terça-feira, 2 de setembro de 2025

Entender a Bíblia


A INTERPRETAÇÃO DADA POR DEUS

    Muitos aventuram-se a 'interpretar' a Bíblia. Mas cabe perguntar: isso é minimamente sensato? Sabendo que as Sagradas Escrituras são registros do processo de Revelação que remonta 3 milênios, e levaram ao menos 13 séculos para serem escritas, poderíamos desprezar tudo que foi revelado simultaneamente aos fatos, somado ao que, por ação do Espírito Santo, já foi inspirado, meditado e assimilado desde então? É razoável que uma simples pessoa, ou mesmo um grupo delas, se dê a tamanha revisão histórica e doutrinária? Há alguma humildade ou prudência nisso?
    E assim: poderíamos ignorar o que a Sagrada Tradição ensina, que ao longo dos séculos foi examinada e confirmada em tantos Concílios da Santa Igreja Católica? Não foi o Concílio de Jerusalém defendido por São Paulo e São Timóteo, no Livro de Atos dos Apóstolos, revelando a autoridade que tem garantido o sólido e glorioso crescimento da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo? "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na , e em número cresciam dia a dia." At 16,4-5
    Não foi o próprio Divino Paráclito que conduziu esse Concílio e todos demais, como São Tiago Menor, então Bispo de Jerusalém (cf. At 12,17), mandou escrever em carta após o decisivo voto de São Pedro para que a Santa Igreja se fizesse Católica? "Depois de terminarem, Tiago tomou a palavra: 'Irmãos, ouvi-me', disse ele. 'Simão narrou como Deus começou a olhar para as pagãs nações para delas tirar um povo que trouxesse Seu Nome. Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além destas indispensáveis coisas...'" At 15,13-14.28
    Ora, poderiam estudos recentes ter encontrado o 'verdadeiro sentido' da Palavra de Deus, a despeito do que Ele mesmo já vem iluminando e confirmando por Suas expressas e constantes manifestações desde o início da Revelação? O Evangelho Segundo São Marcos atesta, dizendo dos Apóstolos logo após a Ascensão do Senhor aos Céus: "Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava Sua Palavra com os milagres que a acompanhavam." Mc 16,20
    Os seguidores da tradição de São Paulo já provocavam Carta aos Hebreus, para despertar incautos: "... cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas..." Hb 12,1a
    E a Primeira Carta de São João diz da postura da Igreja Católica desde seu nascimento, no dia de Pentecostes: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Pois Jesus mesmo reclamou a importância deste recurso para propagação da Revelação, logo no Domingo da Ressurreição: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Também repreendeu São Tomé, pelo mesmo motivo, denunciando seu egocentrismo de ter que 'ver para crer': "Não sejas incrédulo, mas homem de ." Jo 20,27b
    Afinal, temos ou não uma religião revelada pelo próprio Deus? Enquanto ser humano, Jesus disse no Evangelho Segundo São João: "Em verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar." Jo 12,49
    Ademais, referindo-Se à comunidade cristã que Ele mesmo já havia reunido e que os Apóstolos manteriam, garantiu: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    No Evangelho Segundo São Lucas, Ele até advertiu: "Quem vos ouve, a Mim ouve. Quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou." Lc 10,16
    E foi assim que a Sua Igreja se estabeleceu, porque aos Apóstolos foi confiada a Palavra da Salvação, ainda que não tivesse sido escrita. O Amado Médico diz dos fiéis desde os primeiríssimos dias, mencionando os quatro constitutivos da Santa Missa: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações." At 2,42
    Ora, embora a Revelação se tenha consumado com a Vinda de Jesus, Ele mesmo avisou aos Apóstolos que Seus ensinamentos seriam arrematados, como desde sempre, pelo próprio Espírito de Deus (cf. Ne 9,30). Expressamente falou de "toda a Verdade", e das "coisas que virão": "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não podeis suportá-las agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu, e anunciá-vos-á." Jo 16,12-14
    Com o Pentecostes, portanto, começava o último capítulo da Revelação, como a Carta de São Judas aferiu: "Caríssimos, estando eu muito preocupado em escrever-vos a respeito de nossa comum Salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos." Jd 1,3
    Para deixar bem claro Quem está no comando, a Segunda Carta de São Pedro fulminou estas pretensiosas e egocêntricas perversões de certos 'leitores' que atentam contra a Unidade, contra a Comunhão promovida pelo Espírito Santo: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação." 2 Pd 1,20
