sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

O Mistério de Cristo


    Antes da Ressurreição e da Ascensão ao Céu, o mais grandioso fenômeno realizado por Jesus diante dos Apóstolos certamente foi a Transfiguração, quando plenamente lhes manifestou Sua divina condição. Por isso, pediu que os Apóstolos aguardassem o devido tempo para começar a divulgá-la.
    São Mateus assim narrou:

    "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e à parte conduziu-os a uma alta montanha.
    Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias, conversando com Ele. Então Pedro tomou a palavra e disse-Lhe:
    - Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, aqui farei três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e outra para Elias.
    Ainda falava, quando veio uma luminosa nuvem e envolveu-os. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz, que dizia:
    - Eis Meu Amado Filho, em Quem pus toda Minha afeição. Ouvi-O!
    Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. Mas Jesus aproximou-Se deles e tocou-os, dizendo:
    - Levantai-vos e não temais.
    Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus.
    E quando desciam, Jesus fez-lhes esta proibição:
    - Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos." 
                                               Mt 17,2-9


A REVELAÇÃO PESSOAL

    Mas mesmo tendo esperado o oportuno momento, não foi fácil divulgar tão desconcertante Revelação. Num suspiro, São Paulo falou dos esforços que fazia para anunciar a Encarnação do Cristo. Sem dúvida, o maior Mistério de Deus: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados, e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
    E sabendo que tinha em mãos uma tarefa que ia muito além de suas capacidades, humildemente pedia por orações: "Também orai por nós. Pedi a Deus que dê livre curso à nossa palavra, para que possamos anunciar o Mistério de Cristo." Cl 4,3
    Ele até admite a deturpada visão que tiveram de Sua Encarnação, e assim do próprio ser humano, que é imagem e semelhança de Deus: "Por isso, daqui em diante a ninguém conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura." 2 Cor 5,16-17a
    Desta forma, o Evangelho, tanto quanto o próprio Cristo, é uma manifestação de divinos mistérios: "E também orai por mim, para que me seja dado corajosamente anunciar o mistério do Evangelho..." Ef 6,19
    É obra do próprio Santo Paráclito, segundo São Pedro: "... estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12b
    Jesus mesmo havia dito que só revelaria o Pai a quem Ele quisesse, de onde se entende que Ele O revela de pessoa em pessoa: "Ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Lc 10,22
    Ele disse aos líderes religiosos de então: "Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se conhecêsseis-Me, certamente também conheceríeis a Meu Pai." Jo 8,19
    E dizia da Igreja: "Conheço Minhas ovelhas, e Minhas ovelhas conhecem a Mim..." Jo 10,14b
    Em igual sentido, São Paulo diz que só se pode dar conta de que Jesus é Deus com o auxílio da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    Por isso, ao constatar a incredulidade de tantos mesmo diante de tão grandiosos milagres, Jesus apontou na pessoal e seletiva revelação um desígnio do Pai: "Eu bendigo-Te, Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidosrevelaste-as aos pequenos." Mt 11,25
    Ora, até parentes próximos de Jesus, não sem algum despeito, d'Ele exigiam que ao mundo todo Se revelasse de uma vez: "Seus irmãos disseram-Lhe: 'Parte daqui e vai para a Judeia, a fim de que Teus discípulos também vejam as obras que fazes. Pois quem deseja ser conhecido em público não faz coisa alguma ocultamente. Já que fazes essas obras, revela-Te ao mundo." Jo 7,3-4
    Ele, portanto, promete manifestar-Se de um em um aos que O amam, falando em particular a cada coração: "Aquele que tem Meus Mandamentos e os guarda, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,21
    São Filipe Apóstolo havia pedido: "'Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta-nos.' Respondeu Jesus: 'Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, também viu o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai?...'" Jo 14,8-9
    Nessa ocasião, movido por sincera curiosidade, São Judas Tadeu perguntou o porquê de Suas manifestações pessoais: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?'" Jo 14,22
    Mas Ele tão somente respondeu garantindo vir com o Pai morar no coração de quem O Ama, ou seja, sem fazer menção, nessa resposta, à Parusia, ou seja, Sua Definitiva Volta: "Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,23
    Sem dúvida, foi isso que Ele atestou em Seus seguidores quando rezou ao Pai pela Unidade da Igreja: "Manifestei Teu Nome aos homens que do mundo Me deste. Agora eles reconheceram que todas coisas que Me deste procedem de Ti." Jo 17,6a.7
    E já havia dito: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair." Jo 6,44a
    Sua própria Ressurreição não foi uma aberta manifestação, como São Pedro afirmou: "Mas Deus ressuscitou-O no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-Se não a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido..." At 10,40-41a
    Profeta Jeremias havia informado que as revelações de Deus seriam pessoais, àqueles que com sinceridade e persistência O invocam: "Eis o que diz o Senhor que criou a terra, que a modelou e consolidou, e Cujo Nome é Javé: 'Invoca-Me e respondê-te-ei, revelando-te grandes e misteriosas coisas que ignoras.'" Jr 33,2-3
    E o religioso Simeão, que inspiradamente foi ao Templo assistir a Apresentação do Menino Jesus por Nossa Senhora e São José, apenas previu que, por Sua Pessoa, se iniciava um período em que a humanidade se revelaria perante o Salvador, e não desde logo o Juízo Final: "Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações." Lc 2,34-35


