segunda-feira, 18 de novembro de 2024

A Encarnação do Cristo (I)


    A Carta de São Paulo aos Romanos ensina que o Cristo, enquanto Servo Sofredor, é uma transcendente promessa de Deus, e Sua Missão consiste em exortar-nos à que tudo suporta. Por isso, a Igreja anuncia-O "... conforme a revelação do mistério, durante séculos guardado em segredo. Mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé." Rm 16,25-26
    A manifestação do Cristo, portanto, é um preciosíssimo bem que deve ser levado a conhecimento de todos, pessoa a pessoa pelo mundo afora, mesmo cientes de que nossas informações sobre Ele é, tão somente, "... o que se pode conhecer de Deus..." Rm 1,19
    Pois enquanto revelação do próprio Deus, Cristo está muito além da nossa capacidade de compreensão, e conseguir anunciá-Lo é uma Graça, segundo a Carta de São Paulo aos Colossenses: "Também orai por nós. Pedi a Deus que dê livre curso à nossa palavra para que possamos anunciar o Mistério de Cristo." Cl 4,3
    Assim, por Graça do Espírito Santo, os esforços dos Apóstolos em muito ultrapassaram os meramente humanos limites. De fato, à exceção de São João, todos eles foram martirizados, inclusive São Paulo, que dizia sobre aqueles a quem ainda não tinha pregado: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
    Mas o conjunto da Revelação, que bem mais esclarece do que realmente precisamos saber, já havia sido previsto pelos Profetas do Antigo Testamento, ainda que só em Cristo tenha alcançado sua mais elevada dimensão e esplendor. Nem mesmo os anjos conheciam tal projeto em sua totalidade, como vemos nas palavras iniciais da Primeira Carta de São Pedro: "Esta Salvação tinha sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava Seus sofrimentos e Suas Glórias. Foi-lhes revelado que eram destinadas não para eles, senão para vós, estas revelações que agora vos tem sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas, que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,10-12
     A Primeira Carta de São João, no entanto, do mundo difere a Igreja, uma vez que já se tem a manifestação do Espírito Santo: "Mas isto dá-se para que se conheça que nem todos são dos nossos. Vós, porém, tendes a unção do Santo e sabeis todas coisas." 1 Jo 2,20
    Com efeito, mesmo para os anjos muitas dessas revelações só seriam inteligíveis através da instituição da Igreja. A Carta de São Paulo aos Efésios registrou: "Assim, de ora em diante, as celestes dominações e potestades podem conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da divina Sabedoria..." Ef 3,10
    Entretanto, apesar de todos vaticínios das Escrituras, muitos religiosos judeus não reconheceram Jesus como o Cristo. A Segunda Carta de São paulo aos Coríntios anotou: "... a inteligência deles permaneceu obscurecida. Ainda agora, quando leem o Antigo Testamento, esse mesmo véu permanece abaixado, porque é só em Cristo que ele deve ser levantado." 2 Cor 3,14
    E o Último Apóstolo lamentou pelos incrédulos, em geral, "... que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor 4,4
    Ele atesta a natureza humana de Jesus, mas também o poder do Espírito Santo, o grandioso feito da Ressurreição, e que foi Nosso Salvador Quem instituiu o Reino de Sacerdotes: "Jesus Cristo, Nosso Senhor, descendente de Davi quanto à carne, que, segundo o Espírito de Santidade, no poder foi estabelecido Filho de Deus por Sua Ressurreição dos mortos, e de Quem temos recebido a Graça e o apostolado..." Rm 1,3-5
    E não deixou de n'Ele ver, para além da imagem, a própria plenitude de Deus: "Porque a Deus aprouve n'Ele fazer habitar toda plenitude..." Cl 1,19
    Com total fidelidade aos fatos, o Evangelho segundo São João também atestou, e logo em primeiras palavras, Sua divindade, além da Graça que por ela é derramada sobre nós: "De Sua plenitude todos nós recebemos Graça sobre Graça." Jo 1,16
    São Paulo até admite haver tratado Jesus apenas como um ser humano. Porém, retrata-se e diz que, depois de verdadeiramente conhecê-Lo, em todo convertido vê Sua divina imagem: "Por isso, daqui em diante a ninguém nós conhecemos de humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo!" 2 Cor 5,16-17
