Por causa do pecado, vacilar na fé é característico da natureza humana, mas é igualmente característico, dadas algumas experiências, que ao longo da vida cresçamos em maturidade espiritual e fidelidade a Deus.
Seguidores muito próximos de Jesus, mesmo vendo Seus milagres e presenciando o cumprimento das profecias, também vacilaram. O maior flagrante deu-se quando Ele anunciou que Seu Sangue e Sua Carne são o alimento da Vida Eterna: "Desde então, muitos de Seus discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. Então Jesus perguntou aos Doze: 'Quereis vós também vos retirar?' Respondeu-Lhe Simão Pedro: 'Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da Vida Eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!'" Jo 6,66-69
Outra constatação deste fato está no episódio dos discípulos que abandonaram os Apóstolos e partiram para Emaús, no Domingo da Ressurreição, mesmo após três anos e meio de convivência com Nosso Salvador: "Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando um com o outro de tudo que se tinha passado. Enquanto conversavam e discorriam entre si, o próprio Jesus aproximou-Se e caminhava com eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados, e não O reconheceram. Perguntou-lhes, então: 'De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?' Um deles, chamado Cléofas, respondeu-Lhe: 'És Tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?' Perguntou-lhes Ele: 'Que foi?' Disseram: 'A respeito de Jesus de Nazaré... Era um poderoso Profeta em obras e palavras, diante de Deus e de todo povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos magistrados entregaram-nO para ser condenado à morte e crucificaram-nO. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres dentre nós surpreenderam-nos. Elas foram ao Sepulcro, antes do nascer do sol, e não tendo achado Seu Corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que Ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao Sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a Ele mesmo não viram.' Disse-lhes Jesus: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?' E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,13-27
Por hesitação, Jesus também repreendeu a São Pedro, justamente a quem iria prometer as chaves do Reino dos Céus: "E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias. E abertamente falava-lhes dessas coisas. Pedro, tomando-O à parte, começou a repreendê-Lo. Mas, voltando-Se Ele, olhou para Seus discípulos e repreendeu a Pedro: 'Afasta-te de Mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens.'" Mc 8,31-33
E, mais uma vez, quando o pescador pediu para andar com o Senhor sobre as águas: "Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles caminhando sobre o mar. Quando os discípulos O perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo: 'É um fantasma!' disseram eles, soltando gritos de terror. Mas Jesus logo lhes disse: 'Tranquilizai-vos, sou Eu. Não tenhais medo!' Pedro tomou a palavra e falou: 'Senhor, se és Tu, manda-me ir sobre as águas até junto a Ti!' Ele disse-lhe: 'Vem!' Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: 'Homem de pouca fé, por que duvidaste?'" Mt 14,25-31
A verdade é que o materialismo e o racionalismo, nos quais a vida moderna facilmente nos enreda, são uma grande fábrica de céticos aos sinais de Deus. Mas esses deslises da percepção não são nada recentes: assim como os discípulos de Emaús, os demais Apóstolos, à exceção de São Pedro que já O havia visto no Domingo da Ressurreição, também duvidaram. E isso aconteceu mesmo tendo diante de si o Cristo ressuscitado: "Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: 'A Paz esteja convosco!' Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas Ele disse-lhes: 'Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações? Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo! Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho!' E dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas ainda vacilando eles, e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Então Lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,36-43
São Marcos relata a mesma cena de Sua primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos, ressaltando a repreensão que Ele lhes faz por não terem acreditado nos testemunhos de Santa Maria Madalena, de São Pedro e dos discípulos que estavam a caminho de Emaús: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
São Tomé, que não estava presente na primeira aparição aos Dez Apóstolos, quando ainda estavam em Jerusalém, também recebeu a devida correção por sua impertinente teimosia: "Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!' Depois disse a Tomé: 'Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas mãos. Põe tua mão em Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé.' Respondeu-Lhe Tomé: 'Meu Senhor e Meu Deus!' Disse-lhe Jesus: 'Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!'" Jo 20,26-27
