Foi um dos primeiros Apóstolos, só precedido por Santo André, São João, São Pedro e São Filipe, nessa ordem. E foi o Evangelho Segundo São João que narrou o encontro de São Bartolomeu, a quem chamava de Natanael, com Jesus, dois dias depois de Batismo do Senhor por São João Batista, nas águas do Jordão:
"No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-Se a Galileia. Encontra Filipe e diz-lhe:
- Segue-Me.
Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe encontra Natanael e diz-lhe:
- Achamos Aquele de Quem Moisés escreveu na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José.
Respondeu-lhe Natanael:
- Pode, porventura, vir boa coisa de Nazaré?
Filipe retrucou:
- Vem e vê.
Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz:
- Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.
Natanael pergunta-Lhe:
- De onde me conheces?
Respondeu Jesus:
- Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.
Falou-Lhe Natanael:
- Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.
Jesus replicou-lhe:
- Crês só porque te disse: 'Eu vi-te debaixo da figueira'? Verás coisas maiores que esta.
E ajuntou:
- Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem."
Jo 1,45-51
- Segue-Me.
Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe encontra Natanael e diz-lhe:
- Achamos Aquele de Quem Moisés escreveu na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José.
Respondeu-lhe Natanael:
- Pode, porventura, vir boa coisa de Nazaré?
Filipe retrucou:
- Vem e vê.
Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz:
- Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.
Natanael pergunta-Lhe:
- De onde me conheces?
Respondeu Jesus:
- Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.
Falou-Lhe Natanael:
- Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.
Jesus replicou-lhe:
- Crês só porque te disse: 'Eu vi-te debaixo da figueira'? Verás coisas maiores que esta.
E ajuntou:
- Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem."
Jo 1,45-51
Natanael (cf. Nm 2,5) é o nome hebraico equivalente a Bartolomeu, do grego, que é o usado nos Evangelhos sinóticos quando mencionam a relação dos Apóstolos. Muito provavelmente é a contração da expressão Bar Ptolomeu, ou seja, filho de Ptolomeu, usada em lugar do nome próprio pelos judeus. E Ptolomeu era nome comum entre os gregos, assim como André e Filipe, que também eram usados por judeus em Galileia, pois viviam sob forte influência helênica, como veremos.
E obedecendo a ordem de encontros registrada pelo Amado Discípulo, ele sempre está entre os primeiros, e também sempre logo após São Filipe (cf. Mc 3,18 e Lc 6,14). Ou seja, é invariavelmente o segundo, do segundo dos três grupos de quatro Apóstolos. O Evangelho Segundo São Mateus apontou: "Jesus reuniu Seus Doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os imundos espíritos e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,1-4
Só no Livro de Atos dos Apóstolos, São Lucas coloca São Tomé, seu mais destacado companheiro, a sua frente, na lista que antecede o dia do Pentecostes. Mas nosso Santo está, em todas listas, à frente do inquestionavelmente importante São Mateus, autor do primeiríssimo Evangelho, bem como à frente de São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes de Jesus, e por isso chamados de "irmãos do Senhor". Essa informação também é corroborada por na mesma passagem a seguir, na qual estes Apóstolos são citados em distinção dos ditos "irmãos d'Ele": "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam em oração, com as mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14
Como visto acima, após uma demonstração da clarividência de Nosso Senhor, São João Apóstolo apresenta-o como o primeiro a declará-Lo como o Filho de Deus, precedendo o próprio São Pedro (cf. Mt 16,16), mas é provável, tanto quanto a afirmação de São Filipe, já chamando Jesus de Messias ao convidar São Bartolomeu, que ele o tenha dito por espanto, sem uma perfeita consciência, uma forte convicção do que falava.
