segunda-feira, 15 de abril de 2024

Cristo, o Templo de Jerusalém e a Igreja


    A relação entre o Cristo, o Tabernáculo, o Templo de Jerusalém e a Igreja em muito excede nosso entendimento. Sem dúvida, as Tábuas da Lei, as Escrituras e sobremaneira o Evangelho compõem um mesmo e especialíssimo patrimônio: é a Palavra de Deus, a ser transmitida. Mas, enquanto tal, também é o próprio Verbo Encarnado!
    Desde a História do Patriarcas, Deus havia sinalizado que habitaria entre nós, o que inicialmente se deu em Betel, uma cidade da antiga Samaria: "Despertando de seu sono, Jacó exclamou: 'Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a Casa de Deus. Aqui é a Porta do Céu.'" Gn 28,16-17
    Quanto às Tábuas da Lei, entregues por Deus a Moisés, eram guardadas dentro da Arca da Aliança, e esta era mantida no Tabernáculo, ambos pessoalmente solicitados por Deus a este Profeta. E de cima da Arca, Ele falava-lhe: "Fá-Me-ão um Santuário e Eu habitarei no meio deles. Construireis o Tabernáculo e todo seu mobiliário exatamente segundo o modelo que vou mostrar-vos. Farão uma Arca de madeira de acácia: seu comprimento será de dois côvados e meio, sua largura de um côvado e meio, e sua altura de um côvado e meio. Por dentro, tu recobri-la-ás de puro ouro, e por fora farás, em volta dela, uma bordadura de ouro. Na Arca porás o testemunho que Eu te der. Farás dois querubins de ouro, e fá-lo-ás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa... Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a Arca da Aliança, que te darei todas Minhas ordens aos israelitas." Ex 25,8-11.16.18a.22
    O Tabernáculo, uma tenda especial para servir de abrigo à Arca da Aliança, também foi detalhadamente encomendado: "Farás o Tabernáculo com dez cortinas de fino e retorcido linho de púrpura violeta, púrpura escarlate e de carmesim, sobre as quais alguns querubins serão artisticamente bordados." Ex 26,1
    Dentro do Tabernáculo, a Arca ficava atrás de um véu: "Colocarás o véu debaixo dos colchetes, e é ali, atrás do véu, que colocarás a Arca da Aliança. Esse véu servirá para separar o 'Santo' do 'Santo dos Santos'. É no Santo dos Santos que colocarás a tampa sobre a Arca da Aliança." Ex 26,33-34
    O Tabernáculo foi encomendado para ser digno da presença de Deus: "Para a entrada da Tenda farás um véu de púrpura violeta, de escarlate púrpura, de carmesim e de retorcido linho, artisticamente bordado. Para aí suspender esse véu, farás cinco colunas de acácia recobertas de ouro, munidas de colchetes de ouro, e para essas colunas fundirás cinco pedestais de bronze." Ex 26,36-37
    Os ritos do Tabernáculo, ou Tenda da Reunião, também foram indicados por Deus: "Na Tenda de Reunião, diante do véu que oculta a Arca da Aliança, Aarão e seus filhos prepararão esse óleo para que ele se queime desde a tarde até pela manhã em presença do Senhor. Essa é uma perpétua lei para os israelitas e suas vindouras gerações." Ex 27,21
    Aí, do mesmo modo, eram feitos os sacrifícios dos cordeiros: "Este holocausto será perpétuo e será oferecido, em todas futuras gerações, à entrada da Tenda de Reunião, diante do Senhor, onde virei a vós, para falar contigo. É nesse lugar que darei entrevista aos filhos de Israel, e ele será consagrado pela Minha Glória. Consagrarei a Tenda de Reunião e o Altar. Igualmente consagrarei Aarão e seus filhos, para que sejam sacerdotes a Meu serviço. Habitarei em meio aos israelitas e serei Seu Deus. Então saberão que Eu, o Senhor, sou Seu Deus que os tirou do Egito para habitar entre eles, Eu, o Senhor Seu Deus." Ex 29,42b-46
    As Tábuas da Lei, da mesma forma, foram pessoalmente escritas por Deus: "O Senhor disse a Moisés: 'Sobe para Mim no monte. Ali ficarás para que Eu te dê as Tábuas de pedra, a Lei e as ordenações que escrevi para sua instrução.' Moisés levantou-se com Josué, seu auxiliar, e subiu o monte de Deus." Ex 24,12-13
    Mas antes que Moisés retornasse com as Tábuas, o povo caiu em tentação: "Moisés desceu da montanha segurando nas mãos as duas Tábuas da Lei, que estavam escritas dos dois lados, sobre uma e outra face. Eram obra de Deus, e a Escritura nelas gravada era a Escritura de Deus. Ouvindo o barulho que o povo fazia com suas aclamações, Josué disse a Moisés: 'Há gritos de guerra no acampamento!' 'Não', respondeu Moisés, 'não são gritos de vitória, nem gritos de derrota: o que ouço são cantos.' Aproximando-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Sua cólera inflamou-se, arrojou de suas mãos as Tábuas e quebrou-as ao pé da montanha. Em seguida, tomando o bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até reduzi-lo a pó, que lançou na água e a deu de beber aos israelitas. Moisés disse a Aarão: 'Que te fez este povo para que tenhas atraído sobre ele um tão grande pecado?' Aarão respondeu: 'Que não se irrite meu senhor. Tu mesmo sabes o quanto este povo é inclinado ao mal. Eles disseram-me: 'Faze-nos um deus que marche à nossa frente, porque este Moisés, que nos tirou do Egito, não sabemos o que dele é feito.' Eu disse-lhes: 'Todos aqueles que têm ouro, despojem-se dele!' E entregaram-mo. Joguei-o ao fogo e saiu esse bezerro!" Ex 32,15-24
    Moisés, porém, tratou de erguer a Tenda da Reunião, onde ele conversava com Deus e o povo podia consultar-se: "Moisés foi levantar a Tenda a alguma distância fora do acampamento. E chamou-a Tenda de Reunião. Quem queria consultar o Senhor, dirigia-se à Tenda de Reunião, fora do acampamento. Quando Moisés se dirigia à Tenda, todo mundo levantava-se, cada um diante da entrada de sua tenda, para segui-lo com os olhos até que entrasse na Tenda. E logo que ele acabava de entrar, a coluna de Nuvem descia e punha-se à entrada da Tenda, e o Senhor entretinha-Se com Moisés. À vista da coluna de Nuvem, todo povo, em pé à entrada de suas tendas, prostrava-se no mesmo lugar. O Senhor entretinha-Se face a face com Moisés, como um homem fala com seu amigo. Depois voltava Moisés ao acampamento, mas seu ajudante, o jovem Josué, filho de Nun, não se apartava do interior da Tenda." Ex 33,7-11
