domingo, 10 de dezembro de 2023

São João Roberts


    Nasceu em 1575, em Merioneth, no País de Gales, de família de nobres que haviam adotado o protestantismo. Brilhante aluno, aos 18 anos foi estudar na Universidade de Oxford, e aos 23, Direito em Londres. Mas numa viagem a Paris, no verão daquele ano, foi convertido por um amigo e religioso inglês, e logo em seguida muito bem recebido na Catedral de Notre Dame por um cônego. Acredita-se, porém, que ele já havia sido fortemente influenciado por um ex-monge beneditino, que se tornou professor em Oxford quando o rei Henrique VIII proibiu o Catolicismo na Inglaterra e mandou fechar todos mosteiros.
    De Paris foi enviado a Espanha, onde no final de 1598 foi admitido no seminário inglês de Valladolid, instituído para os refugiados. Em 1600, junto a outros ingleses, resolveu professar votos de estabilidade e clausura na Ordem de São Bento, no mosteiro de São Martinho Pinário, na cidade de San Tiago de Compostela.
    Ao completar os estudos na cidade de Salamanca, no ano de 1602, foi ordenado Sacerdote, e com uma autorização do Papa no ano seguinte partiram para a Inglaterra em missão, acompanhado de outros monges beneditinos, mas logo foram denunciados e presos. Contudo, poucos meses depois, com a ascensão do rei Jaime I, conseguiu a libertação e junto a outros monges voltou a França.
    Alguns meses mais tarde, ao saber da peste negra que assolava Londres, viu-se na obrigação de regressar e lá prestou grandes serviços à população, quando passou a ser muito querido, principalmente pelos mais pobres.
    Como era o desejo de muitas famílias católicas da Inglaterra, que assim viviam na clandestinidade, em 1604 São João Roberts tentou embarcar para a Espanha levando quatro postulantes à vocação beneditina, entre eles o Bem Aventurado Maurus Scott. Porém foram todos denunciados e presos. Por não ter sido reconhecido como Sacerdote, graças aos muitos serviços de enfermagem que havia prestado, nosso Santo foi apenas deportado. Entretanto, muito convicto de sua missão, logo conseguiu retornar.
    Com a suspensão das liberdades concedidas pelo rei, e sem poder disfarçar suas intensas atividades como Sacerdote, no final do ano 1605 foi preso mais uma vez, agora por um período de 7 meses na prisão de Gatehouse, até conseguir a conversão da pena em exílio, graças a intervenção de uma católica senhora, Luisa de Carvajal, que tinha forte influência na corte inglesa.
    Esteve na Espanha e em seguida na França, onde na cidade de Douai, ao norte, fundou uma casa para os monges beneditinos ingleses que até então viviam em mosteiros espanhóis. Aí nascia a comunidade que em 1617 fundaria uma renomada escola, à qual muitas famílias católicas inglesas enviariam seus filhos. E em 1814, após sua destruição pela ignóbil Revolução Francesa, essa comunidade construiria a abadia em homenagem a São Gregório Magno, em Downside, na própria Inglaterra, após remissão real. Era o retorno oficial dos beneditinos a Grã-Bretanha, após longa demora e penosas tentativas, e o surgimento do lar que se tornaria sua principal referência nestas terras.


    Essa escola em terras francesas era tão conhecida e estimada, que a rainha Ana, da Grã-Bretanha, expressamente pediu que o exército inglês a poupasse na invasão a Douai, em 1710, durante a Guerra da Sucessão Espanhola.
    De alma fervorosamente piedosa, e também destemida, após 14 meses São João Roberts sentiu-se mais uma vez chamado a Inglaterra para zelar por suas abandonadas ovelhas. Mas sua fama crescia, assim como as perseguições, e acabou denunciado pelos espiões do rei, quando foi preso na então temida prisão de Westminster, de onde por milagre conseguiu escapar passados alguns meses.
    Por sua coragem, secretamente manteve suas atividades sacerdotais mesmo em Londres, ministrando os Sacramentos aos perseverantes fiéis. Em 1609, porém, aconteceu o previsível: foi preso e recebeu sentença de execução. Todavia, graças a intervenção do embaixador francês, conseguiu que a pena fosse trocada pela expulsão do país.
    Mais uma vez esteve na Espanha e depois em Douai, onde fez a comunidade prosperar ainda mais. A exemplo de Jesus e de Seu amor por Jerusalém, entretanto, sabia que sua paixão haveria de ser cumprida na Inglaterra. E depois de um ano de espera, guardando vívida lembrança de seu povo, novamente conseguiu entrar em seu país. Mas não teve muito tempo: no final de 1610 foi preso ao ser flagrado celebrando a Santa Missa. Na prisão, como sempre fazia, rezou por seus oponentes protestantes e pelo rei. Instado a renegar a autoridade papal em troca de liberdade, recusou-se.
    Três dias depois foi enforcado num lugar próximo ao atual Hyde Park, em Londres, aos 35 anos. E como evidência da índole de quem o perseguia, teve seu corpo barbaramente esquartejado. Antes de morrer, abençoou os ladrões que seriam enforcados naquele mesmo dia e beijou seu fiel amigo padre Thomas Somers, condenado e executado com ele. Permitiram-lhe dizer umas últimas palavras à multidão, que em prantos acompanhava seu martírio. Ele pediu a Deus pelo rei, lamentou a heresia do protestantismo e gritou as palavras de Santo Agostinho: "Fora da Igreja não há Salvação."
    Foi canonizado junto a Santo Ambrósio Barlow, também martirizado por enforcamento em 1641, como representantes dos 40 mártires da Inglaterra e do País de Gales durante a 'Reforma Protestante'.


    E todos eles tiveram inspiração, sem dúvida, no fulgurante testemunho de São Tomás More, martirizado no início destas sangrentas e inumeráveis perseguições à Igreja que se deram na Inglaterra. Ou na própria corajosa e frutuosa missão do pioneiro Santo Agostinho da Cantuária, o 'Apóstolo do Ingleses'.
    Duas noite depois da execução, partes do corpo de São João Roberts foram recuperadas pelo bem aventurado Maurus Scott, em companhia de outros monges, e levados para Douai. E aí, durante a 'Revolução Francesa' suas relíquias foram profanadas e desapareceram. Salvaram-se apenas dois dedos, que mais tarde foram levados para a Abadia de São Gregório Magno, em Downside, próximo à cidade de Bristol, na Inglaterra, onde uma magnífica capela é dedicada à Nossa Senhora.


    São João Roberts, rogai por nós!