domingo, 19 de outubro de 2025

Bem perto de Deus


    Mesmo sem saber que era Jesus que lhes falava, dois discípulos, que deixaram Jerusalém no Domingo da Ressurreição e partiram para a vila de Emaús, insistiram para que 'Aquele Estranho' pernoitasse na mesma estalagem que eles. É uma das últimas cenas do Evangelho Segundo São Lucas, quando Ele celebra a Santa Eucaristia após ressuscitar: "'Fica conosco, já é tarde e o dia declina.' Entrou, pois, com eles. Aconteceu que, estando sentados à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-O. Então se lhes abriram os olhos e reconheceram-nO... mas Ele desapareceu. E diziam um para o outro: 'Não se nos abrasava o coração quando pelo caminho Ele falava e explicava as Escrituras?'" Lc 24,29-32
    Noutro episódio, narrado no Evangelho Segundo São Marcos, quando foi questionado por um escriba sobre o mais importante Mandamento, Nosso Senhor constatou que ele tinha a inspiração do Espírito Santo pelo comentário que fez a Sua resposta, e disse-lhe em expressivo elogio: "Não estás longe do Reino de Deus." Mc 12,34
    E São Paulo, quando foi a Atenas, falando no Areópago assim explicou a Criação e o sentido da vida, afirmando a Onipresença de Deus. Está no Livro de Atos dos Apóstolos: "De um só homem, Ele (Deus) fez nascer todo gênero humano, para que habitasse sobre toda face da Terra. Aos povos fixou os tempos e os limites de sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem para O encontrar, como que tateando, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós." At 17,26-27
    Moisés, de fato, de suas grandiosas experiências com o Deus Único, veio a questionar os israelitas ainda no deserto, ainda antes de Deus lhes entregar os Dez Mandamentos. Lemos no Livro de Deuteronômio: "Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor Nosso Deus, sempre que O invocamos?" Dt 4,7
    Ora, Deus mesmo disse de Sua proximidade e distância, a despeito de Sua Onipresença, falando no Livro do Profeta Jeremias: "'Porventura Eu sou Deus apenas quando estou perto?', Oráculo do Senhor. 'Também não O sou quando de longe? Poderá um homem ocultar-se de tal modo que Eu o não veja?', Oráculo do Senhor. 'Porventura não enche Minha presença o céu e a Terra?', Oráculo do Senhor." Jr 23,23-24
    Não por acaso, Jesus iniciou Seu Ministério pregando o arrependimento, e exatamente por causa da proximidade do Reino. Foi logo após mudar-Se de Nazaré para Cafarnaum (cf. Mt 4,12), como o Evangelho Segundo São Mateus apontou: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    Assim ensinou aos Apóstolos, logo que escolheu os Doze: "Por onde andardes, anunciai que o Reino dos Céus está próximo." Mt 10,7
    E em avançada etapa de Sua Missão, explicou aos fariseus a sutil instauração do Reino dos Céus: "O Reino de Deus não virá de um ostensivo modo. Nem se dirá: 'Ei-lo aqui'; ou: 'Ei-lo ali'. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós." Lc 17,20-21
    Pois havia declarado sua chegada ao publicamente confirmar os exorcismos que já vinha realizando, quando rebateu uma blasfêmia dos fariseus contra Sua Pessoa: "Mas se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então para vós chegou o Reino de Deus." Mt 12,28
    Também havia dito à samaritana, junto ao poço de Jacó, após retornar de Sua primeira visita a Jerusalém em vida pública, como se lê no Evangelho Segundo São João: "... não adorareis o Pai nem neste monte nem em Jerusalém. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e esses são adoradores que o Pai deseja. Deus é Espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,21b.23-24
    E logo após anunciar Sua Paixão pela segunda vez, prometeu aos membros da Santa Igreja Católica, ou seja, àqueles que realmente obedecem a tudo que Ele determinou (cf. Mt 28,20): "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu em meio a eles." Mt 18,20
    Pois servir a Ele é estar aonde Ele vai com Sua Igreja, representada pelos Sacerdotes que Ele mesmo constitui para gerar frutos para a eternidade (cf. Jo 15,16), como disse aos Apóstolos em Jerusalém na Páscoa em que seria crucificado: "Se alguém quer servir-Me, siga-Me. E onde Eu estou, aí também estará Meu servo. Se alguém Me serve, Meu Pai honrá-lo-á." Jo 12,26
    No Sacramento da Comunhão, portanto, temos Sua presença (cf. Mc 14,22), porque Ele garantiu Sua permanente presença na Igreja Católica pouco antes de Sua Ascensão aos Céus: "Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20