    E dada a Misericórdia de Deus por Seu povo, acabou dando-lhes novas Tábuas: "O Senhor disse a Moisés: 'Talha duas Tábuas de pedra semelhantes às primeiras: nelas escreverei as Palavras que se encontravam nas primeiras Tábuas, que quebraste. Estejas pronto para subir ao monte Sinai, pela madrugada apresentar-te-ás diante de Mim no cume do monte. Ninguém subirá contigo, e ninguém se mostre em parte alguma do monte: não haja nem mesmo ovelhas ou bois pastando em seus flancos.' Moisés ficou junto ao Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. E o Senhor escreveu nas Tábuas o texto da Aliança, as Dez Palavras. Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas Tábuas da Lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante durante sua conversa com o Senhor." Ex 34,1-3.28-29
    Convidou o povo, por fim, para construir o Tabernáculo, como Deus havia prescrito: "Venham todos aqueles dentre vós que são hábeis, e executem tudo que o Senhor ordenou: o Tabernáculo, sua Tenda, sua coberta, suas argolas, suas tábuas, suas travessas, suas colunas e seus pedestais; a Arca e seus varais; a tampa e o véu de separação..." Ex 35,10-12
    E assim se iniciaram os ritos: "O Senhor disse a Moisés: 'No primeiro dia do primeiro mês, levantarás o Tabernáculo, a Tenda de Reunião. Nele porás a Arca da Aliança, e ocultá-la-ás com o véu." Ex 40,1-2
    Deus também indicou uma das doze tribos de Israel, em especial, para cuidar do Tabernáculo: "De fato, o Senhor havia dito a Moisés: 'Não farás o recenseamento da tribo de Levi, nem porás a soma deles com os filhos de Israel. Confia-lhes o cuidado do Tabernáculo do Testemunho, de todos seus utensílios e de tudo que lhe pertence. Levarão o Tabernáculo e todos seus utensílios, farão seu serviço e acamparão em volta do Tabernáculo. Quando se tiver que partir, os levitas desmontarão o Tabernáculo, e quando se tiver que acampar, levantá-lo-ão. O estrangeiro que dele se aproximar será punido de morte. Os israelitas acamparão cada um em seu respectivo acampamento, e cada um perto de sua bandeira, segundo suas turmas. Quanto aos levitas, porém, acamparão em torno do Tabernáculo do Testemunho, para que não suceda explodir Minha cólera contra a assembleia dos israelitas. Ademais, os levitas terão a guarda do Tabernáculo do Testemunho.'" Nm 1,48-53
    Após a morte de Moisés, coube a Josué conduzir a Arca da Aliança, enquanto assentava as doze tribos em suas terras: "A assembleia dos filhos de Israel reuniu-se em Silo, onde levantaram a Tenda de Reunião. A terra estava-lhes sujeita. Havia sete tribos entre os israelitas que ainda não tinham assumido sua parte. Josué disse aos israelitas: 'Até quando tardareis a tomar posse da terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais?'" Js 18,1-3
    Os levitas empenharam-se, pois, em seus serviços, incluindo os cânticos, como determinou o renomado rei ao instalar a Arca no Monte Sião, em Jerusalém: "Davi disse aos chefes dos levitas que estabelecessem seus irmãos como cantores com instrumentos de música, cítaras, harpas e címbalos, para que vibrantes e alegres sons fizessem ouvir-se. Todo Israel, ao fazer subir a Arca da Aliança do Senhor, soltava brados de júbilo, ressoando trombetas, trompas e címbalos, retinindo cítaras e harpas." 1 Cr 15,16.28
     E assim cuidaram os levitas através dos séculos: "Eles cumpriram suas funções de cantores diante do Tabernáculo da Tenda de Reunião até que Salomão construiu o Templo do Senhor em Jerusalém. Faziam seu serviço segundo seu regulamento." 1 Cro 6,17
    Aliás, foi de Davi a ideia de edificar um Templo ao Senhor, após estabelecer-se em Jerusalém: "Quando Davi se instalou em sua casa, disse ao Profeta Natã: 'Eis que moro numa casa de cedro e a Arca da Aliança do Senhor está debaixo de uma Tenda.'" 1 Cro 17,1
     Mas Deus mandou que Natã desse este recado ao rei: "Vai e dize a Davi, Meu servo: Eis o que diz o Senhor: 'Não és tu que Me construirás a Casa em que habitarei.'" 1 Cro 17,4
    Até questionou essa intenção, dizendo que Ele mesmo nunca a havia cogitado: "Durante todo tempo em que viajei com todo Israel, jamais propus esta questão a algum dos juízes de Israel, aos quais encarregara de apascentar Meu povo: 'Por que não Me edificais uma casa de cedro?'" 1 Cro 17,6
    Mas confirmou tal projeto, que prefiguradamente se realizou através do filho de Davi, Salomão, mas apenas em Jesus, e pela Igreja, iria consolidar-se. Segue Seu recado ao rei: "Quando teus dias se acabarem, e tiveres ido juntar-te a teus pais, após ti levantarei tua posteridade, num de teus filhos, e firmarei Seu Reino. É Ele que Me construirá uma Casa e para sempre firmarei Seu Trono. Serei para Ele um Pai, e Ele será para Mim um Filho. E d'Ele jamais retirarei Meu favor, como retirei daquele que reinou antes de ti. Eu estabelecê-Lo-ei em Minha Casa e em Meu Reino para sempre, e Seu Trono será firme por todos séculos." 1 Cro 17,11-14
    E veio o tempo em que Salomão, um dos filhos de Davi, pôde realizar tal projeto: "No ano quatrocentos e oitenta depois da saída dos filhos de Israel do Egito, Salomão, no quarto ano de seu reinado, no mês de Ziv, que é o segundo mês, empreendeu a construção do Templo do Senhor." 1 Rs 6,1
