O termo Advento, que significa a 'vinda' do Senhor, é um período do Calendário Litúrgico que se dedica à preparação da Epifania do Senhor, ou seja, da manifestação de Deus em Pessoa.
Oficialmente, esse período foi adotado em 380 no Sínodo de Saragoza, Espanha, e previa um período de apenas três semanas antes do Natal do Senhor, data em que também se comemorava a Epifania. No final do século V, porém, o Papa São Gelásio, percebendo a importância de instituir essa celebração, pronunciou-se sobre ela no sacramentário que ficou conhecido como o Decretum Gelasianum, o segundo mais antigo livro de liturgia da Igreja.
Mas, mesmo antes do Sínodo de Saragoza, extra-oficialmente Bispos e Sacerdotes da França e da Espanha já praticavam a espera do Nascimento de Jesus nos mesmos modos da Quaresma, ou seja, por período de seis semanas e como tempo de abstinência, jejuns e penitências.
No século VII, incluiu-se à essa celebração a espera da Definitiva Vinda de Jesus, a Parusia, que em grego quer dizer 'Presença', e só ocorrerá no fim dos tempos, pouco antes da restauração do Universo e da Ressurreição da carne. Assim, mais uma vez o período da celebração foi alterado, passando a ser de cinco semanas.
Assim as duas primeiras semanas devem ser dedicadas à contrição, como preparação para a Definitiva Volta de Jesus, enquanto as duas últimas são consagradas à devota e piedosa alegria por Sua primeira passagem entre nós, quando da Encarnação do Cristo.
O Advento, portanto, é um período de recolhimento e sincera conversão, como pregava São João Batista: "Dai, pois, frutos de verdadeira penitência." Mt 3,8
Mas também é o propício período a reviver a espera e a chegada do Salvador, que com grandes sinais confirmou a instauração do Reino dos Céus. Com efeito, Jesus vai dizer aos fariseus, Seus ferrenhos opositores: "Mas se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então para vós chegou o Reino de Deus." Mt 12,28
São João Evangelista também ouviu um anjo gritar, com a chegada de Jesus aos Céus, logo após Sua Ascensão: "Eu ouvi no Céu uma forte voz que dizia: 'Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia-e-noite os acusava diante do Nosso Deus.'" Ap 12,10
Tais sinais atestam que os tempos de uma meramente carnal vida já se haviam cumprido, como São Paulo demarcou: "Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho..." Gl 4,4
E completa: "Por isso, daqui em diante a ninguém nós conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo!" 2 Cor 5,16-17
Nesse sentido, pregou São Tiago Menor: "Todas espécies de feras selvagens, de aves, de répteis e de peixes do mar domam-se e têm sido domadas pela espécie humana. A língua, porém, nenhum homem pode domá-la. É um irrequieto mal, cheia de mortífero veneno. Com ela bendizemos o Senhor, Nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim. Porventura lança uma fonte, por uma mesma bica, doce e amargosa água? Acaso, meus irmãos, pode a figueira dar azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo, a salobra fonte não pode dar doce água. Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, com um bom proceder, suas obras perpassadas de doçura e de Sabedoria. Mas se no coração tendes um amargo ciúme e gosto por contendas, não vos glorieis nem mintais contra a Verdade. Esta não é a Sabedoria que vem do alto, mas terrena, humana, diabólica. Onde houver ciúme e contenda, ali também há perturbação e toda espécie de vícios. A Sabedoria que vem de cima, porém, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de Misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na Paz, para aqueles que praticam a Paz." Tg 3,7-18
São Paulo assim fala da nova criatura: "Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, Vossa Vida, aparecer, então vós também aparecereis com Ele na Glória. Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Outrora também vós assim vivíeis, mergulhados como estáveis nesses vícios. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, torpes palavras de vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,1-10
E diz da missão da Igreja: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos n'Aquele que é a Cabeça, Cristo." Ef 4,11-15
Sem dúvida, assim é a exortação do próprio Jesus, na qual se encerra o objetivo de Sua Missão: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48
É, pois, na primeira semana do Advento, véspera do quarto domingo que antecede o Nascimento de Jesus, que se monta o presépio, uma criação de São Francisco de Assis para nossa mais profunda contemplação, e a árvore de Natal.
"Vosso Filho permaneça entre nós!"