terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Santo Estevão


    Primeiro mártir, Santo Estevão era um dos sete primeiros diáconos, ainda jovem escolhido para trabalhar em serviços da 'administração' da Igreja. Mais especificamente, para partilhar o Pão entre as viúvas de origem grega, que estavam sendo preteridas, e assim os Doze Apóstolos ficavam mais disponíveis para celebrar e catequizar: "Nós atenderemos sem cessar à oração e ao Ministério da Palavra." At 6,4
    E assim foi feita a indicação e a ordenação deles, quando o nome de nosso Santo é citado pela primeira vez: "Esse parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos Apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos." At 6,5-6
    Mas nosso diácono acabou por destacar-se exatamente no carisma da catequese, como inspirado evangelizador. Suas prédicas eram irresistíveis, muitos judeus converteram-se ao ouvi-lo. Desconcertados, alguns até tentavam debater com ele: "Não podiam, porém, resistir à Sabedoria e ao Espírito que o inspirava." At 6,10
    Ademais, por ele Deus operava maravilhas: "Estêvão, cheio de Graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo." At 6,8
     Subornaram, então, algumas testemunhas para incriminá-lo por blasfêmia contra o Templo e contra Moisés, e, amotinando o povo, os anciãos e os escribas, levaram-no ao Sinédrio, para julgá-lo: "Apresentaram falsas testemunhas que diziam: 'Este homem não cessa de proferir palavras contra o santo lugar e contra a Lei. Nós ouvimo-lo dizer que Jesus de Nazaré há de destruir este lugar e há de mudar as tradições que Moisés nos legou.'" At 6,13-14
    Nosso Santo, porém, já dava claros sinais da pureza de seu coração: "N'ele fixando os olhos, todos membros do Grande Conselho viram seu rosto semelhante ao de um anjo." At 6,15
    E ao inquiri-lo, dele ouviram uma belíssima pregação: 

    "Irmãos e pais, escutai. O Deus da Glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ele estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã. E disse-lhe: 'Sai de teu país e de tua parentela, e vai para a terra que Eu te mostrar (Gn 12,1).' Ele saiu da terra dos caldeus, e foi habitar em Harã. Dali, depois que lhe faleceu o pai, Deus fê-lo passar para esta terra, em que vós agora habitais. Não lhe deu nela propriedade alguma, nem sequer um palmo de terra, mas prometeu dar-lha em posse, e depois dele à sua posteridade, quando ainda não tinha filho algum. Eis como falou Deus: 'Tua descendência habitará em terra estranha, e será reduzida à escravidão e maltratada pelo espaço de quatrocentos anos. Mas Eu julgarei a nação que os dominar,' diz o Senhor, 'e eles sairão e neste lugar prestá-Me-ão culto' (Gn 15,13s.; Ex 3,12).' E deu-lhe a Aliança da circuncisão.
    Assim, Abraão teve um filho, Isaac, e, passados oito dias, circuncidou-o. E Isaac, a Jacó, e Jacó, aos doze patriarcas. Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no ao Egito, mas Deus estava com ele. Livrou-o de todas suas tribulações e deu-lhe Graça e Sabedoria diante do faraó, rei do Egito, que o fez governador do Egito e chefe de sua casa. Sobreveio, depois, uma fome a todo o Egito e Canaã. Grande era a tribulação, e nossos pais não achavam o que comer. Porém quando Jacó soube que havia trigo no Egito, pela primeira vez enviou nossos pais para lá. Na segunda, José foi reconhecido por seus irmãos, e ao faraó revelou-se sua origem. Enviando mensageiros, José mandou vir seu pai Jacó com toda sua família, que constava de setenta e cinco pessoas. Jacó desceu ao Egito e ali morreu, como também nossos pais. Seus corpos foram trasladados para Siquém, e foram postos no sepulcro que Abraão tinha comprado, a peso de dinheiro, dos filhos de Hemor, de Siquém.
    Aproximava-se o tempo em que se realizaria a promessa que Deus havia jurado a Abraão. O povo cresceu e multiplicou-se no Egito, até que se levantou outro rei no Egito, o qual nada sabia de José. Este rei, usando de astúcia contra nossa raça, maltratou nossos pais e obrigou-os a enjeitar seus filhos para privá-los da vida. Por este mesmo tempo, nasceu Moisés. Era belo aos olhos de Deus e por três meses foi criado na casa paterna. Depois, quando foi exposto, a filha do faraó recolheu-o e criou-o como seu próprio filho. Moisés foi instruído em todas ciências dos egípcios, e tornou-se forte em palavras e obras. 
    Quando completou 40 anos, veio-lhe à mente visitar seus irmãos, os filhos de Israel. Viu que um deles era maltratado, tomou-lhe a defesa e vingou a injúria que ele padecia, matando o egípcio. Ele esperava que seus irmãos compreendessem que Deus Se servia de sua mão para livrá-los, mas não o entenderam. No dia seguinte, dois dentre eles brigavam, e ele procurou reconciliá-los: 'Amigos', disse ele, 'sois irmãos! Por que vos maltratais um ao outro?' Mas o que maltratava seu compatriota repeliu-o: 'Quem te constituiu chefe ou juiz sobre nós? Porventura queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio?' A estas palavras, Moisés fugiu. E esteve como estrangeiro na terra de Madiã, onde teve dois filhos.
    Passados quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do Monte Sinai um anjo, nas chamas de um arbusto. Moisés, admirado de tal visão, aproximou-se para examiná-la. E a voz do Senhor falou-lhe: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó.' Moisés, atemorizado, não ousava levantar os olhos. O Senhor disse-lhe: 'Tira teu calçado, porque o lugar onde estás é uma terra santa. Considerei a aflição de Meu povo no Egito, ouvi seus gemidos e desci para livrá-los. Vem, pois, agora, e Eu enviá-te-ei ao Egito.'
    Este Moisés que desprezaram, dizendo: 'Quem te constituiu chefe ou juiz?', a este Deus enviou como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu no arbusto. Ele fê-los sair do Egito, operando prodígios e milagres na terra do Egito, no mar Vermelho e no deserto, por espaço de quarenta anos. Foi este Moisés que disse aos filhos de Israel: 'Dentre vossos irmãos, Deus suscitará  um Profeta como eu.' É este que esteve entre o povo congregado no deserto, com o anjo que lhe falara no Monte Sinai e com nossos pais, e que recebeu palavras de Vida para transmitir-nos. 
    Nossos pais não lhe quiseram obedecer, mas repeliram-no. Em seus corações, voltaram-se para o Egito, dizendo a Aarão: 'Faze-nos deuses, que vão diante de nós, porque quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que dele foi feito.' Fizeram, naqueles dias, um bezerro de ouro e ofereceram um sacrifício ao ídolo, e alegravam-se diante da obra de suas mãos. Mas Deus afastou-Se e abandonou-os ao culto dos astros do céu, como está escrito no livro dos Profetas: 'Porventura, Casa de Israel, vós ofereceste-Me vítimas e sacrifícios por quarenta anos no deserto? Aceitastes a tenda de Moloc e a estrela de vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para adorá-las! Assim Eu vos deportarei para além da Babilônia. (Am 5,25ss.)' 
    A Arca da Aliança esteve com nossos pais no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que tinha visto. Recebendo-a nossos pais, levaram-na sob a direção de Josué às terras dos pagãos, que Deus expulsou da presença de nossos pais. E ali ficou até o tempo de Davi. Este encontrou Graça diante de Deus, e pediu que pudesse achar uma morada para o Deus de Jacó. Salomão foi quem Lhe edificou a Casa. O Altíssimo, porém, não habita em casas construídas por mãos humanas. Como diz o Profeta: 'O céu é Meu trono, e a terra, o banquinho de Meus pés. Que casa Me edificareis vós?', diz o Senhor. 'Qual é o lugar de Meu repouso? Acaso não foi Minha mão que fez tudo isto? (Is 66,1s.)'" 
                                                At 7,2-50

