terça-feira, 28 de outubro de 2025

São Simão Zelota, Apóstolo


    Certamente, o menos conhecido dentre os Doze Apóstolos. Nas listas, sempre é citado entre os últimos pelos evangelistas, duas das três vezes à frente apenas de Judas Iscariotes, e no Evangelho Segundo São Mateus é chamado de 'cananeu', por seu engajamento no movimento nacionalista de então: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro, depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4
    Assim como o Evangelho Segundo São Marcos (cf. Mc 3,18), que serviu de texto base para os demais, o Evangelho Segundo São Lucas aponta o apelido de zelota, em referência ao apaixonado zelo que seu grupo religioso tinha pelas Escrituras, desejoso de vê-las plenamente respeitadas: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro. André, seu irmão. Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelota. Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16
    Após esta citação, São Simão só mais uma vez será nominalmente citado, seja nos Evangelhos ou nos demais Livros do Novo Testamento: na lista dos Onze, já sem Judas Iscariotes, claro!, do Livro de Atos dos Apóstolos, logo após a Ascensão de Jesus e pouco antes do Pentecostes, quando o Amado Médico de novo o coloca, por algum motivo, à frente de ninguém menos que São Judas Tadeu, um dos chamados 'irmãos' de Jesus. E repete, chamando-o de zelota, além de registrar a essencial presença da Santíssima Virgem para a formação da Santa Igreja Católica: "Tendo entrado no cidade, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14


    Mas como zelota, e assim íntimo companheiro de São Pedro, era ele que possuía a outra espada que os Apóstolos levavam, como vemos momentos antes de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Jesus iria rer entregue. Em sequência à Santa Ceia, o Divino Mestre havia ordenado: "Depois ajuntou: 'Quando vos mandei sem bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.' 'Mas agora', disse-lhes Ele, 'aquele que tem uma bolsa, tome-a. Aquele que tem uma mochila, igualmente tome-a. E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma.' Eles replicaram: 'Senhor, eis aqui duas espadas!' 'Basta!', respondeu Ele." Lc 22,35-36.38
    De fato, uma das espadas era levada pelo Príncipe dos Apóstolos, como vemos no Evangelho Segundo São João, exatamente quando Nosso Senhor foi preso pelos guardas dos líderes judeus de Jerusalém: "Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: 'Enfia tua espada na bainha! Não hei de beber o Cálice que o Pai Me deu?" Jo 18,10-11
    Para a maioria dos estudiosos, a palavra 'cananeu', usada por São Mateus, e zelota, usada por São Marcos e São Lucas, teriam o mesmo significado. Além de fundamentalistas religiosos, esses nomes designariam nacionalistas inspirados no levante de Judas Macabeus, que expulsou os gregos da Terra Santa havia uns 200 anos (cf. 2 Mc 2,19-20), e por isso defendiam a libertação dos romanos pela luta armada.
    A esse grupo pertenceu, além, muito provavelmente, de Judas Iscariotes, o próprio São Pedro, como denuncia a destreza de seu golpe que, em claro sinal advertência, para intimidar os demais, amputou a orelha do servo do sumo sacerdote. Tal habilidade foi igualmente atestada por São Mateus, que não quis mencionar o nome de São Pedro: "Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Jesus, no entanto, disse-lhe: 'Embainha tua espada, pois todos que da espada usarem, pela espada morrerão.'" Mt 26,51-52
    São Lucas também a registrou, igualmente omitindo São Pedro, assim como mais um milagre de Cristo no desfecho desta cena: "Aqueles que estavam ao redor d'Ele, vendo o que ia acontecer, perguntaram: 'Senhor, devemos atacá-los à espada?' E um deles feriu o servo do príncipe dos sacerdotes, decepando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio: 'Deixai! Basta!' E tocando na orelha daquele homem, curou-o." Lc 22,49-51
    Esse grupo também era chamado de sicários, por usarem curtas, grossas e curvas facas chamadas de sica, realmente perigosas e fáceis de esconder nas vestes. São eles que incitarão a revolta do ano de 70 de nossa era, quando Jerusalém será destruída por ordem do imperador Vespasiano, como Nosso Salvador profetizou: "Aproximando-Se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: 'Oh! Se tu, ao menos neste dia que te é dado, também conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz! Mas não... Isso está oculto a teus olhos. Sobre ti virão dias em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão por todo lado. Destruí-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e em ti não deixarão pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.'" Lc 19,41-44
    Outros estudiosos, porém, julgam que 'cananeu' é apenas a indicação de sua origem, Canaã, a Terra Prometida, ou ainda a própria Caná de Galileia, onde Jesus transformou água em vinho durante as bodas de familiares amigos de Nossa Senhora (cf. Jo 2,1).
    Assim como São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes próximos de Jesus (cf, Mc 15,40 e Jd 1), e ainda São Tomé e Judas Iscariotes, de São Simão Zelota não ficou registrado em que momento ele passou a acompanhar Jesus, diferente do que aconteceu com os demais Apóstolos.
    Mas baseando-se no Evangelho de São João, é muito provável que ele também tenha sido convidado para as bodas de Caná, talvez pelo próprio São Pedro, e assim presenciado o milagre da transformação da água em vinho. Com efeito, nesta ocasião e pelo local, o Amado Discípulo, como ocular testemunha e de tão pontuais e cronológicos registros, dá a entender que o grupo dos Apóstolos já estava formado, exceto pela ausência de São Mateus, que só seria chamado em Cafarnaum (cf. Mc 2,14), onde Jesus foi morar após deixar Nazaré (cf. Mt 4,13): "Este foi o princípio dos sinais. Jesus realizou-o em Caná de Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11


