quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Entender a Bíblia


A INTERPRETAÇÃO DADA POR JESUS

    Muitos aventuram-se a 'interpretar' a Bíblia. Mas cabe perguntar: isso é minimamente sensato? Sabendo que as Sagradas Escrituras são registros do processo de Revelação que remonta 3 milênios, e levaram ao menos 13 séculos para serem escritas, poderíamos desprezar tudo que foi compreendido simultaneamente aos fatos, somado ao que já foi inspirado, meditado e assimilado desde então? É razoável que uma simples pessoa, ou mesmo um grupo, se dê a tamanha revisão histórica e doutrinária? Há alguma humildade ou prudência nisso? Poderíamos ignorar o que ensina a Sagrada Tradição? Poderiam estudos recentes ter encontrado o 'verdadeiro sentido' da Palavra de Deus, a despeito do que Ele próprio já vem iluminando por Seu Espírito através dos séculos, e confirmando por Suas expressas e frequentes manifestações? E, afinal, temos ou não uma religião revelada pelo próprio Deus?
    Os seguidores da tradição de São Paulo já provocavam, como que tentando despertar incautos: "... cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas..." Hb 12,1a
    São João Evangelista diz da Igreja: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Pois foi o que Jesus disse, referindo-Se à comunidade cristã que Ele mesmo havia reunido e que os Apóstolos manteriam: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    Ele até advertiu: "Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou." Lc 10,16
    E foi assim que a Igreja se estabeleceu, porque aos Apóstolos foi confiada a Palavra da Salvação: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações." At 2,42
    Ora, embora a Revelação se tenha consumado com a Vinda de Jesus, Ele mesmo avisou que Seus ensinamentos seriam arrematados, como desde sempre, pelo próprio Espírito de Deus: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não podeis suportá-las agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu, e anunciá-vos-á." Jo 16,12-14
     Com o Pentecostes, portanto, a transmissão da Revelação foi concluída, como São Judas Tadeu aferiu: "Caríssimos, estando eu muito preocupado em escrever-vos a respeito de nossa comum Salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela , de uma vez para sempre confiada aos Santos." Jd 1,3
    Para deixar bem claro Quem está no comando, São Pedro fulminou estas pretensiosas e egocêntricas travessuras que atentam contra a Unidade, contra a Comunhão promovida pelo Espírito Santo: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação." 2 Pd 1,20
    E falando sobre São Paulo e suas cartas, ele denunciou as heresias que já eram abraçadas a seu tempo: "É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala sobre estes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,16
    De forma emblemática, São Filipe, um dos 7 primeiros diáconos, guiado pelo Espírito de Deus ouviu de um eunuco, ministro da rainha da Etiópia, a pergunta que invariavelmente deveria ser feita por todo estudante da Bíblia: "O Espírito disse a Filipe: 'Aproxima-te para bem perto deste carro.' Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o Profeta Isaías, e perguntou-lhe: 'Porventura entendes o que estás lendo?' Respondeu-lhe: 'Como é que posso, se não há alguém que mo explique?' E rogou a Filipe que subisse e sentasse junto a ele." At 8,30-31
    O próprio Jesus, em defesa da Autêntica Tradição, interrogou um doutor da Lei sobre suas interpretações das Escrituras: "Que está escrito na Lei? Como é que lês?" Lc 10,26
    E fê-lo várias vezes, como na ocasião em que foi questionado sobre o divórcio, pois exigia uma verdadeiramente atenta leitura, como requerem as coisas de Deus: "Respondeu-lhes Jesus: 'Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher. E os dois formarão uma só carne?'" Mt 19,4-5
    Ele exigia fidelidade à divina inspiração: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, contudo sem deixar o restante." Mt 23,23
    Pois, como visto, só há uma forma de entender o que diz a Bíblia: sob a guia do Espírito de Deus, tomando o Cristo como essência da Revelação e meditando a inspiração por Ele confiada a São Pedro, a qual compõe o Magistério da Igreja. De fato, só ao Príncipe dos Apóstolos Jesus fez essa promessa: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19
    Essas chaves significam o poder de interpretar corretamente as Escrituras, assim como todos demais assuntos referentes à construção do Reino de Deus. Não por acaso, Jesus vai reclamar dos religiosos que não praticavam nem retransmitiam as sagradas revelações de até então, que sempre foram claramente Cristocêntricas: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar." Lc 11,52