São Mateus descreve a mesma hesitação entre os demais seguidores, mais de 500 segundo São Paulo (cf. 1 Cor 15,6), quando, guiados pelos Apóstolos, presenciaram a aparição numa montanha da Galileia. Aí Jesus lhes desfez as dúvidas proclamando Seu absoluto poder: "Os Onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando O viram, adoraram-nO. Entretanto, alguns ainda hesitavam, mas Jesus, aproximando-Se, disse-lhes: 'Toda autoridade foi-Me dada no Céu e na terra.'" Mt 28,16-18
Todas essas situações, exceto a de São Pedro, longe de apenas demonstrar as incertezas dos Apóstolos, discípulos e seguidores, revelam quão verdadeiros foram os fatos acerca da Ressurreição. Eles vivenciaram, sem dúvida, uma absolutamente desconcertante realidade, a qual reagiram de ordinário modo, porém espontâneo. Não fosse a mais pura Verdade, eles não a relatariam, pois em essência denuncia suas fraquezas, atesta contra suas condutas de seguidores. Ou seja, a incredulidade, que não tiveram vergonha de registrar, é um forte testemunho a favor da veracidade da Ressurreição de Cristo. É isso que São João Evangelista nos comunica, usando palavras que ele bem sabe que não comportam o que quer expressar: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da Vida, porque a Vida se manifestou, e nós a temos visto, damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco." 1 Jo 1,1-3
Como grande mestre, São Paulo, que inicialmente também não acreditou em Cristo Jesus e até combateu a Igreja, reconhece nossas inconstâncias na Caminhada até Deus. Ele escreveu ao romanos: "Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que queria, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal. No íntimo de meu ser, deleito-me na Lei de Deus. Sinto, porém, em meus membros outra lei, que luta contra a Lei de meu espírito e prende-me à lei do pecado, que está em meus membros. Infeliz homem que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?..." Rm 7,18-24
Ele mesmo, e já alguns anos após sua conversão, custou a considerar Jesus como Deus, como ele confessa: "Por isso, nós daqui em diante a ninguém conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim." 2 Cor 5,16
Mas também lembra que nossos esforços contam com os prestimosos auxílios do Espírito de Deus: "Nós que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos." Rm 8,25-26
Ele explica: "O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,3-4
E assegura aos filipenses: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
Por isso, ao invés de alardear virtudes, ele preferia confessar suas faltas, pois sabia que na verdadeira humildade é que encontramos fortaleza: "Ademais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofetear-me e livrar-me do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim, mas Ele disse-me: 'Basta-te Minha Graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente Minha força.' Portanto, prefiro gloriar-me de minhas fraquezas para que em mim habite a força de Cristo. Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12,7-10
E assim entre ele e Deus se interpunha outro dilema, polarizado por ele e as comunidades que servia: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo (disto tenho toda certeza), quer por minha vida quer por minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Mas se o viver no corpo é útil para meu trabalho, não sei então o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor. Porém, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Fl 1,20-24
CRESCER NO CONHECIMENTO DE DEUS
Por sua vez, o Príncipe dos Apóstolos, que arrebatadamente amadureceu para a santidade, é bem específico ao dizer como recebemos as divinas unções: "... Graça e Paz em abundância sejam-vos dadas por um profundo conhecimento de Deus e de Jesus, Nosso Senhor!" 2 Pd 1,2
Fidelíssimo pastor, ele não deixa de advertir a respeito dos deturpadores das Escrituras, que acintosamente pervertem a Sã Doutrina, pois seu intuito é que também cheguemos ao verdadeiro conhecimento de Cristo: "Reconhecei que a longa paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras. Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais de vossa firmeza, levados pelo erro destes ímpios homens. Mas crescei na Graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele a Glória, agora e eternamente." 2 Pd 3,17-18
São Tiago Menor acrescenta que a vitória frente às tentações se dá pela paciência embasada na Sabedoria, mas desde que tenazmente nos proponhamos a resistir ao Mal: "Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova de vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma. Se alguém de vós necessita de Sabedoria, peça-a a Deus, que liberalmente dá a todos, com simplicidade e sem recriminação, e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro. Não pense tal homem, portanto, que alcançará alguma coisa do Senhor, pois é um irresoluto, inconstante em todo seu proceder." Tg 1,2-8