    Assim a Arca da Aliança, que continha as Tábuas da Lei, foi conduzida do Monte Sião até o Templo: "Então Salomão convocou junto a si, em Jerusalém, os anciãos de Israel e todos chefes das tribos e chefes das famílias israelitas, para irem buscar na cidade de Davi, em Sião, a Arca da Aliança do Senhor. Todos israelitas reuniram-se junto ao rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo, durante a festa. Vieram todos anciãos de Israel, e os sacerdotes tomaram a Arca do Senhor. Levaram-na, assim como a Tenda de Reunião e todos sagrados utensílios que havia no Tabernáculo: foram os sacerdotes e os levitas que os levaram. O rei Salomão e toda assembleia de Israel reunida junto dele conservavam-se diante da Arca. Sacrificavam tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podia contar. Os sacerdotes levaram a Arca da Aliança do Senhor para seu lugar, no santuário do Templo, no Santo dos Santos, debaixo das asas dos querubins. Pois os querubins estendiam suas asas sobre o lugar da Arca, e por cima cobriam a Arca e seus varais. Estes varais eram de tal forma compridos, que do Santo lugar podiam ver-se suas extremidades, diante do santuário, mas não de fora, e ali ficaram até o dia de hoje. Na Arca só havia as duas Tábuas de pedra que Moisés ali depusera no monte Horeb, quando o Senhor fez Aliança com os israelitas, depois que saíram da terra do Egito. Quando os sacerdotes saíram do Santo Lugar, a Nuvem encheu o Templo do Senhor de tal modo que os sacerdotes ali não puderam ficar para exercer as funções de seu ministério, porque a Glória do Senhor enchia o Templo do Senhor. Então disse Salomão: 'O Senhor declarou que habitaria a escura Nuvem. Por isso, edifiquei uma Casa para Vossa residência, um lugar onde para sempre habitareis.'" 1 Rs 8,1-13
    Os Salmos expressam essa consciência: "Salmo de ação de graças. Aclamai o Senhor toda Terra. Servi o Senhor com alegria. Vinde, entrai exultantes em Sua presença. Entrai cantando sob Seus pórticos, vinde a Seus átrios com cânticos. Glorificai-O e bendizei Seu Nome..." Sl 99,1-2.4
    Conclamavam: "Ó Deus, relembremos Vossa Misericórdia no interior de Vosso Templo." Sl 47,10
    Com frequência, aí se davam místicos fenômenos: "Eu louvá-Vos-ei de todo coração, Senhor, porque ouvistes minhas palavras. Em presença dos anjos, eu cantá-Vos-ei. Ante Vosso Santo Templo prostrar-me-ei, e louvarei Vosso Nome por Vossa bondade e fidelidade, porque acima de todas coisas exaltastes Vosso Nome e Vossa promessa." Sl 137,1-2
    E era diante do Templo que o povo de Jerusalém se penitenciava, como quando temeram as ameaças de saque e profanação por parte de Holofernes, o general de Nabucodonosor, rei da Babilônia: "Os que viviam em Jerusalém, inclusive mulheres e crianças, prostraram-se diante do Templo, com cinzas na cabeça, e estenderam as mãos diante do Senhor. O povo jejuou por seguidos dias em toda Judeia e em Jerusalém, diante do Templo do Senhor Todo-Poderoso. O sumo sacerdote Joaquim, junto a todos sacerdotes e ministros do culto do Senhor, ofereciam o diário holocausto, as ofertas e as voluntárias dádivas do povo. Vestidos com panos de saco e com cinza sobre os turbantes..." Jt 4,11.13b-15a
    Mas pela fúria deste rei, o Templo acabou sendo destruído: "No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilônia, Nabuzardã, chefe da guarda e servo do rei de Babilônia, entrou em Jerusalém. Incendiou o Templo do Senhor, o palácio real e todas casas da cidade. E as tropas que acompanhavam o chefe da guarda demoliram o muro que cercava Jerusalém. Nabuzardã, chefe da guarda, deportou para Babilônia o que restava da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei de Babilônia e todo povo que restava. O chefe da guarda ali só deixou alguns pobres, como viticultores e agricultores. Os caldeus quebraram as colunas de bronze do Templo do Senhor, os pedestais e o mar de bronze que estavam no Templo, e levaram o metal para Babilônia. Também tomaram os cinzeiros, as pás, as facas, os vasos e todos objetos de bronze que se usavam no culto. O chefe da guarda, da mesma forma, levou os turíbulos e os vasos, tudo quanto era de ouro, e tudo quanto era de prata. Quanto às duas colunas, ao mar e aos pedestais que Salomão mandara fazer para o Templo do Senhor, não se poderia calcular o peso do bronze de todos esses objetos. Uma das colunas tinha dezoito côvados de altura, e sobre ela descansava um capitel de bronze de três côvados. Em volta do capitel da coluna havia uma rede e romãs, tudo de bronze. A segunda coluna era semelhante, com sua rede. O chefe da guarda igualmente levou o sumo sacerdote Saraías, Sofonias, segundo sacerdote, e os três porteiros. Na cidade, tomou um eunuco que era encarregado de comandar os homens de guerra, cinco homens do pessoal do rei que encontrou na cidade, e o escriba, chefe do exército, encarregado do recrutamento na terra, assim como sessenta homens da terra, que foram encontrados na cidade. Nabuzardã, chefe da guarda, prendeu-os e levou-os ao rei da Babilônia em Rebla, e este mandou executá-los em Rebla, na terra de Emat. Assim Judá foi deportado para longe de sua terra. Quanto ao resto da população que Nabucodonosor tinha deixado na terra de Judá, ele entregou-a ao governo de Godolias, filho de Aicão, filho de Safã." 2 Rs 25,8-22
    Era, porém, um castigo previsto por Deus: "Assim se cumpria a profecia que o Senhor tinha dado pela boca de Jeremias: 'Até que a terra desfrutasse seus sábados', pois a terra ficou inculta durante todo esse período de desolação, até que se completaram setenta anos." 2 Cro 36,21
