sábado, 25 de outubro de 2025

Santo Antônio Galvão


    A primeira pessoa nascida no Brasil a ser canonizada era de rica família, e aos 13 anos, por suas evidentes inclinações religiosas, foi mandado para o Colégio de Belém, um seminário jesuíta em Cachoeira, no Recôncavo Bahiano, onde já estudava seu irmão José, e cuja igreja foi concluída em 1686. Aí nosso Santo já era exemplo de religiosidade e obediência.


    Nascido a 10 de maio de 1739, em Guaratinguetá, no vale do rio Paraíba do Sul, estado de São Paulo, seu pai, Antônio Galvão, português, era comerciante e capitão-mor da localidade, e sua mãe, Isabel Leite de Barros, de família de ricos bandeirantes, ambos muito religiosos.
    Antônio Galvão de França queria ser Sacerdote jesuíta, mas com a perseguição à Companhia de Jesus, por ser contrária à escravidão, o que culminaria em sua extinção no Brasil no ano de 1759, deixou o Colégio antes de seu completo fechamento em 1760, a conselho de seu pai, que era um generoso membro da Ordem Terceira de São Francisco, e voltou para casa. Por sua inteligência e prestígio da família, poderia ter seguido com sucesso qualquer carreira. Sua alma, porém, já tinha uma forte convicção: em 1760, aos 21 anos, entrou para a Ordem dos Frades Menores no Convento de São Boaventura de Macacu, em Itaboraí, estado de Rio de Janeiro, hoje em ruínas, onde adotou o nome de Antônio de Sant'Anna Galvão, em homenagem à Santa mãe de Nossa Senhora, que tinha a grande devoção de sua família.


    Professou votos em 1761, e no seguinte ano foi ordenado Sacerdote na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no Convento de Santo Antonio do Largo da Carioca, de onde seguiu para o Convento de São Francisco, ao Pateo do Collegio, no centro da cidade de São Paulo, estudar Filosofia. Na viagem passou por Guaratinguetá, onde celebrou sua primeira Santa Missa, para grande alegria de sua família e de toda comunidade.
    Com o próprio sangue, assinou sua consagração como 'servo e escravo' da Santíssima Virgem, especificamente para ser um 'imaculista', defensor da Imaculada Conceição de Maria, como muitos franciscanos faziam à época. Em 1768 foi escolhido como pregador, confessor e 'porteiro', espécie de reitor, e logo o Senado da cidade de São Paulo, hoje equivalente à Câmara de Vereadores, o declarou 'novo esplendor do Convento', e em 1798 unanimemente homenageou-o como 'homem de Paz e caridade'. Ainda em 1770, foi convidado a fazer parte da Academia Paulista de Letras, em reconhecimento de seus dons para a poesia, que exclusivamente empregava para assuntos de , muitas delas em louvor à Senhora Sant'Anna. Escrevia-as em latim, e também compunha hinos e odes.
    Desde 1769 era o confessor das religiosas do Recolhimento de Santa Teresa, carmelitanas descalças, onde conheceu a irmã Helena Maria do Espírito Santo, uma piedosa freira que tinha visões e recebia mensagens de Jesus. Prudente, Frei Galvão estudou as mensagens com a ajuda de outros religiosos e, reconhecendo a autenticidade, ajudou a freira a fundar outro Recolhimento, como Nosso Salvador pedia, ao qual foi dado o nome de Convento de Nossa Senhora da Concepção da Luz.


    Esse mosteiro, iniciado em 1774, foi erguido a partir de uma capela quinhentista e tornou-se a primeira grande obra da vida de Santo Antônio Galvão, pois a irmã Helena morreu havia apenas um ano do início da construção. Era o abrigo para um novo carisma, a Ordem da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, também chamada de Ordem das Irmãs Concepcionistas, cujo estatuto foi escrito por ele mesmo.
    Aí nosso Santo também se revelou excelente arquiteto, concebendo e executando todo projeto, e sempre que podia igualmente assumia os trabalhos de pedreiro e pintor.
    No seguinte ano, o governo da província retirou a autorização para a nova casa, o que Frei Galvão obedientemente acatou. Mas as freiras resistiram e, com o apoio da população, as obras foram novamente autorizadas.