    E pela Comunhão da Santíssima Trindade, esta também é a condição do Espírito Santo, que não estará no mundo, mas entre nós até a eternidade. Jesus afirmou em Suas últimas palavras depois da Santa Ceia: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    Porque só com a libertação, que é exclusivamente realizada por Jesus (cf. Jo 8,36) e preservada pelo Espírito Santo (cf. 2 Cor 3,17), com dignidade podemos celebrar a Santa Missa, como o sacerdote São Zacarias, pai de São João Batista, profetizou ainda no início do Novo Testamento: "... libertados de inimigas mãos, possamos servi-Lo com santidade e justiça em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,74-75
    Quanto aos inimigos, a Carta de São Paulo aos Colossenses, ao referir-se à Criação, fala do visível e do invisível, mencionando quatro ordens de anjos: "N'Ele (Cristo) foram criadas todas coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele." Cl 1,16
    E citando duas ordens de anjos caídos, explicou: "Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do Mal espalhadas nos ares." Ef 6,12
    Ora, revelar esta invisível realidade é a Missão de Nosso Salvador, que abertamente pregou em Jerusalém diante dos fariseus: "Jesus então disse: 'Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.'" Jo 9,39
    Pois como deve ser do conhecimento de todos, Deus detém o controle de tudo. Os seguidores tradição de São Paulo afirmam na Carta aos Hebreus: "Nenhuma criatura Lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos d'Aquele a Quem havemos de prestar contas." Hb 4,13
    Sua Paixão, Morte e Ressurreição, aliás, Jesus simplesmente descreveu como estar ou não visível: "Ainda um pouco de tempo, e já não Me vereis. E um pouco mais de tempo depois, tornareis a ver-Me, porque vou para junto do Pai." Jo 16,16
    Suas aparições aos Apóstolos depois da Ressurreição, ademais, têm mais exata tradução na expressão 'tornou-Se visível': "Por fim, tornou-Se visível aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Ora, é nesses termos que o Apóstolo dos Gentios O descreve: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação." Cl 1,15
    E na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo, instando-o a pregar, ele invocava a real presença de Deus, por saber sempre estar diante de Seus olhos: "Eu conjuro-te em presença de Deus e de Jesus Cristo..." 2 Tm 4,1a
    Pois a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo já assim rezava pelo Sacramento da Ordenação deste que foi seu grande colaborador: "Em presença de Deus, que dá a vida a todas coisas, e de Cristo Jesus, que ante Pôncio Pilatos abertamente testemunhou a Verdade, recomendo-te que guardes sem mácula, irrepreensível o Mandamento..." 1 Tm 6,13-14a
    E nos mesmo termos, rezava pelo fortalecimento dos fieis: "Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai... " Ef 3,14a
    Afirmativamente, Cornélio, um centurião romano, buscava a Deus e numa visão foi instruído por seu Anjo da Guarda a ouvir São Pedro, e sua humilde reverência resultou no 'Pentecostes dos Gentios': "Por isso, logo mandei chamar-te e felicito-te por teres vindo. Agora, pois, ei-nos todos reunidos na presença de Deus para ouvir tudo que Ele te ordenou a dizer-nos." At 10,33
    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios usou de idêntico argumento: "Já há muito pensais que nos justificamos diante de vós. Perante Deus, em Cristo, é que nós falamos! Mas tudo isto, meus caríssimos, para vossa edificação." 2 Cor 12,19
    E sabia que a meramente física vida é apenas um desterro: "Sabemos que todo tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor." 2 Cor 5,6b
    Por isso, dizia: "Andamos pela e não pela visão." 2 Cor 5,7
    Nesse sentido, a Carta de São Paulo aos Efésios, enquanto ex-pagãos, diz que Nosso Senhor é a manifestação de Deus para Israel e para muito além de suas físicas fronteiras: "Agora, porém, Graças a Jesus Cristo, vós que antes estáveis longe fostes trazidos para perto pelo Sangue de Cristo. Ele veio anunciar a Paz a vós, que estáveis longe, e a Paz àqueles que estavam próximos." Ef 2,13.17
    Eis porque os seguidores de São Paulo abertamente convocam: "E dado que temos um Sumo Sacerdote estabelecido sobre a Casa de Deus, a Ele acheguemo-nos com sincero coração, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda mácula de pecado e o corpo lavado com a Purificadora Água do Batismo." Hb 10,21-22