Assim, diante da Revelação de Deus, o sensato ser humano só pode reagir buscando conhecê-la. Eis que São Paulo enfrentava qualquer dificuldade pensando na promoção do crescimento espiritual do fiéis, que devem ter o Cristo como modelo. Ele escreveu aos efésios: "Por isso, rogo-vos que não desfaleçais por minhas tribulações que por vós sofro: elas são vossa Glória! Por esta causa, dobro os joelhos em presença do Pai, ao Qual deve sua existência toda família no Céu e na Terra, para que vos conceda, segundo Seu glorioso tesouro, que por Seu Espírito sejais poderosamente robustecidos tendo em vista o crescimento de vosso homem interior. Que pela fé habite Cristo em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo conhecimento, e sejais cheios de toda plenitude de Deus." Ef 3,13-19
Ele garante a São Timóteo: "Entende bem o que eu quero dizer. O Senhor há de dar-te inteligência em tudo." 2 Tm 2,7
Aos coríntios: "N'Ele (Jesus) ricamente fostes contemplados com todos dons, com os da Palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo." 1 Cor 1,5-6
Pedia empenho aos romanos, e compreensão para com os mais fracos na fé: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito. Em virtude da Graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um razoavelmente modesto conceito, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu." Rm 12,2-3
Cabe a nós, então, demonstrando verdadeiro amor a Deus, vencer a incredulidade adquirindo maior conhecimento de Cristo. O Apóstolo dos Gentios diz aos colossenses: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
E falando da esperança, da herança e do poder de Deus, através dos quais somos capacitados para afastar qualquer hesitação, ele rezava: "Rogo ao Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, que vos dê um espírito de Sabedoria que vos revele o conhecimento d'Ele. Que ilumine os olhos do vosso coração para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que Ele reserva aos Santos, e qual a suprema grandeza de Seu poder para conosco, que abraçamos a fé." Ef 1,17-19
Pois é o aperfeiçoamento do ser humano, demonstrado por Jesus através da solidez da fé e da efetiva caridade, que promove a construção da Igreja, que é Seu Corpo Místico: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo Corpo, coordenado e unido por conexões que estão ao Seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, efetua esse crescimento visando sua plena edificação na caridade." Ef 4,11-16
Ora, este Apóstolo dizia aos filipenses que conhecer a Cristo é tudo que realmente importa: "Na verdade, julgo como perda todas coisas, em comparação com esse supremo bem: o conhecimento de Jesus Cristo, Meu Senhor. Por Ele, tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo..." Fl 3,8
Ele demonstra humildade, apesar das grandiosas Graças que recebeu, e prega perseverança: "Anseio pelo conhecimento de Cristo, pelo conhecimento do poder de Sua Ressurreição através da participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte, com a esperança de conseguir a Ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei esta meta, e que cheguei à perfeição. Não. Mas empenho-me em conquistá-la, uma vez que eu também fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não a ter ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo rumo ao celeste prêmio ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisto nosso afeto! E se tendes outro sentir, sobre isto Deus há de esclarecer-vos. Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é decididamente prosseguir." Fl 3,10-16
De fato, ele não buscava nenhum médio estágio, como exorta os tessalonicenses: "No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus. E já o fazeis! Rogamo-vos, pois, e exortamos-vos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: vossa santificação..." 1 Ts 4,1-3b
Ora, isso foi o que determinou o próprio Jesus, durante o Sermão da Montanha: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito (Lv 19,2)." Mt 5,48
E o Último Apóstolo, pois, só poderia desejar o mesmo conhecimento aos colossenses: "Por isso, nós também... não cessamos de orar por vós e pedir a Deus para que vos conceda pleno conhecimento de Sua vontade, perfeita sabedoria e profundidade espiritual, para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, em tudo procurando agradar-Lhe, em toda boa obra frutificando, e crescendo no conhecimento de Deus." Cl 1,9-10
Plenamente inspirado, ele vê no conhecimento do Cristo a restauração da imagem de Deus, que a humanidade perdeu: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10
Também foi o que ele disse a São Timóteo, pois a Deus só agradamos quando vivemos a verdadeira piedade: "Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos homens, pelos reis e por todos que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma calma e tranquila vida, com toda piedade e honestidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, Nosso Salvador, o Qual deseja que todos homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade." 1 Tm 2,1-4
