quinta-feira, 22 de junho de 2023

São Tomás More


    Um leigo, chanceler da Inglaterra, preferiu morrer a renegar a santidade, pois não concordava que o rei assumisse o comando da Igreja em seu país. Por fornicação, adultério e vis interesses materiais, mais uma parte do Corpo Místico de Cristo, isto é, Sua Igreja nas pessoas dos fiéis, era brutalmente dilacerado. Mas o Céu e os altares recebiam um admirável Santo, mais uma grande testemunha do verdadeiro amor a Cristo.
    Nasceu em Chelsea, em 1478, de nobre família, "mas não célebre", como ele mesmo a descreveu. De fato, seu pai, John More, era juiz e 'cavaleiro' do rei Eduardo IV, porém, antes de tudo, católico absolutamente convicto. Aos 13 anos São Tomás era coroinha de John Morton, Arcebispo da Cantuária, que tudo fez para enviá-lo à Universidade de Oxford. Seu pai, no entanto, preocupado com os apelos da 'vida moderna', que já àqueles tempos pervertiam as almas nas grandes cidades, mandava-lhe dinheiro apenas para os gastos estritamente necessários.
    Em 1500 graduou-se em Direito, e logo foi convidado para lecionar. Aí conheceu e tornou-se íntimo amigo do teólogo humanista Erasmo de Rotterdam, que lhe dedicou seu mais famoso livro: O Elogio da Loucura.
    Antes de decidir-se pelo casamento, que não o fez abandonar a vida de intensas práticas religiosas, São Tomás More examinou atenciosamente sua vocação, convivendo de modo exemplar por algum tempo com os franciscanos de Greenwich e com os cartuxos de Londres, o que bem demonstra sua profunda espiritualidade e aversão às coisas mundanas.
    Tornou-se notável como advogado, pautando sua vida pela honradez e pela modéstia.
    Casou-se em 1505 e tornou a casar-se em 1511, após a morte de sua primeira esposa, com quem teve 4 filhos. A segunda esposa também havia enviuvado, e era mãe de uma filha que ele abraçou como se fosse sua. Foi excelente pai, especialmente atencioso com a educação, e gostava de receber em casa muitos jovens amigos de seus filhos, interessados em conhecer um pouco de seus vastos conhecimentos, além de sempre bem humorada e generosa pessoa.
    Nunca deixava de visitar os mais pobres em seus bairros, e cuidava como podia de suas necessidades. Tanto que, desta veia de homem público, em 1504 foi eleito membro do Parlamento, mas, bem ao seu modo de penitente, para Câmara dos Comuns, onde em 1523 foi eleito presidente. Em 1510, o recém-empossado rei Henrique VIII prorrogou seu mandato, nomeando-o representante da Coroa.
    Por realmente cuidar do bem-estar de toda população, São Tomás More também teve brilhante carreira na administração pública, tendo dirigido inclusive a polícia de Londres, tão notórias eram suas serenidade e bondade, respeitador dos desfavorecidos em suas tribulações. Serviu como embaixador do rei em várias missões diplomáticas, no norte da Bélgica e na França. Foi juiz presidente de um importante tribunal, vice-tesoureiro, chanceler de Lancaster e, por fim, chanceler da Inglaterra, entre 1529 e 1532.
    Mas pediu demissão ainda em meados de 1532, quando o rei, para contrair novo e ilegal casamento, bem como para confiscar bens da Igreja, aproveitou-se do movimento protestante eclodido em 1529 e autoproclamou-se 'papa' da igreja da Inglaterra. Nem um pouco cristão, ele mandaria decapitar Ana Bolena, com quem se casou em seguida, e também Catherine Howard, sua quinta esposa de apenas 19 anos, sob falsa acusação de infidelidade, além de instaurar uma diabólica era de sistemáticas execuções, dezenas por dia, entre 57 e 72 mil até o fim de seu reinado, de supostos traidores, a grande maioria meros fiéis católicos. Perante ele, sua filha, Maria, chamada de 'a sanguinária', com menos de 300 execuções durante seis anos como rainha, muitos deles ativos partícipes desta corte de assassinos, pode ser considera uma pacificadora.
    Para agilizar sua máquina da morte, Henrique VIII criou na Torre de Londres um portão de entrada para suas vítimas, ainda visto no rio Tâmisa, próximo à Ponte de Londres, na qual as cabeças ficavam expostas.


    Sem suas funções, São Tomás More submetia toda sua família a sérias dificuldades financeiras, pois, dada a perseguição que sofria do rei, sequer conseguia contratos como advogado. Mas não abandonou seus princípios nem, o mais importante, sua .
    Seu mais famoso livro chama-se Utopia, no qual oferece uma belíssima visão de modelo de Estado e satiriza as mazelas da sociedade européia com refinadas observações, pois aí, por influência da burguesia e do comércio ultramarino, de forma generalizada iniciava-se a idolatria ao dinheiro. Nas mãos dos primeiros missionários europeus nas Américas, essa obra vai ser um grande trunfo em defesa dos direitos dos indígenas. É frequentemente reimpressa. Também escreveu A História de Ricardo III, que Shakespeare retocou e adaptou para o teatro.
    Com frequência lia as obras de Santo Agostinho, e tinha o Padre John Colet como diretor espiritual, que lhe moderava as práticas de penitências. Como forma de autoflagelar-se, por própria decisão sempre usou uma camisa de cilício, bastante incômoda, por baixo das típicas roupas da corte.
    Mas num mundo deslumbrado por 'novidades', o rei Henrique VIII, como artifício para obter apoio popular e dos nobres, pois já vivia de fato em adultério, 'pedia' a anulação de seu casamento com a rainha Catarina de Aragão, que era espanhola. O Papa Clemente VII, porém, fiel defensor do Sacramento do Matrimônio, não o autorizou a renegar sua esposa.
    No início de 1534, ao recusar-se a prestar juramento ao rei como autoridade superior ao Papa, São Tomás More foi preso na Torre de Londres, junto a John Fisher, Bispo de Rochester, que também não aceitava estas imposições do rei.


    Na prisão, por várias vezes foram pressionados para que prestassem juramento ao rei, mas eles terminantemente negavam-se. Profícuo escritor, São Tomás More aproveitou esses quase 3 meses para deixar-nos seu último livro: Diálogo de conforto contra as tribulações.
    No decorrer do processo que lhe moviam, fez uma bela e corajosa defesa da indissolubilidade do Matrimônio, do patrimônio jurídico como um grande legado da Igreja, e da total independência do Papa e do Clero em assuntos de fé perante qualquer Estado ou autoridade.
    Em reação, bem a seu modo de governar, o rei mandou decapitar a ele e ao bispo John Fisher.


    O local da execução, em Tower Hill, foi preservado.


    Sua cabeça ficou exposta durante um mês na ponte de Londres, mas sua filha mais velha, contrariando as ordens do rei, destemidamente foi lá, retirou-a e juntou-a a seus restos mortais.
    Posteriormente, suas relíquias passaram a ser veladas numa cripta da Capela Real de São Pedro Acorrentado.
    O Papa São João Paulo II declarou-o Patrono dos Estadistas e Políticos.


    São Tomás More, rogai por nós!