Um recatado frade capuchinho, que era analfabeto, negro e filho de escravos, e no século XVI estaria fadado a fazer apenas ordinários serviços, tornou-se um grande sinal de Deus para a humanidade.
Pobre pastor de ovelhas na Sicília durante a infância, nascido na comuna de San Fratello em 31 de março de 1524, tão somente pela fervorosa piedade de seus pais, Cristóvão e Diana, Benedito Manasseri fez-se, desde criança, um expoente de Sabedoria e santidade.
Morreu no dia 4 de abril, mas, no Brasil, graças à enorme devoção que tinha entre os escravos, e propagou-se entre seus descendentes, recebeu outra data de comemoração, o dia 5, seguinte ao de São Francisco de Assis, uma canônica deferência concedida pela Santa Sé à CNBB.
Seus pais, escravos de ascendência etíope, terra onde havia séculos era grande a presença judaica e cristã, abertamente praticavam, mesmo diante de seus senhores, o mais exemplar Catolicismo. Sua mãe era grande devota do Santíssimo Sacramento e muito caridosa para com os mais pobres. Seu pai diariamente recitava o Rosário de Nossa Senhora, ensinando aos que com ele trabalhavam na fazenda, e, sempre que as obrigações lhe permitiam, ia à Santa Missa. Verdadeiramente religiosos, contraíram Matrimônio mas fizeram voto de abstinência, para não submeter seus filhos à escravidão. O senhor deles, ao saber de tão belo gesto, teve compaixão e prometeu-lhes que seus filhos seriam livres. E assim tiveram três, São Benedito foi o primeiro.
Tão expressivo era o comportamento de seus pais, que uma neta deles, portanto sobrinha de São Benedito, também se tornou religiosa, da ordem fundada por Santa Clara. E recebeu do tio o hábito das clarissas, adotando o nome de irmã Benedita em homenagem a ele, pois à época sua santidade já era amplamente reconhecida. Em Palermo, Itália, onde ela está sepultada, ainda há muitos relatos de milagres atribuídos à sua intercessão.
Desde os tempos de pastor, o menino São Benedito já profundamente se entregava à oração e à contemplação. Seus amigos chamavam-no de 'nosso Santo mouro', pois um dia estranharam que ele sempre se afastasse demais com as ovelhas e trataram de segui-lo. Descobriram que ele buscava abundantes água e pasto, onde as ovelhas pudessem estar tranquilas, pois assim dedicava mais tempo às práticas de fé: encontraram-no numa gruta, arrebatado em êxtase, longa e fixamente olhando para cima, como se visse o Céu.
Aos 18 anos, São Benedito já estava totalmente decidido a seguir Jesus. Tocado pelo exemplo de sua mãe, com muito trabalho como lavrador havia comprado uma junta de bois e vivia só para ajudar os mais pobres. Aos 21 anos, com pleno consentimento dos pais, seguiu um monge eremita da ordem de São Francisco de Assis, Frei Jerônimo Lanza. Este tinha conseguido autorização do Papa Júlio III para viver a Regra Franciscana em eremitério, acrescentando aos 3 tradicionais votos, de obediência, castidade e pobreza, o voto de vida quaresmal, que consiste em 3 jejuns por semana.
Frei Jerônimo conheceu nosso Santo numa algazarra que viu, quando alguns jovens da comuna o ridicularizavam e o injuriavam por sua cor, mas ele não demostrava contrariedade alguma. Sequer esboçou a menor reação! Ficou tão impressionado com sua Paz e humildade que o convidou para o Eremitério de Santa Dominica, na comuna de Caronia, lá mesmo na Sicília. Ele prontamente vendeu a junta de bois e foi viver sua fé em meio à fraternidade. São Benedito levou uma modelar vida. Depois de cinco anos de solidão e austeridades, recebeu o hábito, mas parecia que a Ordem dos Eremitas Franciscanos havia sido criada para ele. Era o sempre feliz e bem disposto cozinheiro, fidelíssimo às orações, e que, nas horas de descanso, saía do convento levando pães para os pobres, inclusive os que fingia comer durante suas refeições, escondendo-os sob o hábito. E o Espírito Santo correspondia à sua devoção dando-lhe de Seus dons, como o da cura: a gente local traziam a ele seus enfermos, que voltavam sãos.
Sua santidade era de fato evidente, e os sinais que realizava simplesmente confirmavam-na. Mesmo sem ser Sacerdote, foi nomeado Mestre dos Noviços, que tinham nele um grande conselheiro, e, mais tarde, eleito superior do Eremitério. Mas, com a morte de Frei Jerônimo e as reclamações de muitos monges contra os rigores do quarto voto, em 1562, quando nosso Santo contava 38 anos, o Papa Paulo IV extinguiu a Ordem dos Eremitas e ordenou que os monges se recolhessem em algum convento franciscano regular. São Benedito ficou muito triste e foi chorar diante da imagem de Nossa Senhora, na Catedral de Palermo. É quando a Santíssima Mãe lhe fala: "Meu filho, é vontade de Deus que entres para a Ordem dos Frades Menores Reformados."