    E falando sobre São Paulo e suas cartas, ele denunciou as heresias que a seu tempo já se inventava: "É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala sobre estes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,16
    De forma emblemática, São Filipe, um dos 7 primeiros diáconos, guiado pelo Espírito de Deus ouviu de um eunuco, ministro da rainha de Etiópia, a pergunta que invariavelmente deveria ser feita por todo estudante da Bíblia: "O Espírito disse a Filipe: 'Aproxima-te para bem perto deste carro.' Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o Profeta Isaías, e perguntou-lhe: 'Porventura entendes o que estás lendo?' Respondeu-lhe: 'Como é que posso, se não há alguém que mo explique?' E rogou a Filipe que subisse e sentasse junto a ele." At 8,30-31
    E o próprio São Paulo, que viu e falou com Jesus ressuscitado por ocasião de sua conversão, não foi autorizado a sair pregando, mas foi por Ele submetido aos cristãos da igreja de Damasco: "Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer." At 9,6b
    Ora, Jesus mesmo, em defesa da Autêntica Tradição, interrogou um doutor da Lei sobre suas interpretações das Escrituras: "Que está escrito na Lei? Como é que lês?" Lc 10,26
    E fê-lo várias vezes, como na ocasião em que foi questionado sobre o divórcio e citou o Livro de Gênesis, pois exigia uma verdadeiramente atenta leitura, como requerem as coisas de Deus. Está no Evangelho Segundo São Mateus: "Respondeu-lhes Jesus: 'Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher. E os dois formarão uma só carne (Gn 2,24)?'" Mt 19,4-5
    Mais que outros atos de fé, de fato, Ele exigia fidelidade à divina inspiração: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, contudo sem deixar o restante." Mt 23,23
    Pois, como visto, só há uma forma de entender o que diz a Bíblia: sob a guia do Espírito de Deus, tomando Cristo como essência da Revelação e meditando a inspiração por Ele concedida a São Pedro, da qual a Sagrada Tradição, as Escrituras e o Magistério da Igreja se compõem. Com efeito, só ao Príncipe dos Apóstolos Jesus fez essa promessa: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19
    Essas chaves significam o poder de corretamente interpretar a vontade de Deus, em essência expressa nas Escrituras, o que inclui todos demais assuntos relativos à construção de Seu Reino. Não por acaso, Jesus vai reclamar dos religiosos que se apossavam, não praticavam e nem retransmitiam as sagradas revelações de até então, que sempre foram claramente Cristocêntricas (cf. Jo 5,39): "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar." Lc 11,52
    A Carta de São Paulo aos Romanos semelhantemente denuncia a falta de religiosidade e as típicas distorções da vida de certos 'líderes', tocada pela desonestidade: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade. São insensatos, desleais, sem coração, sem Misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus, que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem aqueles que as cometem." Rm 1,18-31-32
    E para com elas não permitia nenhuma tolerância! A Carta de São Paulo aos Efésios ordenava que fossem denunciadas: "Vivei como filhos da Luz. E o fruto da Luz chama-se: bondade, justiça, Verdade. Discerni o que agrada ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,8b-11
    A Comunhão com o Espírito Santo, portanto, é vital. Numa sentença que vale para muito 'cristão' hoje em dia, o inspirado diácono Santo Estevão não acusou anciãos, escribas e sacerdotes judeus, os membros dos Sinédrio, de não compreender as Escrituras nem de não acolher o Cristo. Ele preferiu assim expressar: "Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo." At 7,51
    E defendendo a Tradição Messiânica expressa no Antigo Testamento, cuja realização claramente se deu na Pessoa de Jesus, o Amado Discípulo vai dizer: "Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro. É nisto que conhecemos que estamos n'Ele e Ele em nós, por Ele ter-nos dado Seu Espírito." 1 Jo 4,6.13
    Ele atesta que o Santo Espírito dá expresso testemunho de Jesus: "Nisto reconhece-se o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Cristo encarnou em Jesus é de Deus. E todo espírito que não proclama Jesus, esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo, de cuja vinda tendes ouvido e já está no mundo." 1 Jo 4,2-3
    Por isso, declara: "... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,3