    São Paulo também denuncia a falta de religiosidade e as típicas distorções da meramente mundana vida, tocada pela desonestidade: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus, que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem aqueles que as cometem." Rm 1,18-31-32
    E para com elas não permitia nenhuma tolerância: ordenava que fossem denunciadas: "Vivei como filhos da Luz. E o fruto da Luz chama-se: bondade, justiça, Verdade. Discerni o que agrada ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,8b-11
    A Comunhão com o Espírito Santo, portanto, é vital. Numa sentença que vale para muito 'cristão' hoje em dia, Santo Estevão não acusou anciãos, escribas e membros dos Sinédrio de não compreender as Escrituras nem de não acolher o Cristo. Ele preferiu assim resumir: "Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo." At 7,51
    E defendendo a Tradição Messiânica expressa no Antigo Testamento, cuja realização se deu na Pessoa de Jesus, São João Evangelista vai dizer: "Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro. Nisto é que conhecemos que estamos n'Ele e Ele em nós, por Ele ter-nos dado Seu Espírito." 1 Jo 4,6.13
    O Amado Discípulo atesta que o Santo Espírito dá expresso testemunho de Jesus: "Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que o Cristo encarnou em Jesus é de Deus. E todo espírito que não proclama Jesus, esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está no mundo." 1 Jo 4,2-3
    Por isso, declara: "... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,3
    Sem dúvida, o próprio Jesus havia dito: "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim." Jo 15,26
    E Ele sempre usou do auxílio do Divino Paráclito para transmitir Suas revelações aos Apóstolos, como São Lucas afirmou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado." At 1,1-2
    Assim, para que cheguemos ao correto entendimento dos Sagrados Livros, precisamos reconhecer que somos absolutamente carentes da Luz do Divino Espírito. São Paulo argumenta: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para sermos ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,5-6
    Por isso, os Apóstolos testemunharam com tanta convicção diante do Sinédrio: "Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Importa obedecer antes a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,29-32
    E o próprio Jesus avisou qual será a consequência para quem, mesmo de boa vontade, ensina o que não foi inspirado pelo Espírito de Deus: "Aquele que violar um destes Mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus." Mt 5,19
    Ele foi igualmente claro quanto a certas influências: "Dizei somente: sim, se é sim, e não, se é não. Tudo que passa além disto vem do Maligno." Mt 5,37
    E abertamente criticava os que se arvoravam mestres, como os saduceus, que ignoravam a onipotência e divulgavam errôneos entendimentos: "Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus." Mt 22,29
    Condenava as distorcidas tradições de alguns religiosos judeus, como fariseus e escribas: "Jesus respondeu-lhes: 'E vós, por que violais os preceitos de Deus por causa de vossa tradição? Assim anulais a Palavra de Deus.'" Mt 15,3.6b
    E citando Isaías, também condenava seus cultos: "Vão é o culto que Me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is 29,13)." Mt 15,9
    Após ressuscitar, explicando aos Apóstolos porque foi necessário padecer Sua Paixão, Jesus questionou-lhes precisamente a fidelidade ao que estava escrito: "Mas como se cumpririam, então, as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim?" Mt 26,54
    Ele dava aos Sagrados Livros uma única e linear interpretação, sempre no sentido Cristocêntrico: "E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,27
    Desse entendimento, resta notório que primeiro devemos nos arrepender de nossos erros, para só então sermos Suas testemunhas, como São Pedro disse aos judeus no dia do Pentecostes: "Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais Apóstolos: 'Que devemos fazer, irmãos?' Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,37-38
    E, nestes termos, Jesus explica a missão da Igreja aos Apóstolos, logo na primeira aparição ao colégio deles no Domingo da Ressurreição: "Então abriu-lhes o espírito para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 'Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso.'" Lc 24,45-48
    Pois enquanto absoluta manifestação de Deus, Jesus é o centro de tudo que os sagrados autores escreveram, como Ele mesmo afirmou: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    E foi mais específico: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito. Mas se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas Minhas Palavras?"
