segunda-feira, 28 de outubro de 2024

São Judas Tadeu, Apóstolo


    Foi um dos mais reservados Apóstolos, de quem ficaram poucos registros, mas nem por isso se pode deduzir que tenha sido menos ativo. As várias regiões que visitou depois da Ascensão de Jesus, assim como suas frequentes viagens, desfazem a impressão de mero contemplativo, que alguns inferem tão somente pelas poucas citações de seu nome na Bíblia.
    De fato, não é muito mencionado. Aparece nas listas dos Apóstolos sempre entre os últimos dos Doze, como nos Evangelhos segundo São Mateus, segundo São Marcos e segundo São Lucas. O Amado Médico, aliás, não o chama de Tadeu, mas de Judas, seu primeiro nome, e só o menciona à frente de Judas Iscariotes:
    - "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4
    - "Escolheu estes Doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele também escolheu André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o zelota; e Judas Iscariotes, que O entregou." Mc 3,16-19
    - "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e dentre eles escolheu Doze, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16
     Parente de Jesus, ele é citado como um de Seus irmãos nos Evangelhos segundo São Mateus e segundo São Marcos:
    - "Não é este o Filho do carpinteiro? Não é Maria Sua mãe? Não são Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?" Mt 13,55
    - "Não é Ele o carpinteiro, o Filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?" Mc 6,3
    É São Judas que questiona Jesus, no Evangelho segundo São João, quanto ao Seu modo de manifestar-Se pessoa a pessoa, pois gostaria de vê-Lo manifestando-Se o quanto antes ao mundo todo, de forma gloriosa e em definitivo. Nessa passagem, fica evidente o respeito com que ele trata Jesus, chamando-O de Senhor, detalhe que também desmistifica a ideia de que seria Seu irmão, como pretendem alguns, e assim simplesmente pela absoluta falta de intimidade: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?' Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele, e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,22-23


    Ele ainda tem seu nome nas listas dos Onze presentes no Cenáculo, pouco antes da vinda do Espírito Santo por ocasião do Pentecostes, conforme o Livro dos Atos dos Apóstolos, onde mais uma vez São Lucas exclusivamente o indica como irmão de São Tiago Menor, não de Jesus, e agora como o último deles, atrás até de São Simão Zelota, que dos Doze é o menos citado: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago." At 1,13
    Por fim, ele assina uma epístola na qual providencialmente se identifica com irmão de São Tiago Menor, assim como São Lucas o identificou por duas vezes. Essa passagem deixa ainda mais claro que ele não era irmão de Jesus, nem filho de Nossa Senhora ou sequer de São José. Como ele mesmo faz questão de apresentar-se, talvez justamente para esclarecer esse assunto, diz-se irmão de Tiago, filho da Maria esposa de Cleófas, ou Alfeu, seu equivalente hebraico, e parenta de Maria Santíssima. Ele não se identifica como irmão de Jesus, como seguramente faria se o fosse, mas como Seu servo: "Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago..." Jd 1,1
    Os chamados 'irmãos de Jesus', na verdade apenas parentes, e assim designados pela inexistência da palavra 'primo' na língua aramaica, aparecem ainda mais notoriamente como filhos de Maria de Cleófas nos Evangelhos segundo São Mateus, segundo São Marcos e segundo São Lucas:
    - "Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu." Mt 27,56
    - "Ali também estavam algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé." Mc 15,40
    - "Maria Madalena e Maria, mãe de Joset, observavam onde Ele era colocado." Mc 15,47
    - "Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para embalsamar o Corpo de Jesus." Mc 16,1
    - "Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago." Lc 24,10
    Sabemos que essa Maria era a esposa de Cleófas, e parenta de Nossa Senhora, porque todas essas cenas narram precisamente a Crucificação e o Sepultamento de Jesus, e São João Evangelista, que também as descreveu, deixou-nos o nome de seu esposo: "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua mãe e a irmã de Sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena." Jo 19,25
    A Carta de São Judas também não é extensa. Ele justifica-a apenas para corroborar o que 'os Apóstolos' ensinavam, como se não fosse um deles, para deixar seu testemunho sobre Cristo e já alertar das correntes heresias, exortando os fiéis a não desanimarem com o escárnio que sofriam. E deixa um importante registro de que a Revelação já estava encerrada, à qual só cabe ser explicitada, chamando-a de '': "Caríssimos, estando eu muito preocupado em escrever-vos a respeito de nossa comum Salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos. Pois certos ímpios furtivamente se introduziram entre nós, os quais desde muito tempo estão destinados para este Julgamento. Eles transformam em dissolução a Graça de Nosso Deus, e negam Jesus Cristo, Nosso Único Mestre e Senhor. Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: 'No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo suas ímpias paixõesHomens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito Santo.'" Jd 1,3-4.17-19
    Nela, demonstrando o mesmo respeito que se viu no Evangelho segundo São João, por seis vezes ele menciona o Nome de Jesus, e em todas chama-O de Cristo. E, como visto, também O chama de 'Nosso Único Mestre e Senhor', ou seja, nenhum resquício de familiar intimidade, muito menos de sanguínea irmandade.
    Realmente bem instruído, como mostra sua carta, atestava assim a preparação que teve ele e seus irmãos apesar de viverem na afastada e pobre Galileia (cf. At 4,13). Aliás, como teve o próprio Jesus, os filhos de Zebedeu e outros Apóstolos de intelecto como São Filipe, São Bartolomeu e São Tomé. E se quase nada sabemos de seu irmão José, São Tiago Menor vai ser o escolhido por São Pedro para sucedê-lo no bispado de Jerusalém (cf. At 12,17), e assim também São Simão de Jerusalém, que sucederia São Tiago Menor, após seu martírio, neste mesmo bispado até a destruição da Cidade Santa pelos romanos no ano de 70 de nossa era. Com efeito, os cristãos daí, a maioria vindo do judaísmo, prezavam o fato de serem representados por judeus de origem, com consanguinidade reconhecida, caso de seus irmãos.
    A confusão com Judas Iscariotes teria dificultado em muito a divulgação de seu nome, de sua história e a devoção que certamente lhe é devida. Isso explica porque, desde o início, São Marcos e São Mateus já o apresentavam com o nome de Tadeu, um íntimo apelido, com a clara intenção de diferenciá-lo do infame traidor.


