terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Deus é Aquele que é


    Jesus ensinou-nos a tratar Deus de mais afetuoso modo, frequente e carinhosamente chamando-O de Pai: "Aba!" Mc 14,6
    E bem evidente deixou essa paternidade quando mandou um recado aos Apóstolos através de Santa Maria Madalena, instantes após Sua Ressurreição: "Subo para Meu Pai e Vosso Pai, Meu Deus e Vosso Deus." Jo 20,17
    Mas ainda que O chamemos de Pai, Criador, Onipotente, sabemos que, mesmo após tantas revelações e tantas referências, Deus continua muito além de nosso entendimento. Para demonstrar Sua natureza absolutamente incriada, quer dizer, essencial e independente de tudo que existe, Ele assim Se identificou, numa emblemática frase dita a Moisés: "EU SOU AQUELE QUE SOU." Ex 3,14
    Não por acaso, numa das vezes em que declarou Sua Divindade, Jesus usou exatamente esses termos, ao falar aos chefes dos judeus: "... porque se não crerdes que EU SOU, morrereis em vosso pecado." Jo 8,24
    Ou quando demonstrou Sua Onisciência aos Apóstolos, avisando-os da traição de Judas e de Sua Paixão: "Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU." Jo 13,19
    E quando interrogado se teria visto Abraão, Ele respondeu: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: antes que Abraão fosse, EU SOU." Jo 8,58
    Realmente demonstrou poder e autonomia só atribuídos a Deus: "Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e dá-lhes Vida, o Filho também dá Vida a quem Ele quer." Jo 5,21
    Para explicitar essa autonomia, Ele mencionou a imprevisibilidade do Espírito Santo, em conversa com Nicodemos: "O vento sopra onde quer. Ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,8
    Ou seja, sabemos, ainda por Suas palavras, que a Trindade Santíssima usufrui de um incomensurável universo de possibilidades: "... a Deus tudo é possível." Mc 10,27
    O Mistério de Cristo, por si só, era a razão de ser do ministério de São Paulo: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados, e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, em Quem estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
    Ele sabia estar diante do inconcebível: "... coube-me a Graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o salvador desígnio de Deus, mistério oculto desde a eternidade..." Ef 3,8-9
    Por isso, pedia orações: "Também orai por nós. Pedi a Deus que dê livre curso à nossa palavra, para que possamos anunciar o Mistério de Cristo." Cl 4,3
    Ele dizia dos divinos desígnios: "Ó abismo de riqueza, de Sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são Seus juízos e inexploráveis Seus caminhos!" Rm 11,33
    Dizia da Onipresença de Deus: "Porque é n'Ele que vivemos, nos movemos e existimos..." At 17,28a
    Do sentido da vida: "Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor." Rm 14,7-8
    E maravilhava-se com Ele: "... o Único que possui a imortalidade e habita em inacessível luz..." 1 Tm 6,16a
    Plenamente consciente da manifestação e da importância do Divino Paráclito, ele apontava o caminho para essa Luz: "... as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus." 1 Cor 2,11
    Assim rezava: "Rogo ao Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, que vos dê um espírito de Sabedoria e vos revele o conhecimento d'Ele..." Ef 1,17
    E explica como nos foi dado saber alguma coisa do inefável: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Todavia, Deus revelou-as por Seu Espírito..." 1 Cor 2,9-10
    Mas Jesus já havia avisado da restritiva infusão do Espírito de Deus: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque permanecerá convosco e estará em vós." Jo 14,17
    E São Pedro indica a impreterível condição para recebê-Lo: "... o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    O auxílio do Espírito Santo, portanto, é essencial para que saibamos Quem é Jesus. São Paulo escreveu: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    Ou o auxílio do próprio Pai, segundo Jesus: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair." Jo 6,41a
    Na oração pela Unidade da Igreja, Ele rezou ao Pai: "Manifestei Teu Nome aos homens que do mundo Me deste. Eram teus e deste-mos, e guardaram Tua Palavra. Agora eles reconheceram que todas coisas que Me deste procedem de Ti." Jo 17,6-7
    Da mesma forma, ainda segundo Jesus, o Pai só pode ser verdadeiramente conhecido através d'Ele: "Ninguém conhece Quem é o Filho senão o Pai, nem Quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Lc 10,22
    Com efeito, São João Evangelista testemunhou esse fato em sua primeira epístola: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro." 1 Jo 5,20
    E nas visões do Apocalipse, ele ouviu: "'Eu sou o Alfa e o Ômega', diz o Senhor Deus, 'Aquele que é, Aquele que era e Aquele que vem, o Todo-Poderoso. Eu sou o Primeiro e o Último, e Aquele que vive. Pois estive morto, e eis-Me novamente vivo pelos séculos dos séculos. Tenho as chaves da morte e da região dos mortos.'" Ap 1,8.17b-18
    São Pedro também atestou que a Revelação do Cristo era a própria Revelação de Deus, pois só Ele é o Senhor da Glória: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua virtude." 2 Pd 1,3
    Por essa razão, Jesus exorta-nos a buscar as coisas de Deus: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Pois como demonstrou na noite de Sua Paixão, Ele mesmo foi um exemplo de perene obediência à vontade do Pai: "Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Porém, não se faça Minha vontade, mas sim a Tua." Lc 22,42
    E assim Ele ensinou a rezar no Pai Nosso: "... seja feita Vossa vontade, assim na terra como no Céu." Mt 6,10
    Aliás, Ele foi bem explícito sobre Sua condição humana: "De Mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço e Meu Julgamento é justo, porque não busco Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou." Jo 5,30
    Propôs-nos até uma experiência, para que avaliássemos Seus ensinamentos e Seu proceder: "Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo." Jo 7,17


