domingo, 30 de novembro de 2025

Santo André Apóstolo


    O irmão de São Pedro é o 'protocletos', que em grego significa 'primeiro convocado', pois nominalmente foi o primeiro chamado por Jesus, como o Evangelho Segundo São João atesta. Religioso e sensível, já era discípulo de São João Batista quando Nosso Senhor Se apresentou para ser batizado, e foi convocado logo depois: "No seguinte dia, lá estava João outra vez com dois de seus discípulos. E ao avistar Jesus, que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus.' Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-Se Jesus, e vendo que O seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?' Disseram-Lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?' 'Vinde e vede', respondeu-lhes Ele. Foram aonde Ele morava e com Ele ficaram aquele dia. Era cerca da décima hora (4 da tarde). André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que O tinham seguido." Jo 1,35-40
    Entre os Apóstolos (cf. Lc 6,13), também é o primeiro a afirmar e a anunciar Jesus como o Messias, além de convocar um novo discípulo, o próprio São Pedro. São João Evangelista, em sequência, igualmente narrou esse episódio: "Logo foi ele, então, à procura de seu irmão e disse-lhe: 'Achamos o Messias (que quer dizer Cristo).' Levou-o a Jesus, e Jesus, nele fixando o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)!'" Jo 1,41-42
    Por essa frase, vemos que Jesus já conhecia São Pedro e seu pai, logo também de Santo André, e que deu o novo nome de São Pedro desde o primeiro encontro, mostrando que a narrativa de São Mateus (cf. Mt 16,18) é uma reafirmação que Ele fez desse seu nome de ofício. Quanto a Sua Onisciência, Ele vai dar outra mostra no dia seguinte, ao encontrar São Bartolomeu. Aliás, mais propriamente uma clarevidência, pois do caminho em que iam, voltando a Galileia, não se podia ver onde este outro Apóstolo estava: "Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz: 'Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.' Natanael pergunta-Lhe: 'De onde me conheces?' Respondeu Jesus: 'Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.' Falou-Lhe Natanael: 'Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.'" Jo 1,47,49
    Santo André e São Pedro, como São Filipe Apóstolo, eram de Betsaida, nome que significa 'casa da pesca', cidade próxima a Cafarnaum e um pouco afastada do Mar de Galileia: "Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro." Jo 1,44
    Sabemos que, junto ao mais velho irmão, Santo André fazia parte de uma colônia de pescadores, mas, após Se retirar para o deserto por 40 dias, Nosso Senhor retornou e convidou-os para que pescassem almas, no texto do Evangelho Segundo São Mateus: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo!' Caminhando ao longo do mar de Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: 'Vinde após Mim, e fá-vos-ei pescadores de homens.' Na mesma hora, abandonaram suas redes e seguiram-nO." Mt 4,17-20
    Dessa cooperativa de pesca de Cafarnaum também faziam parte São Tiago Maior e São João Evangelista, como o Evangelho Segundo São Lucas aponta: "Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão..." Lc 5,10a
    Aliás, o Amado Médico havia mais preciso pouco antes, usando o termo "sócios" (Lc 5,7).
    Santo André era solteiro e morava com São Pedro, cuja casa foi dote de casamento, pois nela vivia com a sogra, conforme o Evangelho Segundo São Marcos: "Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-Se a ensinar. Assim que saíram da sinagoga, dirigiu-Se com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e sem tardar Lhe falaram a seu respeito. Aproximando-Se Ele, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre imediatamente deixou-a, e ela pôs-se a servi-los." Mc 1,21.29-31
    Mas São Lucas, que era médico (cf. Cl 4,14), deu outro 'diagnóstico' para esta febre: "Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram-lhe por ela. Inclinando-Se sobre ela, ordenou Ele à febre, e a febre deixou-a. Ela imediatamente levantou-se e pôs-se a servi-Los." Lc 4,38-39
    Na lista dos Apóstolos, Santo André é o segundo nos Evangelhos Segundo São Mateus (cf. Mt 10,2) e Segundo São Lucas, atrás apenas do próprio irmão, o Príncipe dos Apóstolos (cf. Mt 16,19): "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,12-16
    Ou o quarto no Evangelho Segundo de São Marcos e no Livro de Atos dos Apóstolos (cf. At 1,13), dando os devidos lugares a São Tiago Maior e São João, que com São Pedro eram os três mais íntimos de Jesus (cf. Mc 5,37). Ou seja, nosso Santo sempre está entre os quatro, do primeiro dos três grupos de quatro Apóstolos: "Designou Doze, dentre eles, para ficar em Sua companhia. Ele enviá-los-ia a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes Doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele também escolheu André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelote; e Judas Iscariotes, que O entregaria." Mc 2,14-19
