sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Assunção de Nossa Senhora


    Em 1950, o Papa Pio XII oficialmente declarou que Maria foi elevada aos Céus em corpo e alma. Embora, além das elucidativas visões que teve a Beata Anna Catarina Emmerich no século XVIII e início do XIX, os registros de sua Assunção só existam em apócrifos livros, e apenas recentemente tenha sido declarada, a Santa Igreja Católica já a cultua desde os primórdios, pois está em perfeita conformidade com as Escrituras e é parte da Tradição dos Apóstolos.
    Pela Bíblia, em específico, no Livro de Apocalipse de São João temos o relato que, apesar de não tratar propriamente de sua Assunção, a aponta já nos Céus, e dá testemunho de sua transfiguração em corpo glorioso e de sua coroação: "Em seguida, apareceu no Céu um grande sinal: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas pagãs nações com cetro de ferro. Mas Seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono." Ap 12,1.5
    E instantes antes dessa aparição, ao Amado Discípulo havia sido apresentada a Arca da Aliança (cf. Êx 25,10), ou seja, a portadora da Revelação, uma prefigura de Nossa Senhora, Sem dúvida, Nossa Mãe Celeste veio em aperfeiçoamento à Arca da Velha Aliança (cf. Jr 3,16), que guardava as Tábuas da Lei (cf. Êx 25,16), porque ela é a Arca da Nova e Eterna Aliança, a portadora do Verbo Encarnado (cf. Jo 1,14): "Abriu-se o Templo de Deus no Céu e apareceu, em Seu Templo, a Arca de Seu Testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva." Ap 11,19
    Tais visões não se deram num momento qualquer: era o sinal da sétima trombeta, o terceiro 'ai', e assim os Céus revelavam como havia sido o início do Reinado de Cristo. Leia-se: Cristo é o ápice, a própria Revelação de Deus (cf. Hb 1,3), Caminho da humanidade (cf. Jo 14,6), realidade a ser vivida (cf. Cl 2,17), Deus Vivo de Deus Vivo (cf. Jo 20,18), e Sua Mãe (cf. Lc 1,43) é a definitiva Arca da Aliança, Seu 'precioso veículo' para manifestar-Se ao mundo.
    De fato, o desaparecimento da Arca da Velha Aliança já tinha sido anunciado por Deus havia séculos, ainda no Livro do Profeta Jeremias: "Quando vos multiplicardes e numerosos vos tornardes na Terra, naqueles dias, Oráculo do Senhor, não mais se falará da Arca da Aliança do Senhor nem mais se pensará nela, perdendo-se a lembrança e a saudade, nem a ela há de referir-se." Jr 3,16
    Eis porque o Livro de Salmos já cantava sua Assunção em momento que dever ser identificado como após a Ressurreição e a Ascensão de Jesus, pois só pela Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 1,17) nos foi possibilitado prestar culto a Deus com toda justiça, que é a Santa Missa celebrada pela Igreja Católica, Seu Reino de Sacerdotes: "Levantai-Vos, Senhor, para vir a Vosso repouso, Vós e a Arca de Vossa Majestade. Vistam-se de justiça Vossos Sacerdotes, e jubilosos cantem de alegria Vossos fiéis." Sl 131,8-9
    Pois se a Carne e o Sangue de Cristo, que por pureza e santidade nos concedem a Vida Eterna (cf. Jo 6,54), não veio a corromper-se, aliás, como muitos outros Corpos Santos, o corpo de Nossa Senhora, cuja carne e sangue geraram o Corpo de Nosso Senhor, porque São José não participou de Sua humana concepção, também não poderia corromper-se. O rei Davi cantou por Jesus: "Por isso, Meu Coração alegra-se, Minha alma exulta e Minha Carne repousa em segurança. Porque Vós não abandonareis Minha alma na habitação dos mortos, nem permitireis que Vosso Santo conheça a corrupção." Sl 15,9-10
    Ora, foi o próprio Jesus que prometeu, aos Apóstolos e a nós, preparar um lugar nos Céus. Acaso não faria o mesmo para Sua Santíssima Mãe? No Evangelho Segundo São João, Ele disse: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, Eu tê-vos-ia dito, pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e preparar-vos um lugar, voltarei e tomá-vos-ei Comigo, para que, onde Eu estou, vós também estejais." Jo 14,2-3
    As almas dos Santos, por exemplo, já estão no Céu, e reinando, como São João registrou: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e todos aqueles que não tinham adorado a Fera ou sua imagem, que não tinham recebido seu sinal na fronte nem nas mãos. Eles viveram uma Nova Vida, e com Cristo reinaram por mil anos." Ap 20,4
    Assim, portanto, se deram os fatos, e assim temos que os acolher. Essa é a Verdade, a obra de Deus. E com mais essa maravilha, Ele simplesmente explicitou em maior grau, na pessoa da Santíssima Mãe, Sua feição de Amoroso Pai, como já fizera através da Paixão de Cristo, que sobremaneira reafirmou a Doutrina da Ressurreição da Carne. Jesus disse do Pai Eterno: "... Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,50a
    Ademais, depois de Jesus, São João Apóstolo, que recebeu as revelações do Apocalipse, era a pessoa mais bem informada a respeito de Maria, pois foi a ele que Nosso Senhor confiou a guarda de Sua Mãe. Mais: Maria foi dada a este Apóstolo como sua própria Mãe, assim como também nossa, pois aí ele representava todos seguidores de Cristo, e em nenhuma hipótese ele iria desobedecer-Lhe: "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua Mãe, a irmã de Sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu Sua Mãe, e perto dela o discípulo que amava, disse a Sua Mãe: 'Mulher, eis aí teu filho.' Depois disse ao discípulo: 'Eis aí tua Mãe.' E dessa hora em diante o discípulo levou-a para sua casa." Jo 19,25-27
    Afirmativamente, é como filhos de Maria que São João se refere àqueles que testemunham Jesus, quando Satanás percebeu que não poderia vencê-la e se voltou contra a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, àqueles que guardam os Mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus." Ap 12,17
    Tal condição de filhos é dada pela perfeita Comunhão que a Santa Igreja tem com o Espírito prometido por Jesus, como a Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14
    E ele já se tinha mostrado taxativo: "Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,8b
    Pois só os filhos de Deus obtêm a garantia do Santo Paráclito (cf. 2 Cor 1,22): "O Espírito mesmo dá testemunho a nosso espírito de que somos filhos de Deus." Rm 8,16
    Primeira Carta de São João diz deste sinal dado por Jesus: "Quem observa Seus Mandamentos permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    E ainda que indiretamente, o Livro de Eclesiástico já atestava o insubstituível papel de Nossa Mãe Celeste nos planos de Deus: "Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe." Eclo 3,2
    Este sagrado autor alude aos tesouros nos Céus, de que falou Jesus (cf. Mc 10,21): "Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro." Eclo 3,4
    Pois, se somos filhos dos Sacerdotes da Igreja, que são nossos pais espirituais como o Apóstolo dos Gentios reclamava, como não haveríamos de ser filhos de Maria, a Nova Eva, que gerou o próprio Cristo para a Salvação da humanidade? Por isso, primando pela Unidade da Igreja, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios corrigia: "Não vos escrevo estas coisas para envergonhar-vos, mas admoesto-vos como meus amados filhos. Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais. Ora, fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho. Por isso, conjuro-vos a que sejais meus imitadores. Para isso é que vos enviei Timóteo, meu amado e fiel filho no Senhor. Ele recordá-vos-á minhas normas de conduta, tais como as ensino por toda parte, em todas igrejas." 1 Cor 4,14-17