    Deus acusava Israel de abandonar Sua Lei em nome de deleites e recompensas de religiões estrangeiras, como falou através do Profeta Ezequiel: "'Por Minha Vida!' Oráculo do Senhor Javé. 'Já que manchaste Meu Santuário com todas tuas infâmias e todas tuas abominações, Eu também te arrasarei sem nenhum gesto de consideração e piedade." Ez 5,11
    Ele arrebatou e em visões levou este Profeta a Jerusalém: "E Ele disse-me: 'Filho do homem, ergue os olhos para o norte.' Levantei os olhos para o norte e vi ao norte da porta do altar, à entrada, o ídolo que provoca o ciúme do Senhor. 'Filho do homem', disse-me, 'vês tu a abominação que praticam? Como eles procedem na casa de Israel para que Eu Me afaste de Meu Santuário? Verás, todavia, coisas muito mais graves.'" Ez 8,5-6
    E Sua Glória, que enchia o Templo, irá deixá-lo, para ser preenchido por uma nuvem de obscuridade: "... os querubins estavam à direita do Templo, e a nuvem enchia o átrio interior. A Glória do Senhor elevou-se acima dos querubins até a soleira do Templo, e enquanto o esplendor da Glória do Senhor enchia o átrio, a nuvem invadia o Templo. De repente, a Glória do Senhor deixou a soleira do Templo e pousou sobre os querubins. Estes desdobraram as asas, e eu vi-os alçarem-se da terra com as rodas ao lado, para partirem. Eles pararam à entrada da porta oriental do Templo, dominados pela Glória do Senhor. Lá estavam os seres vivos que eu tinha visto debaixo do Deus de Israel, às margens do Cobar, e reconheci os querubins..." Ez 10,3b-4.18-21
    Mas nos tempos do escriba Esdras, estudioso sacerdote, cumpriram-se as profecias sobre o fim da escravidão da Babilônia, quando ela caiu no domínio de Ciro: "No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a profecia posta pelo Senhor na boca de Jeremias, o Senhor suscitou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual mandou fazer em todo seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: 'Assim fala Ciro, rei da Pérsia: o Senhor, Deus do Céu, deu-me todos reinos da terra, e encarregou-me de construir-Lhe um Templo em Jerusalém, que fica na terra de Judá. Quem dentre vós é pertencente ao Seu povo, que Seu Deus o acompanhe, suba a Jerusalém que fica na terra de Judá e construa o Templo do Senhor, Deus de Israel, o Deus que reside em Jerusalém. Que todos sobreviventes de Judá, onde quer que residam, pelos habitantes da localidade onde se encontrarem sejam providos de prata, ouro, cereais e gado, bem como de voluntárias oferendas para o Templo do Deus que reside em Jerusalém.' Então os chefes de família de Judá e de Benjamim, bem como todos sacerdotes e levitas, principalmente todos aqueles cujo espírito Deus havia tocado, prepararam-se para ir reedificar o Templo do Senhor em Jerusalém. Todos que habitavam pelas redondezas ajudaram-nos, dando-lhes prata, ouro, diversos bens, gado, cereais e preciosas coisas, além das outras voluntárias ofertas. O rei Ciro também entregou os utensílios que Nabucodonosor trouxera do Templo do Senhor em Jerusalém, e colocara no templo de seu deus." Es 1,1-7
    E sob o governo de Zorobabel, com a unção dos Profetas de então, teve início a reconstrução: "Tendo chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel instalados em suas cidades, todo povo reuniu-se como um só homem em Jerusalém. Então Josué, filho de Josedec, e seus irmãos sacerdotes, bem como Zorobabel, filho de Salatiel, e seus irmãos, principiaram a reconstrução do Altar do Deus de Israel e ofereceram holocaustos, como a Lei de Moisés, homem de Deus, prescrevia. Reconstruíram o altar sobre as antigas bases, porque tinham medo dos habitantes vizinhos, e ofereceram holocaustos ao Senhor pela manhã e pela tarde. Ora, o Profeta Ageu e o Profeta Zacarias, filho de Ado, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em Nome do Deus de Israel que estava com eles. Então Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, filho de Josedec, retomaram a reconstrução do Templo de Deus em Jerusalém com a ajuda e a assistência dos Profetas de Deus." Es 3,1-3;5,1-2
    Diante de enormes dificuldades, Deus promete fartura falando pelo Profeta Ageu: "'Haverá entre vós alguém que tenha visto esta Casa em seu primeiro esplendor? E em que estado a vedes agora! Tal como está, não parece ela insignificante aos vossos olhos? Todavia, ó Zorobabel, tem ânimo', diz o Senhor. 'Coragem, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote! Coragem todos vós, habitantes da terra', diz o Senhor. 'Mãos à obra! Eu estou convosco', Oráculo do Senhor dos Exércitos. 'O esplendor desta Casa sobrepujará o da primeira', Oráculo do Senhor dos Exércitos. 'Sim, farei reinar a Paz neste lugar', diz o Senhor dos Exércitos. 'Prestai toda atenção no que vai acontecer a partir deste dia, a partir do vigésimo quarto dia do nono mês, dia em que foram lançadas as pedras de fundamento da Casa do Senhor.'" Ag 2,3-4.9-10a.18a-22
    Era uma promessa feita no tempo do Profeta Ezequiel, pois durante o período do novo Templo Cristo edificaria a Igreja: "Então fui conduzido ao pórtico oriental, e eis que a Glória do Deus de Israel chegava do Oriente, com ruído semelhante ao ruído das muitas águas, enquanto a terra resplandecia com seu clarão. A visão, que eu então contemplava, recordava-me a que me havia aparecido quando eu tinha vindo para a destruição da cidade, e a que me havia aparecido nas margens do Cobar. Caí com a face em terra. A Glória do Senhor penetrou no Templo pela porta oriental. O Espírito levou-me e transportou-me ao átrio interior: eis que o Templo estava cheio do resplendor do Senhor. Ouvi, então, que alguém me falava do interior do Templo, enquanto o homem se conservava sempre a meu lado. 'Filho do homem', disse-me a voz, 'aqui é o lugar de Meu trono, o lugar onde pus a planta de Meus pés, Minha definitiva morada entre os israelitas. De hoje em diante, nem o povo de Israel, nem seus reis profanarão Meu Santo Nome pelas suas fornicações nem pelos cadáveres de seus reis, seus altos lugares, pondo seu limiar junto ao Meu limiar, e sua porta junto à Minha porta, não havendo entre Mim e eles senão um muro. É assim que manchavam Meu Santo Nome pelas abominações que cometiam. Por isso, exterminei-os em Minha cólera. Mas, doravante, eles afastarão de Mim suas prostituições e os cadáveres de seus reis, e Eu definitivamente estabelecerei Minha Morada entre eles." Ez 43,1-9
