamos à Casa de Deus." Sl 54,13-15
    Falando de maravilhas, que incluem os Anjos da Guarda, nossos divinos amigos, São Paulo garante: "É como está escrito: 'Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4)', tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam." 1 Cor 2,9
    E os Provérbios já sinalizavam para a recomendação que Jesus daria, de amar até mesmo nossos inimigos: "Tem fome teu inimigo? Dá-lhe de comer. Tem sede? Dá-lhe de beber. Assim amontoarás ardentes brasas sobre sua cabeça, e o Senhor recompensá-te-á." Pr 25,21-22
    São Tiago Menor, porém, não deixava de denunciar as traições ao Pai: "Adúlteros, não sabeis que o amor ao mundo é abominado por Deus? Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus!" Tg 4,4
    Diante de situações de grande afronta à Verdade, portanto também ao Evangelho, São Paulo severamente repreende um mago que tentava perverter o procônsul da ilha de Pafos: "Filho do Demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os retos caminhos do Senhor!" At 13,10
    O próprio Jesus havia desenganado os falsos religiosos: "Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque nele não está a Verdade. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Quem é de Deus ouve a Palavra de Deus, e se vós não a ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,44-47
    Por isso, aos Apóstolos deu efetiva condição para essa batalha: "Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo poder do inimigo." Lc 10,19
    A Igreja, pois, ainda que por vezes reduzida a um pequeno resto, Ele próprio declarou invencível: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18
    Porque é Ele mesmo, como acima se lê, que a edifica. E garante sua perenidade: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a
    Ele promete às Suas ovelhas: "... ninguém as roubará de Minha mão. ... ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai." Jo 10,27a.28b.29b
    São Pedro, entretanto, avisa que o Juízo começará pela Igreja: "Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17
    Mas certa é a Vitória de Cristo, como São Paulo revelou citando altas hierarquias de anjos caídos: "Então virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos inimigos debaixo de Seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus tudo sujeitou debaixo de Seus pés." 1 Cor 15,24-26
    Sofrendo a hostilidade na própria pele, e em questionamento aos gálatas, ele levanta a verdadeira razão de tantos ataques aos escolhidos de Deus: "Tornei-me, acaso, vosso inimigo, porque vos disse a Verdade?" Gl 4,16
    Todavia, primando por valores como paciência e mansidão, aí ele via o 'bom combate', como exortou São Timóteo: "Mas tu, ó homem de Deus, foge desses vícios e com todo empenho procura a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé." 1 Tm 6,11-12a
    Pois com amor esperava seu encontro com Jesus: "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me, agora, receber a coroa da justiça que o Senhor, Justo Juiz, me dará naquele Dia. E não somente a mim, mas a todos que com amor aguardam Sua Aparição." 2 Tm 4,7-8
    Ele deu detalhes desse combate, cujas armas claramente são espirituais: "Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, por Seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do Demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. Tomai a armadura de Deus, portanto, para que possais resistir nos maus dias e manter-vos inabaláveis no cumprimento de vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos inflamados dardos do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da Salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus. Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,10-18
    Como testemunho da divina proteção, o rei Davi relatou uma mística batalha, cujo resgate também foi sobrenatural: "Circundavam-me os vagalhões da morte, devastadoras torrentes atemorizavam-me, enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos e a própria morte prendia-me em suas redes. Em minha angústia, invoquei o Senhor, gritei a Meu Deus. De Seu Templo, Ele ouviu minha voz, e meu clamor em Sua presença chegou a Seus ouvidos. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus Se abrasou em cólera: Suas narinas exalavam fumaça, Sua boca, fogo devorador, incandescentes brasas. Ele inclinou os céus e desceu, calcando aos pés escuras nuvens. Cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento. Envolveu-Se nas trevas como se fossem véu, das tenebrosas águas, densas nuvens, para Si fez uma tenda. Do esplendor de Sua presença, Suas nuvens avançaram: saraiva e centelhas de fogo. Dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ressoar Sua voz. Lançou setas e dispersou os inimigos, fulminou relâmpagos e desbaratou-os. E apareceu descoberto o leito do mar, ficaram à vista os fundamentos da terra ante a Vossa ameaçadora voz, ó Senhor, ante o furacão de Vossa cólera. Do alto estendeu Sua mão e pegou-me, e retirou-me das profundas águas, livrou-me de poderoso inimigo, de meus adversários, mais fortes que eu." Sl 17,5-18
    Ele cantava: "Para ficarem livres vossos amigos, ajudai-nos com Vossa mão, ouvi-nos. Dai-nos auxílio contra o inimigo, porque vão é qualquer socorro humano." Sl 59,7.13
    Eis que São Paulo prega o dom da fortaleza, isto é, que não nos intimidemos diante de ameaças à integridade do rebanho: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição, mas para vós, de Salvação. E é a vontade de Deus, porque vos é dado não somente crer em Cristo, mas também por Ele sofrer." Fl 1,27-29
    Ele recomenda perseverançafalando em contrição e serenidade: "Rejeita as tolas e absurdas discussões, visto que geram contendas. Não convém a um servo do Senhor altercar. Bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deves corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do Demônio, que os mantém cativos e submetidos a seus caprichos." 2 Tm 2,23-26
    Lembra a importância do amor para com nossos Sacerdotes: "Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que entre vós arduamente trabalham para dirigir-vos e admoestar-vos no Senhor. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,12-13
    Além, claro, de invocar a inspiração do próprio Divino Espírito: "Procedei com Sabedoria no trato com os de fora. Sabei aproveitar todas circunstâncias. Que vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal, e sabei responder a cada um devidamente." Cl 4,5-6
    Enquanto mais importante traço de Sua Personalidade, seja humana, seja divina, a amistosidade de Jesus é mais um sinal do Mandamento que Ele nos deixou: "Dou-vos um novo Mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, vós deveis amar-vos uns aos outros. Este é Meu Mandamento..." Jo 13,34;15,12
    Por fim, sobre o tema temos esta luminosa frase de São Luís Maria Grignion de Montfort: "Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, irreconciliável inimizade, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, Sua digna Mãe, e o Demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o Demônio."

    "Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!"