    No dia em que multiplicou pães e peixes, Jesus provocou São Filipe, mas foi Santo André quem Lhe dispôs do que os Apóstolos tinham para que o milagre da 'partilha' acontecesse: "Jesus subiu a um monte e ali Se sentou com Seus discípulos. Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus. Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão, que vinha ter com Ele, e disse a Filipe: 'Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?' Um de Seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe: 'Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto para tanta gente?'" Jo 6,3-9
    E é através de Santo André que São Filipe leva um importantíssimo recado a Jesus, sinal de que Sua Paixão se aproximava, porque Seu Nome já havia chegado a distantes nações e Sua Missão, enquanto Ser Humano, era limitada aos judeus (cf. Mt 15,24): "Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe (aquele de Betsaida de Galileia) e rogaram-lhe: 'Senhor, quiséramos ver Jesus.' Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe disseram-no ao Senhor. Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só. Se morrer, produz muito fruto.'" Jo 12,20-24
    Por essa passagem e pela seguinte, vemos que vez e outra Santo André se somava aos mais íntimos Apóstolos de Nosso Senhor: "Saindo Jesus do Templo, disse-Lhe um de Seus discípulos: 'Mestre, olha que pedras e que construções!' Jesus replicou-lhe: 'Vês este grande edifício? Não se deixará pedra sobre pedra. Tudo será demolido.' E estando sentado no Monte das Oliveiras, defronte ao Templo, perguntaram-Lhe à parte Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por qual sinal se saberá que tudo isso vai realizar-se?' Jesus pôs-Se, então, a dizer-lhes: 'Cuidai que ninguém vos engane. A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do Céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.'" Mc 13,1-7.32
    No Livro de Atos dos Apóstolos, enfim, Santo André só é mencionado, como a maioria deles, na lista dos Onze, nos dias que antecede ao Pentecostes, o que explica sua intensa atividade fora de Jerusalém desde os primeiros anos da Santa Igreja Católica, como a Sagrada Tradição ensina: "Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam na oração, e com eles as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele. Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar." At 1,13-14;2,1
    Segundo Santo Hipólito, que nasceu no ano de 170 e foi o maior teólogo do século II, após a Ascensão do Senhor, Santo André pregou em Trácia, pouco antes de tornar-se província romana, e hoje região do nordeste de Grécia, sul de Bulgária e a parte europeia de Turquia. O apócrifo livro 'Atos de André' aponta-o como o fundador da igreja na importante cidade de Bizâncio, que no século IV iria ser chamada de Constantinopla, e, no século XX, Istambul. Este fato teria acontecido no remoto ano de 38, poucos anos, portanto, após a Paixão de Cristo. Estácio, reconhecido como um dos 72 discípulos que o Senhor enviou (cf. Lc 10,1), teria sido ordenado bispo por ele, e substituiu-o após sua nova partida em peregrinação. Sinal da veracidade destas informações, ainda hoje ele é tratado como o Padroeiro de Istambul, a mais importante cidade da Turquia e ponto de conexão de Ásia com Europa.
    Baseando-se no registros de Orígenes, que viveu entre 185 e 253 e era herético, Eusébio de Cesareia, o Pai da História da Igreja, que viveu de 265 a 339, diz que Santo André pregou em Ásia Menor, atual Turquia, especificamente na região de Cítia, que fica na costa do Mar Negro. Ele peregrinou por algumas cidades ao longo do Rio Volga, e por isso é também o Padroeiro de Rússia, além de ter evangelizado Kiev, atual capital de Ucrânia. É igualmente Padroeiro de Romênia, onde com mesmo empenho exerceu seu apostolado. Parece ter tomado todo entorno do Mar Negro como área de atuação.
    De volta a Grécia, radicou-se em Patras, na região de Acaia, terras do sul e sudeste, onde fundou a igreja local, que viria a ser modelo para todas demais. Por sua incendiária fama, pois realizava milagres e convertia a muitos (cf. Mc 16,20), o governador e juiz romano Egeas quis impor-lhe sua autoridade, mas nosso Apóstolo recusou-a e recomendou-lhe que ele é deveria submeter-se à autoridade de Cristo. E como mensageiro da Verdade, ainda lhe revelou que, pela patente impostura de muitos sacerdotes locais e pelos maus costumes do povo, os deuses pagãos haviam-se tornado anteparos de demônios, os quais a todos seduziam, enganavam e molestavam.
    Informados desta denúncia, e enfurecidos, os principais sacerdotes pagãos passaram a assediar Egeas, e por falsos testemunhos conseguiram que ele ordenasse a crucificação de Santo André. Todos ficaram espantados, porém, quando ele, com insuspeita alegria, recebeu sua condenação. Numa atitude que vai lembrar a do próprio São Pedro, pois foi executado antes dele, Santo André apenas lhe pediu que fosse crucificado numa cruz diferente da de Jesus, porque não era digno de morrer como Seu Mestre.