    Sem dúvida, o próprio Jesus havia dito: "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim." Jo 15,26
    E Ele sempre usou do auxílio do Divino Paráclito para transmitir Suas revelações aos Apóstolos, como São Lucas afirmou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado." At 1,1-2
    Assim, para que cheguemos ao dom do entendimento dos Sagrados Livros, precisamos reconhecer que somos absolutamente carentes da Luz do Divino Espírito. A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios argumenta e faz uma nítida distinção, exaltando os verdadeiros Sacerdotes de Cristo e desbancando apologistas da mera literalidade: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para sermos Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,5-6
    Por isso, os Apóstolos testemunharam com tanta convicção diante do Sinédrio, revelando a única forma de receber o Divino Paráclito: "Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Importa obedecer antes a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Destes fatos nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,29-32
    E o próprio Jesus avisou qual será a consequência para quem, mesmo de boa vontade, ensina o que não foi inspirado pelo Espírito de Deus: o mais longo Purgatório: "Aquele que violar um destes Mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus." Mt 5,19
    Ele foi igualmente claro quanto a certas influências, mesmo na hora de certos 'juramentos': "Dizei somente: sim, se é sim, e não, se é não. Tudo que passa além disto vem do Maligno." Mt 5,37
    E abertamente criticava aqueles que se arvoravam mestres (cf. Tg 3,1), como os saduceus, divulgando errôneos entendimentos e ignorando a Divina Onipotência, que evidentemente excede as Escrituras: "Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus." Mt 22,29
    Condenava as distorcidas tradições de alguns religiosos judeus, como fariseus e escribas: "Jesus respondeu-lhes: 'E vós, por que violais os preceitos de Deus por causa de vossa tradição? Assim anulais a Palavra de Deus.'" Mt 15,3.6b
    E citando o Livro do Profeta Isaías, também condenava seus cultos: "Vão é o culto que Me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is 29,13)." Mt 15,9
    Após ressuscitar, explicando aos Apóstolos porque foi necessário padecer Sua Paixão, Jesus questionou-lhes precisamente a fidelidade ao que estava escrito: "Mas como se cumpririam, então, as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim?" Mt 26,54
    Ele dava aos Sagrados Livros uma única e linear interpretação, sempre no sentido Cristocêntrico, como fez perante os dois discípulos que partiram para Emaús no Domingo da Ressurreição: "E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,27
    Também o fez quando apareceu ao Colégio dos Apóstolos pela primeira vez, neste mesmo dia: "Isto é o que Eu vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." Lc 24,44
    Desse entendimento, resta notório que primeiro devemos nos arrepender de nossos erros, para só então sermos Suas testemunhas, como São Pedro disse aos judeus no dia do Pentecostes: "Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais Apóstolos: 'Que devemos fazer, irmãos?' Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,37-38
    E, nestes termos, Nosso Salvador explica a missão da Santa Igreja Católica, logo na primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos no Domingo da Ressurreição: "Então lhes abriu o espírito para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 'Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso.'" Lc 24,45-48
    Pois enquanto absoluta manifestação de Deus, Jesus é o centro de tudo que os sagrados autores escreveram, como Ele mesmo afirmou perante os judeus: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    E foi mais específico: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito. Mas se não acreditais em seus escritos, como acreditareis em Minhas Palavras?" Jo 5,46-47
    Até previu que nem mesmo Sua Ressurreição seria levada em conta no âmbito do judaísmo: "Se não ouvirem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lc 16,31b
