sábado, 20 de setembro de 2025

Santo André Taegon, São Paulo Hasang e Mártires


    Coreia começou a ser catequizada nos anos de 1700, por simples leigos. Em visitas a Pequim, na época um grande centro de estudos e divulgação de conhecimento, o coreano Yi Byuk conheceu o livro 'A Verdadeira Doutrina de Deus', do padre jesuíta italiano Mateus Rici, que morreu no ano de 1610 como insigne missionário em China.
    Essa simples centelha incendiou sua alma: era o miraculoso nascimento da Santa Igreja Católica em Coréia, evidentemente sob a mais pura ação do Espírito Santo por meio de singelas e orantes comunidades, mesmo sem a presença de nenhum Sacerdote. Também impressiona a força da que animava essa gente, pois as autoridades eram extremamente intolerantes ao Catolicismo, e o primeiro padre, o chinês Zhu Wen Miao, só pisaria nessas terras em 1795.
    Em 1784, o Bispo de Pequim, um missionário francês, batizou Yi Sung-Hun, filho do embaixador coreano em China, que havia conhecido Yi Byuk em 1779 e através de seu testemunho imediatamente foi arrebatado a Cristo. Sob a Graça desse Sacramento, ele retornou a Coreia, começou a anunciar Jesus e, por si mesmo, teve a iniciativa de batizar e 'ordenar' líderes leigos como 'clérigos temporários'.
    Mas, informados pelo Bispo de Pequim que tal procedimento era contrário às normas da Santa Igreja, eles corrigiram-se e aguardaram a vinda de um Sacerdote, pois, apesar de seus frequentes pedidos, os números e as condições de atuação do clero na Ásia eram extremamente limitados.
    De fato, nos séculos XVI e XVII, São Francisco Xavier, o Apóstolo do Oriente, havia estado em Índia, China e Japão, contudo a resistência dos reis e de autoridades locais não lhe permitiu fundar nada mais que isoladas comunidades, embora firmes na fé, e que só clandestinamente sobreviveriam. Em Coreia, especificamente, de estritas práticas confucionistas, no ano de 1802 foi promulgado um édito estatal que proibia a fé cristã e ordenava a sumária exterminação de todo cristão.
    Quando o padre Zhu Wen Miao chegou, porém, a igreja coreana já contava mais de 4 mil membros. E em Dangjin, a 21 de agosto de 1821, nascia Jaebok Jisik, que viria a ser Kim Dae-geon, após batizado como o equivalente do nome de André, e para nós André Kim Taegon. Seu pai, Inácio Kim Je-jun, era um desses heroicos e pioneiros cristãos de Ásia, que fizera de sua própria casa uma igreja: difundia-se, catequizava-se e celebrava-se o Verbo da Vida. Mas em 1836, por força da repercussão da chegada dos membros da Sociedade de Missões Estrangeiras de Paris, feita de leigos e padres, ao serem descobertos, seu pai, o irmão mais velho, tios e avós foi brutalmente assassinados.
    Sua mãe e de mais irmãos foram poupados, sob ameaças para que abandonassem a fé, mas Santo André Taegon, na época aos 15 anos, aceitou ser enviado a Macau, então importante centro de formação e partida de Sacerdotes para Ásia, por intermédio desses missionários franceses, para estudar Teologia. Lá se vivia sob o domínio português, e os jesuítas haviam fundado em 1565 a Igreja de Santo Antônio, que ele veio a frequentar.


    Atualmente, num jardim próximo a essa igreja, há uma estátua em sua homenagem.


     Aí Santo André Taegon se preparou para ser Sacerdote, também estudando em Filipinas nas cidades de Lolomboy, Bocaue e Bulacan, que guardam sua veneração, em especial no grande santuário desta última. 