O MISTÉRIO DE CRISTO

    E no mistério da Encarnação do Salvador, vemos o Menino Jesus em Sua frágil humanidade, plenamente submisso ao projeto do Pai, passo a passo na aquisição da necessária condição para servir-Lhe: "E Jesus crescia em estatura, em Sabedoria e Graça, diante de Deus e dos homens." Lc 2,52
    Também assim Se portava perante Seus pais, quando aos 12 anos ficou no Templo de Jerusalém após a Páscoa: "Em seguida, desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso." Lc 2,51
    Aliás, assim Se portou por toda vida, como São Paulo recita no Hino Cristológico: "Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens." Fl 2,6-7
    Isso foi reafirmado pelos seguidores de sua tradição: "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,8
    E pouco antes do fim de Sua Missão entre nós, Ele declarou: "Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz Seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." Jo 15,15
    Versando sobre o entendimento meramente humano e sem inspiração, São Paulo diz: "Não que por nós mesmos sejamos capazes de algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus." 2 Cor 3,5
    Em havendo alguma divergência, ele garantia aos filipenses: "... Deus há de esclarecer-vos." Fl 3,15
    E assim se faz pelo Espírito Santo, como Jesus prometeu atestando a Comunhão da Santíssima Trindade: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu, e anunciá-vos-á. Tudo que o Pai possui é Meu. Por isso, disse: Há de receber do que é Meu, e anunciá-vos-á." Jo 16,12-15
    Pois assim como se dá relativamente ao entendimento do sobrenatural, é sempre Deus que nos inspira à boa vontade e à boa ação. São Paulo diz: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem em vós realiza o querer e o executar." Fl 2,13
    Ele até pareceu arbitrário numa resposta que deu a Moisés, mas apenas explicitava a absoluta superioridade e autonomia de Seus comandos: "... pois dou Minha Graça a quem Eu quero dar Minha Graça, e uso de Misericórdia com quem Eu quero usar de Misericórdia." Ex 33,19
    Jesus deu semelhante exemplo na parábola do vinheteiros que chegaram ao fim do dia: "Amigo, Eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que Me pertence?" Mt 20,13.15
    E em caso de tribulações, São Paulo lembra os poderes d'Aquele que conforta nosso corpo, alma, mente e coração: "Com nada inquietei-vos! Em todas circunstâncias apresentai a Deus vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a Paz de Deus, que excede toda inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus." Fl 4,7
    Porque o Salvador revela, por excelência, o maior bem que o Pai nos oferece: Seu amor: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu Seu Único Filho, para que todo aquele que n'Ele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna." Jo 3,16
    Amor que é o próprio amor do Filho, como Jesus exorta: "Como o Pai Me ama, Eu também vos amo. Perseverai em Meu amor." Jo 15,9
    E só por verdadeiro amor a Ele é que Ele Se revela: "Aquele que tem e guarda Meus Mandamentos, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,21
    Foi assim com Sua Ressurreição, como São Pedro pregou a Cornélio e familiares instantes antes do 'Pentecostes dos Gentios': "Mas Deus ressuscitou-O no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-Se não a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido..." At 10,40-41a
    Assim também ensinou São Paulo em Antioquia da Pisídia: "Mas Deus ressuscitou-O dentre os mortos. E durante muitos dias apareceu àqueles que com Ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais até agora são testemunhas d'Ele junto ao povo." At 13,30-31
    Inspiradamente, São João Evangelista acusa a voluntária ignorância em contraste com a verdadeira filiação: "Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós somo-lo de fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não O conheceu." 1 Jo 3,1
    Em suas profundas reflexões, São Paulo suspira: "O amor de Cristo constrange-nos..." 2 Cor 5,14a
    E assim se refere à Paixão de Nosso Senhor: "... a caridade de Cristo, que desafia todo conhecimento..." Ef 3,19