E mais uma vez, em outra carta, ele fala no conhecimento da Verdade: "É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade..." 2 Tm 2,25
Os seguidores de sua tradição, porém, lamentavam-se de gente de dentro da própria Igreja: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais, que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-14
Aliás, esse era um argumento do próprio São Paulo, denunciando invejas e intrigas: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento, que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto entre vós houver ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um modo totalmente humano?" 1 Cor 3,1-3
OS QUE RENEGAM A FÉ
Porém, entre ocasionalmente vacilar na fé e com empenho buscar o conhecimento de Deus, pedindo-Lhe fé e Sabedoria, há muitos que optam por renegar a Deus. Mas pela simples contemplação da natureza, segundo São Paulo, eles não têm desculpa: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-nos em si mesmos, pois com evidência Deus lhes revelou. Desde a criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,19-20
E os que abraçam a depravação, ainda segundo sua carta aos romanos, já estão pagando por sua má vontade: "Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento." Rm 1,28
Por fim, ele também e diretamente acusa o Maligno, sedutor dos incrédulos: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor 4,3-4
No entanto, deixa bem claro qual o poder da Palavra de Deus: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5
Pelo poder de Seu Magistério, outrossim, a Igreja ensina no Catecismo: "A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas, mas "a certeza dada pela Divina Luz é maior que a que é dada pela luz da razão natural." [São Tomás de Aquino] CIC § 157
Ainda diz: "O primeiro mandamento manda-nos alimentar e guardar com prudência e vigilância nossa fé, e rejeitar tudo que se lhe opõe. Há diversas maneiras de pecar contra a fé:
A voluntária dúvida sobre a fé negligencia ou recusa ter como verdadeiro o que Deus revelou, e que a Igreja propõe para crer. A involuntária dúvida designa a hesitação em crer, a dificuldade de superar as objeções ligadas à fé ou, ainda, a ansiedade suscitada pela obscuridade da fé. Se for deliberadamente cultivada, a dúvida pode levar à cegueira do espírito.
A incredulidade é a negligência da Verdade revelada ou a voluntária recusa de dar-lhe o próprio assentimento. 'Chama-se heresia a pertinaz negação, após a recepção do Batismo, de qualquer Verdade que se deve crer com divina e católica fé, ou a pertinaz dúvida a respeito dessa Verdade; apostasia, o total repúdio da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.'" CIC § 2088-2089
"A todos dai a Luz que não se apaga!"
Outra constatação deste fato está no episódio dos discípulos que abandonaram os Apóstolos e partiram para Emaús, no Domingo da Ressurreição, mesmo após três anos e meio de convivência com Nosso Salvador: "Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando um com o outro de tudo que se tinha passado. Enquanto conversavam e discorriam entre si, o próprio Jesus aproximou-Se e caminhava com eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados, e não O reconheceram. Perguntou-lhes, então: 'De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?' Um deles, chamado Cléofas, respondeu-Lhe: 'És Tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?' Perguntou-lhes Ele: 'Que foi?' Disseram: 'A respeito de Jesus de Nazaré... Era um poderoso Profeta em obras e palavras, diante de Deus e de todo povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos magistrados entregaram-nO para ser condenado à morte e crucificaram-nO. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres dentre nós surpreenderam-nos. Elas foram ao Sepulcro, antes do nascer do sol, e não tendo achado Seu Corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que Ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao Sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a Ele mesmo não viram.' Disse-lhes Jesus: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?' E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,13-27
Por hesitação, Jesus também repreendeu a São Pedro, justamente a quem iria prometer as chaves do Reino dos Céus: "E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias. E abertamente falava-lhes dessas coisas. Pedro, tomando-O à parte, começou a repreendê-Lo. Mas, voltando-Se Ele, olhou para Seus discípulos e repreendeu a Pedro: 'Afasta-te de Mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens.'" Mc 8,31-33