    Logo, a proximidade de Deus e de Seu Reino é uma espiritual condição, sinalizada pela inspiração que nos move. E assim, para que São Pedro pudesse conduzir a Igreja Católica Apostólica Romana, Jesus prometeu-lhe a mais elevada inspiração que o ser humano jamais recebeu. Foi logo após este Apóstolo, por revelação do Pai, identificá-Lo como o Cristo: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19
    Para que entendamos a importância de São Pedro, e assim de seus sucessores, noutra ocasião Nosso Senhor reclamou dos religiosos que estudavam as Escrituras, a quem lhes era revelado o Caminho da Salvação, mas nem o seguiam nem ajudavam o povo a segui-lo: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes de entrar os que vinham." Lc 11,52
    De fato, Ele exigia verdadeira fidelidade, como acusou num dos oito ruidosos 'ai de vós': "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Exigia sinceridade, como quando estes mesmos religiosos reclamaram porque os Apóstolos não praticavam tradições que não estavam nas Escrituras: "Hipócritas! É bem de vós que fala o Profeta Isaías: 'Este povo honra-me somente com os lábios. Seu coração, porém, está longe de Mim.'" Mt 15,7-8
    Com efeito, o rei Davi canta no Livro de Salmos: "O Senhor aproxima-Se dos que O invocam, daqueles que O invocam com sinceridade." Sl 144,18
    Sagrados autores já avisavam: "Longe dos pecadores está a Salvação, daqueles que não observam Vossas leis." Sl 118,155
    E nestes termos Davi diz do necessário arrependimento: "O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. O Senhor livra a alma de Seus servos. Não será punido quem a Ele se acolhe." Sl 33,19.23
    A Carta de São Tiago, no mesmo sentido, recomenda: "Aproximai-vos de Deus, e Ele aproximar-Se-á de vós." Tg 4,8a
    Mas também é contundente tanto com aqueles que vivem em pecado e como com os hipócritas: "Lavai as mãos, pecadores, e purificai vossos corações, ó homens de dupla atitude. Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele exaltar-vos-á." Tg 4,8b.10
    A divina inspiração e o conhecimento da Revelação, portanto, são Graças a serem vividas e partilhadas com os irmãos, assim como Jesus fez. Para nos comunicar a grande dádiva que foi conviver com a Segunda Pessoa de Deus, pois só Deus é plenamente, São João Apóstolo registrou logo no início de seu Evangelho: "De Sua plenitude, todos nós recebemos Graça sobre Graça." Jo 1,16
    Ele mesmo afirmou ser o exclusivo acesso ao Pai, a momentos de seguirem para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Aliás, na Festa da Dedicação, também em Jerusalém, quando quase foi apedrejado, perante os judeus havia sido ainda mais explícito: "Eu e o Pai somos Um." Jo 10,30
    Por isso, desde Sua segunda festa na Cidade Santa, determinou que em torno de Si se iniciavam decisivos tempos: "Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,23
    E referindo-Se à Graça mencionada por São João Apóstolo acima, Ele disse aos Doze junto ao Mar de Galileia, arrematando a preparação que lhes dava (cf. Mt 11,1): "Mas quanto a vós, bem-aventurados vossos olhos, porque vêem! Ditosos vossos ouvidos, porque ouvem! Eu declaro-vos, em Verdade: muitos Profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram." Mt 13,16-17
    Assim, deles exigia total gratuidade no exercício do Sacerdócio: "De Graça recebestes, de Graça deveis dar!" Mt 10,8
    O Príncipe dos Apóstolos, pois, ciente do bem que o amor de Jesus lhe fazia, d'Ele não aceitava afastar-se. Nem mesmo quando muitos se escandalizaram e O abandonaram porque Ele prometia Sua Carne e Seu Sangue como o Pão do Céu: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da Vida Eterna." Jo 6,68
    Ora, quando Jesus Se transfigurou no Monte Tabor, e diante das aparições de Moisés e Elias, ele, desnorteado por ver a Glória de Deus, ali quis ficar eternamente: "Senhor, é bom estarmos aqui." Mt 17,4
    Com efeito, a Graça que os Apóstolos obtiveram foi inigualável. Podemos imaginá-la pelas palavras do próprio Jesus quando rezou ao Pai a Oração da Unidade, pois deles Se despedia, pedindo pela Igreja Una, que é a prova do Advento e do amor de Deus: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    E quantas almas sonharam e ainda sonham com o definitivo encontro? Na Carta de São Paulo aos Filipenses temos esse suspiro: "Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor. Mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Fl 1,23-24