JESUS, PLENITUDE DE DEUS

    Os Apóstolos, porém, estavam incumbidos de testemunhar Sua absoluta divindade. São João Evangelista, por exemplo, assegura que através de Jesus nos foi dado suficiente entendimento para conhecermos a Deus, e sabermos que Ele é Sua verdadeira manifestação: "Sabemos que o Filho de Deus veio e deu-nos entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no Verdadeiro, nós que estamos em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro Deus e a Vida Eterna." 1 Jo 5,20
    Jesus, de fato, afirmou o privilégio que era conhecê-Lo em Pessoa, como foi concedido aos Apóstolos, às pessoas que O seguiam e às de Seu tempo: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes, pois vos digo que muitos Profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram. E ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram." Lc 10,22-23
    E abertamente afirmou Sua divindade no Templo de Jerusalém, dizendo que só não O reconhecia aqueles que permanecem no pecado: "Ele disse-lhes: 'Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso, disse-vos: morrereis em vosso pecado. Porque, se não crerdes o que EU SOU, morrereis em vosso pecado.'" Jo 8,23-24
    Eis que São Paulo dizia que na Encarnação de Jesus estava a plenitude de Deus: "Pois n'Ele corporalmente habita toda plenitude da divindade." Cl 2,9
    Entretanto, não há como negar que, mesmo com tudo que foi revelado, estamos diante de um mistério que vai muito além de nossa capacidade de compreensão. Isso já estava escrito no livro de Jó, quando seu amigo lhe diz: "Oh! Se Deus pudesse falar, e abrir Seus lábios para responder-te, revelar-te os mistérios da Sabedoria que são ambíguos para o espírito... Então saberias que Deus esquece uma parte de tua iniquidade. Pretendes sondar as profundezas divinas, atingir a perfeição do Todo-poderoso? Ela é mais alta do que o céu: que farás? É mais profunda que os infernos: como a conhecerás? É mais longa que a terra, mais larga que o mar." Jó 11,5-9
    Quem também deixou entrever que nem tudo sobre Deus pode ser conhecido foi São Paulo. Ele diz dos pagãos na Carta aos Romanos: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois Deus lhes revelou com evidência." Rm 1,19
    São João Evangelista também aquiesceu: "... Deus é maior que nossa consciência, e conhece todas coisas." 1 Jo 3,20
    Contudo, apesar de ciente de nossa limitação, São Pedro afirma que nos foi concedido tudo de que precisamos para bem conhecer a Jesus, e pelas práticas de alcançar a Vida eterna: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua virtude." 2 Pd 1,3
    Essa era a expectativa até dos samaritanos, embora um tanto vaga quanto ao real objeto, como vemos na cena do poço de Jacó: "Respondeu a mulher: 'Sei que deve vir o Messias (que Se chama Cristo). Pois quando vier, Ele fá-nos-á conhecer todas coisas.'" Jo 4,25
    Jesus, porém, por vezes deixou de fora a multidão: "Os discípulos aproximaram-Se d'Ele, então, para dizer-Lhe: 'Por que lhes falas em parábolas?' Respondeu Jesus: 'Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.'" Mt 13,10-11
    Também quando se aproximava Seu Sacrifício: "Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. E ensinava a Seus discípulos..." Mc 9,30-31a
    E vai fazer uma expressiva restrição, ao rezar ao Pai: "Ora, a Vida Eterna consiste em que conheçam a Ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste." Jo 17,3
    São Paulo, por sua vez, não vê dificuldade alguma em conviver com os mistérios, enquanto desígnios de Deus. Ao contrário, com eles regojiza-se, em específico pela revelação aos não judeus: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja. Dela fui constituído ministro, em virtude da missão que Deus me conferiu de anunciar em vosso favor a realização da Palavra de Deus, mistério este que desde a origem esteve escondido às gerações passadas, mas que agora foi manifestado a Seus santos. A estes quis Deus dar a conhecer a riqueza e Glória deste mistério entre os gentios: Cristo em vós, esperança da Glória! A Ele é que anunciamos, admoestando todos homens e instruindo-os em toda Sabedoria, para todo homem tornar perfeito em Cristo. Eis a finalidade de meu trabalho, a razão porque luto auxiliado por Sua força, que em mim poderosamente atua." Cl 1,24-29
    Lembrando as muralhas de Jericó, ele diz desta força: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5
    O Eclesiástico, por sinal, já reconhecia que mesmo os esforços de um sábio dependem da vontade de Deus para que se possa conhecer a Verdade que nos cerca. E afirma que só Ele pode permitir-nos meditar sobre Seus mistérios, só Ele pode ensinar-nos Sua própria Doutrina: "O sábio cuidadosamente procura a sabedoria de todos antigos, e aplica-se ao estudo dos Profetas. No coração guarda as narrativas dos célebres homens, e ao mesmo tempo penetra nos mistérios das máximas. Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o oculto sentido das parábolas. Exerce seu cargo em meio aos poderosos, e comparece perante aqueles que governam. Viaja pela terra de povos estrangeiros, para reconhecer o que há do bem e do mal entre os homens. Desde o alvorecer, aplica o coração à vigília para unir-se ao Senhor que o criou, e ora na presença do Altíssimo. Abre sua boca para orar e pede perdão de seus pecados, pois se for da vontade do Senhor que é grande, Ele cumulá-lo-á do Espírito de inteligência. O Senhor orientará seus conselhos e seus ensinamentos, e ele meditará nos divinos mistérios. Ensinará Ele próprio o conhecimento de Sua Doutrina. E ele porá sua glória na Lei da Aliança do Senhor." Eclo 39,1-8.10-11
    No livro do Apocalipse, enfim, temos mais uma reveladora imagem do Salvador, na qual a mística segue sendo a tônica, mas Ele próprio deixa bem claro que detém total poder sobre a Igreja: "Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação, e também no Reino e na perseverança em Jesus, fui levado à ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho que eu dava de Jesus. No Dia do Senhor, fui arrebatado pelo Espírito e atrás de mim ouvi uma forte voz, como de trombeta. Então me voltei para ver quem estava falando, e ao voltar-me vi sete candelabros de ouro. No meio dos candelabros havia alguém semelhante a um Filho do Homem, vestido com uma comprida túnica e com uma faixa de ouro em volta do peito. Tinha Ele cabeça e cabelos brancos como lã cor de neve. Seus olhos eram como chamas de fogo. Seus pés pareciam-se ao fino bronze, incandescido na fornalha. Sua voz era como o ruído de muitas águas. Segurava na Mão direita sete estrelas. De Sua boca saía uma afiada espada, de dois gumes. Seu rosto assemelhava-se ao sol, quando brilha com toda força. Ao vê-lo, caí como morto a Seus pés, mas Ele colocou sobre mim Sua Mão direita e disse: 'Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, Aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos. Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as futuras. Eis o simbolismo das sete estrelas que viste na Minha Mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas.'" Ap 1,9-10.12-20
    E nesse mesmo livro foi-nos revelado a aparência, igualmente transcendental, que Jesus terá no Último Dia: "Ainda vi o Céu aberto: eis que aparece um branco cavalo. Seu Cavaleiro chama-Se Fiel e Verdadeiro, e é com justiça que Ele julga e guerreia. Tem flamejantes olhos. Há em Sua cabeça muitos diademas, e traz escrito um Nome que ninguém conhece, senão Ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-nO em brancos cavalos os Celestes Exércitos, vestidos de fino linho, de imaculada brancura. De Sua boca sai uma afiada espada para com ela ferir as pagãs nações, porque Ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador. Ele traz escrito no manto e na coxa: Rei dos reis e Senhor dos senhores!" Ap 19,11-16