E, mais uma vez, quando o pescador pediu para andar com o Senhor sobre as águas: "Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles caminhando sobre o mar. Quando os discípulos O perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo: 'É um fantasma!' disseram eles, soltando gritos de terror. Mas Jesus logo lhes disse: 'Tranquilizai-vos, sou Eu. Não tenhais medo!' Pedro tomou a palavra e falou: 'Senhor, se és Tu, manda-me ir sobre as águas até junto a Ti!' Ele disse-lhe: 'Vem!' Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: 'Homem de pouca fé, por que duvidaste?'" Mt 14,25-31
A verdade é que o materialismo e o racionalismo, nos quais a vida moderna facilmente nos enreda, são uma grande fábrica de céticos aos sinais de Deus. Mas esses deslises da percepção não são nada recentes: assim como os discípulos de Emaús, os demais Apóstolos, à exceção de São Pedro que já O havia visto no Domingo da Ressurreição, também duvidaram. E isso aconteceu mesmo tendo diante de si o Cristo ressuscitado: "Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: 'A Paz esteja convosco!' Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas Ele disse-lhes: 'Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações? Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo! Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho!' E dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas ainda vacilando eles, e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Então Lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,36-43
São Marcos relata a mesma cena de Sua primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos, ressaltando a repreensão que Ele lhes faz por não terem acreditado nos testemunhos de Santa Maria Madalena, de São Pedro e dos discípulos que estavam a caminho de Emaús: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
São Tomé, que não estava presente na primeira aparição aos Dez Apóstolos, quando ainda estavam em Jerusalém, também recebeu a devida correção por sua impertinente teimosia: "Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!' Depois disse a Tomé: 'Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas mãos. Põe tua mão em Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé.' Respondeu-Lhe Tomé: 'Meu Senhor e Meu Deus!' Disse-lhe Jesus: 'Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!'" Jo 20,26-27
São Mateus descreve a mesma hesitação entre os demais seguidores, mais de 500 segundo São Paulo (cf. 1 Cor 15,6), quando, guiados pelos Apóstolos, presenciaram a aparição numa montanha da Galileia. Aí Jesus lhes desfez as dúvidas proclamando Seu absoluto poder: "Os Onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando O viram, adoraram-nO. Entretanto, alguns ainda hesitavam, mas Jesus, aproximando-Se, disse-lhes: 'Toda autoridade foi-Me dada no Céu e na terra.'" Mt 28,16-18
Todas essas situações, exceto a de São Pedro, longe de apenas demonstrar as incertezas dos Apóstolos, discípulos e seguidores, revelam quão verdadeiros foram os fatos acerca da Ressurreição. Eles vivenciaram, sem dúvida, uma absolutamente desconcertante realidade, a qual reagiram de ordinário modo, porém espontâneo. Não fosse a mais pura Verdade, eles não a relatariam, pois em essência denuncia suas fraquezas, atesta contra suas condutas de seguidores. Ou seja, a incredulidade, que não tiveram vergonha de registrar, é um forte testemunho a favor da veracidade da Ressurreição de Cristo. É isso que São João Evangelista nos comunica, usando palavras que ele bem sabe que não comportam o que quer expressar: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da Vida, porque a Vida se manifestou, e nós a temos visto, damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco." 1 Jo 1,1-3
Como grande mestre, São Paulo, que inicialmente também não acreditou em Cristo Jesus e até combateu a Igreja, reconhece nossas inconstâncias na Caminhada até Deus. Ele escreveu ao romanos: "Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que queria, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal. No íntimo de meu ser, deleito-me na Lei de Deus. Sinto, porém, em meus membros outra lei, que luta contra a Lei de meu espírito e prende-me à lei do pecado, que está em meus membros. Infeliz homem que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?..." Rm 7,18-24
Ele mesmo, e já alguns anos após sua conversão, custou a considerar Jesus como Deus, como ele confessa: "Por isso, nós daqui em diante a ninguém conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim." 2 Cor 5,16
Mas também lembra que nossos esforços contam com os prestimosos auxílios do Espírito de Deus: "Nós que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos." Rm 8,25-26
Ele explica: "O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,3-4
E assegura aos filipenses: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
Por isso, ao invés de alardear virtudes, ele preferia confessar suas faltas, pois sabia que na verdadeira humildade é que encontramos fortaleza: "Ademais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofetear-me e livrar-me do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim, mas Ele disse-me: 'Basta-te Minha Graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente Minha força.' Portanto, prefiro gloriar-me de minhas fraquezas para que em mim habite a força de Cristo. Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12,7-10
