domingo, 13 de agosto de 2023

Santo Hipólito


    Por seu exaltado amor à Sã Doutrina, teve uma vida bastante conturbada: maior teólogo do século III, frequentemente entrava em conflito com os próprios cristãos, e chegou a ser aclamado Papa por um grupo de dissidentes na Igreja. Foi o primeiro antipapa, portanto, mas iria reconhecer seus erros e morreu como Santo.
    Teria nascido em Roma, em 170. Teólogo de reconhecidas erudição e eloquência, foi seguidor de Santo Irineu e de São Policarpo, e influenciou profundamente Orígenes, que ouviu suas aclamadas pregações e cuidou de registrar as memoráveis. Santo Hipólito escreveu obras ainda hoje lidas, como 'Teorias Filosóficas', o 'Livro de Daniel' e, a mais importante, por retratar os primeiros anos da Igreja, 'A Tradição Apostólica'. Nela vemos registros dos primeiros ritos da Igreja sob o bispado de São Pedro.
    Era presbítero em Roma durante o papado de Zeferino, entre 199 e 217, e rebelou-se contra ele, acusando-o injustamente de modalismo, uma heresia que considerava Deus e Jesus a mesma Pessoa, apenas teriam diferentes nomes. Não pôde, porém, sustentar essa acusação, pois na verdade o Papa Zeferino defendia com maestria o entendimento que levaria à compreensão da Santíssima Trindade, sustentando que Deus é simultaneamente Pai, Filho e Espírito Santo, mas em 3 diferentes Pessoas.
    Em suas críticas, Santo Hipólito achava que Zeferino não possuía conhecimento suficiente para ser Papa, e que seria manipulado por Calisto, seu diácono. Contudo, por seus agressivos pronunciamentos, ele afetava cada vez mais a autoridade papal e a Unidade da Igreja, ainda que cuidasse estar apenas defendendo a Doutrina e a Disciplina.
    Impulsivo e temperamental, chegou ao extremo de romper declaradamente com o papado quando São Calisto I foi aclamado sucessor de Zeferino, em 217, e estendeu a absolvição também em casos de arrependimento por reincidência em graves pecados, como adultério, homicídio e apostasia. Demasiadamente rigoroso, Santo Hipólito achava um escândalo que o perdão fosse concedido mais de uma vez nesses casos. Em tempos que a Igreja ainda não exigia o celibato, ele condenava São Calisto também por admitir como Sacerdote homens que tivessem sido casados 2 ou 3 vezes, e reconhecer o casamento entre escravos e mulheres livres, que as leis civis romanas proibiam.


    Como era muito admirado por seus conhecimentos, seus seguidores aclamaram-no Bispo de Ostia, uma cidade costeira próxima a Roma, e em seguida, em paralelo à eleição de São Calisto I, para o papado, o que causou divisão tanto entre Sacerdotes como entre os fiéis da região. A maior parte do clero, entretanto, não cedeu às suas contestações, e continuou fiel a São Calisto I.
    O 'Cisma de Santo Hipólito' durou quase 20 anos, pois ele ainda fez oposição aos Papas Urbano, que liderou a Igreja de 222 a 230, e São Ponciano, de 230 a 235. Alexandro Severo, imperador até então, era condescendente com todas religiões e preferiu não interferir. Mas quando Maximino Trácio assumiu, iniciou-se um novo período de perseguições aos cristãos, e Santo Hipólito e São Ponciano foram condenados a trabalhos forçados numa mina de pedra na ilha da Sardenha, a oeste da península itálica.
    O gesto que teria convertido Santo Hipólito foi a humildade com que São Ponciano renunciou ao papado, para que a Igreja não ficasse sem o Sumo Pontífice, a ponte entre os Céus e a terra. O primeiro Papa deportado, portanto, também foi o primeiro a usar o extremo recurso da renúncia, pensando sempre e exclusivamente no bem da Igreja. Santo Hipólito, profundamente tocado em seu ríspido e intolerante coração, pediu perdão a São Ponciano que, além não lhe ter raiva, rezava com frequência pela conversão de sua alma, e assim deu-lhe o Sacramento da Reconciliação com Deus.


    Expostos a intensos maus tratos, açoites e até torturas, Santo Hipólito veio a falecer, e pouco depois também São Ponciano, ainda no mesmo ano em que foram exilados, 235. Após a permissão para a prática do Catolicismo em todo Império Romano, no dia 13 de agosto de 354 seus restos mortais foram transportados juntos para Roma, onde tiveram recepção com a devida solenidade, pois os cristãos cultuavam suas memórias.
    Santo Hipólito foi enterrado na Via Tiburtina e São Ponciano nas Catacumbas chamadas de São Calisto, que na verdade haviam sido criadas pelo Papa Zeferino, para dar digno destino e local de veneração aos restos mortais dos Santos e Papas durante os períodos de perseguição romana. Aí também está a Cripta dos Papas, a mais importante área das Catacumbas de São Calisto, também chamada de 'O Pequeno Vaticano', à qual São Damásio mandou afixar uma lápide. Tão bem preservado segredo, ela só foi redescoberta em 1854.


    Santo Hipólito, rogai por nós!