DEUS É FIEL

    O cego de nascença, curado por Jesus, dá uma esclarecedora explicação sobre o proceder de Deus Pai: "Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem Lhe presta culto e faz Sua vontade." Jo 9,31
    E Jesus deixou claro que o ser humano não pode desfazer o que Deus sacramentou, como acontece com o Matrimônio: "Eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar." Mt 19,6
    Ou acontece com os carismas e com a ordenação de um Sacerdote, como São Paulo afirma: "Pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis." Rm 11,29
    Nosso Salvador também sentenciou que nem tudo nos foi revelado, como a definitiva Vinda do Reino dos Céus: "Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em Seu poder..." At 1,7
    São Paulo, no mesmo sentido, disse que nem tudo sobre o Pai está à nossa disposição, quando se referiu aos não judeus: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência." Rm 1,19
    E reconheceu: "Nossa ciência é parcial, nossa profecia é imperfeita. Hoje vemos como por um espelho, confusamente, mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte, mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido." 1 Cor 13,9-12
    Os próprios anjos, aliás, precisam contemplar o que acontece na Igreja para entender os divinos projetos: "Assim, de ora em diante, as celestes dominações e as potestades podem conhecer, através da Igreja, a infinita diversidade da Sabedoria Divina..." Ef 3,10
    Tais mistérios, porém, não devem desestimular-nos. Ao contrário, em nome da nos divinos desígnios que por eles se expressam, devemos perseverar no espiritual combate: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
    Ora, temos muitas razões para continuar acreditando: "Fiel é Deus..." 1 Cor 1,9
    O Último Apóstolo diz aos coríntios: "N'Ele fostes ricamente contemplados com todos dons, com os da Palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo." 1 Cor 1,4-5
    Somos depositários de inefáveis revelações: "Ora, o Senhor é o Espírito..." 2 Cor 3,17
    Testemunhas de sutis realidades: "Deus... consola os humildes..." 2 Cor 7,6
    E também grandiosas, como São João Evangelista viu: "João, às sete igrejas que estão na Ásia: a vós, Graça e Paz da parte d'Aquele que é, d'Aquele que era e d'Aquele que vem, da parte dos sete espíritos que estão diante de Seu trono e da parte de Jesus Cristo, Fiel Testemunha, Primogênito dentre os mortos e Soberano dos reis da terra." Ap 1,4-5a
    Definitivamente, não estamos sós. Dizem os discípulos de São Paulo: "Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das correntes do pecado. Com perseverança corramos ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé, Jesus." Hb 12,1
    Mais que isso: por amor aos irmãos temos o dever de anunciar o Cristo, como São Paulo disse a Filemon: "... para que esta tua fé, que conosco compartilhas, seja atuante e faça conhecer todo bem que se realiza entre nós por causa de Cristo." Fm 1,6
    Pois apesar de Deus escolher os Seus, não nos cabe discernir a quem anunciá-Lo, segundo a pregação de São Pedro a Cornélio: "Deus mostrou-me que nenhum homem deve ser considerado profano ou impuro..." At 10,28
    São Paulo falava: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" 1 Cor 9,16
    E dizia a São Timóteo: "... prega a Palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir." 2 Tm 4,2
    Assim, desde que arrependidos e desejosos de alcançar a Salvação, sempre teremos o amor do Pai. Segue São Pedro: "... Deus não faz distinção de pessoas, mas em toda nação é-Lhe agradável aquele que O temer e fizer o que é justo." At 10,34-35
    De fato, como Jesus prega a Nicodemos: "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que por Ele seja salvo." Jo 3,17

    "Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo! O Céu e a terra proclamam Vossa Glória. Hosana nas alturas! Bendito o que vem em Nome do Senhor! Hosana nas alturas!"