E assim entre ele e Deus se interpunha outro dilema, polarizado por ele e as comunidades que servia: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo (disto tenho toda certeza), quer por minha vida quer por minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Mas se o viver no corpo é útil para meu trabalho, não sei então o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor. Porém, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Fl 1,20-24
CRESCER NO CONHECIMENTO DE DEUS
Por sua vez, o Príncipe dos Apóstolos, que arrebatadamente amadureceu para a santidade, é bem específico ao dizer como recebemos as divinas unções: "... Graça e Paz em abundância sejam-vos dadas por um profundo conhecimento de Deus e de Jesus, Nosso Senhor!" 2 Pd 1,2
Fidelíssimo pastor, ele não deixa de advertir a respeito dos deturpadores das Escrituras, que acintosamente pervertem a Sã Doutrina, pois seu intuito é que também cheguemos ao verdadeiro conhecimento de Cristo: "Reconhecei que a longa paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras. Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais de vossa firmeza, levados pelo erro destes ímpios homens. Mas crescei na Graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele a Glória, agora e eternamente." 2 Pd 3,17-18
São Tiago Menor acrescenta que a vitória frente às tentações se dá pela paciência embasada na Sabedoria, mas desde que tenazmente nos proponhamos a resistir ao Mal: "Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova de vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma. Se alguém de vós necessita de Sabedoria, peça-a a Deus, que liberalmente dá a todos, com simplicidade e sem recriminação, e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro. Não pense tal homem, portanto, que alcançará alguma coisa do Senhor, pois é um irresoluto, inconstante em todo seu proceder." Tg 1,2-8
Assim, diante da Revelação de Deus, o sensato ser humano só pode reagir buscando conhecê-la. Eis que São Paulo enfrentava qualquer dificuldade pensando na promoção do crescimento espiritual do fiéis, que devem ter o Cristo como modelo. Ele escreveu aos efésios: "Por isso, rogo-vos que não desfaleçais por minhas tribulações que por vós sofro: elas são vossa Glória! Por esta causa, dobro os joelhos em presença do Pai, ao Qual deve sua existência toda família no Céu e na Terra, para que vos conceda, segundo Seu glorioso tesouro, que por Seu Espírito sejais poderosamente robustecidos tendo em vista o crescimento de vosso homem interior. Que pela fé habite Cristo em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo conhecimento, e sejais cheios de toda plenitude de Deus." Ef 3,13-19
Ele garante a São Timóteo: "Entende bem o que eu quero dizer. O Senhor há de dar-te inteligência em tudo." 2 Tm 2,7
Aos coríntios: "N'Ele (Jesus) ricamente fostes contemplados com todos dons, com os da Palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo." 1 Cor 1,5-6
Pedia empenho aos romanos, e compreensão para com os mais fracos na fé: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito. Em virtude da Graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um razoavelmente modesto conceito, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu." Rm 12,2-3
Cabe a nós, então, demonstrando verdadeiro amor a Deus, vencer a incredulidade adquirindo maior conhecimento de Cristo. O Apóstolo dos Gentios diz aos colossenses: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
E falando da esperança, da herança e do poder de Deus, através dos quais somos capacitados para afastar qualquer hesitação, ele rezava: "Rogo ao Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, que vos dê um espírito de Sabedoria que vos revele o conhecimento d'Ele. Que ilumine os olhos do vosso coração para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que Ele reserva aos Santos, e qual a suprema grandeza de Seu poder para conosco, que abraçamos a fé." Ef 1,17-19
Pois é o aperfeiçoamento do ser humano, demonstrado por Jesus através da solidez da fé e da efetiva caridade, que promove a construção da Igreja, que é Seu Corpo Místico: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo Corpo, coordenado e unido por conexões que estão ao Seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, efetua esse crescimento visando sua plena edificação na caridade." Ef 4,11-16
Ora, este Apóstolo dizia aos filipenses que conhecer a Cristo é tudo que realmente importa: "Na verdade, julgo como perda todas coisas, em comparação com esse supremo bem: o conhecimento de Jesus Cristo, Meu Senhor. Por Ele, tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo..." Fl 3,8