    O projeto do segundo Templo também foi determinado por Deus, através de um anjo: "No ano vinte e cinco de nossa deportação, no começo do ano, no décimo mês, catorze anos após a queda da cidade, naquele mesmo dia, a mão do Senhor veio sobre mim. Deus transportou-me, no curso das divinas visões, à terra de Israel. Ele colocou-me nos cimos de uma muito elevada montanha, sobre a qual pareciam elevar-se, do lado do meio-dia, as construções de uma cidade. Conduzido ao lugar, divisei um homem que parecia ser de bronze, levando nas mãos uma corda de linho e uma cana de agrimensor. Ele permanecia de pé à porta. Esse homem dirigiu-me as seguintes palavras: 'Filho do homem, volta teus olhos, escuta com teus ouvidos, e presta bem atenção a tudo quanto vou mostrar-te, porque é para esse espetáculo que foste transportado até aqui. Darás conhecimento aos israelitas de tudo que vou mostrar-te.' Um muro exterior formava o recinto do Templo. O homem tinha na mão uma cana de agrimensor, de seis côvados, cada côvado tendo um palmo a mais que o côvado corrente. Ele mediu a largura da construção, uma cana, e a altura, também uma cana." Ez 40,1-5
    Poucos séculos depois, deu-se mais um inesquecível episódio. Heliodoro, enviado pelo rei da Ásia para confiscar os tesouros do Templo de Jerusalém, foi confrontado por um Cavaleiro que lembra a imagem do próprio Jesus no Último Dia: "Diante da profanação que ameaçava o Templo, o povo precipitava-se em multidão para fora das casas, a fim de ajuntarem-se à comum prece. Causava dó ver toda confusão desse povo abatido e a angústia em que jazia o sumo sacerdote. Enquanto assim suplicavam a proteção do Todo-Poderoso, para que conservasse invioláveis os depósitos que lhes haviam sido confiados, Heliodoro executava seu intento. Já se achava ali, com seus homens armados, quando o Senhor dos espíritos e Soberano detentor de todo poder suscitou uma tal aparição que todos que haviam ousado vir ali desfaleceram de espanto, atingidos de pavor ante a majestade de Deus. Viram eles, montado num cavalo ricamente ajaezado e furiosamente guiado, um Cavaleiro de terrível aspecto, que em Heliodoro lançava as patas dianteiras do cavalo. Aquele que nele vinha montado parecia ter uma armadura de ouro. Ao mesmo tempo, apareceram-lhe dois outros jovens, cheios de extraordinária força, fulgurantes de luz, ricamente vestidos. Colocando-se dos dois lados, puseram-se eles a açoitá-lo sem interrupção e sobre ele descarregaram uma saraivada de golpes. Logo atirado por terra, Heliodoro foi envolvido por espessas trevas. Seus companheiros ergueram-no e depositaram-no numa liteira. E ele, que vinha para penetrar no mencionado tesouro com numerosa escolta e guardas pessoais, incapaz de ajudar a si mesmo, foi levado por pessoas que reconheciam o manifesto poder de Deus." 2 Mc 3,18.21-28


MARIA, A DEFINITIVA ARCA DA ALIANÇA 

    Décadas após a passagem de Jesus, porém, como registra o Livro do Apocalipse, o Templo de Deus só foi visto no Céu, e não se tem mais notícia da Arca. Pois a definitiva Arca da Aliança, receptáculo do Verbo feito carne, é Maria: "Abriu-se o Templo de Deus no Céu e apareceu, no Seu Templo, a Arca de Seu Testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva. Em seguida, apareceu no Céu um grande sinal: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz." Ap 11,19;12,1-2
    Isso havia sido prometido através do Profeta Jeremias, por conta da instauração do Reino de Sacerdotes por Cristo: "Dá-vos-ei pastores segundo Meu Coração, os quais com inteligência e Sabedoria vos apascentarão. Quando vos multiplicardes e numerosos vos tornardes na terra, naqueles dias,' Oráculo do Senhor, 'não mais se falará da Arca da Aliança do Senhor, nem mais nela se pensará, perdendo-se a lembrança e a saudade, nem a ela há de referir-se." Jr 3,15-16
    E tal fato aconteceu ainda ao tempo deste Profeta, como Judas Macabeus informa, antes da destruição do Templo: "Acha-se escrito nos documentos relativos ao Profeta Jeremias, que foi ele quem ordenou aos cativos tomar o fogo, como se acaba de contar... O escrito também mencionava como o Profeta, pela da Revelação, havia desejado fazer-se acompanhar pela Arca e pelo Tabernáculo quando subisse a montanha que Moisés subiu para contemplar a herança de Deus. No momento em que chegou, descobriu uma vasta caverna na qual mandou depositar a Arca, o Tabernáculo e o Altar dos perfumes. Em seguida, tapou a entrada. Alguns daqueles que o haviam acompanhado, voltaram depois para marcar o caminho com sinais, mas não conseguiram achá-lo. Quando Jeremias soube, repreendeu-os e disse-lhes que esse lugar ficaria desconhecido até que Deus reunisse Seu povo, e com ele usasse de Misericórdia." 2 Mc 2,1.4-7