    Mas esta acurada explanação não ficaria sem uma devida cobrança! E Santo Estevão vai acusar o sumo sacerdote e os principais dos judeus de rebelarem-se contra o Espírito de Deus, por conta da violenta perseguição que fizeram à Igreja, e assim a Jesus:

    "Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam vossos pais, também procedeis vós! A qual dos Profetas não perseguiram vossos pais? Mataram aqueles que prediziam a Vinda do Justo, do Qual agora vós tendes sido traidores e homicidas! Vós que recebestes a Lei pelo ministério dos anjos, e não a guardastes...
    Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e contra ele rangiam os dentes. Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o Céu e viu a Glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus:
    - Eis que vejo, disse ele, os Céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.
    Levantaram, então, um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos atiraram-se furiosos contra ele.


    Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram seus mantos aos pés de um moço chamado Saulo." 
                                                At 7,51-58

    Esse moço iria tornar-se o grande Apóstolo dos Gentios, São Paulo. Santo Estevão, no entanto, tinha o dom da fortaleza, e em seus últimos momentos não hesitou em seguir Jesus em Seu Sacrifício e palavras, entregando-se porém a Ele, não ao Pai. É mais uma demonstração da divindade de Jesus.

    "E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia:
    - Senhor Jesus, recebe meu espírito.
    Posto de joelhos, exclamou em alta voz: 
    - Senhor, não lhes leves em conta este pecado... 
    A estas palavras, expirou." 
                                                At 7,59-60


    O Portão de Jerusalém, diante do qual aconteceu seu apedrejamento, que fica próximo à Basílica de Sant'Ana, passou a levar seu nome.


    E sobre a pedra do martírio de nosso Santo, no Vale do Cedrón, no caminho do Monte das Oliveiras, foi erguida uma igreja para devoção à sua santidade.


    Relíquias de seus cabelos são veneradas na igreja que leva seu nome em Cleveland, nos Estados Unidos.


    Santo Estevão, rogai por nós!