    De fato, cristocêntrica era a leitura de São Zacarias, como disse no dia do nascimento de São João Batista, seu filho, ao profetizar a aproximação da verdadeira Liberdade havia séculos prometida no Messias, que nos possibilita celebrar o Santíssimo Sacramento: "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou Seu povo, e nos suscitou um Poderoso Salvador, na casa de Davi, Seu servo, como havia anunciado desde os primeiros tempos mediante Seus Santos Profetas, para livrar-nos de nossos inimigos e das mãos de todos que nos odeiam. Assim exerce Sua Misericórdia com nossos pais e Se recorda de Sua Santa Aliança, segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de conceder-nos que, sem temor, libertados de mãos inimigas, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presença todos dias de nossa vida." Lc 1,68-74
    Quanto ao Evangelho, que já começava a compilar os ensinamentos e os fatos vividos por Jesus, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, a mais antiga delas, diz que o próprio Deus o confiou aos Apóstolos: "Mas como Deus nos julgou dignos de confiar-nos o Evangelho, não falamos para agradar aos homens e sim a Deus, que sonda nossos corações." 1 Ts 2,24
    Por isso, sem deixar de recordar os auxílios do Divino Paráclito e em perfeita sintonia com o que Jesus e São Pedro disseram, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo faz essa referência às divinas revelações transmitidas pelos Apóstolos aos bispos da Igreja, que desde então as detêm e retransmitem: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós." 2 Tm 1,14
    Bispos, aliás, como tais constituídos pelo próprio Paráclito, como ele asseverou aos anciãos da cidade de Éfeso: "Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus..." At 20,28
    Pois como Jesus disse aos Apóstolos, não somos nós, mas é propriamente Deus Quem constitui Seus Sacerdotes, e assim Sua obra atravessa os tempos rumo à eternidade: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a
    Por isso, São Paulo com toda autoridade sai em defesa dos Ministros da Igreja: "Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus Quem os justifica!" Rm 8,33
    A Igreja, portanto, é a fiel guardiã da Verdade, como a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo recomenda-lhe: "Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    Verdade que nos capacita para o autêntico amor e que sempre estará com a Igreja, conforme a Segunda Carta de São Pedro ao dirigir-se a uma não identificada comunidade: "O ancião à eleita senhora e a seus filhos, que em Verdade amo. Não somente eu, mas todos que conheceram a Verdade, por causa da Verdade que em nós permanece e conosco ficará eternamente." 2 Jo 1,1-2
    Verdade que é o próprio Cristo, como respondeu a São Tomé sobre o Caminho para o Pai: "Jesus respondeu-lhe: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.'" Jo 14,6
    E a Igreja, que é o próprio Corpo Místico de Cristo, é a edificação prometida e levada a cabo por Ele, e o exato lugar onde podemos chegar à "Unidade da fé", à "maturidade de Cristo", como São Paulo revelou: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,11-13
    Nesse sentido, ele via nos fiéis da Igreja, os verdadeiramente dóceis ao Divino Espírito, a melhor 'Escritura', a própria Mensagem da Salvação: "Vós mesmos sois nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos homens. Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso Ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações." 2 Cor 3,2-3
    Jesus, portanto, mesmo sendo Deus, quis que o Evangelho chegasse até nós sendo anunciado por meros seres humanos, como vimos. Com esse intuito, ainda hoje Ele pessoalmente edifica Sua Igreja, obra que começou tomando como alicerce um fiel pescador, notoriamente inspirado por Deus Pai: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus. E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,17-18
    Assim, por tal inspiração, podemos ter a certeza que a Igreja é a guardiã da Mensagem de Deus, e, como principal instrumento da Salvação das almas, a maior obra de Jesus entre nós. São Paulo afirmou algo que muitos se esquecem: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por Ela..." Ef 5,25
    Quanto às invenções que há, meros e mundanos interesses que frontalmente contrariam a Vontade do Espírito de Deus, ou seja, Seu projeto de Comunhão e de Unidade, Jesus foi enfático: "Toda planta que Meu Pai Celeste não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, ambos tombarão na mesma vala." Mt 15,13-14


INSPIRADA E ANUNCIADA PELO ESPÍRITO SANTO
    
    Apesar de escrita por mãos humanas, como humana é a retransmissão oral da Palavra, e assim em peculiares circunstâncias, devemos ter presente que toda a Bíblia foi inspirada pelo Espírito de Deus, como São Pedro assegurou: "Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma humana vontade. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21