Ele demonstra humildade, apesar das grandiosas Graças que recebeu, e prega perseverança: "Anseio pelo conhecimento de Cristo, pelo conhecimento do poder de Sua Ressurreição através da participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte, com a esperança de conseguir a Ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei esta meta, e que cheguei à perfeição. Não. Mas empenho-me em conquistá-la, uma vez que eu também fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não a ter ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo rumo ao celeste prêmio ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisto nosso afeto! E se tendes outro sentir, sobre isto Deus há de esclarecer-vos. Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é decididamente prosseguir." Fl 3,10-16
De fato, ele não buscava nenhum médio estágio, como exorta os tessalonicenses: "No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus. E já o fazeis! Rogamo-vos, pois, e exortamos-vos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: vossa santificação..." 1 Ts 4,1-3b
Ora, isso foi o que determinou o próprio Jesus, durante o Sermão da Montanha: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito (Lv 19,2)." Mt 5,48
E o Último Apóstolo, pois, só poderia desejar o mesmo conhecimento aos colossenses: "Por isso, nós também... não cessamos de orar por vós e pedir a Deus para que vos conceda pleno conhecimento de Sua vontade, perfeita sabedoria e profundidade espiritual, para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, em tudo procurando agradar-Lhe, em toda boa obra frutificando, e crescendo no conhecimento de Deus." Cl 1,9-10
Plenamente inspirado, ele vê no conhecimento do Cristo a restauração da imagem de Deus, que a humanidade perdeu: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10
Também foi o que ele disse a São Timóteo, pois a Deus só agradamos quando vivemos a verdadeira piedade: "Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos homens, pelos reis e por todos que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma calma e tranquila vida, com toda piedade e honestidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, Nosso Salvador, o Qual deseja que todos homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade." 1 Tm 2,1-4
E mais uma vez, em outra carta, ele fala no conhecimento da Verdade: "É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade..." 2 Tm 2,25
Os seguidores de sua tradição, porém, lamentavam-se de gente de dentro da própria Igreja: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais, que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-14
Aliás, esse era um argumento do próprio São Paulo, denunciando invejas e intrigas: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento, que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto entre vós houver ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um modo totalmente humano?" 1 Cor 3,1-3
Porém, entre ocasionalmente vacilar na fé e com empenho buscar o conhecimento de Deus, pedindo-Lhe fé e Sabedoria, há muitos que optam por renegar a Deus. Mas pela simples contemplação da natureza, segundo São Paulo, eles não têm desculpa: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-nos em si mesmos, pois com evidência Deus lhes revelou. Desde a criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,19-20
E os que abraçam a depravação, ainda segundo sua carta aos romanos, já estão pagando por sua má vontade: "Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento." Rm 1,28
Por fim, ele também e diretamente acusa o Maligno, sedutor dos incrédulos: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor 4,3-4
No entanto, deixa bem claro qual o poder da Palavra de Deus: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5
Pelo poder de Seu Magistério, outrossim, a Igreja ensina no Catecismo: "A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas, mas "a certeza dada pela Divina Luz é maior que a que é dada pela luz da razão natural." [São Tomás de Aquino] CIC § 157
Ainda diz: "O primeiro mandamento manda-nos alimentar e guardar com prudência e vigilância nossa fé, e rejeitar tudo que se lhe opõe. Há diversas maneiras de pecar contra a fé:
A voluntária dúvida sobre a fé negligencia ou recusa ter como verdadeiro o que Deus revelou, e que a Igreja propõe para crer. A involuntária dúvida designa a hesitação em crer, a dificuldade de superar as objeções ligadas à fé ou, ainda, a ansiedade suscitada pela obscuridade da fé. Se for deliberadamente cultivada, a dúvida pode levar à cegueira do espírito.
A incredulidade é a negligência da Verdade revelada ou a voluntária recusa de dar-lhe o próprio assentimento. 'Chama-se heresia a pertinaz negação, após a recepção do Batismo, de qualquer Verdade que se deve crer com divina e católica fé, ou a pertinaz dúvida a respeito dessa Verdade; apostasia, o total repúdio da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.'" CIC § 2088-2089
"A todos dai a Luz que não se apaga!"