    Todos esses detalhes descrevem um simples e verdadeiro homem, como o próprio Príncipe dos Apóstolos era, o que permite dizer que nosso Santo experimentou uma profunda conversão, passando do ativismo miliciano para a contemplação essencialmente espiritual. As palavras que ouviu e os fatos que presenciou foram decisivos: marcaram-no para o resto da vida, e ele, demonstrando Sabedoria, humildemente rendeu-se. Abdicou de anseios de violência e fervorosamente abraçou a vida de testemunha da Ressurreição e dos ensinamentos de Cristo.
    Sabe-se que São Simão evangelizou em Egito, talvez a convite de São Marcos, quando este evangelista foi enviado por São Pedro a Alexandria, que era a segunda mais importante cidade do Império Romano, menor apenas que Roma.
    Também se sabe que, antes de acompanhar São Marcos, por um bom tempo ele esteve com São Filipe Apóstolo, evangelizando em Síria, pois era comum que eles trabalhassem em dupla, como Jesus determinou no início (cf. Mc 6,7) e eles continuaram enquanto puderam. A parceira de São Pedro e São João, por exemplo, durou quase duas décadas (cf. Gl 2,9).
    Mais tarde, vamos encontrá-lo em Pérsia junto a São Judas Tadeu, ou porque Jerusalém já estaria reduzida a cinzas, portanto depois do ano de 70 de nossa era, ou a chamado deste Apóstolo, que era muito ativo. Aí os trabalhos eram muitos, dado o expressivo número de convertidos, e São Simão seria de grande valia pois se tornara profícuo leitor das Escrituras. Ventila-se, da mesma forma, que São Judas Tadeu já percebia os riscos de contrariar os interesses de sacerdotes persas, e por isso solicitou sua companhia para lhes demonstrar que não faltariam seguidores que testemunhassem Jesus.


    Formando com São Judas Tadeu uma frutuosa parceira de conhecedores do Mistério de Cristo, e assim instruindo e instituindo vários bispos (cf. Tt 1,7), pois era um centro populacional e cultural verdadeiramente pulsante, aí realizaram numerosos milagres (cf. Mc 16,17) e converteram muitas almas, o que ainda mais atiçou a fúria dos sacerdotes do Zoroastrismo. E uma vez denunciados às autoridades locais como agitadores, ao recusarem-se a abandonar tão grande rebanho, acabaram optando pela prova do amor maior (cf. Jo 15,13), o testemunho dos testemunhos: entregar a vida por Cristo (cf. Mc 8,35). E foram barbaramente martirizados.
    Talvez por seu avantajado porte físico, os assassinos de São Simão só se deram por satisfeitos quando o serraram ao meio, após matarem São Judas Tadeu, momentos antes, a golpes de machado desferidos contra sua cabeça. Esses relatos chegaram-nos por muito antigo livro, de desconhecida autoria, chamado 'Atos de Simão e de Judas', que atribui a eles, principalmente pela franca disposição para o martírio, pois foram várias vezes advertidos, o profundo conhecimento do Cristianismo que se verificou nessa região.
    Mas, no caso de São Simão, esta informação foi mencionada pelos seguidores da tradição de São Paulo, que registraram sobre a então já extensa lista de mártires, na Carta aos Hebreus: "Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio..." Hb 11,37a
    Há outros registros, embora bem menos consistentes, indicando que São Simão teria falecido com mais de cem anos. Porém restaram praticamente renegados frente a amplamente acolhida tradição que atesta o martírio de todos Onze Apóstolos, seguidos pelos próprios São Matias e São Paulo Apóstolos, a exceção de São João Evangelista, que, este sim!, morreu de idade. Aliás, como Jesus mesmo havia previsto (cf. Jo 21,22), referindo-Se a Suas revelações do Livro de Apocalipse, que se deram décadas mais tarde.
    Ademais, seus restos mortais sempre foram mantidos junto aos de São Judas Tadeu, desde o sepultamento pelos cristãos em Pérsia mesmo, até serem transladados a França, de onde finalmente foram levados a Roma e depositados sob o Altar de São José, na Basílica de São Pedro.


    São Simão, rogai por nós!