    Ou seja, ela foi oportunamente tirada de cena porque Jesus é a Nova Tábua da Lei, o esplendor a Palavra de Deus, como afirma São João Evangelista: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós, e vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    Segundo São Paulo, de fato, pelas promessas de Deus feitas desde Abraão até São João Batista, o papel das Escrituras era levar-nos a Jesus, Verbo feito carne: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: 'aos seus descendentes', como se fossem muitos, mas fala de um só: 'e à tua descendência (Gn 12,7)', isto é, a Cristo. Afirmo, portanto: a Lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não pode anular o Testamento em boa e devida forma feito por Deus e não pode tornar sem efeito a promessa. Porque, se a herança se obtivesse pela Lei, já não proviria da promessa. Ora, pela promessa é que Deus deu Seu favor a Abraão. Então que é a Lei? É um ajuntado complemento em vista das transgressões, até que viesse a descendência a Quem fora feita a promessa. Foi promulgada por anjos, passando por um intermediário. Assim a Lei se nos tornou um pedagogo encarregado de levar-nos a Cristo, para sermos justificados pela fé." Gl 3,16-19.24
    Referindo-Se a manifestação de São João Batista, Seu arauto, Jesus mesmo afirmou: "Porque os Profetas e a Lei tiveram a Palavra até João." Mt 11,13
    E nas palavras do Arcanjo Gabriel, em conformidade com a promessa de Deus feita através do Profeta Natã, Seu Reino não terá fim: "O anjo disse-lhe: 'Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e pô-Lhe-ás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele eternamente reinará na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim." Lc 1,30-33
    A visível relação de Jesus com o Templo de Jerusalém, que foi o 'sucessor' do Tabernáculo das Tábuas da Lei, começa no dia de Sua Apresentação enquanto recém-nascido, após os dias da purificação de Nossa Senhora: "Concluídos os dias de sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-nO a Jerusalém para apresentá-Lo ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor: 'Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2)', e, para oferecerem o sacrifício prescrito pela Lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos." Lc 2,22-24
    Nessa ocasião, quando a Sagrada Família estava em fuga para o Egito, Ele foi reconhecido por um inspirado religioso como a Luz do Mundo: "Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Impelido pelo Espírito Santo, foi ao Templo. E tendo os pais apresentado o Menino Jesus, para a respeito d'Ele cumprirem os preceitos da Lei, tomou-O em seus braços e louvou a Deus nestes termos: 'Agora, Senhor, deixai ir em Paz Vosso servo, segundo Vossa Palavra. Porque meus olhos viram Vossa Salvação que preparastes diante de todos povos, como Luz para iluminar as nações, e para a glória de Vosso povo de Israel." Lc 2,25-32
    Com Sua família, que fielmente seguia a Tradição de Seu povo, todos anos Jesus ia a Jerusalém para a Páscoa. Mas já aos 12 anos declarou Seu indefectível vínculo com o Templo: "Acabados os dias da festa, quando voltavam, o Menino Jesus ficou em Jerusalém sem que Seus pais o percebessem. Pensando que Ele estivesse com Seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e buscaram-nO entre parentes e conhecidos. Mas não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura d'Ele. Três dias depois, acharam-nO no Templo sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos que O ouviam estavam maravilhados da Sabedoria de Suas respostas. Quando eles O viram, ficaram admirados. E Sua mãe disse-Lhe: 'Meu Filho, que nos fizeste?! Eis que Teu pai e eu andávamos à Tua procura, cheios de aflição.' Respondeu-lhes Ele: 'Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na Casa de Meu Pai?'" Lc 2,43-49
    E durante as Tentações no deserto, após ser batizado por São João Batista, o inimigo vai levá-Lo exatamente ao Templo, pois era o sinal da presença de Deus para todo povo judeu: "O Demônio transportou-O à Cidade Santa, colocou-O no mais alto ponto do Templo e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, lança-Te abaixo, pois está escrito: Ele deu ordens a Seus anjos a Teu respeito. Protegê-Te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares Teu pé em pedra alguma (Sl 90,11s). Disse-lhe Jesus: 'Também está escrito: Não tentarás o Senhor Teu Deus (Dt 6,16).'" Mt 4,5-7
    Nessa estreita relação com os sagrados lugares dos judeus, sempre que pôde Jesus usou as sinagogas para Suas pregações, como fez ainda em Nazaré quando começou Sua vida pública, pronunciando Seu discurso inaugural. Contudo, aí também se iniciava uma ruptura: "Dirigiu-Se a Nazaré, onde Se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo Seu costume, e levantou-Se para ler. Foi-Lhe dado o livro do Profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): 'O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu. E enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a Redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os presos, para publicar o ano da Graça do Senhor.' E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-Se. Todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos n'Ele. Ele começou a dizer-lhes: 'Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.' Todos Lhe davam testemunho e admiravam-se das palavras de Graça que procediam da Sua boca, e diziam: 'Não é este o Filho de José?' Então Ele lhes disse: 'Sem dúvida, citá-Me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Todas maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui em Tua pátria.' E acrescentou: 'Em Verdade, digo-vos: nenhum Profeta é bem aceito em sua pátria. Em Verdade, digo-vos: havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e meio e houve grande fome por toda terra. Mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do Profeta Eliseu, mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.' A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. Levantaram-se e lançaram-nO fora da cidade. E conduziram-nO até o alto do monte sobre o qual estava construída Sua cidade, e queriam precipitá-Lo dali abaixo. Ele, porém, passou por entre eles e retirou-Se. Desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e ali ensinava-os aos sábados." Lc 4,16-31
