quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Santo André Taegon, São Paulo Hasang e Mártires


    A Coreia começou a ser catequizada nos anos de 1700, por simples leigos. Em suas visitas a Pequim, na época um grande centro de estudos e divulgação de conhecimento, o coreano Yi Byuk conheceu o livro 'A Verdadeira Doutrina de Deus', do padre jesuíta italiano Mateus Rici.
    Essa simples centelha incendiou sua alma: era o miraculoso nascimento da Igreja na Coréia, evidentemente sob a mais pura ação do Espírito Santo por meio de singelas e orantes comunidades, mesmo sem a presença de nenhum Sacerdote. Também impressiona a força da que animava essa gente, pois as autoridades eram extremamente intolerantes ao Catolicismo, e o primeiro padre, o chinês Zhu Wen Miao, só pisaria nessas terras em 1795.
    Em 1784 o Bispo de Pequim, um missionário francês, batizou Yi Sung-Hun, filho do embaixador coreano na China, que havia conhecido Yi Byuk em 1779 e através dele foi imediatamente arrebatado a Cristo. Sob a Graça desse Sacramento, ele retornou a Coreia, começou a anunciar Jesus e, por si mesmo, teve a iniciativa de batizar e 'ordenar' líderes leigos como 'clérigos temporários'.
    Mas, informados pelo Bispo de Pequim que tal procedimento era contrário às normas da Igreja, eles corrigiram-se e aguardaram a vinda de um Sacerdote, pois, apesar de seus frequentes pedidos, os números e as condições de atuação do clero na Ásia eram extremamente limitados.
    De fato, nos séculos XVI e XVII, São Francisco Xavier, o 'Apóstolo' do Oriente, havia estado na Índia, na China e no Japão, contudo a resistência dos reis e autoridades locais não lhe permitiu fundar nada mais que isoladas comunidades, embora firmes na fé, que só clandestinamente sobreviveriam.
    Quando o padre Zhu Wen Miao chegou, porém, a igreja coreana já contava mais de 4 mil membros. E em 1821 nascia Santo André Kim Taegon. Seu pai era um desses heroicos pioneiros cristãos da Ásia, que fizera da sua casa uma igreja: difundia-se, catequizava-se e celebrava-se o Verbo da Vida. Mas em 1836, ao ser descoberto, seu pai foi brutalmente assassinado.
    Sua família foi poupada, sob ameaças para que abandonassem a fé, mas Santo André Taegon, na época aos 15 anos, aceitou ser enviado a Macau por intermédio de missionários franceses para estudar Teologia. Lá se vivia sob o domínio português, e os jesuítas haviam fundado em 1565 a igreja de Santo Antônio, que ele veio a frequentar.


      Atualmente, num jardim próximo a essa Igreja, há uma estátua em sua homenagem.


    Aí Santo André Taegon se preparou para ser Sacerdote. E em 1844, aos 23 anos, ao ser ordenado diácono, sempre muito solícito para com as condições espirituais das comunidades de seu povo, decidiu-se por imediatamente retornar a Coreia, e com fervor pôs-se a trabalhar pela Salvação das almas.
    Conhecido por seu valoroso zelo pela Igreja, logo foi convidado a Xangai, na China, a fim de receber a ordenação sacerdotal, para onde prontamente viajou enfrentando todos perigos da clandestinidade. Aí se tornou o primeiro Sacerdote de origem coreana.
    A viagem de regresso foi igualmente temerária, evitando ser identificado como clérigo, fato que colocava sua vida em risco. Mas tão logo pisou em terra, começou a evangelizar, batizar, tomar Confissão e casar como manda a Santa Igreja. A consolidação da paróquia, no entanto, demandava trânsito de documentos, e logo Santo André Taegon foi chamado mais uma vez a China, desta vez a Pequim.
    Nesta viagem em 1846, aos 25 anos, ele não teve a mesma sorte. Foi descoberto ainda em seu país. Levado à presença do rei, dada a condição de respeitável por sua erudição, foi interrogado e obrigado a renegar a fé católica. Mas ele respondeu: "Dado que o Senhor do Céu é o Pai de toda humanidade e o Senhor de toda Criação, como podeis pedir-me para trai-Lo? Se neste mundo aquele que trair o pai ou a mãe não é perdoado, com maior razão jamais posso trair Aquele que é o Pai de todos nós!"
    O rei, mudando de estratégia, perguntou pelos nomes das pessoas que comungavam de sua fé, mas Santo André, sabendo de suas intenções, negou-se a nominá-los. O perverso regente, porém, que já havia prendido seus familiares e cristãos mais próximos, reuniu todos e mandou decapitá-los.
    Eram 103, mas nenhum deles fez menção em abandonar a fé em Cristo.
    O Papa São João Paulo II beatificou-os em 1984.


    Seu grande colaborador era o leigo São Paulo Chong Hasang, incansável pregador do Evangelho e grande responsável por um expressivo número de conversões. Era visivelmente movido pelo Espírito Santo, e também foi canonizado.


    Santo André Kim Taegon, antes de ser sacrificado, conseguiu deixar uma mensagem escrita para os fiéis que não haviam sido capturados. Dizia: "Eu peço-vos: não deixeis de lado o fraterno amor, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação."


    Para que se tenha um ideia da dificuldade da divulgação da Palavra de Deus na Coreia, bem como em toda Ásia, mas principalmente do heroísmo da fé e do perfeito amor a Deus que aí se viram, dignos dos maiores Santos, entre 1785 e 1882 mais de 10 mil fiéis foram martirizados.
    Hoje, absolutamente vitoriosos e em virtuoso crescimento, os católicos na Coréia do Sul são mais de 5 milhões, em 14 Dioceses, com 5 mil Sacerdotes e 3,5 mil religiosos.
    O lugar do nascimento de Santo André Taegon, onde havia vivido sua família desde o bisavô, tornou-se um belíssimo santuário, conhecido como o berço do Catolicismo na Coreia. Sua casa foi especialmente preservada. Muitos dos atuais padres e freiras coreanos são dessa região.


    Sua fíbula, osso mais fino da canela, encontra-se bem preservada.


    Santo André Taegon e São Paulo Hasang, rogai por nós!