sábado, 28 de outubro de 2023

São Simão Zelota, Apóstolo


    Certamente, o menos conhecido dentre os Apóstolos. Por seu engajamento no movimento nacionalista de então, São Mateus chamava-o de 'cananeu': "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4
     Assim como São MarcosSão Lucas chama-o de zelota, em referência ao apaixonado zelo que seu grupo religioso tinha pelas Escrituras, desejosos de vê-las plenamente respeitadas: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16
    Após esta citação de São Lucas, São Simão só mais uma vez será citado: na lista dos Apóstolos que estão no Cenáculo, logo após a Ascensão de Jesus e pouco antes do Pentecostes. E de novo o Amado Médico vai atribuir-lhe a alcunha de zelota: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago." At 1,13


    Os Evangelhos e os demais livros do Novo Testamento nada mais nominalmente apontam sobre São Simão. Mas como zelota, e assim íntimo companheiro de São Pedro, era ele que possuía a outra espada que os Apóstolos levavam, como vemos momentos antes de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Jesus seria preso. O Divino Mestre havia ordenado: "Depois ajuntou: 'Quando vos mandei sem bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.' 'Mas agora', disse-lhes Ele, 'aquele que tem uma bolsa, tome-a. Aquele que tem uma mochila, igualmente tome-a. E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma.' Eles replicaram: 'Senhor, eis aqui duas espadas!' 'Basta!', respondeu Ele." Lc 22,35-36.38
    De fato, uma das espadas era levada por São Pedro: "Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O servo chamava-se Malco.) Mas Jesus disse a Pedro: 'Enfia tua espada na bainha! Não hei de beber o cálice que o Pai Me deu?" Jo 18,10-11
    Para a maioria dos estudiosos, a palavra 'cananeu', usada por São Mateus, e zelota, usada por São Marcos e São Lucas, teriam o mesmo significado. Além de fundamentalistas religiosos, esses nomes designariam nacionalistas inspirados no levante de Macabeus, que expulsou os gregos da Terra Santa havia uns 200 anos, e por isso defendiam a libertação de romanos pela luta armada.
    A esse grupo pertenceu o próprio São Pedro, como denuncia a destreza de seu golpe que, em sinal advertência, decepou a orelha do servo do sumo sacerdote. Tal habilidade foi igualmente atestada por São Mateus: "Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Jesus, no entanto, disse-lhe: 'Embainha tua espada, pois todos que da espada usarem, pela espada morrerão.'" Mt 26,51-52
    São Lucas também a registrou, assim como o desfecho desta cena: "Os que estavam ao redor d'Ele, vendo o que ia acontecer, perguntaram: 'Senhor, devemos atacá-los à espada?' E um deles feriu o servo do príncipe dos sacerdotes, decepando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio: 'Deixai! Basta!' E tocando na orelha daquele homem, curou-o." Lc 22,49-51
    Esse grupo também era chamado de sicários, por usarem curtas, grossas e curvas facas chamadas de sica, realmente perigosas e fáceis de esconder nas vestes. São eles que incitarão a revolta do ano de 70 de nossa era, quando Jerusalém será destruída por ordem do imperador Vespasiano, como Nosso Salvador profetizou: "Aproximando-Se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: 'Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz!... Mas não... Isso está oculto a teus olhos. Sobre ti virão dias em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, sitiá-te-ão e apertá-te-ão por todo lado. Destruí-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e em ti não deixarão pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.'" Lc 19,41-44
    Outros estudiosos, porém, julgam que 'cananeu' é apenas a indicação de sua origem, Canaã, a Terra Prometida, ou ainda a própria Caná da Galileia, onde Jesus transformou água em vinho.
    Assim como São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes próximos de Jesus, e ainda São Tomé e Judas Iscariotes, de São Simão Zelota não ficou registrado em que momento ele passou a acompanhar Jesus, diferente do que acontece com os demais Apóstolos.
    Mas baseando-se no Evangelho de São João, é muito provável que ele também tenha sido convidado para as Bodas de Caná, talvez pelo próprio São Pedro, e assim presenciado o milagre da transformação da água em vinho. Com efeito, nesta ocasião e pelo local, São João, como ocular testemunha e de tão pontuais e cronológicos registros, dá a entender que o grupo dos Apóstolos já estava formado, exceto pela ausência de São Mateus: "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11


    Todos esses detalhes descrevem um simples e verdadeiro homem, como era o próprio Príncipe dos Apóstolos, o que permite dizer que nosso Santo teve uma profunda conversão, passando do ativismo miliciano para a contemplação essencialmente espiritual. As palavras que ouviu e os fatos que presenciou foram decisivos: marcaram-no para o resto da vida, e ele, demonstrando Sabedoria, humildemente rendeu-se. Abdicou da violência e fervorosamente abraçou a vida de testemunha da Ressurreição e dos ensinamentos de Cristo.
    Sabe-se que São Simão acompanhou São Marcos ao Egito, talvez a seu convite quando este foi enviado por São Pedro a Alexandria, que era a segunda mais importante cidade do Império Romano, menor apenas que Roma.
    Também se sabe que, antes de acompanhar São Marcos, ele esteve com São Filipe Apóstolo, evangelizando na Síria.
    Mais tarde, vamos encontrá-lo na Pérsia junto a São Judas Tadeu, ou porque Jerusalém já estaria reduzida a cinzas, portanto depois do ano de 70, ou a chamado deste Apóstolo. Aí os trabalhos eram muitos, dado o expressivo número de convertidos, e São Simão seria de grande valia pois se tornara profícuo leitor das Escrituras. Ventila-se, da mesma forma, que São Judas Tadeu já percebia os riscos de contrariar os interesses de sacerdotes persas, e por isso solicitou sua companhia para acenar-lhes que não faltariam seguidores que testemunhassem o Cristo.


    Formando com São Judas uma frutuosa dupla de conhecedores do Mistério de Cristo, e assim instruindo e instituindo vários bispos, pois era um centro populacional e cultural verdadeiramente pulsante, aí realizaram numerosos milagres e converteram muitas almas, o que ainda mais atiçou a fúria dos sacerdotes do Zoroastrismo. E uma vez denunciados às autoridades locais como agitadores, ao recusarem-se a abandonar tão grande rebanho, acabaram barbaramente martirizados.
    Talvez por seu avantajado porte físico, os assassinos de São Simão só se deram por satisfeitos quando o serraram ao meio, após matarem São Judas Tadeu, no mesmo dia, a golpes de machado desferidos contra a cabeça. Esses relatos chegaram-nos por muito antigo livro, de desconhecida autoria, chamado 'Atos de Simão e de Judas', que atribui a eles, principalmente pela franca disposição para o martírio, pois foram várias vezes advertidos, o profundo conhecimento do Cristianismo que se verificou nessa região.
    Mas, no caso de São Simão, esta informação foi mencionada pelos seguidores da tradição de São Paulo, que registraram sobre os primeiros mártires: "Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio..." Hb 11,37a
    Há outros registros, ademais, indicando que São Simão teria falecido com mais de cem anos.
    Seus restos mortais sempre foram mantidos junto aos de São Judas Tadeu, desde o sepultamento pelos cristãos na própria Pérsia até serem transladados a França, de onde finalmente foram levados a Roma e depositados sob o Altar de São José, na Basílica de São Pedro.


    São Simão, rogai por nós!