Escolheu o Convento de Santa Maria de Jesus, também em Palermo, onde com grande alegria foi recebido pelo frei Arcangelo de Scieli, que era o guardião, e pelos demais frades, pois já conheciam sua história. Chegou a ser mandado para o então renomado Convento de Sant’Ana, na comuna de Giuliana, na própria Sicília, onde ficou por quatro anos, mas acabou voltando e ficando até o fim de seus dias. Era assediado por nobres, príncipes, Sacerdotes e até teólogos e mestres, que faziam questão de ouvir seus inspirados ensinamentos e conselhos: tinha o dom da ciência infusa. Mesmo sem saber ler, tudo via com excepcional clareza, e em profundidade conhecia detalhes da Sã Doutrina. Aí também foi eleito Superior, mas enquanto todos vibravam de euforia com sua eleição quase por unanimidade, triste foi ele ao Padre Superior pedindo que o dispensasse, pois seria muito simples e ignorante para tal função. O Padre, porém, apenas consolou-o, prometendo toda assistência de que precisasse.
No entanto, sua dedicação e simplicidade eram grandes exemplos, bastantes para tocar o coração de todos. E se enquanto Superior ele trabalhava como um serviçal, quem poderia furtar-se às obrigações? Contudo, realmente modesto, demonstrou mesmo incomum alegria quando acabou seu período, e enfim pôde voltar à cozinha. Ciosamente responsável pela alimentação de seus confrades, em sua perfeita Comunhão com Deus aí realizou grandes prodígios, fazendo aparecer comida em tempos de grande escassez, e peixes em panelas que tinham apenas água. E como a gente do povo, a maioria deles camponeses e pescadores, para encontrá-lo fazia questão de pessoalmente entregar-lhe os donativos, embora nem sempre os tivessem, alimentou trabalhadores quando a dispensa estava vazia, cozinhou sem acender o fogão e até preparou um banquete para o arcebispo de Palermo, Dom Diogo d´Abedo, que costumava recolher-se neste convento, quando tudo que fez foi acender o fogo: teve o auxílio de dois belos 'jovens', na verdade anjos, pois entrara em êxtase diante de um quadro do Menino Jesus, durante a festa de Natal.
Segundo Frei Giacomo di Pazza, testemunha no processo de sua beatificação, São Benedito fazia milagre todo dia. Ressuscitou uma criança morta por asfixia apenas tomando-a nos braços, e logo em seguida entregou-a à mãe para que a amamentasse, fato largamente conhecido e representado como sua principal imagem. Curava cegos apenas fazendo o sinal da Cruz. Realmente compassivo, ressuscitou até o cavalo do convento, que caíra num abismo.
São Benedito sabia quando iria morrer. Chegou a estar gravemente enfermo no início de 1589, mas contrariou o diagnóstico do médico que o atendeu, dizendo que ainda não chegara sua hora. E dois meses depois quando adoeceu de febre muito alta, sentindo que chegava sua morte, pediu para receber a Unção dos Enfermos e o Viático, e que fosse enterrado o quanto antes "... para que não tenham contrariedade." Vendo lágrimas em seus olhos, um dos irmãos colocou uma vela em sua mão, mas ele disse-lhe que ainda não era a hora, e que o avisaria. Teve então uma visão de Santa Úrsula e as onze virgens mártires, certamente em reconhecimento à sua santa castidade, o que o arrebatou em ainda mais um êxtase. Minutos depois, pediu que a Frei Guilherme que lhe acendesse a vela e a pusesse em sua mão. Tinha 65 anos, e morreu enquanto tinha outra visão, exclamando com alegria: "Jesus! Jesus! Minha Mãe doce Maria! Meu pai São Francisco!"
E a contrariedade de que ele advertia aconteceu: quando se espalhou a notícia de sua passagem, mesmo sendo sete horas da noite, uma multidão invadiu o convento querendo vê-lo e tocá-lo pela última vez. Quem sabe, conseguir uma relíquia.
A imagem no alto da página apresenta São Benedito com a Bíblia na mão, mas sabemos que assim fizeram para engrandecê-lo ou livrá-lo de preconceitos, numa época em que se pensava que ser iletrado era sinônimo de ignorância. Até tentaram clarear sua pele, representando-o 'mais moreninho' em algumas imagens. Mas a Verdade sempre prevalece, o que apenas torna a vida desse Santo ainda mais brilhante.
Quando seu corpo foi exumado três anos depois, em sete de maio de 1592, estava perfeitamente conservado e exalava notável perfume. E em 3 de outubro de 1611 fez-se outra exumação, para ser exposto na urna de cristal que desde então se encontra. Elas são guardadas em Palermo, no Convento de Santa Maria de Jesus. Seu hábito está exposto na cela em que viveu, que foi preservada, e, mais de 400 anos depois, seu corpo ainda não sofreu decomposição que o desfigurasse por completo.