    Em 1176, nosso Santo foi designado pelo Prelado Provincial como Comissário Visitador, isto é, dirigente máximo para assuntos eclesiásticos da Ordem Terceira Franciscana, feita de leigos e leigas. Aí lhe cabia ministrar sermões, práticas regulares, exercícios espirituais e presidir profissões de fé de irmãos e irmãs. Em 1779 foi reconduzido, agora pelo voto provincial e de religiosos.
    Em 1781, foi nomeado Mestre dos Noviços do Convento de Macacu, mas os apelos das irmãs, do bispo e das autoridades de São Paulo logo o trouxeram de volta. O Senado de São Paulo registrou este apelo: "... os moradores desta cidade não poderão suportar por um único momento a ausência do dito religioso que, por seus costumes e exemplaríssima vida serve de honra e consolação a seus irmãos e a todo o povo da Capitania."
    Pouco mais tarde, por duas vezes vai ser eleito pelo Governo Provincial como Guardião do Convento de São Francisco, do centro de São Paulo, e em seguida recebe o 'privilégio de Definidor', ou seja, é feito Conselheiro Provincial com a permissão para não precisar ausentar-se de São Paulo, pois o Governo Provincial ficava na capital de Rio de Janeiro.
    Em 1807, foi nomeado Visitador Geral e Presidente do Capítulo Provincial da Ordem Franciscana, mas humildemente pediu renuncia de ambos encargos alegando circunstanciais motivos de saúde.
    Em missionária viagem no ano de 1808, pois foi eleito Visitador dos Conventos do Sul, ele iniciou a devoção a Nossa Senhora das Barracas, depois chamada das Brotas, na cidade de Piraí do Sul, estado de Paraná, ao doar a uma moradora uma imagem da Santíssima Virgem, que mais tarde se revelou milagrosa e mereceu, pela devoção popular, a construção de um santuário.


    Em 1811, fundou o Convento de Santa Clara, em Sorocaba, interior de São Paulo, onde intensamente e de todas as formas trabalhou na construção por onze meses, sua segunda grande obra.


    Em seguida retornou à capital, e ficava mais no Mosteiro da Luz que no Convento de Santo Antonio, onde os frades moravam.
    Como desde sempre era muito procurado pelos aflitos, pois todos facilmente percebiam sua santidade, numa ocasião, sem poder atender a um distante chamado, pediu que entregassem ao enfermo um pedaço de papel com uma frase do Ofício de Nossa Senhora: "Após o parto, permaneceste virgem: 'Ó Mãe de Deus, intercedei por nós.'" Recomendou que o pedaço de papel fosse engolido com água, como remédio. Era um jovem com fortes cólicas, mas as dores foram imediatamente aliviadas e ele expeliu uma grande quantidade de cálculos renais. Detalhe: os comprimidos medicinais ainda não existiam.
    Em outro caso, um senhor pediu-lhe, desesperado, que fosse em socorro de sua esposa, pois passava por um difícil parto. Também sem poder ir ao local, mais uma vez Frei Galvão recorreu à 'pilula' e, logo que ingerida, a mãe e a criança foram salvas. Como era muito conhecido, e dele já se esperava milagres, toda gente adotou essa devoção e Frei Galvão teve que atribuir às freiras a confecção das 'pílulas' para atender à grande procura.
    Além do dom de curar, que em vida já lhe era amplamente reconhecido, a ele ainda são atribuídos outros místicos fenômenos como discernimento de espírito, profecia, levitação e bilocação. Mas o que chamava mais atenção era que todos, absolutamente todos experimentavam uma indizível Paz a sua volta.
    Eram seus pensamentos:

    "Não temas que a vida tenha fim, teme que ela nunca tenha começado."
    "Fiel à Divina Graça, que alimentemos viva consciência de nosso nada e nos deixemos atrair pelo tudo da Cruz."
    "Nenhuma dor é maior que o consolo oferecido por Deus."
    "Mesmo nas mais escuras noites, a Luz de Deus brilha através de nós."
    "Nos momentos de desespero, lembra-te de que Deus está sempre a teu lado."
    "Quando Deus nos chama a servir, Ele dá-nos a força para perseverar."
    "completa entrega a Deus é o segredo da verdadeira felicidade."
    "Deus diariamente convida-nos a sermos mensageiros de Paz e esperança."
    "Deus está presente nas pequenas coisas e nos pequenos gestos."
    "Sabei que, ao observar a virtude da obediência, ninguém erra em obedecer, pois ainda que os superiores e confessores errem no que ordenam, o súdito sempre acerta em obedecer."
    "A caridade é mansa e benigna. Quem tem essa virtude não se afasta facilmente, não julga mal, nem se perturba por qualquer causa, e é muito capaz de sossegar e compor os ânimos e gênios mais descontrolados."
    "Em cada ato de caridade, encontramos a presença de Deus."
    "A caridade é o mais belo caminho para a Graça de Deus."
    "A caridade é a linguagem que o coração de Deus entende."
    "Cada ato de bondade é uma semente plantada no jardim do Céu."
    "O serviço desinteressado é o verdadeiro amor em ação."
    "O verdadeiro amor não espera nada em troca."
    "O verdadeiro amor ao próximo é a maior forma de gratidão a Deus."
    "Cada ato de amor ao próximo é um passo em direção ao coração de Deus."
    "O amor é o maior remédio para qualquer dor."
    "O caminho da santidade é pavimentado com pequenos gestos de amor."
    "compaixão é o reflexo da alma que ama a Deus."
    "A verdadeira riqueza está no coração, não no bolso."
    "A simplicidade é o caminho para o coração de Deus."
    "Onde há esperança, há um milagre à espera de acontecer."
    "O mais bonito milagre é aquele que acontece no coração."
    "A fé move montanhas e cura corações."
    "O silêncio é uma prece que só o coração entende."
    "A virtude do silêncio tem muito valor, porque pela boca se peca e difícil é falar sem errar. É pela língua que mais se peca, e muitas vezes com uma só palavra se pode cometer grave culpa. Facilmente poderá entrar a murmuração e coisas que desagradam a Nosso Senhor.”
    "Quanto mais silêncio se guardar, menos perigo de pecar teremos. Haverá mais sossego e recolhimento na alma e mais gosto pela oração."
    "Deus ouve até mesmo as mais silenciosas orações."
    "A oração é o alimento da alma."
    "A oração é a chave que abre as portas da divina Misericórdia."
    "Deixa que tua vida seja um testemunho do amor e da Misericórdia de Deus."
    "A humildade aproxima-nos do Céu."
    "Viver com humildade é aceitar que somos apenas instrumentos da divina bondade."
    "O serviço aos pobres é um serviço a Deus."
    "Em cada sorriso dos necessitados, vemos o rosto de Cristo."
    "Que a Paz de Deus preencha nossos corações e mentes."
    "Que nossa fé seja o farol que nos guia através das tempestades."
    "Que nossa fé sempre seja maior que nossos desafios."
    "Peço-Vos pela Paixão, Morte e Chagas de Vosso Filho, por Vossa pureza e Conceição Imaculada."
    "Tirai-me antes a vida que ofender Vosso Bendito Filho, Meu Senhor."

    Morreu em 1822 com socorro dos Sacramentos e assistido pelo Guardião do Convento de São Francisco, e seu velório foi acompanhado por uma grande multidão. Como muitas pessoas queriam um pedaço de seu hábito como relíquia, de tanto cortarem, logo a veste só lhe chegava à altura dos joelhos. Os frades quiseram reparar-lhe a 'desfeita'. No entanto, como não tinha outro hábito, tão humilde que Frei Galvão era, vestiram-lhe o hábito de um confrade. Por ser muito alto, porém, o outro hábito também só lhe cobriu até os joelhos. Assim o carinho do povo de fé acabou mesmo determinando o tamanho de sua última veste.
    Algo parecido aconteceria com a primeira lápide de seu túmulo, que os peregrinos quebravam para colocar os pedaços em água, que bebiam como remédio para tudo.


    O Papa Bento XVI, em homenagem à maior nação católica, canonizou-o em Brasil durante viagem apostólica, sua única canonização fora do Vaticano. É o Padroeiro das grávidas, dos pedreiros, pintores, arquitetos, engenheiros civis e da construção civil em Brasil.
    O Mosteiro da Luz, em cuja capela o sepultaram, foi tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade, e na ala esquerda do térreo, antiga casa do capelão, funciona o Museu de Arte Sacra de São Paulo.


    Santo Antônio Galvão, rogai por nós!