    Essa ruptura havia sido prenunciada num salmo, que Nosso Salvador invocou em debate com os principais dos sacerdotes e os fariseus: "Jesus acrescentou: 'Nunca lestes nas Escrituras: A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular. Isto é obra do Senhor, e é admirável a nossos olhos (Sl 117,22)? Por isso, digo-vos: sê-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá Seus frutos. Aquele que tropeçar nesta pedra, fá-se-á em pedaços, e aquele sobre quem ela cair, será esmagado.'" Mt 21,42-44
    A despeito das narrativas em São Mateus, São Marcos e São Lucas, que mostram uma progressiva subida a Jerusalém ao longo de Sua vida pública, desde os primeiros capítulos São João Evangelista atesta essa indestrutível conexão entre Jesus e o Templo. Ele sobe à Cidade Santa logo nas primeiras semanas, e já então expulsa os vendilhões do Templo, quando vai identificá-lo como Seu próprio Corpo: "Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no Templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. Fez Ele um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, como também as ovelhas e os bois. Espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. Disse aos que vendiam as pombas: 'Tirai isto daqui e não façais da Casa de Meu Pai uma casa de comércio.' Então se lembraram Seus discípulos do que está escrito: 'O zelo de Tua Casa consome-Me (Sl 68,10).' Perguntaram-Lhe os judeus: 'Que sinal nos apresentas Tu para procederes deste modo?' Respondeu-lhes Jesus: 'Destruí vós este Templo, e Eu reerguê-Lo-ei em três dias.' Os judeus replicaram: 'Em quarenta e seis anos foi edificado este Templo, e Tu hás de levantá-lo em três dias?!' Mas Ele falava do Templo de Seu Corpo. Depois que ressurgiu dos mortos, Seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na Palavra de Jesus." Jo 2,13-22
    Pois a 'Casa de Deus', segundo São Paulo, é o próprio Corpo de Jesus: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação. Porque a Deus aprouve n'Ele fazer habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas..." Cl 1,15-16
    Ele disse-o de ainda mais claro modo: "Pois n'Ele corporalmente habita toda plenitude da divindade." Cl 2,9
    E voltando a Galileia, e tendo-Se instalado na casa de São Pedro, em Cafarnaum, Jesus vai pregar nas sinagogas da região: "Jesus percorria toda Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas doenças e enfermidades entre o povo." Mt 4,23
    Não por acaso, logo depois da multiplicação dos pães e dos peixes, na sinagoga de Cafarnaum Ele apresentou-Se como o alimento que dá a Vida Eterna: "EU SOU o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
    Em seguida, Ele vai pregar por todo Israel, mas sempre presente nas sinagogas: "Jesus percorria todas cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade." Mt 9,35
    Claro, até não mais poder entrar nas cidades por conta do assédio das multidões, o que segundo São Marcos não demorou a acontecer: "Aproximou-se d'Ele um leproso, suplicando-Lhe de joelhos: 'Se queres, podes limpar-me.' Jesus compadeceu-Se dele, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: 'Eu quero, sê curado.' E logo desapareceu dele a lepra e foi purificado. Jesus imediatamente despediu-o com esta severa admoestação: 'Vê que não o digas a ninguém. Mas vai, mostra-te ao sacerdote e por tua purificação apresenta a oferenda prescrita por Moisés, para servir-lhe de testemunho.' Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus publicamente não podia entrar numa cidade. Conservava-Se fora, em despovoados lugares, e de toda parte vinham ter com Ele." Mc 1,40-45
    São Lucas registra que Ele era assediado mesmo nas pequenas aldeias, e mais uma vez viu-se os sinais da ruptura com Israel: "Ao entrar numa aldeia, vieram-Lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: 'Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!' Jesus viu-os e disse-lhes: 'Ide, mostrai-vos ao sacerdote.' E quando eles iam andando, ficaram curados. Um deles, vendo-se curado, voltou glorificando a Deus em alta voz. Prostrou-Se aos pés de Jesus e agradecia-Lhe. E era um samaritano. Jesus disse-lhe: 'Não ficaram curados todos dez? Onde estão os outros nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!' E acrescentou: 'Levanta-te e vai. Tua fé te salvou!'" Lc 17,12-19
    E por Suas frequentes vistas a Jerusalém, como anota São João Evangelista, é no Templo que Ele vai reencontrar o paralítico que havia curado próximo ao tanque de Betesda, na Porta das Ovelhas, quando o adverte dos perigos de uma recaída em pecado: "Mais tarde, Jesus achou-o no Templo e disse-lhe: 'Eis que ficaste são. Já não peques, para não te acontecer pior coisa!'" Jo 5,14
    Contudo, teve mesmo que Se confinar em Sua região, pois logo seria caçado em Jerusalém e em toda Judeia. E então se nota a sedimentação do afastamento de sua parentela: "Depois disso, Jesus percorria a Galileia. Ele não queria deter-Se na Judeia, porque os judeus procuravam tirar-Lhe a vida. Aproximava-se a festa dos judeus, chamada dos Tabernáculos. Seus irmãos disseram-Lhe: 'Parte daqui e vai para a Judeia, a fim de que também Teus discípulos vejam as obras que fazes. Pois quem deseja ser conhecido em público não faz coisa alguma ocultamente. Já que fazes essas obras, revela-Te ao mundo.' Com efeito, nem mesmo Seus irmãos acreditavam n'Ele." Jo 7,1-5