    Afirmando a superioridade da Nova Aliança, ele coloca o Antigo Testamento em seu devido lugar por força da manifestação de Deus na Pessoa de Jesus, que claramente foi preservada para um tempo em que a humanidade melhor pudesse acolher Seus ensinamentos: "... as Escrituras limitam-se a dar o conhecimento do pecado. Mas agora... manifestou-se a justiça de Deus, predita pela Lei e pelos Profetas... a obra da Redenção. Deus destinou o Cristo para ser, por Seu Sangue, instrumento de expiação... deixando sem castigo os pecados anteriormente cometidos, no tempo de Sua tolerância." Rm 3,20-21.24-26
    Pois como os seguidores da tradição de São Paulo revelam na Carta aos Hebreus, Deus tudo criou tomando o Cristo como medida, e Sua Palavra, fonte de Salvação, é o maior sinal de Seu poder: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus aos nossos pais pelos Profetas. Ultimamente falou-nos por Seu Filho, que constituiu universal herdeiro, por Quem criou todas coisas. Esplendor da Glória de Deus e imagem de Seu ser, Ele sustenta o universo com o poder de Sua Palavra." Hb 1,1-4
    Todos esses acontecimentos, portanto, vieram a cumprir o que estava escrito sobre o Messias, e em muitos pontos até surpreenderam, superando as expectativas. De fato, as profecias não são perfeitamente claras, como a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios já reconhecia: "Nossa ciência é parcial, nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente, mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte, mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido." 1 Cor 13,9-12
    No entanto, a mais profunda leitura, associada às necessárias revelações particularmente feitas por Jesus, mostra a precisão e a beleza desse divino projeto. Sem dúvida, mais que simplesmente libertar-nos, o Pai convidou-nos à santidade. Lê-se na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Deus salvou-nos e chamou para a santidade, não em atenção às nossas obras, mas em virtude de Seu desígnio, da Graça que desde a eternidade nos destinou em Cristo Jesus, e agora nos manifestou mediante a aparição de Nosso Salvador, que pelo Evangelho destruiu a morte e suscitou a Vida e a imortalidade..." 2 Tm 1,9-10
    E foi além: Ele convidou-nos a comungar de Sua própria natureza divina, como a Segunda Carta de São Pedro diz: "... foram-nos concedidos os prometidos, os maiores e mais valiosos bens, a fim de que vós vos tornásseis participantes da natureza divina..." 2 Pd 1,4
    Assim pôs termo ao exagerado valor que se dá à terrena vida, pois através de Sua Paixão somos animados à Vida Eterna por Seu Santo Espírito. São Paulo escreve aos fiéis da igreja de Roma: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justificação. Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,10-11
    Ele foi desconcertante ao declarar aos cristãos de Corinto: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
    Sua Vinda, pois, é a inauguração do Reino dos Céus, a volta do ser humano à convivência com Deus, a vitória sobre a morte"Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram!1 Cor 15,20
    Porque, para nossa total emancipação, foi vivendo na carne que Ele venceu o pecado: "Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, (Deus) condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,3b-4
    Esta é a razão pela qual a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo insiste em apresentá-Lo por Sua natureza humana, para ressaltar a Redenção que se deu por Seu Sacrifício na Cruz: "Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: um homem, Jesus Cristo, que por todos Se entregou como resgate. Esse é o testemunho dado nos estabelecidos tempos. E deste fato, digo a verdade, não minto, fui constituído pregador, Apóstolo e doutor dos gentios, na fé e na Verdade." 1 Tm 2,5-7
    No mesmo sentido, em reconhecimento à Sua Igreja, São João Evangelista indicava uma das forças que a move: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Ademais, numa referência aos que estão no Purgatório, São Paulo deu mais esta explicação para Sua carnal condição: "Para isso é que morreu Cristo e retomou a Vida, para ser o Senhor tanto dos mortos como dos vivos." Rm 14,9


