Nascida em 283, órfã de pai desde os cinco anos, era bonita, de rica família e desde criança cultuava forte devoção à Santa Águeda de Catânia, uma virgem jovem e conterrânea sua, que, havia poucas décadas, no ano de 254, fora martirizada por professar o Catolicismo. Por seu tocante exemplo, Lucia fez voto perpétuo de virgindade.
Mas sua mãe, Eutíquia, embora muito católica e responsável por sua formação religiosa, não quis recusar o pedido de casamento de um jovem de nobre família local. Ela era muito doente e queria ver casada sua recatada filha. Santa Luzia, porém, vendo agravar-se seu estado de saúde, levou-a em peregrinação ao túmulo de Santa Águeda, onde pediu por sua intercessão (cf. Ap 6,10). E qual não foi sua surpresa quando Santa Águeda lhe respondeu em sonho, pois aí chegou muito cansada e cochilou durante as orações: "Lucia, minha irmã, virgem consagrada a Deus, por que me pedes o que tu mesma podes conceder? De fato, tua fé beneficiou tua mãe, e eis que ela se tornou saudável. E assim como a cidade de Catânia me beneficiou, a cidade de Siracusa será honrada por teu intermédio."
De fato, um milagre aconteceu naquele mesmo instante e Eutíquia voltou para casa perfeitamente sã. Nessa ocasião, Santa Luzia confessou-lhe o voto de virgindade que havia feito, bem como sua inquebrantável vontade de mantê-lo. Ainda em êxtase pela Graça alcançada, e admirada com a forte devoção da filha, prontamente consentiu que ela mantivesse o voto. Quis desfazer o trato de casamento, mas, percebendo que não seria fácil, permitiu que Santa Luzia distribuísse sua parte da herança entre os mais pobres, como havia alguns anos já era seu desejo. Por não mais dispor de seus bens, e vendo-a tão dedicada aos enfermos, aos necessitados e às viúvas, missão que ardorosamente abraçou, talvez o jovem desistisse.
A reação dele, porém, foi inesperada, e revelou as verdadeiras intenções que tinha: seu principal interesse era os bens que Santa Luzia herdaria! E furioso, logo foi a Pascásio, governador de Sicília, denunciá-la por praticar o Cristianismo, que à época o imperador romano tinha em conta de abominável religião. Ela, contudo, em nada se abalou, pois o exemplo de Santa Águeda lhe era muito real. Apenas tratou de ir ao lugar onde uma igreja funcionava clandestinamente, para na Santa Missa receber a última Comunhão Eucarística, porque sabia que seria martirizada. Boa parte da cidade, já convertida, embora se mantendo na clandestinidade, envolveu-se em grande comoção.
Levada a julgamento, de imediato Pascásio pediu-lhe que prestasse culto aos deuses pagãos, mas ela foi resoluta em defender sua fé: "Adoro a um só Deus Verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade." E quando o carrasco, a um sinal do governador, ameaçou arrancar-lhe os olhos e levá-los num prato, uma terrível punição de então, ela mesma pediu-lhe o prato e arrancou-os, demostrando com atitude que preferia perder a visão a renegar Jesus.
Esse gesto não foi de um todo inusitado, pois à época havia uma expressão popular exatamente nestes termos. Ela foi usada na Carta de São Paulo aos Gálatas, quando reclamou dos desvios desta comunidade, fazendo-lhes lembrar o inicial fervor que viveram ao converterem-se: "Onde está agora aquele vosso entusiasmo? Asseguro-vos que, se possível fora, teríeis arrancado vossos olhos para me dar!" Gl 4,15b Se esta era sua punição, nossa Santa já estava totalmente resignada, pois seria mais uma entre outros que já haviam recebido tal sentença. E por sua autêntica santidade, ela bem tinha observado a passagem do Evangelho Segundo São João em que Nosso Salvador afirma, perante os fariseus em Jerusalém, após curar o cego de nascença: "Vim a este mundo para fazer uma discriminação: aqueles que não vêem vejam, e aqueles que vêem se tornem cegos." Jo 9,39
Miraculosamente, porém, no mesmo instante em que os entregou, seus olhos foram-lhe restituídos diante de todos.
Muito admirado, mas também se sentindo ultrajado, mandou que sobre ela derramassem, ali mesmo, óleo e resina ferventes, para que todos vissem. Feito isso, porém, nada lhe aconteceu. Então, como a decapitação já era a recorrente forma de execução de muitos cristãos, sentenciou que lhe cortassem a veia do pescoço à espada, para que aos poucos morresse diante de todos, o que finalmente veio a vitimá-la.
