sábado, 7 de outubro de 2023

Nossa Senhora do Rosário


    Um monge inglês do século VII já rezava usando grãos perpassados por um barbante, para não errar a contagem das orações que se impunha. Era São Beda, um inspirado beneditino, Doutor da Igreja e Pai da História da Inglaterra. Mas foi em 1207 que Nossa Senhora apareceu a São Domingos e ensinou-lhe o Rosário: 150 Ave Maria em substituição aos 150 Salmos, como recitam os religiosos no Ofício das Horas, pois a pobre gente ou não sabia ler ou não tinha a Bíblia para acompanhá-los. Tornou-se, assim, o Saltério da Mãe de Deus, ou os Salmos dos pobres.
    Naqueles tempos, São Domingos tentava achar maneiras de manter os franceses longe de uma heresia que cativava muita gente. Ele havia terminado a construção do primeiro convento dominicano feminino na cidade de Prouille, quando a Imaculada Virgem lhe apareceu na capela com o Menino Jesus ao colo, e disse: "Quero que se saiba que a principal peça de combate tem sido sempre o Saltério Angélico (Rosário), que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Assim quero que alcances estas almas endurecidas e conquiste-as para Deus, com a oração de meu Saltério."
    Sem dúvida, não há como negar que a Nova Aliança se inicia quando o Arcanjo Gabriel diz a Maria: "Ave, cheia de Graça!" Lc 1,28


    O sucesso foi absoluto: seguida de alguns sinais dos Céus, a pregação deste Santo na Catedral de Toulouse fez a cidade adotar essa devoção, a França foi libertada dessa heresia, a Ordem Dominicana tornou-se guardiã do Rosário e seu uso rapidamente difundiu-se entre os religiosos e o povo fiel.
    Ora, as próprias Graças que abundantemente se derramavam sobre os devotos abriam caminho para maior amor à Santíssima Virgem. E logo São Domingos estaria em Paris, na Catedral de Notre Dame, entre renomados sábios da Igreja pregando... a Ave Maria.
    Tempos depois, vieram funestos anos para o Continente Europeu, com a Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, o humanismo que já pretendia substituir o Catolicismo, e em 1460, enquanto o Beato dominicano Alano de la Roche perguntava a Jesus, durante uma Santa Missa, o porque de tantos castigos, Ele respondeu-lhe: "Por que Me crucificas tu de novo? E crucifica-Me não só por teus pecados, mas ainda porque sabes o quanto é necessário pregar o Rosário e assim desviar muitas almas do pecado. Se não o fazes, és culpado dos pecados que elas cometem."
    E para ainda maior Glória de Deus, no século XVI, o Papa Pio V pediu a todas cristãs nações que rezassem o Rosário como forma de obter os auxílios da Mãe Celeste para vencer os muçulmanos, que em grande vantagem lutavam contra a cidade de Veneza visando invadir a Europa, pois já haviam tomado Constantinopla. Com a miraculosa vitória na decisiva Batalha de Lepanto, em 1571, no mar da Grécia, o Papa atribuiu a Maria essa Graça alcançada e por isso instituiu a celebração à 'Nossa Senhora da Vitória'.
    Em 1573, porém, para ainda mais estimular a prática da oração do Rosário, o Papa Gregório XIII mudou o nome da festa para Nossa Senhora do Rosário. No século XVIII, enfim, o Papa Clemente XI instituiu a celebração universal, mas, como aconteciam em diferentes datas pelo mundo, por sua vital importância, em 1913 o Papa São Pio X fixou o dia 7 de outubro como a data oficial da Igreja.
    São Luís Maria Grignion de Montfort, insigne mariólogo que viveu entre 1673 e 1716, autor do renomado Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, além de O Segredo de Maria e O Segredo do Rosário, deixou essa marcante exortação: "Ainda que te encontres à beira do abismo ou já com um pé no inferno, ainda que estejas endurecido e obstinado como um demônio, cedo ou tarde converter-te-ás e salvar-te-ás, contanto que devotamente reze todos dias o Santo Rosário, para conhecer a Verdade e obter a contrição e o perdão de teus pecados."
    Ele advertia: "Peço que estejam atentos, a fim de não pensarem que o Rosário é de pouca importância, como dizem os ignorantes e alguns grandes e orgulhosos intelectuais. Longe de insignificante, o Rosário é um tesouro de incalculável valor e inspirado por DEUS."
    E foi ainda mais contundente: "O Rosário é mais valioso que os Salmos, pois, assim como a realidade é mais importante que a prefiguração, e o corpo mais importante que a sombra, da mesma forma o Rosário é mais grandioso que o Saltério de Davi, que nada mais fez que o prefigurar."
    Em suas aparições, enfim, Nossa Senhora sempre faz referência ao Rosário. NAparição de Salette, em 1846, ele está nas bordas de seu lenço. Em 1858, na Aparição de Lourdes, ele está dependurado em seu braço direito. E na Aparição de Fátima, em 1917, ela voltou a pronunciar-se: seja como se apresentou pela última vez, na de outubro, dizendo "Sou a Senhora do Rosário!", seja quando recomendou, por conta de Primeira Guerra Mundial, "... Continuem a recitar o Rosário todos dias em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz no mundo e o fim da guerra..."
    São João Paulo II, que escreveu a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariæ, diz: "O Rosário misticamente transporta-nos para junto de Maria... para que ela nos eduque e nos plasme até que Cristo esteja plenamente formado em nós." Mais: "Nunca, como no Rosário, o caminho de Cristo e o de Maria aparecem tão profundamente unidos. Maria só vive em Cristo e em função de Cristo."

    "Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!"