    A Igreja Itinerante, de fato, anseia por essa hora. É o que a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios atesta, dizendo de quando O "... veremos face a face." 1 Cor 13,12
    Por isso, Davi recitava: "Fala-Vos meu coração, busca-Vos minha face. Vossa face, ó Senhor, eu procuro-a. Não escondais de mim Vosso semblante, não afasteis com ira Vosso servo." Sl 26,8-9a
    O levita Asaf repetia: "Ó Senhor, não me afasteis de Vossa face..." Sl 50,13a
    E logo no Sermão da Montanha, Jesus garantiu: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!" Mt 5,8
    Para tanto, porém, os discípulos de São Paulo registraram a necessária santificação: "Procurai a Paz com todos, e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14
    Mas também reportaram as delícias de viver em Comunhão com Deus: "Porque aqueles que uma vez foram iluminados, saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo, experimentaram a doçura da Palavra de Deus e as maravilhas do vindouro mundo..." Hb 6,4


PARTÍCIPES DA GLÓRIA DE DEUS

    Sem dúvida, a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses categoricamente afirma: "... desde o princípio, Deus escolheu-vos para dar a Salvação pela santificação do Espírito e pela fé na Verdade. E pelo anúncio de nosso Evangelho, chamou-vos para tomardes parte na Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 2,13-14
    E a Carta de São Paulo aos Romanos diz sobre a Missão de Jesus: "Por Ele é que tivemos acesso a essa Graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança de um dia possuir a Glória de Deus." Rm 5,2
    Porque assim unidos a Cristo, mesmo em dificuldades, somos motivados por uma misteriosa e reconfortante força, ainda segundo ele: "A linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
    E a partir de numa resposta que obteve de Jesus, explicou como essa força age. Estava pedindo alívio de um grande incômodo, que não revelou, ... "Mas o Senhor disse-me: 'Basta-te Minha Graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente Minha força.' Portanto, prefiro gloriar-me de minhas fraquezas, para que em mim habite a força de Cristo." 2 Cor 12,9
    Foi nessa condição que ele anunciou o Evangelho aos cristãos da cidade de Corinto, e por isso foi bem sucedido: "Eu apresentei-me em vosso meio num estado de fraqueza, de desassossego e de temor. Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da sabedoria. Antes eram uma demonstração do Espírito e do divino poder para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Cor 2,3-5
    E lembrando as trombetas de Josué, que destruíram as muralhas de Jericó (Js 6,20), ele dá um testemunho: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações." 2 Cor 10,4
    A Primeira Carta de São Pedro também dá testemunho do Sagrado Ministério do Sacerdócio: "Como bons dispensadores das diversas Graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: a Palavra, para anunciar as mensagens de Deus; um Ministério, para o exercer com uma divina força..." 1 Pd 4,10-11
    Mas os Apóstolos não se vangloriavam dessa dádiva. São Paulo, como vimos, bem sabia de Quem ela lhe vinha: "Eu tornei-me servo deste Evangelho em virtude da Graça, que me foi dada pela onipotente ação divina." Ef 3,7
    Pois, sem a ajuda de Deus, sequer podemos discernir o bem que nos fazem Suas obras, o bem que faz a santidade. Ele dizia: "A razão de nossa Glória é esta: o testemunho de nossa consciência de que, no mundo, e particularmente entre vós, temos agido com santidade e sinceridade diante de Deus, não conforme o espírito de sabedoria do mundo, mas com o socorro da Graça de Deus." 2 Cor 1,12
    Ora, o Pai quer dar-nos grandes Graças. Embora errantes, Ele quer partilhar Sua santidade conosco. Os seguidores de São Paulo comparam-nO aos pais terrenos: "Pois eles nos educaram por pouco tempo, segundo sua própria conveniência. Deus, porém, educa-nos para nosso bem, a fim de comunicar-nos Sua santidade." Hb 12,10
    De fato, como Jesus procedeu para com os Apóstolos, Deus quer partilhar conosco Sua própria divindade. A Segunda Carta de São Pedro testificou: "... foram-nos concedidos os prometidos bens, os maiores e mais valiosos, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina..." 2 Pd 1,4