    Pois a sensata pergunta a ser levantada é: se os 'lenços e outros panos' de São Paulo (cf. At 19,11), a 'sombra' de São Pedro (cf. At 5,15) e a 'orla do manto' de Jesus (cf. Lc 8,44) realizavam milagres enquanto relíquias, que dizer do próprio corpo de Nossa Senhora que por nove meses teve Deus em seu ventre? Poderia o receptáculo da Absoluta Graça corromper-se? Deus não o permitiu nem à Santa Casa de Nazaré, que por anjos foi levada a Loreto, em Itália!
    Ora, se a própria Igreja, apesar de alguns de seus membros (lembrar Judas Iscariotes!), é incorruptível (cf. Mt 16,18b; Ef 5,25b-27), como então não o seria o ventre de Maria Santíssima, do qual a humanidade deve renascer pelo Espírito Santo para ser Igreja? O Senhor revelou ao fariseu Nicodemos: "Respondeu Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-te: quem não renascer da Água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.'" Jo 3,5-6
    O próprio Jesus foi gerado assim, como o Evangelho Segundo São Mateus anotou: "Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois Aquele que nela foi concebido vem do Espírito Santo.'" Mt 1,20
    É o que diz Santa Isabel a Nossa Senhora, no Evangelho Segundo São Lucas: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o Fruto de teu ventre." Lc 1,42
    Dito que claramente se estende a nós, como São Paulo escreveu: "Aqueles que Ele (Deus) de antemão distinguiu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos." Rm 8,29


