domingo, 20 de outubro de 2024

Santa Madalena de Nagasaki

 

    Três décadas depois do holocausto sofrido por São Paulo Miki e seus companheiros mártires, vendo que quase todo seu povo começava a abandonar a  por medo de morrer nas perseguições perpetradas pelo imperador, Santa Madalena de Nagasaki, então aos 23 anos, apresentou-se diante dos juízes e confessou que era cristã.
    Ela nasceu em 1611, numa época em que sucessivos imperadores do Japão empreendiam violentas campanhas para exterminar o Catolicismo no país. A crueldade era recorrente, principalmente após o Édito de Expulsão dos Cristãos, do imperador Tokugawa Ieyasu, em 1614.
    Ele decretou que mesmo estrangeiros estavam proibidos de celebrar os Sacramentos, devendo imediatamente deixar o país, e que os japoneses que se renegassem a abandonar o Evangelho deveriam ou sair do país ou ser mortos.
    Esse decreto foi seguido a ferro e fogo por dois de seus sucessores, Hidetada e Yemitsu, que, de fato, quase extinguiram o Catolicismo no arquipélago.


    Santa Madalena de Nagasaki, portanto, foi testemunha ocular da morte de muitos cristãos. Ainda adolescente, viu seus pais e seus irmãos serem arrastados para a tortura e o martírio. Ela conheceu pessoalmente os Beatos mártires Frei Francisco de Jesus e Frei Vicente de Santo Antônio, que em 1628, após anos evangelizando na clandestinidade, foram cruelmente queimados em fogo brando.
    Esses monges agostinianos haviam chegado a Nagasaki em 1624, e aí fundaram uma casa da Ordem Terceira de Santo Agostinho para coordenar os projetos de catequização. Santa Madalena de Nagasaki logo se candidatou e em pouco tempo tornou-se modelo para os missionários.
    Andava pelas ruas mendigando em nome dos pobres, dos idosos e dos enfermos. Esforçava-se para servi-los e confortá-los. Com autêntica fé e verdadeiro amor, levou ainda mais longe a Sã Doutrina da Igreja e conseguiu converter muitas almas para Cristo.



    Mas em 1628, com a intensificação das perseguições em Nagasaki, Santa Madalena e todos cristãos da cidade tiveram que se refugiar em montanhas ou cavernas, onde viviam e recebiam a consolação dos Beatos frades, Francisco e Vicente. Eram todos virtuosos, que renegavam a mundana vida e tinham fervoroso amor a Deus.
    Em 1632, porém, foram descobertos. Muitos terminaram decapitados, enquanto os frades eram mortos na fogueira. Dois outros frades agostinianos, Frei Melchior de Santo Agostinho e Frei Martinho de São Nicolau, que haviam chegado ao Japão no dia seguinte ao martírio de seus confrades, também foram presos e mortos pouco mais de dois meses depois, e da mesma maneira.
    O jesuíta São Francisco de Xavier, primeiro missionário a chegar ao Japão, havia enfrentado grandes dificuldades para anunciar a Salvação nestas terras um século antes, pois não lograva obter permissão das autoridades e sofria forte oposição dos líderes religiosos locais. Conseguiu, contudo, plantar a boa semente em algumas almas antes de partir.
    E assim, depois de São Paulo Miki e seus companheiros, agora eram Santa Madalena de Nagasaki e sua geração que resistiam à crueldade dos imperadores. Flagrada entre cristãos, mas dispensada pelos perseguidores, pois lhes pareceu absolutamente inofensiva, continuou vivendo nas montanhas ainda por mais dois anos, batizando crianças e convertidos, e tentando consolar e animar seus compatriotas a persistirem junto a Jesus.
    Sem alarde, mas corajosamente, sempre ia à cidade ao encontro dos que, sob tortura, haviam renegado a fé. Afável, fez com que alguns deles se arrependessem e reconduziu-os à piedosa vida, mesmo que por meio de ocultas práticas. Mas com o tempo ela deu-se conta de que, pouco a pouco, muitos fiéis começavam a desistir antes mesmo de serem torturados.
    Foi quando decidiu que havia chegado o momento de viver a plena dimensão de sua fé, dando o maior de todos testemunhos, e assim ajudar seus irmãos, de então e da posteridade, na Salvação de suas almas: usando um hábito agostiniano e conduzindo uma Bíblia, ela apresentou-se como cristã perante os juízes.


    A princípio, eles ficaram admirados com sua beleza, fidalguia e Sabedoria, e não foram poucos os altos funcionários que lhe fizeram proposta de casamento. Mas Santa Madalena queria mesmo unir-se a Cristo em Seu sacrifício, e por não arredar pé do tribunal, fato que acabou chegando aos ouvidos das autoridades, foi presa, sendo torturada por vários dias. Amarrada pelos pés e pendurada de cabeça para baixo, eles submergiam-na num poço para que renegasse o Cristo. Contudo, quando era retirada, ela recobrava o folego, e começava a cantar e louvar a Deus.
    Ao fim de 13 dias, porém, pois por sua aparente fragilidade eles estavam certos que iria terminar desistindo, foi definitivamente afogada e em seguida teve seu corpo queimado. Suas cinzas foram jogadas ao mar, para que o povo não fizesse de seu túmulo um lugar de veneração.
    No entanto, como Tertuliano dizia,"O sangue dos mártires é a semente dos cristãos." Foi exatamente o que se viu em Nagasaki, mesmo que na clandestinidade, e de ainda mais marcante modo nas manifestações após a explosão da bomba atômica sobre a cidade, que determinou o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945. Sinal de resistência, pois, era a própria Catedral de Santa Maria, também conhecida como Catedral de Urakami, onde a principal imagem de Nossa Senhora, feita em madeira, foi miraculosamente preservada da explosão e do fogo que tudo devassou em seu interior. A igreja, como se vê abaixo, ficou em ruínas, mas os sobreviventes não a abandonaram. Sua reconstrução foi concluída ainda em 1959, mantendo o estilo francês. E mesmo com toda apostasia vista no mundo no século passado (2 Ts 2,3), a cidade ainda tem quase 70 mil perseverantes católicos!


    Santa Madalena de Nagasaki, rogai por nós!