Ora, o próprio São João, ao relatar a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná, vai afirmar que só então os Apóstolos acreditaram em Jesus: "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná de Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11
Pois chamar Jesus de Filho de Deus, todos Apóstolos também irão fazê-lo antes da declaração de São Pedro, quando o Príncipe dos Apóstolos andou sobre as águas com o Senhor e o vento miraculosamente acalmou-se. E sabemos que da consciência de Sua condição de Filho de Deus para a de Deus Filho, ainda faltava amadurecer do conceito. O próprio São Mateus, que anotou a declaração de São Pedro, registrou: "Então aqueles que estavam na barca se prostraram diante d'Ele e disseram: 'Tu verdadeiramente és o Filho de Deus.'" Mt 14,33
E ainda no primeiro encontro, Jesus prometeu a São Bartolomeu muito mais que mera clarevidência: uma singular demonstração de que Ele é a própria manifestação de Deus na Terra, invocando a imagem da escada vista em sonho por Jacó, dado no lugar onde Abraão armou sua tenda e ergueu o primeiro altar (cf. Gn 12,7-8). Está no Livro de Gênesis: "E teve um sonho: via uma escada, que, apoiando-se na terra, com o cimo tocava o Céu, e anjos de Deus subiam e desciam pela escada. No alto estava o Senhor, que lhe dizia: 'Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac. A ti e a tua descendência darei a terra em que estás deitado. Estou contigo, para guardar-te onde quer que fores, e reconduzi-te-ei a esta terra. E não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi.' Jacó, despertando de seu sono, exclamou: 'Em Verdade, o Senhor está neste lugar e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a Casa de Deus. É aqui a Porta do Céu.'" Gn 28,12-13.15-17
Nessa mesma passagem, vemos que São Bartolomeu, como a maioria dos judeus à época, alimentava um declarado preconceito contra Galileia e qualquer de suas cidades, como Nazaré. Mesmo sendo ele mesmo galileu (cf. Jo 21,2)! Era, de fato, muito pobre lugar, depois de Samaria para quem parte de Jerusalém, também habitado por sírios e gregos, e de maioria pagã. Por isso, era pejorativamente conhecida como 'Galileia das nações', como vemos desde o Livro do Profeta Isaías: "No passado, Ele (Deus) humilhou a terra de Zabulon e de Neftali, mas no futuro cobrirá de honras o Caminho do Mar, a Transjordânia e o distrito das nações. O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz, sobre aqueles que habitavam uma tenebrosa região resplandeceu uma Luz. Porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado. A soberania repousa sobre Seus ombros, e Ele chama-Se: Admirável Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz." Is 8,23b;9,1.5
Nessa mesma passagem, vemos que São Bartolomeu, como a maioria dos judeus à época, alimentava um declarado preconceito contra Galileia e qualquer de suas cidades, como Nazaré. Mesmo sendo ele mesmo galileu (cf. Jo 21,2)! Era, de fato, muito pobre lugar, depois de Samaria para quem parte de Jerusalém, também habitado por sírios e gregos, e de maioria pagã. Por isso, era pejorativamente conhecida como 'Galileia das nações', como vemos desde o Livro do Profeta Isaías: "No passado, Ele (Deus) humilhou a terra de Zabulon e de Neftali, mas no futuro cobrirá de honras o Caminho do Mar, a Transjordânia e o distrito das nações. O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz, sobre aqueles que habitavam uma tenebrosa região resplandeceu uma Luz. Porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado. A soberania repousa sobre Seus ombros, e Ele chama-Se: Admirável Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz." Is 8,23b;9,1.5
E por sua importância, por ser a terra onde o Messias viveria, São Mateus invocou essa citação, reproduzindo esse conceito ela que tinha: "A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, Galileia das nações, este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande Luz, e surgiu uma aurora para os que jaziam na sombria região da morte (Is 8,23; 9,1)." Mt 4,15-16
Mas foram exatamente esses motivos pelos quais Deus enviou Seu Filho para lá. Como o Evangelho Segundo São Lucas registrou, o Messias, apresentando-Se como alguém de uma pobre gente e de 'corrompidos' costumes, era certamente um "... sinal de contradição...' Lc 2,34b
Ademais, aí temos outro sinal: Deus sempre esteve e vai estar junto aos mais pobres. E além de lugar escolhido por Nossa Senhora, para a Sagrada Família era ideal refúgio de uma provável perseguição dos filhos de Herodes (cf. Mt 2,22), que seriam seus sucessores, pois ele mesmo já havia tentado matar Jesus no episódio conhecido como o Martírio dos Inocentes de Belém (cf. Mt 2,16).
O preconceito de São Bartolomeu, porém, não o impediu de chamar Jesus de Salvador, ainda que ele o tenha feito de um ímpeto.
O preconceito de São Bartolomeu, porém, não o impediu de chamar Jesus de Salvador, ainda que ele o tenha feito de um ímpeto.
São João Evangelista também teve o cuidado de identificar o local de nascimento deste Santo, o que explica seu conhecimento, e preconceito, para com Nazaré. É na cena da segunda pesca miraculosa, que aconteceu depois da Ressurreição de Jesus: "Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná de Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois de Seus discípulos." Jo 21,2
Tal registro reflete a distinção com que São Bartolomeu era tratado, e como São João o conhecia e estimava. Foi feito por ocasião da solene investidura do Pontificado de São Pedro, quando Jesus confiou ao Príncipe dos Apóstolos, de cordeiros a ovelhas, ou seja, de Sacerdotes a fiéis, todo Seu rebanho. Portanto, junto aos bem letrados filhos do sacerdote Zebedeu, sempre íntimos de Jesus (cf. Mt 5,37;17,1 e Mc 14,33), e ao inteligente e especulativo São Tomé, São Bartolomeu foi privilegiada testemunha, digna da importância deste fato:
"Disse-lhes Simão Pedro:
- Vou pescar.
Responderam-lhe eles:
- Nós também vamos contigo.
Partiram e entraram na barca.
Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Esta já era a terceira vez que Jesus Se manifestava a Seus discípulos, depois de ter ressuscitado.
Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
- Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?
Respondeu ele:
- Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
Disse-lhe Jesus:
- Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas."
Respondeu ele:
- Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
Disse-lhe Jesus:
- Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas."
Jo 20,3a.4a.14-15.17b
Leitor e observador das Sagradas Escrituras, São Bartolomeu era contemplativo, e seguia São João Batista antes do início da vida pública de Nosso Senhor, como mostra a passagem do Evangelho que vimos: estava em retiro espiritual na área de atuação do Batista, sentado debaixo de uma figueira às margens do Jordão. E já havia conquistado a companhia e o coração de São Filipe, que também era estudioso e contemplativo, além de exigente e pragmático judeu (cf. Jo 6,5). Por fim, o melhor testemunho sobre nosso Santo é do próprio Jesus, citado acima, que nele viu um "... verdadeiro israelita, no qual não há falsidade." Jo 1,47
Leitor e observador das Sagradas Escrituras, São Bartolomeu era contemplativo, e seguia São João Batista antes do início da vida pública de Nosso Senhor, como mostra a passagem do Evangelho que vimos: estava em retiro espiritual na área de atuação do Batista, sentado debaixo de uma figueira às margens do Jordão. E já havia conquistado a companhia e o coração de São Filipe, que também era estudioso e contemplativo, além de exigente e pragmático judeu (cf. Jo 6,5). Por fim, o melhor testemunho sobre nosso Santo é do próprio Jesus, citado acima, que nele viu um "... verdadeiro israelita, no qual não há falsidade." Jo 1,47
A Sagrada Tradição conta que São Bartolomeu, com a virtude da fortaleza que é dada pelo Espírito Santo (cf. 1 Cor 12,11), foi pregar o Evangelho em Índia, um lugar religiosamente caótico, de muitas seitas, idolatrias e primitivismo. Também esteve em Armênia, possivelmente na companhia do Apóstolo São Judas Tadeu, parente próximo de Jesus, onde conseguiu converter o rei, a família real e muitos nobres. Contudo, tendo despertado a inveja dos sacerdotes pagãos, foi cruelmente martirizado: mandaram que o amarrassem, e com alfanges arrancaram sua pele para sangrar até a morte.
No lugar de seu esfolamento, na província de Vaspuracânia, em Armênia, hoje terras da fronteira leste de Turquia, próximo à cidade de Bascale, foi construído um mosteiro em sua homenagem na segunda metade do século II, mas foi confiscado pelo exército turco na Primeira Guerra Mundial durante o renegado Genocídio Armênio e encontra-se em ruínas. Há acusação de que teria sido explodido pelos militares.
Além do destemor, outro grande exemplo deixado por São Bartolomeu foi o sincero, simples e discreto modo com que serviu a Jesus. Estava sempre presente, mas sem se arrogar posição ou tomar a palavra. Não bastaria ver e ouvir o Mestre? Ora, Ele mesmo iria dizer aos Apóstolos: "Mas, quanto a vós, bem-aventurados vossos olhos, porque vêem! Ditosos vossos ouvidos, porque ouvem! Em Verdade, Eu declaro-vos: muitos Profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram, ouvir o que vós ouvis e não ouviram." Mt 13,16-17
Sua capacidade para perceber a Verdade e sua honestidade intelectual eram tão grandes, como o próprio Jesus afirmara, que tudo testemunhava em total recolhimento, falando apenas o estritamente necessário. A modo de Nossa Senhora, sempre guardando profundo silêncio, plenamente satisfazia-se com a divina presença do Mestre e com Sua Palavra. E, de tão "verdadeiro israelita", para saber o que pensava, bastava olhar-lhe nos olhos ou em sua expressão.
Por obra de piedade de cristãos que ele ajudou a converter, suas relíquias foram muito bem guardadas, e mais tarde levadas a Roma, onde foram sepultadas e sobre elas ergueram uma basílica, que, por óbvio, leva seu nome. A bacia usada para até lá transportar seus restos mortais ainda é preservada.
Por obra de piedade de cristãos que ele ajudou a converter, suas relíquias foram muito bem guardadas, e mais tarde levadas a Roma, onde foram sepultadas e sobre elas ergueram uma basílica, que, por óbvio, leva seu nome. A bacia usada para até lá transportar seus restos mortais ainda é preservada.
São Bartolomeu é o Padroeiro dos portadores de doença de pele.
Seu crânio é venerado, entre outras relíquias, na Capela dal Pozzo, no Camposanto Monumentale, cemitério e monumento, ao lado da Catedral da Assunção de Nossa Senhora, na cidade italiana de Pisa.
Seu crânio é venerado, entre outras relíquias, na Capela dal Pozzo, no Camposanto Monumentale, cemitério e monumento, ao lado da Catedral da Assunção de Nossa Senhora, na cidade italiana de Pisa.