Tão admirado enquanto Papa, pouco se sabe, no entanto, de sua história. Teria nascido na Península Ibérica, nomeadamente em Guimarães, Portugal, ou mesmo em Roma, no ano de 304. Era de vasta cultura e profundo conhecedor das Sagradas Escrituras.
Como ainda era permitido à época, seu pai era Sacerdote da igreja de São Lourenço, que funcionava em sua própria casa, em Roma, onde São Damásio foi educado. Órfão de mãe, aí teria ajudado seu pai como diácono e vigorosamente crescido na fé e na devoção. Tornou-se Sacerdote e designadamente foi escolhido para auxiliar o Papa Libério.
Toda cidade de Roma estava a seu lado, pois um conhecido cego, ao saber de sua eleição, pôs-se a esperar que um dia saísse da Basílica do Vaticano e, quando ele saiu, começou a gritar: 'Santo Padre, curai-me. Santo Padre, curai-me.' São Damásio aproximou-se, fez o Sinal da Cruz sobre seus olhos e disse-lhe: 'Tua fé te salve!' E ele imediatamente recuperou a visão.
Após vários meses de controvérsias, porém, num gesto de humildade, São Damásio dispôs-se a abdicar do Anel Papal em nome da Paz na Igreja. Mas os bons pastores saíram em sua defesa, e até o imperador Valentino tomou parte nas discussões, quando houveram por bem exilar Libério, o agitador diácono, no ano de 367.
Em 378 foi vítima de uma campanha de difamação, movida pelos mesmos opositores derrotados na eleição papal, que mais uma vez tentavam usurpar-lhe a Cátedra de São Pedro. Sob levianas acusações de adultério, nosso Santo acabou sendo levado à corte imperial, mas por absoluta inconsistência das alegações foi imediatamente absolvido. Um Sínodo de 44 bispos, realizado em Roma pouco depois, tratou de excomungar em definitivo seus perseguidores.
São Damásio serena e comedidamente usava sua autoridade, e com diligência e maestria reafirmou o primado do Bispo de Roma. Seu papado inspirava tanta seriedade e devoção que já no ano de 376, o imperador Graciano, no intuito de publicamente reconhecer sua soberania, abdicou do título de Máximo Pontífice, até então só usado por imperadores, e outorgou a São Damásio o direito de usá-lo com exclusividade.
Mas em sua patente modéstia, por entender que o título de Máximo Pontífice só cabia a Jesus, como consta na Cartas aos Hebreus (Hb 6,20), só aceitou o título de Pontífice.
Eram tempos em que a Igreja já usufruía da plena liberdade de culto, e afinal podiam os fiéis começar a superar o trauma das mortais perseguições. E como um ensaio do que viria a ser o atual Estado do Vaticano, o imperador Graciano também concedeu a São Damásio total liberdade para julgar qualquer questão, inclusive cíveis, entre os bispos.
Ainda obteve das autoridades romanas que os bispos livremente participassem da vida pública dos fiéis. Porém, para inibir difamações e corrupção, emitiu um decreto proibindo que fossem oferecidos presentes aos bispos e Sacerdotes.
Além de bem conviver com os imperadores, São Damásio foi várias vezes requisitado para auxiliá-los em negociações de paz com chefes de outras nações.
Grande poeta, admirador de orações e antigos cânticos, foi ele que institui o cântico de Aleluia na Santa Missa Dominical, bem como os Salmos em dois coros. Amante da Sagrada Tradição, favoreceu a oficialização de vários ritos e orações.
Foi contemporâneo e amigo de Santo Agostinho e Santo Ambrósio. E afirmando uma inconteste obra da Divina Providência, este último, Doutor da Igreja, abertamente declarava ver em nosso Santo a pessoa mais preparada para conduzir a 'Barca de Pedro' por aqueles tempos.
No Concílio de Constantinopla, em 381, por sua lúcida e vigorosa defesa da Doutrina da Igreja, São Damásio foi homenageado com o título de 'Invencível Diamante da Fé'.
Zeloso da História da Igreja, fez um louvável trabalho de arqueologia e restaurou as famosas catacumbas de São Calisto, onde nos anos de perseguição eram secretamente depositados os restos mortais dos cristãos e celebrados vários ritos. Cuidadosamente tratou de identificá-las e mandou entalhar epitáfios para os túmulos dos Santos e mártires, nos quais com seus versos lhes fez inspiradas homenagens.
Deu especial atenção à Cripta dos Papas, também conhecida como o 'Pequeno Vaticano', onde estavam sepultados nove papas, do século II ao IV, afixando uma inscrição em mármore para dignificá-la.
Também redigiu seu próprio epitáfio: "Aquele que andando sobre o mar pôde acalmar amargas ondas, que dá vida às moribundas sementes da terra; Aquele que foi capaz de soltar as sepulcrais correntes da morte, e depois de quatro dias de escuridão pôde trazer ao mundo superior o irmão para sua irmã Marta: Ele, creio eu, fará Damásio ressuscitar do pó."
Escreveu:
"Ele é o Iluminador; Senhor, porque é Espírito; Vida, porque é o Criador; Palavra, porque é Deus; A Verdade, porque é do Pai; Homem, porque nasceu da Virgem; Sacerdote, porque Se ofereceu em Sacrifício; Pastor, porque é Guardião; Leão, porque é Rei; Profeta, porque revelou o que está por vir; ... Pão, porque é Carne; Vinho, porque somos redimidos por Seu Sangue."
Serenamente morreu aos quase 80 anos.
A Basílica de São Lourenço, por ele construída sobre sua própria casa, é uma das mais antigas igrejas de Roma. Tempos depois, seus restos mortais foram sepultados no altar desta Basílica, junto aos restos de São Eutíquio. Uma relíquia permanece exposta.
Serenamente morreu aos quase 80 anos.
A Basílica de São Lourenço, por ele construída sobre sua própria casa, é uma das mais antigas igrejas de Roma. Tempos depois, seus restos mortais foram sepultados no altar desta Basílica, junto aos restos de São Eutíquio. Uma relíquia permanece exposta.