    Ele começou a evangelizar em sua própria terra, na Galileia, para onde foram alguns Apóstolos após a perseguição iniciada com o apedrejamento de Santo Estevão. Depois esteve por algum tempo na Samaria, de onde partiu para a Síria, Idumeia (atual Jordânia), Líbia Antiga, Armênia e Pérsia, e aí teria vindo a seu encontro São Simão, o zelota.
    Em sua companhia, percorreram as 12 províncias que compunham o antigo Império Persa, fazendo muitos milagres e convertendo muita gente, mas, por despertarem ciúmes de influentes sacerdotes, foram brutalmente assassinados num mesmo dia. Segundo a Sagrada Tradição e apócrifos, São Judas Tadeu foi morto a golpes de machado na cabeça, e São Simão, serrado ao meio.
    Após séculos de isolamento, que foi agravado pelo surgimento do Islamismo, a devoção a ele só voltou a crescer, e dessa vez a partir da Europa, graças à aparição de Jesus a Santa Gertrudes, no século XIII, recomendando os socorros de São Judas para as impossíveis causas, como ela deixou escrito em sua biografia. É a partir desse momento que com frequência se passa a empregar a alcunha de São Judas Tadeu, juntando os nomes atribuídos a ele nos diferentes Evangelhos, e também para diferenciá-lo de uma vez por todas de Judas Iscariotes.
    Nosso Santo também é considerado aquele que levou o Cristianismo a Armênia, então província romana, quando ainda viajava em companhia de São Bartolomeu. De fato, atendendo a um chamado do rei, levou-lhe a famosa 'imagem de Edessa', a mais antiga pintura de Cristo de que se tem notícia. Relatos dão conta que esse rei teria enviado uma carta a Jesus, ainda nos tempos de Sua vida pública, convidando-O à sua corte, mas Ele apenas respondeu dizendo que no futuro um de Seus Apóstolos iria ter com ele.


    Ainda hoje estes mártires da fé são cultuados como Santos Padroeiros da Igreja Apostólica Armênia, pois a São Judas Tadeu foi dedicado um mosteiro, no norte do Irã, e outro a São Bartolomeu, no sul da Turquia, quando essas duas regiões ainda formavam aquela antiga província do Império Romano.
    Há notícias de que ele esteve no Primeiro Concílio, de Jerusalém, e também exerceu sua missão em Beirute e ainda em Edessa, no norte da Mesopotâmia, hoje terras da Turquia, onde teria confeccionado a pintura que levou ao rei da Armênia.
    Seus restos mortais foram guardados no Oriente Médio por vários séculos, depois foram levados a França e posteriormente a Roma, onde foram sepultados sob o Altar de São José, na Basílica de São Pedro.