    Durante dois dias ficou dependurado numa cruz em forma de X, e por não ser assistidos por nenhum cristão, porque todos foram ameaçados de morte, indicou onde estavam e doou seus pertences aos carrascos, que estavam visivelmente constrangidos em cumprir aquela ordem. Agia sob inspiração, pois eles viriam a converter-se e seus parcos bens, a maior parte deles sagrados e litúrgicos objetos, usados para celebrar a Santa Eucaristia, seriam devolvidos à igreja local, que sobreviveria na clandestinidade.
    Assim sua santidade, como seu especial carisma, de expressiva amabilidade, foram amplamente reconhecidos. Seu testemunho pelo sacrifício, de fato, foi marcante: não demonstrou vacilação alguma quanto à vontade de Deus ou à Vida Eterna.
    Seus restos mortais ficaram em Patras até o ano de 357, quando Constantino os levou a Constantinopla, o que é mais um indício de que ele realmente fundou a igreja de lá. Mas no período da Quarta Cruzada, início do século XII, os cruzados trataram de levá-los a Roma, por conta das recorrentes profanações dos invasores turcos, seguidores do islamismo.
    Conforme a Sagrada Tradição, ao serem levadas a Europa, suas relíquias primeiro estiveram em terras hoje de Escócia, de onde saíram os cruzados, e aí ainda ficaram por bom tempo antes de serem levadas a Roma, numa cidade que passou a levar seu nome, Saint Andrews. Fato que revigorou o Catolicismo entre o povo, ele tornou-se o Padroeiro da nação, cuja bandeira traz sua cruz.


    Em 1801, com a união entre Inglaterra, Escócia e Irlanda, a bandeira do Reino Unido combinou-a com a cruz de São Jorge, da bandeira inglesa, e a cruz de São Patrício, que representava todos irlandeses.


    Ainda durante as cruzadas, fragmentos dos ossos de seu pé foram levados a Donetsk, capital de uma região hoje de Ucrânia, que está sob invasão de um anticristo.


    Em 1964, o grande mariano Papa São Paulo VI devolveu suas relíquias a Patras, quando já eram apenas os ossos de um dedo, parte do crânio e pedaços de sua cruz.


    Seu crânio, em peregrinação pela comuna de Amalfi, da província de Salerno, sudoeste de Itália, foi venerado pelo saudoso Papa Bento XVI, ainda enquanto Sumo Pontífice.


    Santo André, rogai por nós!