Visivelmente descontrolado, e tomado de macabra euforia, antes que a enterrassem o governador determinou que sua cabeça fosse arrancada, amarrada pelos cabelos e arrastada por cavalo pelas ruas de Siracusa, para servir de exemplo a quem ousasse converter-se ao Cristianismo.
Antes de ser levada a julgamento, porém, para tranquilizar sua mãe e demais cristãos amigos, Santa Luzia havia profetizado a morte de Diocleciano, e, com a ascensão de Constantino ao posto de imperador, o fim da perseguição aos cristãos, como de fato poucos anos depois, em 313, vieram a acontecer.
Sinal de Deus, menos de seis anos após sua morte já era considerada por todo povo como a Padroeira de Siracusa, e tão venerada em Sicília quanto a própria Santa Águeda. Pelo acontecido diante do governador, tornou-se tradição de fé pedir sua intercessão para a cura de doenças nos olhos ou mesmo de cegueira, e muitíssimos milagres sempre foram obtidos. O famoso poeta Dante Alighieri testemunhou ter sido curado da visão, durante a juventude, por intercessão de Santa Luzia, e retratou-a em especial papel, como luz espiritual para a humanidade, na Divina Comédia. Noutro grande sinal, a nossa Santa é creditado o miraculoso fim da fome em Siracusa no ano de 1646. Um prato típico da cidade, a cuccia, feito de trigo cozido, tem origem nesse evento, porque a população não esperou para moer o trigo que inesperadamente chegou num navio, enquanto rezava à Santa Luzia na Catedral de Siracusa. Esse fato é celebrado todo ano no primeiro e segundo domingo de maio.
Veio a ter tantos devotos que, apenas em Roma, chegou a ter várias igrejas em sua homenagem, e a celebração de sua veneração ganhou ofício próprio. É uma das sete virgens mencionadas no Cânon Romano durante a Santa Missa. Foi exaltada por grandes Santos como São Gregório Magno e São João Damasceno, ambos Doutores da Igreja. Teve forte culto por toda República de Veneza, nordeste de Itália, assim como na cidade de Ravena, também no nordeste, onde tem sua imagem no monumental mosaico 'A Procissão das Virgens', na Basílica de Santo Apolinário Novo. No reino de Inglaterra, sua data era dia de guarda para a Santa Igreja, portanto de repouso, até a 'reforma' protestante, dada no século XVI. Também venerada pela igreja 'ortodoxa', mundialmente é a Padroeira dos cegos e oftalmologistas.
Seu corpo foi sepultado sem a cabeça, que acabou despedaçada e queimada a mando do governador, mas com todas honrarias de um funeral cristão, ainda que ocultamente, e junto aos mártires da Igreja Católica Apostólica Romana. As catacumbas daí então passaram a homenageá-la, levando seu nome.
Em 1040, ainda intacto, seu corpo santo foi presenteado a Teodora, imperatriz de Constantinopla, que era sua devota. Sua igreja e mausoléu em Siracusa, entretanto, que datam de poucos anos depois do fim da perseguição aos cristãos, foram muito bem preservados.
Em 1204, porém, temendo sua profanação por muçulmanos que invadiam a Terra Santa, os cruzados trouxeram-no de volta a Itália, e depuseram-no na igreja de São Jeremias, em Veneza.
Contudo, por causa das grandes romarias que provocava entre o povo e por falta de um adequado lugar, em poucos anos resolveram temporariamente ocultá-lo, temendo que acabassem profanando-o ali mesmo, em Itália. E assim seu corpo terminou 'desaparecido' até 1894, quando finalmente foi identificada uma lápide, escrita em grego antigo, que contém seu nome.
Em 1040, ainda intacto, seu corpo santo foi presenteado a Teodora, imperatriz de Constantinopla, que era sua devota. Sua igreja e mausoléu em Siracusa, entretanto, que datam de poucos anos depois do fim da perseguição aos cristãos, foram muito bem preservados.
Em 1204, porém, temendo sua profanação por muçulmanos que invadiam a Terra Santa, os cruzados trouxeram-no de volta a Itália, e depuseram-no na igreja de São Jeremias, em Veneza.
Contudo, por causa das grandes romarias que provocava entre o povo e por falta de um adequado lugar, em poucos anos resolveram temporariamente ocultá-lo, temendo que acabassem profanando-o ali mesmo, em Itália. E assim seu corpo terminou 'desaparecido' até 1894, quando finalmente foi identificada uma lápide, escrita em grego antigo, que contém seu nome.
Por esses tempos, aliás, dada a campanha de difamação que vem sendo propagada pelo mundo 'moderno' contra a Santa Igreja Católica, já se divulgava que sua história seria apenas 'mais uma lenda'. Aberto o sepulcro, no entanto, seu corpo todavia não se havia decomposto por completo, como ainda hoje se vê.
Santa Luzia, rogai por nós!