    Pois se, após sua morte, o corpo de Nossa Senhora realmente tivesse permanecido num sepulcro, tal fato e tal lugar jamais seriam ignorado pela considerável multidão de fiéis de então, e assim logo seriam divulgados, pois, desde as Bodas de Caná de Galileia, Maria sempre esteve presente na vida pública de Jesus, junto aos Apóstolos: "Depois disso, desceu para Cafarnaum, com Sua Mãe, Seus irmãos e Seus discípulos, e ali só demoraram poucos dias. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém." Jo 2,12-13
    E assim foi mesmo após a Ascensão de Jesus, nas atividades da nascente Igreja. Está no Livro de Atos dos Apóstolos: "Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente na oração, acompanhados das mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14
    Os Apóstolos, ademais, que já tinham a Ressurreição de Jesus como o grande trunfo para atestar o Advento do Messias, não precisavam 'inventar' mais esse grandioso episódio, o da Assunção de Maria. Seria um capítulo a mais, como se veria mais tarde, em oportuno tempo, a ser incorporado às revelações do Precioso Depósito, o que àqueles tempos certamente dificultaria o próprio anúncio da Encarnação de Cristo.
    Por outro lado, a inspiração do Espírito Santo foi especialmente decisiva para a definição desse Dogma pelo Papa, assim como foi para a sustentação de sua Tradição, mantida pelos membros da Igreja através dos séculos. Com efeito, Jesus havia prometido a Apóstolos, discípulos e seguidores que o Divino Paráclito instruiria a Santa Igreja Católica anunciando 'as coisas que virão': "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,13
    Da mesma forma, o papa, os cardeais, os bispos, os presbíteros e diáconos católicos são Ministros da Nova Aliança, movidos pelo Espírito de Deus, e como tais também eles não falam por si mesmos, mas em Nome de Deus, como Jesus disse do Paráclito: "... porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir." Idem
    Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, de fato, já havia atestado: "Não que sejamos por nós mesmos capazes de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. É Ele que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    E havia cravado: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    É, portanto, pela moção do Divino Espírito que temos a Igreja Viva, capaz de testemunhar as obras do Reino dos Céus conforme o ensinamento de Jesus: "O Espírito é que vivifica... As palavras que vos tenho dito são Espírito e Vida." Jo 6,63
    Por isso, atestando a importância da instituição eclesial, pessoalmente fundada pelo Salvador, a Carta de São Paulo aos Efésios diz: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível. Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,25-27.32
    Bem ao modo da Igreja Viva, por fim, e da constante presença do Espírito de Deus entre nós, sobre a Assunção de Maria temos a sobrenaturais revelações feitas à Santa Brígida, que viveu no século XIV. Nossa Senhora mesmo disse-lhe: "Depois, quando o curso de minha vida se cumpriu, Meu Filho primeiro elevou minha alma, por ter sido a dona do corpo, a um mais eminente lugar que os demais, perto da Glória de Sua divindade, e depois meu corpo, de forma que nenhum outro corpo de criatura esteja tão perto de Deus como o meu." (Livro I Capítulo IX)
    E lamentou: "Existem pessoas, entretanto, que maliciosamente negam que eu tenha sido assunta em corpo e alma, e existem outras que simplesmente não tem maior conhecimento. Mas a verdade disso é certa: fui elevada até a Gloria de Deus em corpo e alma!" (Idem)
    Assim como temos os extraordinários relatos da Beata Anna Catarina Emmerich, que em 2004 foi beatificada por São João Paulo II. Eles detalham os últimos anos da vida de Nossa Senhora na proximidades de Éfeso, em sudoeste de atual Turquia, onde com São João Evangelista se recolheu das perseguições dos judeus, ainda mais violentas após o apedrejamento de Santo Estevão (cf. At 8,1), e que Jesus havia profetizado: "Expulsá-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a Mim." Jo 16,2-3

    
    Em místicos termo, o Amado Discípulo cita essa retirada para Éfeso no Apocalipse. E também fala da cabeça da Serpente, que ela esmagaria. Aliás, fora a própria sentença de Deus no Livro de Gênesis sobre esse fato (cf. Gn 3,15), essa é única menção à cabeça da Serpente em toda Bíblia: "Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente." Ap 12,14
    O Livro do Profeta Isaías já previra essa revigorante dádiva de Deus, uma 'angelical' condição (cf. Êx 25,20), o alento que tornou humanamente suportáveis as 'espadas' que traspassaram a alma de Nossa Senhora da Dores: "Até os adolescentes podem esgotar-se, e robustos jovens podem cambalear, mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças, Ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar." Is 40,30-31
    Ora, nas visões que teve desde a infância, a Beata Anna Catarina Emmerich conta que a Santíssima Virgem havia memorizado a Via Sacra, que a repetiu inúmeras vezes ainda em Jerusalém, enquanto lá pôde viver, e, já em Éfeso, escolheu lugares parecidos em volta do campo onde morava. Aí, entre orações e lágrimas, Nossa Mãe Celeste diariamente repetia as 15 estações.
    Nossa Beata também viu, nesse mesmo lugar, os últimos dias da Imaculada Mãe, quando convocou todos Apóstolos para dizer-lhes suas últimas palavras e despedir-se. Também viu seus últimos instantes, o local onde ela foi sepultada, que ainda não foi encontrado, e o momento, imediatamente seguinte, em que ela foi elevada aos Céus diante dos olhos dos Apóstolos.
    As igrejas ortodoxa e anglicana também professam que Maria Santíssima foi elevada aos Céus.


    Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!