    E em 1844, ao ser ordenado diácono, sempre muito solícito para com as condições espirituais das comunidades de seu povo, decidiu-se por imediatamente retornar a Coreia, e com fervor pôs-se a trabalhar pela Salvação das almas.
    Reconhecido por seu valoroso zelo pela Igreja Católica, no mesmo ano foi convidado a Xangai, em China, a fim de receber a ordenação sacerdotal do bispo francês Jean Joseph Jean-Baptiste Ferréol, para onde prontamente viajou enfrentando todos perigos da clandestinidade. Aí se tornou o primeiro Sacerdote de origem coreana.
    A viagem de regresso igualmente foi temerária, evitando ser identificado como clérigo, fato que colocava sua vida em risco. Mas tão logo pisou em terra, começou a evangelizar, batizar, tomar Confissão, celebrar o Santíssimo Sacramento e casar, exatamente como a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo manda. A consolidação da paróquia, no entanto, demandava trânsito de documentos, e logo Santo André Taegon foi chamado mais uma vez a China, desta vez a Pequim.
    Nesta viagem em 1846, ele não teve a mesma sorte. Foi descoberto ainda em seu país. Levado à presença do rei em Seul, a capital da nação, dada a condição de respeitável por sua erudição, foi interrogado e obrigado a renegar a fé católica. Mas ele luminosamente respondeu: "Dado que o Senhor do Céu é o Pai de toda humanidade e o Senhor de toda Criação, como podeis pedir-me para trai-Lo? Se neste mundo aquele que trair o pai ou a mãe não é perdoado, com maior razão jamais posso trair Aquele que é o Pai de todos nós!"
    O rei, mudando de estratégia, perguntou pelas pessoas que comungavam de sua fé, mas Santo André Taegon, sabendo de suas intenções, negou-se a nominá-los. O perverso regente, porém, que já havia prendido seus familiares e cristãos mais próximos, reuniu todos, torturou-os e mandou decapitá-los junto ao rio Han, nas proximidades de Seul.
    Autorizado a dizer suas últimas palavras, nosso Santo, sempre cioso de sua missão, diligentemente aproveitou para exortar: "Esta é minha última hora de vida. Ouçam-me atentamente: se me comuniquei com estrangeiros, foi por causa de minha religião e de Meu Deus. É por Ele que eu morro. Minha vida imortal está prestes a começar. Tornem-se cristãos se quiserem ser felizes após a morte, porque Deus tem eternos castigos reservados para aqueles que se recusarem a conhecê-Lo."
    Mesmo durante a tortura, nenhum deles fez menção em abandonar a fé em Cristo.
    Antes de morrer de velho em 3 de fevereiro de 1853, Jean Joseph Jean-Baptiste Ferréol, que foi transferido de Xangai para ser o primeiro bispo de Coreia, pediu para ser enterrado ao lado de Santo André Taegon, dizendo: "Vós nunca sabereis o quão triste fiquei por perder este jovem padre nativo. Eu amei-o como um pai amou seu filho. É um consolo para mim pensar em sua eterna felicidade."


    Seu grande colaborador era o leigo catequista São Paulo Chŏng Hasang, filho do também mártir Agostinho Chŏng Yakjong, executado em 1801, e seu tio era o cientista e filósofo Jeong Yakjong, escritor do primeiro catecismo católico em alfabeto coreano. São Paulo Chŏng Hasang foi um incansável e iluminado pregador do Evangelho, responsável por um expressivo número de conversões. Era visivelmente movido pelo Espírito de Cristo.
    Enquanto servo de um intérprete do governo, diversas vezes viajou à pé em peregrinação a Pequim, onde ia implorar ao bispo que enviasse padres a Coreia e até escreveu ao Papa Gregório XVI, por meio deste bispo, pedindo a criação de uma diocese em Coreia, o que veio a acontecer em 1825.
    O bispo Laurent-Marie-Joseph Imbert, enviado dois anos depois junto a dois padres, secretamente entrou e estabeleceu-se no país graças a ajuda de São Paulo Hasang, em quem via talento, zelo e virtude. Celebravam a Santa Missa nas comunidades durante a madrugada. A pedido de Nosso Santo, este bispo ensinou-lhe latim e Teologia e estava prestes a ordená-lo quando eclodiu uma perseguição. Capturado, São Paulo Hasang entregou ao juiz uma declaração escrita defendendo o Catolicismo. Apesar de impressionado, o juiz disse-lhe: "Tu tens razão no que escreveste, mas o rei proíbe esta religião. É teu dever renunciá-la." Nosso Santo respondeu: "Eu disse-te que sou cristão, e serei até minha morte."
    Para evitar um massacre, pois havia aproximadamente 9 mil cristãos no país, os três missionários franceses entregaram-se, mas acabaram executados. Torturado de várias formas, embora permanecesse tranquilo, São Paulo Hasang foi amarrado a uma cruz e decapitado no Pequeno Portão Ocidental de Seul, em 22 de setembro de 1839.


    Antes de ser sacrificado, conseguiu deixar uma mensagem escrita para os fiéis que não haviam sido capturados: "Eu peço-vos: não deixeis de lado o fraterno amor, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação."
    O Papa São João Paulo II canonizou os 103 mártires, 47 mulheres e 45 homens leigos, padres e bispos, em Seul, na viagem apostólica de 1984.


    Para que se tenha um ideia da dificuldade da divulgação da Palavra de Deus em Coreia, bem como em Ásia, mas principalmente do heroísmo da fé e do perfeito amor a Deus que aí se viram, dignos dos próprios Mártires de Roma dos primeiros séculos e dos maiores Santos, entre 1785 e 1882 mais de 10 mil fiéis foram martirizados.
    Hoje, absolutamente vitoriosos e em virtuoso crescimento, os católicos em Coréia do Sul são cerca de 6 milhões, em 14 Dioceses, com 5 mil Sacerdotes e 3,5 mil religiosos. E como não poderia deixar de ser, Santo André Taegon é o Padroeiro do clero de Coreia.
    Seu lugar do nascimento, onde sua família havia vivido desde o bisavô, tornou-se um belíssimo santuário, conhecido como o berço do Catolicismo em Coreia. Sua casa foi especialmente preservada. Muitos dos atuais padres e freiras coreanos são dessa região.


    Sua fíbula, osso mais fino da canela, encontra-se bem preservada.


    Santo André Taegon, São Paulo Hasang e Mártires, rogai por nós!