Um dos mais venerados do Catolicismo, também está entre os 14 Santos auxiliares, aqueles que com extrema eficácia intercedem contra específicas doenças, e por isso é um dos grandes benfeitores dos pobres e desamparados.
Nasceu em 275 na Capadócia, região da atual Turquia, terra que poucas décadas depois nos daria São Gregório Nazianzeno e os irmãos São Basílio Magno e São Gregório de Nissa, os três chamados Padres Capadócios, de tão importantes que para a Igreja são suas colaborações na compreensão das divinas revelações.
São Jorge ainda era criança quando perdeu seu pai numa batalha, pois era oficial do exército romano, e sua mãe teve que voltar para Lida, sua cidade natal, atualmente Lod em terras de Israel, onde São Pedro curou Eneias e acabou convertendo toda gente da região: "Pedro, que caminhava por toda parte, de cidade em cidade, também desceu aos fiéis que habitavam em Lida. Ali achou um homem chamado Eneias, que havia oito anos jazia paralítico num leito. Disse-lhe Pedro: 'Eneias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e faze tua cama.' Ele imediatamente levantou-se. Viram-no curado todos que habitavam em Lida e na planície de Saron, e converteram-se ao Senhor." At 9,32-35
De rica família, a mãe de nosso Santo educou-o com os melhores mestres. Mas já na adolescência, movido por recordações, quis entrar para o exército romano. Acolhido por oficiais que haviam conhecido seu pai, fez carreira militar e aos 23 anos foi nomeado conde da Capadócia, indo morar em Nicomédia, cidade da corte imperial, próxima a Constantinopla, onde ocupou o cargo de Tribuno Militar.
Por esses tempos, porém, sua mãe veio a falecer e sua vida tomou outro rumo. A fé em Cristo, que até então secretamente vivia, irrompeu em seu coração. A solidão, as lembranças de sua mãe e de seu pai, e as perseguições que sofriam os cristãos de seu tempo precisaram de verdadeiras práticas espirituais para que se tornassem suportáveis. Distribuiu toda sua herança com os pobres e começou a prestar serviços de Sacerdote a toda gente.
Mas não abriu mão nem da função militar nem de suas influentes relações na corte, pois acreditava que o tratamento dado à Igreja logo mudaria, tamanha era a adesão de todo povo do Império Romano ao Evangelho naqueles tempos.
Vivia o celibato e, de tão puro, pelos cristãos era visto como um anjo. E tal qual o Arcanjo São Miguel, como se vê em suas imagens, tomou como missão lutar e derrotar Satanás, à época representado por Roma, que perseguia a Igreja, ou seja, os filhos de Nossa Senhora, como São João Evangelista bem descreveu: "O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino. A terra, porém, acudiu à Mulher, abrindo a boca para engolir o rio que o Dragão vomitara. Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os Mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus." Ap 12,13.16-17
De fato, esse 'monstro' crescia diante dele e dos fiéis, que apesar de numerosos eram obrigados a viver a fé na clandestinidade. Em 303, quando São Jorge tinha 28 anos, Diocleciano iria publicar o 'Édito contra os cristãos', dando início a mais cruel e sangrenta perseguição. Por ódio e malícia de alguns generais, entretanto, suas ordens começaram a ser aplicadas no dia anterior ao Édito, e exatamente na igreja recém-construída por nosso Santo em Nicomédia, com instruções para destruí-la, queimar as Escrituras e confiscar seus bens e de todos que a frequentassem. E assim nesta região começou uma matança que só no período de Diocleciano e Maximiniano, seu co-imperador, chegaria a 20 mil seguidores de Cristo.
A intenção do imperador era mesmo dar um golpe mortal no cristianismo, tomando para si propriedades e extinguindo todo clero. Os cristãos investidos de cargos públicos no império deveriam ser imediatamente depostos e obrigados a prestar culto aos deuses pagãos. Mas, talvez porque Diocleciano já estivesse arrependido do brutal assassinato de São Jorge, que se deu dias antes pelas mãos de soldados romanos, foi anunciado que o Édito deveria ser cumprido 'sem derramamento de sangue'. Os juízes que tinham poderes para fazer cumprir o que estava escrito, no entanto, não conseguiam mais conter os ensandecidos praticantes do paganismo. E para agravar a situação, Galério, um dos césares de então, publicamente recomendava a morte na fogueira a quem resistisse, o que, pelo amor que os fieis tinham a Cristo, acabou tornando-se corriqueira execução.
O segundo Édito, do mesmo ano, dava ordens para imediata prisão de bispos, sacerdotes, diáconos e leitores. E tantos clérigos cristãos já enchiam as prisões que os juízes tiveram que libertar os presos comuns. No fim do mesmo ano, porém, Diocleciano, que não tinha como sustentar tal situação, anistiou a todos com um terceiro Édito, sob condição de que os clérigos oferecessem sacrifícios aos deuses. Juízes e guardas, então, que deveriam soltá-los, começaram a torturá-los para que aceitassem a proposta, o que veio a ser mais um espetáculo de barbárie, porque os fieis simplesmente se recusavam.
Vendo-se sem sucesso, no quarto Édito, em 304, Diocleciano tentou vencer o cristianismo de outro modo: obrigou todo povo do império, homens, mulheres e crianças, a prestar culto público aos deuses pagãos, fazendo-lhes ofertas de sacrifícios. Quem se recusasse, deveria ser sumariamente executado. E mais uma vez viu-se um banho de sangue. Multidões de cristãos foram martirizados por toda parte.
Como fiel seguidor de Cristo, e exemplo para todos esses mártires, São Jorge, dias antes da publicação do primeiro Édito, havia-se levantado na reunião do senado imperial, que aprovaria tais medidas, e dito que aquela não era a solução. Ao contrário, os romanos é que deveriam converter-se para a Salvação de suas almas. Todos ficaram perplexos: ali, em pleno senado, um membro da corte romana declarava-se cristão! Um dos cônsules, visivelmente indignado, perguntou-lhe qual a razão de tamanha ousadia, e ele apenas respondeu: "A Verdade. Cristo é a Verdade."
Como a proposta deste Édito de Diocleciano já estava previamente aceita, e aquela assembleia era mera formalidade, São Jorge foi retirado do ambiente e torturado para que publicamente renegasse o Catolicismo. Levado algumas vezes ao imperador, após muitas seções de vários tipos de tortura, ele bravamente resistia dizendo que jamais prestaria sacrifício aos deuses. Quem assistiu seus suplícios, dores absolutamente insuportáveis, sabia que ele só podia estar vivo por milagre. Muitos deles, vendo tanta fé em seu iluminado semblante, terminariam por converterem-se, como aconteceu com a própria esposa de Diocleciano.
Assombrado e nervoso, vendo que nada conseguiria através das flagelações, esbravejando mandou que São Jorge fosse decapitado. Assim nascia uma das maiores devoções religiosas de todo mundo. É o Santo padroeiro dos soldados, dos cavaleiros, dos fazendeiros e agricultores. Em sua homenagem, uma igreja foi construída em Efraim, próspera cidade próximo a Lida, mas em 614 foi destruída por muçulmanos de origem persa.
Seus restos mortais, porém, já haviam sido levados para Lida, onde poucas décadas depois de sua morte, Constantino, filho de Santa Helena, o primeiro imperador a converter-se ao cristianismo, mandou construir-lhes uma igreja.
São Jorge, rogai por nós!