    E como ele testemunhou perante o Sinédrio, quando os Apóstolos foram presos pela primeira vez, a divindade vivencia-se através do "... Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    O próprio Jesus prometeu: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celeste dará o Espírito Santo aos que LhO pedirem." Lc 11,13
    Ora, segundo São Paulo, "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Disse mais, referindo-se a Sua Paixão, à Qual nos oferecemos na Santa Missa (cf. Rm 12,1): "Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser..." Rm 6,5a
    E dizendo do Corpo Místico de Cristo, garante: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,13
    Por isso, São Pedro afirma que em Jesus temos tudo de que realmente precisamos: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua Virtude." 2 Pd 1,3
    Nosso Senhor mesmo prometeu pelo Santíssimo Sacramento: "Jesus replicou: 'Eu sou o Pão da Vida. Aquele que vem a Mim não terá fome, e aquele que crê em Mim jamais terá sede." Jo 6,35
    Pois em Comunhão com Jesus já vivemos o Reino dos Céus, que por Ele foi efetivamente instaurado. Os discípulos de São Paulo citaram o Livro de Deuteronômio (cf. Dt 5,25): "Em verdade, não vos aproximastes de uma palpável montanha, invadida por violento fogo, nuvem, trevas, tempestade, som da trombeta e aquela tão terrível voz que aqueles que a ouviram suplicaram que ela não mais lhes falasse. Vós, ao contrário, aproximaste-vos da Montanha de Sião, da cidade do Deus Vivo, da Jerusalém Celestial, das miríades de anjos, da festiva assembleia dos primeiros inscritos no Livro dos Céus, e de Deus, Universal Juiz, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e do Sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel." Hb 12,18-19.22-24
    Devemos, pois, apenas confiar e nos entregar nas mãos do Pai, pois é Ele mesmo que em nós cumpre Sua vontade: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua vontade, em vós realizando Ele próprio o que é agradável a Seus olhos..." Hb 13,20-21
    Ora, num Salmo, os sagrados autores profetizaram a Redenção em Jesus: "Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque Ele diz palavras de Paz a Seu povo, a Seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para Ele. Sim, Sua Salvação está bem perto dos que O temem, de sorte que Sua Glória retornará a nossa terra." Sl 84,9-10
    E assim reconheciam o Templo de Jerusalém, hoje representado pela Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, como adequado lugar para este contato: "Vinde, exultantes entrai em Sua presença! Cantando entrai sob Seus pórticos, com cânticos vinde a Seus átrios! Glorificai-O e bendizei Seu Nome..." Sl 99,2.4
    Pois lá não se tinha apenas Sua presença, como Davi viu: "Na presença dos anjos, eu cantá-Vos-ei, prostrar-me-ei ante Vosso Santo Templo." Sl 137,1b-2a


PERFEITA SANTIDADE

    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses diz ainda mais: "O Deus da Paz conceda-vos perfeita santidade. Que todo vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a Volta de Nosso Senhor Jesus Cristo!" 1 Ts 5,23
    Ele exorta-nos a viver a Nova Vida: "... revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,24
    Mas vivê-la todos dias, como o pai de São João Batista disse: "... possamos servi-Lo, em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,74-75
    E em todas coisas, como São Pedro prega: "A exemplo da santidade d'Aquele (Deus) que vos chamou, também sede vós Santos, em todas vossas ações..." 1 Pd 1,15a
    Pois pelo Divino Paráclito somos ungidos para a mais perfeita obediência: "... santificados pelo Espírito para obedecer a Jesus Cristo, e receber a aspersão de Seu Sangue." 1 Pd 1,2
    Para uma santa submissão, tal qual o Cordeiro Imolado, como São Paulo relata: "Saúda-vos Epafras, vosso concidadão, servo de Jesus Cristo. Ele não cessa de lutar por vós em suas orações, para que, numa perfeita e plena convicção, plenamente permaneçais submissos à divina vontade." Cl 4,12
    E como Jesus e São João Batista fizeram, indistintamente a todos o Príncipe dos Apóstolos pregou o Sacramento da Confissão, que inclui as devidas penitências. Foi logo após o Pentecostes, quando uma multidão acorreu ao local onde os Apóstolos estavam, admirada com o dom de línguas: "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos que de longe ouvirem o apelo do Senhor, Nosso Deus.'" At 2,38-39