Jo 5,46-47

    Até previu que nem mesmo Sua Ressurreição seria levada em conta pelos judeus: "Se não ouvirem a Moisés e aos Profetas, tampouco deixar-se-ão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos." Lc 16,31b
    Esse também foi o testemunho de Zacarias no nascimento de São João Batista, seu filho, ao profetizar a Verdadeira Liberdade então a ser promovida pelo Cristo: "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou Seu povo, e suscitou-nos um Poderoso Salvador, na casa de Davi, Seu servo, como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante Seus santos Profetas, para livrar-nos de nossos inimigos e das mãos de todos que nos odeiam. Assim exerce Sua Misericórdia com nossos pais, e recorda-se de Sua Santa Aliança, segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de conceder-nos que, sem temor, libertados de mãos inimigas, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,68-74
    Quanto ao Evangelho, que já começava a compilar os ensinamentos e os fatos vividos por Jesus, São Paulo diz que o próprio Deus o confiou aos Apóstolos: "Mas como Deus nos julgou dignos de confiar-nos o Evangelho, não falamos para agradar aos homens e sim a Deus, que sonda nossos corações." 1 Ts 2,24
    Por isso, sem deixar de recordar os auxílios do Divino Paráclito, escrevendo a São Timóteo e em perfeita sintonia com o que disseram Jesus e São Pedro, o Último Apóstolo faz essa referência às divinas revelações transmitidas pelos Apóstolos aos Bispos da Igreja, que desde então as detêm e retransmitem: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós." 2 Tm 1,14
    Bispos, aliás, como tais constituídos pelo próprio Paráclito, como ele asseverou aos Anciãos de Éfeso: "Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu Bispos, para pastorear a Igreja de Deus..." At 20,28
    Pois como Jesus disse aos Apóstolos, não somos nós, mas é propriamente Deus Quem constitui Seus Sacerdotes, e assim Sua obra atravessa os tempos rumo à eternidade: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a
    A Igreja, portanto, é a fiel guardiã da Verdade, como São Paulo diz: "Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    Verdade que nos capacita para o autêntico amor, conforme São João Evangelista se dirige a uma comunidade não identificada: "O Ancião à eleita senhora e a seus filhos, que em Verdade amo. Não somente eu, mas todos que conheceram a Verdade, por causa da Verdade que em nós permanece e conosco ficará eternamente." 2 Jo 1,1-2
    Verdade que é o próprio Cristo: "Jesus respondeu-lhe: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.'" Jo 14,6
    E a Igreja, que é o próprio Corpo Místico de Cristo, é a edificação prometida e levada a cabo por Ele, e o exato lugar onde podemos chegar à Unidade da fé, como o Apóstolo dos Gentios diz: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,11-13
    Nesse sentido, São Paulo via nos fiéis da Igreja, dóceis ao Divino Espírito, a própria Mensagem da Salvação: "Vós mesmos sois nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos homens. Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações." 2 Cor 3,2-3
    Jesus, portanto, mesmo sendo Deus, quis que o Evangelho chegasse até nós sendo anunciado por meros seres humanos. Com esse intuito, ainda hoje Ele edifica pessoalmente Sua Igreja, obra que começou tomando como alicerce um fiel pescador, notoriamente inspirado por Deus Pai: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus. E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,17-18
    Assim, por tal inspiração, podemos ter a certeza que a Igreja é a guardiã da Mensagem de Deus, e, como principal instrumento da Salvação, a maior obra de Jesus entre nós: "... Cristo amou a Igreja e entregou-Se por Ela..." Ef 5,25
    Quanto às 'invenções' que há, meros e mundanos interesses que frontalmente contrariam a Vontade do Espírito de Deus, ou seja, Seu projeto de Comunhão e de Unidade, Jesus foi enfático: "Toda planta que Meu Pai Celeste não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala." Mt 15,13-14


INSPIRADA E ANUNCIADA PELO ESPÍRITO SANTO
    