A PACIÊNCIA DE CRISTO

    Nosso resgate, portanto, não foi um acontecimento qualquer. Segundo o Príncipe dos Apóstolos, nossa teimosia acabou custando muito caro: "Porque vós sabeis que não é por perecíveis bens, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados de vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo..." 1 Pd 1,18
    Ele abertamente afirma o Sacrifício do Cristo, para que não seja menosprezado: "Eis a exortação que dirijo aos anciãos que entre vós estão. Porque como eles sou ancião, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo..." 1 Pd 5,1
    Pois em Seu sofrer, que era absolutamente humano, Jesus aprendeu e ensinou que com obediência devemos aceitar os desígnios de Deus, em especial os mais difíceis: "Assim Cristo também não atribuiu a Si mesmo a Glória de ser Pontífice. Esta foi-Lhe dada por Aquele que Lhe disse: 'Tu és Meu Filho, hoje Te gerei (Sl 2,7).' Nos dias de Sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, Àquele que podia salvá-Lo da morte, e foi atendido por Sua Misericórdia. Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,5.7-8
    De fato, em profundidade Ele experimentou a condição humana, como se viu enquanto agonizava na Cruz do Monte Calvário, na leitura do Evangelho segundo São Marcos: "E à hora nona Jesus bradou em alta voz: 'Elói, Elói, lammá sabactáni?', que quer dizer: 'Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste (Sl 21,2)?'" Mc 15,34
    Pregam, pois, os discípulos de São Paulo: "Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, Ele também participou a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o Demônio, e libertar aqueles que, por medo da morte, toda vida estavam sujeitos a uma verdadeira escravidão. Veio em socorro, não dos anjos, e sim da raça de Abraão, e por isso convinha que em tudo Se tornasse semelhante a Seus irmãos, para ser um Compassivo e Fiel Pontífice no serviço de Deus, capaz de expiar os pecados do povo. De fato, por ter Ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados." Hb 2,14-18
    Ora, os divinos desígnios acatados por Jesus são cabais demonstrações que nos ensinam a viver nossa condição em plenitude, isto é, abraçando a necessária espiritualidade, inarredável dimensão da vida. Ele mesmo afirmou: "Eu vim para que as ovelhas tenham Vida, e a tenham em abundância." Jo 10,10b
    Em importantíssimo capítulo, Ele já havia dito sobre o Mistério do Sacrifício Pascal ainda em Cafarnaum, na sinagoga: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53b
    E sentenciou aos Apóstolos, depois da Santa Ceia: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, sem permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,4-5
    Diante destes fatos, eis que a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses reza: "Quanto a vós, temos plena certeza no Senhor de que estareis cumprindo e continuareis a cumprir o que vos prescrevemos. Que o Senhor dirija vossos corações para o amor de Deus e para a paciência de Cristo." 2 Ts 3,4-5
    Nestes termos, pois, ele explica a Santa Missa, ápice de nossas vidas: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo, agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual." Rm 12,1
    Pois as divinas dádivas operam muito mais que uma simples melhora na terrena vida. É muito maior: "... o dom de Deus é a Vida Eterna em Cristo Jesus, Nosso Senhor." Rm 6,23
    Tudo isso, portanto, encerra-se no grande plano do Pai: "Em Seu amor, predestinou-nos a sermos adotados como Seus filhos por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua livre vontade..." Ef 1,5
     Tocado por tanta benevolência, e absolutamente convicto da nossa vitória pela Redenção oferecida por Jesus, este Apóstolo pergunta: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor." Rm 8,35.39
    Não estamos, pois, nem sozinhos nem ao sabor de uma vida sem sentido. Cristo é uma grande prova do amor de Deus e de Seus cuidados para conosco, como ele diz aos efésios: "Mas Deus, que é rico em Misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a Vida junto a Cristo. É por Graça que fostes salvos! Junto a Ele, ressuscitou-nos e fez-nos assentar nos Céus, com Cristo Jesus. Ele assim demonstrou pelos futuros séculos a imensidão das riquezas de Sua Graça, pela bondade que tem para conosco, em Jesus Cristo." Ef 2,4-7