    Por isso, só através d'Ele a Palavra pode ser efetivamente anunciada. São Paulo relembrou aos cristãos da cidade de Tessalônica: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5a
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios igualmente relembrou: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da Sabedoria. Antes, eram uma demonstração do Espírito e do poder divino, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Cor 2,4-5
    E assim ele defende os Sacerdotes da Igreja: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8
    Ao acolhermos o Evangelho, portanto, é o próprio Espírito Santo Quem nos fala, conforme a Primeira Carta de São Pedro: "... revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12
    São Paulo explica o que isso quer dizer: "... pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela humana sabedoria, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que devem ponderá-las." 1 Cor 2,13-14
    Ele até admite a fragilidade da Igreja, em si, para a retransmissão da Revelação, mas não deixa de apontar a tentação à qual tantos sucumbem: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde a Glória de Cristo resplandece, que é a imagem de Deus. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus, e não de nós." 2 Cor 4,3-4.7
    E a Carta de São Paulo aos Gálatas diz com todas letras: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano." Gl 1,11
    Como registro da máxima manifestação de Deus entre nós, pois, a Boa Nova deixa-nos Sua indelével e inconfundível marca: o próprio Santo Paráclito: "N'Ele (Cristo) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido..." Ef 1,13
    Fiel à Revelação, ele sempre usava as Escrituras como base de sua pregação, como vemos por ocasião de sua passagem em Tessalônica: "Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. 'E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio.'" At 17,3
    E as pessoas que por ele tocadas também recorriam às Escrituras, como aconteceu em Bereia, na Grécia: "Estes eram mais nobres que aqueles de Tessalônica e receberam a Palavra com ansioso desejo, indagando todos dias, nas Escrituras, se essas coisas eram de fato assim." At 17,11
    São Pedro dava o mesmo estímulo: "Assim, demos ainda maior crédito à palavra dos Profetas, à qual bem fazeis em atender como a uma lâmpada que brilha em um tenebroso lugar, até que o dia desponte e a Estrela da Manhã Se levante em vossos corações." 2 Pd 1,19
    Nesse sentido, São Paulo sempre escolhia as mais inspiradas pessoas para servir à Igreja, como São Timóteo, que se tornou bispo: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de proporcionar-te a Sabedoria que conduz à Salvação, pela fé em Jesus Cristo." 2 Tm 3,15
    Ora, nas Escrituras está a Salvação das nações, pois ensinam a verdadeira e obediente fé. Este Apóstolo escreveu aos cristãos de Roma: "... na pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé..." Rm 16,25-26
    E assim é porque desperta em nós a esperança: "Ora, tudo quanto outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança." Rm 15,4
    Carta de São Paulo aos Colossenses rezava: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que com toda Sabedoria vos possais mutuamente instruir e exortar." Cl 3,16a
    Sem dúvida, as Escrituras são alimento para a alma, sob todos aspectos: "Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça." 2 Tm 3,16
    Seus seguidores viam nela um poderoso espelho, um choque com a realidade: "Porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do espírito, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração." Hb 4,12
    E é pela Palavra de Deus, diz São Pedro, que nos é concedida a Vida Eterna: "Pois fostes regenerados não duma corruptível semente, mas pela Palavra de Deus, incorruptível, viva e eterna semente." 1 Pd 1,23
    O próprio Jesus garantiu: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se alguém guardar Minha Palavra, jamais verá a morte." Jo 8,51


REVELAÇÃO ÚNICA DE DEUS ONIPOTENTE
    
    De fato, Deus vem revelando-Se em plenitude à humanidade desde Abraão, assim passando pelos patriarcas e por Moisés. Santo Estevão pregou diante do Sinédrio: "Passados quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do monte Sinai um anjo, na chama de uma ardente sarça. Moisés, admirado de uma tal visão, aproximou-se para examiná-la. E a voz do Senhor falou-lhe: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó.'" At 7,30-32