    Apesar de escrita por mãos humanas, e assim em peculiares circunstâncias, devemos ter presente que toda a Bíblia foi inspirada pelo Espírito de Deus, como São Pedro assegurou: "Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21
    Por isso, só através d'Ele a Palavra pode ser efetivamente anunciada. São Paulo disse: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5
    E assim ele defende os Sacerdotes da Igreja: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8
    Ao recebermos o Evangelho, portanto, segundo o Príncipe dos Apóstolos é o próprio Espírito Santo Quem nos fala: "... revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12
    São Paulo explica o que isso quer dizer: "... pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela humana sabedoria, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que se devem ponderar." 1 Cor 2,13-14
    Ele até admite a fragilidade da Igreja, em si, para a retransmissão da Revelação, mas não deixa de apontar a tentação à qual sucumbem os que se perdem: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus, e não de nós." 2 Cor 4,3-4.7
    E diz com todas letras: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano." Gl 1,11
    Como registro da máxima manifestação de Deus entre nós, pois, a Boa Nova deixa-nos Sua indelével e inconfundível marca: o próprio Santo Paráclito: "N'Ele (Cristo) também vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido..." Ef 1,13
    São Paulo sempre usava as Escrituras como base de sua pregação, como vemos por ocasião de sua passagem em Tessalônica: "Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. 'E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio.'" At 17,3
    E as pessoas que por ele tocadas também recorriam às Escrituras, como aconteceu em Bereia, na Grécia: "Estes eram mais nobres que os de Tessalônica e receberam a Palavra com ansioso desejo, indagando todos dias, nas Escrituras, se essas coisas eram de fato assim." At 17,11
    São Pedro dava o mesmo estímulo: "Assim, demos ainda maior crédito à palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em atender como a uma lâmpada que brilha em um tenebroso lugar, até que o dia desponte, e a estrela da manhã levante-se em vossos corações." 2 Pd 1,19
    São Paulo sempre escolhia as mais inspiradas pessoas para servir à Igreja, como São Timóteo, que se tornou Bispo: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de proporcionar-te a Sabedoria que conduz à Salvação, pela fé em Jesus Cristo." 2 Tm 3,15
    Nas Escrituras está a Salvação das nações, pois ensinam a obediente fé. Ele escreve aos romanos: "... na pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério, guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé..." Rm 16,25-26
    E assim é porque desperta em nós a esperança: "Ora, tudo quanto outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança." Rm 15,4
    Ele desejava aos colossenses: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que com toda Sabedoria vos possais mutuamente instruir e exortar." Cl 3,16a
    Com razão, as Escrituras são alimento para a alma"Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça." 2 Tm 3,16
    Seus seguidores viam nela um poderoso espelho, um choque com a realidade: "Porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração." Hb 4,12
    E é pela Palavra de Deus, diz São Pedro, que nos é concedida a Vida Eterna: "Pois fostes regenerados não duma corruptível semente, mas pela Palavra de Deus, incorruptível, viva e eterna semente." 1 Pd 1,23
    O próprio Jesus garantiu: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se alguém guardar Minha Palavra, jamais verá a morte." Jo 8,51


REVELAÇÃO ÚNICA DE DEUS ONIPOTENTE
    
    De fato, Deus vem revelando-Se em plenitude à humanidade desde Abraão, assim passando pelos patriarcas e por Moisés. Santo Estevão pregou diante do Sinédrio: "Passados quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do monte Sinai um anjo, na chama de uma ardente sarça. Moisés, admirado de uma tal visão, aproximou-se para examiná-la. E a voz do Senhor falou-lhe: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó.'" At 7,30-32