    São Judas Tadeu, rogai por nós!

São Simão Zelota, Apóstolo


     Certamente, o menos conhecido dentre os Doze Apóstolos. Na lista, sempre é citado entre os últimos pelos evangelistas, duas das três vezes à frente apenas de Judas Iscariotes, e no Evangelho segundo São Mateus é chamado de 'cananeu', por seu engajamento no movimento nacionalista de então: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4
     Assim como o Evangelho segundo São Marcos, que serviu de texto base para os demais, o Evangelho segundo São Lucas aponta o apelido de zelota, em referência ao apaixonado zelo que seu grupo religioso tinha pelas Escrituras, desejoso de vê-las plenamente respeitadas: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16
    Após esta citação, São Simão só mais uma vez será nominalmente citado, seja nos Evangelhos ou nos demais Livros do Novo Testamento: na lista dos Onze, já sem Judas Iscariotes, claro!, do Livro dos Atos dos Apóstolos, logo após a Ascensão de Jesus e pouco antes do Pentecostes, quando o Amado Médico de novo coloca-o, por algum motivo, à frente de ninguém menos que São Judas Tadeu, parente de Jesus: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago.Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14


    Mas como zelota, e assim íntimo companheiro de São Pedro, era ele que possuía a outra espada que os Apóstolos levavam, como vemos momentos antes de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Jesus seria preso. O Divino Mestre havia ordenado: "Depois ajuntou: 'Quando vos mandei sem bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.' 'Mas agora', disse-lhes Ele, 'aquele que tem uma bolsa, tome-a. Aquele que tem uma mochila, igualmente tome-a. E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma.' Eles replicaram: 'Senhor, eis aqui duas espadas!' 'Basta!', respondeu Ele." Lc 22,35-36.38
    De fato, uma das espadas era levada pelo Príncipe dos Apóstolos, como vemos no Evangelho segundo São João exatamente quando Jesus foi preso pelos guardas dos líderes judeus de Jerusalém: "Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: 'Enfia tua espada na bainha! Não hei de beber o cálice que o Pai Me deu?" Jo 18,10-11
    Para a maioria dos estudiosos, a palavra 'cananeu', usada por São Mateus, e zelota, usada por São Marcos e São Lucas, teriam o mesmo significado. Além de fundamentalistas religiosos, esses nomes designariam nacionalistas inspirados no levante de Judas Macabeus, que expulsou os gregos da Terra Santa havia uns 200 anos (cf. 2 Mc 2,19-20), e por isso defendiam a libertação dos romanos pela luta armada.
    A esse grupo pertenceu o próprio São Pedro, como denuncia a destreza de seu golpe que, em sinal advertência, decepou a orelha do servo do sumo sacerdote. Tal habilidade foi igualmente atestada por São Mateus: "Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Jesus, no entanto, disse-lhe: 'Embainha tua espada, pois todos que da espada usarem, pela espada morrerão.'" Mt 26,51-52
    São Lucas também a registrou, assim como o desfecho desta cena: "Os que estavam ao redor d'Ele, vendo o que ia acontecer, perguntaram: 'Senhor, devemos atacá-los à espada?' E um deles feriu o servo do príncipe dos sacerdotes, decepando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio: 'Deixai! Basta!' E tocando na orelha daquele homem, curou-o." Lc 22,49-51
    Esse grupo também era chamado de sicários, por usarem curtas, grossas e curvas facas chamadas de sica, realmente perigosas e fáceis de esconder nas vestes. São eles que incitarão a revolta do ano de 70 de nossa era, quando Jerusalém será destruída por ordem do imperador Vespasiano, como Nosso Salvador profetizou: "Aproximando-Se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: 'Oh! Se tu, ao menos neste dia que te é dado, também conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz!... Mas não... Isso está oculto a teus olhos. Sobre ti virão dias em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão por todo lado. Destruí-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e em ti não deixarão pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.'" Lc 19,41-44
    Outros estudiosos, porém, julgam que 'cananeu' é apenas a indicação de sua origem, Canaã, a Terra Prometida, ou ainda a própria Caná da Galileia, onde Jesus transformou água em vinho durante as bodas de amigos de Nossa Senhora.
    Assim como São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes próximos de Jesus, e ainda São Tomé e Judas Iscariotes, de São Simão Zelota não ficou registrado em que momento ele passou a acompanhar Jesus, diferente do que acontece com os demais Apóstolos.
    Mas baseando-se no Evangelho de São João, é muito provável que ele também tenha sido convidado para as bodas de Caná, talvez pelo próprio São Pedro, e assim presenciado o milagre da transformação da água em vinho. Com efeito, nesta ocasião e pelo local, o Amado Discípulo, como ocular testemunha e de tão pontuais e cronológicos registros, dá a entender que o grupo dos Apóstolos já estava formado, exceto pela ausência de São Mateus, que só seria chamado em Cafarnaum (cf. Mc 2,14), onde Jesus foi morar após deixar Nazaré (cf. Mt 4,13): "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11