A COMUNHÃO COM DEUS

     Enfim, Jesus veio conduzir-nos à Plena Comunhão com o Pai, ou seja, restituir-nos a divina semelhança. O Apóstolo dos Gentios exorta: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10
    Porque, embora sigamos sendo imagem de Deus, havemos perdido Sua semelhança por causa do pecado. O Livro do Gênesis já registrava esta palavra de Deus de pouco antes do Dilúvio: "Disse então o Senhor: 'Meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne...'" Gn 6,3
    Jesus, portanto, mais uma vez traz-nos o Espírito de Deus, como a promessa feita através do remoto Livro do Profeta Joel, que na plenitude dos tempos se materializou por Sua Vinda: "... acontecerá que derramarei Meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos e vossos jovens terão visões." Jl 3,1
    Nosso Salvador mesmo confirmou essa promessa, também na sinagoga de Cafarnaum: "O Espírito é que dá a Vida..." Jo 6,63
    E, a instantes de Sua Ascensão, reafirmou Sua tarefa de enviá-Lo: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai..." Lc 24,49
    Essa era a renovação esperada pelo Livro dos Salmos, embora não tão clara: "Se enviais, porém, Vosso Espírito, eles revivem e renovais a face da Terra." Sl 103,30
    Era a esplendorosa Vinda do Espírito de Deus, que se deu no Pentecostes e foi exaltada por São Paulo: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez!" Rm 8,2-3a
    Assim o Cristo é o modelo do novo ser humano, e por Ele a Igreja recebeu o ministério de nossa reconciliação com o Pai: "Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo! Tudo isso vem de Deus, que Consigo nos reconciliou, por Cristo, e confiou-nos o ministério desta reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo, rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,17-18.20
    Ora, um mesmo que superficial estudo da Revelação mostra que Jesus é o centro de todas coisas, é a fonte de amor que dá sentido à vida e à toda Criação: "Deus manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência desde sempre formara, para realizá-lo na plenitude dos tempos: desígnio de reunir em Cristo todas coisas, as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10
    Em Jesus, pois, toda a humanidade volta a ser uma só: "Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos." Cl 3,11
    E há uma só Igreja, da qual Ele é a Cabeça e nós somos simples membros. É através dela que Deus Filho derrama Seu Espírito, e plenamente, como São João Batista asseverou: "Com efeito, Aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque sem medidas Ele concede o Espírito." Jo 3,34
    Afirmativamente, a Igreja é a destinatária e mensageira de Sua Boa Nova. Só Ela divulga Sua Doutrina, e São Paulo chama-a de Precioso Depósito (cf. 2 Tm 1,14), que é a verdadeira fonte de e de poder. Pois Deus "... constituiu-O (Jesus) Supremo Chefe da Igreja, que é Seu Corpo, o Receptáculo d'Aquele que sob todos aspectos preenche todas coisas." Ef 1,22b-23
    Que esplendorosa Graça! A nós, tão errantes, é concedido viver a Unidade da Igreja, a Comunhão com Cristo, e assim com Seus Santos: "Fiel é Deus, por Quem fostes chamados à Comunhão de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor. Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo Espírito e no mesmo sentimento." 1 Cor 1,9-10
    A Carta de São Paulo os Gálatas exorta: "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 6,9-10
    E ensina como resistir: "Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas, mas afeiçoai-vos às modestas coisas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos." Rm 12,16
    Promovendo o crescimento a Igreja, como a Carta de São Tiago ensina: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da Vida que Deus prometeu aqueles que O amam." Tg 1,12
    Pois, segundo São Paulo, nela nos é concedida a perfeição da unidade de um só corpo: "... assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." Rm 12,5
    Isso só é possível graças à própria Glória de Deus, derramada por Cristo sobre os Apóstolos, ou seja, sobre a Igreja, como prova de Sua passagem entre nós e do amor de Deus. É o que diz a Oração da Unidade, que Ele rezou ao Pai no Cenáculo pouco antes de partir para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23

    "Fazei de nós um só corpo e um só espírito!"