    Porque o Ministério da Purificação dos pecados é um precioso poder dado por Jesus à Igreja Católica (cf. Lc 24,47), para a continuação de Sua Redentora Missão, como Ele tratou de instituir logo em Sua primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Pois só realmente purificados, porque é isso que deve buscar quem n'Ele de fato crê, podemos colocar-nos na presença do Pai, como São Paulo afirma: "Em Cristo, pela fé que n'Ele temos, conseguimos plena liberdade para confiantemente nos aproximarmos de Deus." Ef 3,12
    Com efeito, estar perto de Deus é estar em Comunhão com Ele e com os irmãos, e assim produzir frutos. A Carta de São Paulo a Filêmon diz: "Que tua Comunhão na fé seja eficaz, fazendo-te conhecer todo bem que somos capazes de realizar por Cristo." Fm 6
    O próprio Jesus clamava por essa união, como pediu aos Apóstolos numa de Suas últimas exortações: "Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim vós tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim." Jo 15,4
    Ele mesmo vivia em perfeita união com o Pai, e disse a Seus discípulos que Sua Ressurreição o provaria, assim como provaria a Comunhão dos Santos: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    Seu exemplo, portanto, é para ser seguido, e não apenas admirado. Temos que buscar Sua maturidade, pois para tanto serve a Igreja nas palavras de São Paulo: "... para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo..." Ef 4,12-13
    Admitidamente, essa não é fácil tarefa, ainda segundo ele: "Pois todos aqueles que piedosamente quiserem viver, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição." 2 Tm 3,12
    Mas foi assim, pelo sacrifício na Santa Cruz, que Nosso Salvador uniu os povos de toda Terra, então separados como judeus e pagãos: "Porque é Ele nossa Paz, Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, abolindo na própria Carne a lei, os preceitos e as prescrições. Desse modo, Ele quis fazer em Si mesmo dos dois povos uma única humanidade nova pelo restabelecimento da Paz, e reconciliar a ambos com Deus, reunidos num só Corpo pela virtude da Cruz, nela aniquilando a inimizade." Ef 2,14-16
    Por essa razão, São Pedro recomenda: "Achegai-vos a Ele, Pedra Viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus..." 1 Pd 2,4
    Saibamos, porém, que não dispomos de todo tempo. Como o Livro do Profeta Isaías ensina, nossa vida, ou a própria Volta de Jesus, pode ser muito breve: "Buscai o Senhor enquanto pode ser achado. Invocai-O enquanto Ele está perto." Is 55,6
    Mas se nos dispusermos ao Espírito Santo, tudo torna-se mais claro. São Paulo diz: "... recebemos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos concedeu." 1 Cor 2,12
    E assim conseguiremos permanecer junto a Cristo em qualquer situação, como aconteceu com o Amado Discípulo que, já idoso, foi exilado em Patmos, ilha grega do Dodecaneso, no sul do Mar Egeu. São as primeiras palavras do Livro de Apocalipse de São João: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus..." Ap 1,1
    Devemos, pois, bem meditar sobre o caminho que seguimos. São Pedro alerta: "... considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade... " 2 Pd 3,11
    Não podemos iludir-nos com a vanglória e os mundanos valores. Sobre isso, Jesus foi bem claro, dizendo aos judeus de Jerusalém depois que causou escândalo por curar em dia de sábado um paralítico no tanque de Betesda: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Neste sentido, São Paulo, pelas visões com que foi agraciado, atesta a realidade espiritual que vive o cristão: "Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,17b
    São Pedro elogia-o: "Este Jesus, vós amai-Lo sem O terdes visto. N'Ele credes ainda sem O verdes, e isto é para vós a fonte de uma inefável e gloriosa alegria, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a Salvação de vossas almas." 1 Pd 1,8-9
    E o próprio Salvador havia dito a São Tomé, recriminando-o por desacreditar nos testemunhos dos irmãos: "Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!" Jo 20,29b
    Se nos mantivermos na humildade, portanto, como na parábola das bodas, por Ele seremos convidados para estarmos sempre mais perto: "Amigo, vem para um melhor lugar!" Lc 14,10
    Enfim, sabemos que depois dos Sacramentos da Igreja e da Adoração ao Santíssimo Sacramento, o infalível meio para permanecer perto de Deus é através do Santo Rosário, isto é, juntando-se em oração a Nossa Senhora. De fato, ninguém esteve por mais tempo que ela na intimidade de Jesus. Foram mais de 33 anos já aqui na Terra...

    "Vosso Filho permaneça entre nós!"