    E como prova de Sua fidelidade através dos tempos, o Evangelho de Jesus é a continuidade dos Sagrados Livros, como São Paulo afirmou: "... este Evangelho Deus outrora prometera por Seus Profetas na Sagrada Escritura..." Rm 1,2
    Foi pelo poder da Boa Nova, ou seja, por fiel observância aos divinos preceitos, que Jesus venceu a morte: "... Nosso Salvador Jesus Cristo, que pelo Evangelho destruiu a morte e suscitou a Vida e a imortalidade..." 1 Tm 1,10
    Poder, aliás, para nós inimaginável, segundo os discípulos do Apóstolo dos Gentios: "Esplendor da Glória de Deus e imagem do Seu ser, Ele sustenta o universo pelo poder de Sua Palavra." Hb 1,3
    Por isso, eles seguem, é imprescindível o auxílio da fé: "Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus, e que as coisas visíveis se originaram do invisível." Hb 11,3
    E é pela Boa Nova que temos a inestimável oportunidade de participarmos de Seu Reino, conforme a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "E pelo anúncio de nosso Evangelho, (Deus) chamou-vos para tomardes parte na Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 2,14
    Com efeito, seus seguidores assim se referiram às Escrituras: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus a nossos pais pelos Profetas. Ultimamente falou-nos por Seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo Qual criou todas coisas." Hb 1,1-2
    E São João Evangelista, como dito, testemunhou Jesus como a própria Palavra de Deus que Se tornou Carne: "E o Verbo fez-Se Carne e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Filho único recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    Mas precisamos estar bem atentos, pois nem todos 'evangelhos' anunciam a Verdade. São Paulo denunciou a fraqueza dos cristãos da província romana de Galácia: "Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para um diferente evangelho. De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo." Gl 1,6-7
    Significa dizer que a Palavra de Deus não pode ser resumida a versículos, ou tomada em pedaços. Ela deve ser entendida por completo, ou seja, em sua inteireza, no contexto de toda Bíblia. Este Apóstolo denuncia e explica: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    Em nome dessa integridade, e diante de alguns que se portavam com malícia, ele preferiu sofrer algumas humilhações para não provocar divisões na Igreja: "... fomos, por esta vez, condescendentes, para que o Evangelho permanecesse em sua integridade." Gl 2,4-5
    Até reconhece que algumas pessoas, no caso os judeus, têm amor pelas coisas de Deus, mas não têm o necessário entendimento: "Pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento." Rm 10,2
    Assim, a fim de que sejamos inspirados para compreender as Escrituras, a Carta de São Paulo aos Filipenses pede que nos portemos com dignidade e, o que é importantíssimo, sempre em favor da unidade da Igreja. Aliás, o que é bastante óbvio, porque se trata de respeitar a construção do Reino de Deus que já vem sendo feita através dos séculos: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho..." Fl 1,27
    Saibamos, no entanto, que Deus não nos revelou tudo, como este Apóstolo revelou dizendo dos ímpios e perversos: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois com evidência Deus lho revelou." Rm 1,19
    Mas, sem dúvida, revelou-nos mais que o bastante, conforme São Pedro. Deu-nos Si mesmo: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua virtude." 2 Pd 1,3
    E mesmo sob essa limitação, Deus permite-nos encontrá-Lo, como São Paulo afirmou em Atenas, pregando no Areópago: "Ele fez... Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-Lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós." At 17,26a.27
    E a fé dá-nos a certeza de que, através dos ensinamentos de Jesus, nós podemos deveras conhecê-Lo. São João Apóstolo testemunhou, confirmando este dom do Espírito Santo: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro." 1 Jo 5,20
    Um dos claros sinais de Sua presença entre nós, pois, é o fogo do Espírito Santo, que, como visto, nos vem por Sua Palavra, tal qual aconteceu com os discípulos que caminhavam para Emaús enquanto Jesus lhes falava: "Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Lc 24,32
    Cabe-nos, portanto, mais que séria fidelidade ao Evangelho anunciado pela Santa Igreja Católica, pois é por Ela que iniciará a Hora da Verdade. São Pedro perguntava-se: "Porque vem o momento em que se começará o julgamento pela Casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17

    "Confirmai Vosso povo na Unidade!"