IGREJA: SINAL DA REVELAÇÃO E DO MISTÉRIO

    Na Primeira Carta de São Pedro, vemos que os sagrados autores do Antigo Testamento tentavam entender como se daria a Salvação, através da manifestação do Messias, mas isso não lhes foi concedido. Até mesmo os anjos tiveram que aguardar Sua Revelação para compreendê-la: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as Glórias que deviam segui-los. Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,10-12
    São Paulo, na Carta aos Efésios, vai reafirmar que as 'riquezas de Cristo' estão muito além dos nossos conhecimentos, e também diz que classes de anjos precisam contemplar Sua principal obra, a Igreja, para melhor entender os planos de Deus: "A mim, o mais insignificante dentre todos santos, coube-me a Graça de entre os pagãos anunciar a inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o salvador desígnio de Deus, mistério desde a eternidade oculto em Deus, que tudo criou. Assim, de ora em diante, as celestes dominações e as potestades podem conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da Divina Sabedoria, de acordo com o eterno desígnio que Deus realizou em Jesus Cristo, Nosso Senhor." Ef 3,8-11
    Ainda sustenta que só podemos fazer parte do Corpo Místico de Cristo, ou seja, da Igreja, se conduzidos pelo Espírito Santo, pois só a ela foi revelada, e também pelo Espírito, a Doutrina da Salvação: "É em Cristo que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus. Foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar. Lendo-me, podereis entender a compreensão que me foi concedida do Mistério de Cristo, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito a Seus Santos Apóstolos e profetas." Ef 2,22; 3,3-5
    Ele arremata: "Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,32
    Exorta, pois, os colossenses: "Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima e não às da Terra, porque estais mortos e vossa Vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, Vossa Vida, aparecer, então vós também aparecereis com Ele na Glória." Cl 3,1-4
    Exclama: "... revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,10
    Garante aos filipenses: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
    E rendendo Glória a Deus, dá este testemunho aos efésios: "Àquele que, pela virtude que em nós opera, pode fazer infinitamente mais que tudo quanto pedimos ou entendemos..." Ef 3,20