    E como prova de Sua fidelidade através dos tempos, o Evangelho de Jesus é a continuidade dos Sagrados Livros, como São Paulo afirmou: "... este Evangelho Deus outrora prometera por Seus Profetas na Sagrada Escritura..." Rm 1,2
    Foi pelo poder da Boa Nova, ou seja, por fiel observância aos divinos preceitos, que Jesus venceu a morte: "... Nosso Salvador Jesus Cristo, que pelo Evangelho destruiu a morte e suscitou a Vida e a imortalidade..." 1 Tm 1,10
    Poder, aliás, para nós inimaginável: "Esplendor da Glória de Deus e imagem do Seu ser, Ele sustenta o universo pelo poder de Sua Palavra." Hb 1,3
    Por isso, precisamos do auxílio da fé: "Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível." Hb 11,3
    E é pela Boa Nova que temos a inestimável oportunidade de participarmos de Seu Reino: "E pelo anúncio de nosso Evangelho, chamou-vos para tomardes parte na Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 2,14
    Com efeito, os seguidores de São Paulo referiram-se assim às Escrituras: "Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus a nossos pais pelos Profetas. Ultimamente falou-nos por Seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo Qual criou todas coisas." Hb 1,1-2
    São João Evangelista, como dito, via em Jesus a própria Palavra de Deus que Se tornou carne: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós, e vimos Sua Glória, a Glória que o Filho único recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    Mas precisamos estar bem atentos, pois nem todos 'evangelhos' anunciam a Verdade. São Paulo denunciou a fraqueza dos gálatas: "Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para um diferente evangelho. De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo." Gl 1,6-7
    Significa dizer que a Palavra de Deus não pode ser resumida a versículos, ou tomada em pedaços. Ela deve ser entendida por completo, ou seja, em sua inteireza, no contexto de toda Bíblia: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    Em nome dessa integridade, e diante de alguns que se portavam com malícia, São Paulo preferiu sofrer algumas humilhações para não provocar divisões na Igreja: "... fomos, por esta vez, condescendentes, para que o Evangelho permanecesse em sua integridade." Gl 2,4-5
     Ele até reconhece que algumas pessoas têm amor pelas coisas de Deus, mas não têm o necessário entendimento: "Pois dou-lhes testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento." Rm 10,2
    A fim de que sejamos inspirados para a compreensão das Escrituras, ele pede que nos portemos com dignidade e, o que é importantíssimo, sempre em favor da unidade da Igreja. Aliás, o que é bastante óbvio: trata-se de respeitar a construção do Reino de Deus que já vem sendo feita através dos séculos: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho..." Fl 1,27
    Saibamos, no entanto, que Deus não nos revelou tudo, como São Paulo deu a entender: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois com evidência Deus lho revelou." Rm 1,19
    Mas mesmo sob essa limitação, Deus permite-nos encontrá-Lo, como este Apóstolo afirmou em Atenas: "Ele fez... Tudo isso para que procurem a Deus e esforcem-se por encontrá-Lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós." At 17,26a.27
    E a fé dá-nos a certeza de que, através dos ensinamentos de Jesus, nós podemos deveras conhecê-Lo. São João Apóstolo testemunhou: "Sabemos que o Filho de Deus veio e deu-nos entendimento para conhecermos o Verdadeiro." 1 Jo 5,20
    Um dos claros sinais de Sua presença entre nós, pois, é o fogo do Espírito Santo, que, como vimos, certamente nos vem por Sua Palavra, tal qual aconteceu com os discípulos que caminhavam para Emaús enquanto Jesus lhes falava: "Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Lc 24,32
    Cabe-nos, portanto, mais que séria fidelidade ao Evangelho anunciado pela Igreja, pois é por Ela que iniciará a Hora da Verdade. São Pedro perguntava-se: "Porque vem o momento em que se começará o julgamento pela Casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17

    "Confirmai Vosso povo na Unidade!"