Seja em meio à pobreza ou à riqueza material, quem tem um humilde coração já vivencia o Reino de Deus. Reconhece suas próprias limitações e sabe que os bens materiais não levam a nenhum paraíso. Não pensa em si mesmo, mas procura ajudar onde pode, como pode e a quem pode. Entrega-se nas mãos de Deus e confia em Sua Providência. Ao calar, é capaz de ouvir mais e melhor. Ao sentir o que os outros sentem, torna-se mais próximo de todos. Quem tem coração de pobre é simples, e, por ater-se à essência das coisas, mais profundamente conhece-as, desliga-se de ilusões, e assim reage com maior resignação diante de dificuldades, aflições e tribulações. Está bem perto de Deus.
"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!" Mt 5,4
Chorar diante de uma grande contrariedade não é fraqueza. É sincera demonstração de sentimentos, aversão aos desenganos, natural lamentação de infortúnios. Destes Deus compadece-Se. Quem comedidamente sofre injustiças, sem se permitir perturbar a paz alheia, comove o Sofredor Coração de Jesus. Deus é Consolador, dá forças para enfrentar os mais angustiantes momentos, e recompensa com as maiores e mais verdadeiras felicidades que se pode experimentar. A ilusória e fútil alegria é a causa das maiores tristezas, pois não saciam a alma e só aumentam o vazio espiritual.
"Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!" Mt 5,5
A mansidão permite conhecer mais claramente a Verdade, é reconfortante e perpetua a Paz de Cristo. À sua volta, o ambiente faz-se efetivamente presente, pois sem personalismos se tem melhor percepção da natureza e dos acontecimentos. As obras de Deus só chegam plenamente aos sentidos através da porta da serenidade, e só por ela é possível a contemplação e a inspiração. A inquietude só causa ou aumenta as tensões. Jesus ofereceu Sua Paz para que nela vivamos. Com ela devemos tocar as pessoas por nossas palavras, nossos gestos, nosso trabalho. E nas situações em que afloram a aflição ou a violência, é quando se faz perceber a verdadeira mansidão. Mas ela não se confunde com a covardia, pois também sabe perceber a hora de reagir diante do intolerável.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!" Mt 5,6
Trabalhar pelo bem do próximo, não se deixar levar por rancor ou pessimismo e purificar o próprio coração são provas de fé, esperança e amor. Sutilmente, Deus vai enchendo as mãos e o coração de quem pede Seus socorros contra injustiças. A silente aversão ao mundo é uma sóbria e resistente atitude, virtude de fortaleza. Quem compactua com a corrupção, ou dela foge buscando falsos prazeres, está colocando sua esperança noutra fonte que não é Deus. Nunca encontrará a Paz. Suportar humilhação, e a aparente vitória do mal, é sinal da presença do Espírito Santo e a certeza do futuro triunfo. Por sua própria fraqueza, enquanto reação humana, ou por força de Deus, o mal sempre se destina à ruína.
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão Misericórdia!" Mt 5,7
Dados tão frequentes desacertos da natureza meramente carnal, por excelência a compaixão é a marca de Deus. Perceber e tratar a dor alheia com delicadeza e respeito, faz despertar o amor que se deve ao semelhante e a Deus. É impossível ser feliz virando o rosto aos que sofrem. O coração realmente misericordioso aflige-se até mesmo vendo a tristeza dos maus. A indiferença e o ódio, então, são perigosos venenos, podem matar; provocam o afastamento das pessoas e o vazio na alma, impossíveis de serem desfeitos sem o retorno à natural afeição, à solidariedade humana e ao bem querer. Quem não tem misericórdia, não encontra consolação, e sofre maiores dramas de consciência por só tardiamente vir a reconhecer o sofrimento dos outros.
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!" Mt 5,8
A pureza, a gratuidade e as boas intenções são as autênticas expressões do amor. Não há como amar competindo, negociando, buscando vantagens, vivendo de aparências e de valores materiais. Não há como perceber o amor de Deus quando se cultua fugazes prazeres, guardando supostos tesouros, agindo por escusos interesses, sustentando embustes, colecionando 'glórias' de injustiça e ilusão, usando e menosprezando o próximo. As mãos limpas de quem trabalha e oferece do que é seu, o coração sem malícia, o corpo depurado de vícios e compulsões são a verdadeira beleza da alma, e a Paz que se pode viver na terra. Assim se pode ver Deus em Suas obras e na pessoa dos outros.
"Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!" Mt 5,9
Obter e trazer em si a Paz de Cristo pela vida a fora é uma das maiores bençãos. Deve ser o maior objetivo do cristão, até mesmo uma obrigação, pois ela nos foi oferecida. Os ativisticamente combativos e rebeldes, na grande maioria das vezes, mais atrapalham que ajudam. Salvo raras exceções, pelo bem deve-se buscar as metas do bem. O mundo é carente de consolação e de reconciliação com Deus, e os pacificadores são Seus enviados para cumprir esse papel, para promover a esperança e o amor que levam ao Céu. Jesus deu-nos Sua Paz. Aqueles que a recebem, portanto, têm a Graça e o compromisso de partilhá-la. É através dessas pessoas que Deus quer fazer-Se conhecido.
"Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!" Mt 5,10
Enquanto se multiplicam as iniquidades, os justos nadam contra a corrente defendendo os direitos dos mais sofridos e dos mais pobres. Enquanto o mundo insiste em ostentar suas efêmeras e vãs conquistas, milhões de pessoas são massacradas pela pobreza, pela enfermidade, pela fome, pela guerra e pela morte. Uma pequena parte faz festas com as riquezas da injustiça, enquanto a maioria esmola a saciação das mais elementares necessidades. As causas das maiores tribulações são sempre as mesmas: a falta de partilha, a usurpação e, mil vezes pior, a diabólica manipulação de direitos de desinformados e indefesos, orquestrada pelo comunismo e suas muitas e sutis variantes. Quem levanta a voz contra essa vil insensibilidade, portanto, estará incomodando, e certamente será chamado de radical, sofrerá ridicularização e ameaças até que se cale ou morra.
"Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, perseguirem e falsamente disserem todo mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os Profetas que vieram antes de vós." Mt 5,11-12
Hoje, em vários segmentos sociais, falar de fé, de religião ou mesmo de Deus tornou-se sinônimo de ridículo. Tem-se como dever, em nome de uma suposta boa convivência, escolher em que ambiente falar sobre o bem-estar da alma. O mundo dos instantâneos prazeres nada quer ouvir sobre o verdadeiro amor, a adoração a Deus, a contemplação, a reflexão, o crescimento espiritual, a oração, a vigília, o jejum e outras penitências. Para muitos, os bens materiais são os mais claros sinais de felicidade. Humildade, resignação, tolerância, pacifismo, castidade, pregação de amor ao próximo, oferecer a vida para servir aos necessitados, enfim, parecem fraquezas, emocionais achaques, coisa de gente que se 'acostumou com o sofrimento'. No máximo, alguns vão achar bonito 'tanta' dedicação, 'tanto' altruísmo, 'tanta' abnegação. Os mais amadurecidos, no entanto, já sabem: as verdadeiras alegrias e vitórias experimentam-se pelos afagos da presença de Deus.
JESUS É NOSSA BEM-AVENTURANÇA
Em face da Vinda do Salvador, e de tantos e tão grandiosos milagres que fez, Ele deu-nos uma advertência: "E João chamou dois de seus discípulos e enviou-os a Jesus, perguntando: 'És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar por outro?' Ora, naquele momento Jesus havia curado muitas pessoas de enfermidades, de doenças e de malignos espíritos, e dado a vista a muitos cegos. Respondeu-lhes Ele: 'Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho. E bem-aventurado é aquele para quem Eu não for ocasião de queda!'" Lc 7,19.21-23
De fato, Jesus foi bem explícito perante os judeus: "Ele disse-lhes: 'Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso, disse-vos: morrereis em vosso pecado. Porque se não crerdes o que EU SOU, morrereis em vosso pecado.'" Jo 8,23-24
Falava, portanto, de verdadeira perseverança, pois sabia das tentações e das contrariedades que o cristão padece nesse mundo: "Bem-aventurado aquele servo a quem Seu Senhor, na Sua volta, assim encontrar procedendo!" Mt 24,46
São Pedro vai dizer: "Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse algo extraordinário. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que possais alegrar-vos e exultar no Dia em que for manifestada Sua Glória. Se fordes ultrajados pelo Nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito de Glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós." 1 Pd 4,12-14
Quanto às nossas próprias faltas, que nos afastam de Deus, São Paulo faz lembrar a importância da Confissão: "Assim é que Davi proclama bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente das obras: 'Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades foram perdoadas, e cujos pecados foram cobertos! Bem-aventurado o homem ao qual o Senhor não imputou seu pecado (Sl 31,1s).'" Rm 4,6-7
Na missão que a Igreja tem de pacificar o rebanho de Cristo, essa é uma importantíssima atribuição que Ele deu logo em Sua primeira aparição aos Apóstolos: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
E na certeza de que no ventre trazia o Redentor, Nossa Senhora bem sabia a indizível Graça que lhe foi concedida. Em visita a Santa Isabel, ela cantou, e a Igreja tratou de guardar a memória desse feito: "E Maria disse: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador, porque olhou para Sua pobre serva. Por isto, desde agora, todas gerações proclamá-me-ão bem-aventurada, porque em mim realizou maravilhas Aquele que é poderoso, e Cujo Nome é Santo.'" Lc 1,46-49
Santa Isabel, com efeito, já a havia proclamado: "Bem-aventurada és tu que creste, pois da parte do Senhor hão de cumprir-se as coisas que te foram ditas!" Lc 1,45
Ora, o próprio Cristo, após a multiplicação dos pães e dos peixes, iria dizer: "Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,29
"Caminhamos na estrada de Jesus!"