AMOR, PAZ E CONSOLAÇÃO QUE EXCEDEM TODO ENTENDIMENTO

    Na Carta aos Romanos, o Último Apóstolo assentou que, se estivermos dispostos a cumprir Seu projeto, Cristo já pode ser conhecido, embora, como visto acima, sempre segundo Seus desígnios em revelar-Se: "Àquele que é poderoso para confirmar-vos, segundo meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé..." Rm 16,25-26
    Isso significa que continuamos carentes dos auxílios de Seu Espírito para perceber sempre mais a Revelação, como ele ensina aos coríntios: "Pregamos a Sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Ele predeterminou antes de o tempo existir, para nossa glória. Todavia, Deus revelou-nos por Seu Espírito, porque o Espírito tudo penetra, mesmo as profundezas de Deus. Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou, e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que devem ponderar-se." 1 Cor 2,7.10.13-14
    Sem dúvida, as próprias profecias são imperfeitas: "Pois nosso conhecimento é limitado. Limitada também é nossa profecia. Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado." 1 Cor 13,9-10
    Assim como nossas meditações: "Não que sejamos por nós mesmos capazes de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus." 2 Cor 3,5
    Mas só o conhecimento de Cristo pode levar-nos à plena reconciliação entre os Céus e a Terra, e assim se dá nosso mais imediato retorno ao Paraíso: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos, desígnio de em Cristo reunir todas coisas, as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10
    Desde a manifestação de Jesus, portanto, sabemos que, pela presença de Seu Espírito, Deus jamais nos abandona: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dar-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    E que, pelos ensinamentos de Seu Filho, temos a certeza do Caminho da Salvação: "Porque n'Ele se revela a justiça de Deus..." Rm 1,17
    Jesus mesmo assegurou a integridade do Evangelho aos Apóstolos: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz Seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois dei-vos a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." Jo 15,15
    Foi mais longe: "A Palavra que tendes ouvido não é Minha, mas sim do Pai que Me enviou." Jo 14,24b
    Como Verbo de Deus, Ele explicou: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar." Jo 12,49
    É o que diz São João Evangelista: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    E no amor ao Pai é-nos dado trabalhar na construção do Reino dos Céus: "Aliás, sabemos que todas coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus..." Rm 8,28a
    Tal constatação vem da Paz que Jesus nos concede, que é radicalmente diferente da paz que se pode obter pelas coisas do mundo. Ele disse: "Deixo-vos a Paz, dou-vos Minha Paz. Não vos dou como o mundo a dá. Não se perturbe vosso coração, nem se atemorize!" Jo 14,27
    E essa Paz, que sabemos ser indizível, também é um mistério, como São Paulo exprime: "E a Paz de Deus, que excede toda inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus." Fl 4,17
    Assim, ao contemplar o Cristo crucificado temos a certeza de estar diante do amor maior, muito além de tudo que podemos conhecer: "O amor de Cristo constrange-nos..." 2 Cor 5,1a
    E ele acaba por exaltar "... a caridade de Cristo, que desafia todo conhecimento..." Ef 3,19
    N'Ele temos uma inquebrantável consolação, como disse aos tessalonicenses: "Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, Nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação..." 2 Ts 2,16
    Pois, diante das injustiças, é Ele mesmo que nos conforta: "... Deus de toda consolação, que nos conforta em todas nossas tribulações..." 2 Cor 1,3-4
    E ele alegra-se e exulta com o triunfante projeto de Deus na Pessoa de Jesus, dizendo a São Timóteo: "Sim, é tão sublime, unanimemente proclamamo-lo, o mistério da divina bondade: manifestado na carne, justificado no Espírito, visto pelos anjos, anunciado aos povos, acreditado no mundo, exaltado na Glória!" 1 Tm 3,16
    Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja, dizia sobre a Boa Nova de Cristo: "É, acima de tudo, o Evangelho que me ocupa durante minhas orações. Nele encontro tudo que é necessário para minha pobre alma. Nele sempre descubro novas luzes, escondidos e misteriosos sentidos."

    "Anunciamos, Senhor, Vossa Morte e proclamamos Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!"