    Todos esses detalhes descrevem um simples e verdadeiro homem, como era o próprio Príncipe dos Apóstolos, o que permite dizer que nosso Santo experimentou uma profunda conversão, passando do ativismo miliciano para a contemplação essencialmente espiritual. As palavras que ouviu e os fatos que presenciou foram decisivos: marcaram-no para o resto da vida, e ele, demonstrando Sabedoria, humildemente rendeu-se. Abdicou de anseios de violência e fervorosamente abraçou a vida de testemunha da Ressurreição e dos ensinamentos de Cristo.
    Sabe-se que São Simão acompanhou São Marcos ao Egito, talvez a seu convite quando este foi enviado por São Pedro a Alexandria, que era a segunda mais importante cidade do Império Romano, menor apenas que Roma.
    Também se sabe que, antes de acompanhar São Marcos, ele esteve com São Filipe Apóstolo, evangelizando na Síria.
    Mais tarde, vamos encontrá-lo na Pérsia junto a São Judas Tadeu, ou porque Jerusalém já estaria reduzida a cinzas, portanto depois do ano de 70 de nossa era, ou a chamado deste Apóstolo. Aí os trabalhos eram muitos, dado o expressivo número de convertidos, e São Simão seria de grande valia pois se tornara profícuo leitor das Escrituras. Ventila-se, da mesma forma, que São Judas Tadeu já percebia os riscos de contrariar os interesses de sacerdotes persas, e por isso solicitou sua companhia para acenar-lhes que não faltariam seguidores que testemunhassem Jesus.


    Formando com São Judas uma frutuosa dupla de conhecedores do Mistério de Cristo, e assim instruindo e instituindo vários bispos, pois era um centro populacional e cultural verdadeiramente pulsante, aí realizaram numerosos milagres e converteram muitas almas, o que ainda mais atiçou a fúria dos sacerdotes do Zoroastrismo. E uma vez denunciados às autoridades locais como agitadores, ao recusarem-se a abandonar tão grande rebanho, acabaram barbaramente martirizados.
    Talvez por seu avantajado porte físico, os assassinos de São Simão só se deram por satisfeitos quando o serraram ao meio, após matarem São Judas Tadeu, no mesmo dia, a golpes de machado desferidos contra a cabeça. Esses relatos chegaram-nos por muito antigo livro, de desconhecida autoria, chamado 'Atos de Simão e de Judas', que atribui a eles, principalmente pela franca disposição para o martírio, pois foram várias vezes advertidos, o profundo conhecimento do Cristianismo que se verificou nessa região.
    Mas, no caso de São Simão, esta informação foi mencionada pelos seguidores da tradição de São Paulo, que registraram sobre a então já extensa lista de mártires, na Carta aos Hebreus: "Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio..." Hb 11,37a
    Há outros registros, embora bem menos consistentes, indicando que São Simão teria falecido com mais de cem anos. Mas restaram praticamente renegados frente a amplamente acolhida tradição que atesta o martírio de todos Onze Apóstolos, seguidos pelos próprios São Matias e São Paulo Apóstolos, a exceção de São João Evangelista, que, este sim!, morreu de idade. Aliás, como Jesus mesmo havia previsto (Jo 21,22), referindo-Se à Sua volta para as revelações do Livro do Apocalipse.
    Ademais, seus restos mortais sempre foram mantidos junto aos de São Judas Tadeu, desde o sepultamento pelos cristãos na própria Pérsia até serem transladados a França, de onde finalmente foram levados a Roma e depositados sob o Altar de São José, na Basílica de São Pedro.


    São Simão, rogai por nós!