    E assim foi até precisar ocultar-Se, para dedicar-Se à instrução dos Apóstolos: "Tendo partido dali, atravessaram a Galileia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. Ele ensinava Seus discípulos: 'O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-Lo-ão. E ressuscitará três dias depois de Sua morte.'" Mc 9,30-31
    Porém, apesar de haver-Se identificado como o próprio Templo, também vai deixar evidente que é maior que ele. Foi após profetizar contra as cidades à margem do mar da Galileia, que viram Seus milagres mas não se converteram: "Não lestes na Lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no Templo o descanso do sábado e não se tornam culpados? Ora, Eu declaro-vos que aqui está Quem é maior que o Templo." Mt 12,5-6
    Nenhum evento ocorrido na Casa de Deus, entretanto, será esquecido no Dia do Juízo. Assim será quanto aos grandes sacrilégios, e, ainda mais grave, pela rejeição de Sua Passagem entre nós. Ele sentenciou: "Por isso, também disse a Sabedoria de Deus: 'Enviá-lhes-ei Profetas e Apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a outros.' E assim a essa geração se pedirá conta do sangue de todos Profetas derramado desde a Criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o Templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta disso a esta geração!" Lc 11,49-51
    Pois até em Suas parábolas Ele evocava o Templo como lugar de religiosas práticas: "Subiram dois homens ao Templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. O fariseu, em pé, em seu interior orava desta forma: 'Graças dou-Te, ó Deus, porque não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros. Nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos meus lucros.' O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!' Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado." Lc 18,10-14
    E persistindo essa situação até a última Festa das Tabernáculos de que participou, Jesus teve que subir a Jerusalém às ocultas, mas o povo ansiosamente esperava por Ele. E outra vez Ele vai ao Templo, agora para declarar-Se mensageiro da Palavra de Deus, ou o próprio Verbo Encarnado, como testemunha São João Evangelista: "Lá pelo meio da Festa, Jesus subiu ao Templo e pôs-Se a ensinar. Os judeus admiravam-se e diziam: 'Este homem não fez estudos. Donde Lhe vem, pois, este conhecimento das Escrituras?' Respondeu-lhes Jesus: 'Minha Doutrina não é Minha, mas d'Aquele que Me enviou. Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo. Quem fala por própria autoridade busca a própria glória, mas quem procura a Glória de Quem O enviou é digno de fé, e n'Ele não há impostura alguma." Jo 7,14-18
    Uma vez na Cidade Santa, Ele dormia no Horto das Oliveiras, mas o lugar de ensinar era o Templo, onde sempre Se mostrava muito condescendente com a errante natureza humana, não julgando nem a mulher adúltera nem os próprios escribas e fariseus: "Dirigiu-Se Jesus para o monte das Oliveiras. Ao romper da manhã, voltou ao Templo e todo povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na em meio à multidão e disseram a Jesus: 'Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes Tu a isso?' Perguntavam-Lhe a fim de pô-Lo à prova, e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, inclinou-Se para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como insistissem, Ele ergueu-Se e disse-lhes: 'Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' Novamente inclinando-Se, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados por sua própria consciência, eles foram retirando-se um por um até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho com a mulher diante d'Ele. Então Ele Se ergueu e ali vendo apenas a mulher, perguntou-lhe: 'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: 'Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.'" Jo 8,1-11
    Em seguida, ainda no Templo, Ele apresentou-Se como o 'sol' de nossas vidas, como havia previsto o religioso Simeão, prometendo a Vida Eterna e afirmando que conhecê-Lo é conhecer o Pai: "Outra vez falou-lhes Jesus: 'Eu sou a Luz do mundo! Aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a Luz da Vida.' A isso, os fariseus disseram-Lhe: 'Tu dás testemunho de Ti mesmo. Teu testemunho não é digno de fé.' Respondeu-lhes Jesus: 'Embora Eu dê testemunho de Mim mesmo, Meu testemunho é digno de fé porque sei de onde vim e para onde vou, mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou. Vós julgais segundo a aparência, Eu não julgo ninguém. E se julgo, Meu julgamento é conforme a Verdade porque não estou sozinho, mas Comigo está o Pai que Me enviou. Ora, em vossa Lei está escrito: 'O testemunho de duas pessoas é digno de fé (Dt 19,15).' Eu dou testemunho de Mim mesmo, e Meu Pai, que Me enviou, também o dá.' Perguntaram-Lhe: 'Onde está Teu Pai?' Respondeu Jesus: 'Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai.' Jesus proferiu estas palavras ensinando no Templo, junto aos cofres de esmola. Mas ninguém O prendeu, porque ainda não era chegada Sua hora." Jo 8,12-20
    De fato, Ele evocava Suas obras como um testemunho de Deus, o que sem dúvida era testemunho maior que o de São João Batista: "Mas tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que Meu Pai Me deu para executar, essas mesmas obras que faço, testemunham a Meu respeito que o Pai Me enviou." Jo 5,36
    E mesmo com toda perseguição, Ele valia-Se da multidão para fazer-Se presente em Jerusalém nas importantes datas de fé, e aí sempre estava no Templo. Numa dessas ocasiões, Ele vai declarar-Se UM com o Pai: "Celebrava-se em Jerusalém a Festa da Dedicação. Era inverno. Jesus passeava no Templo, no pórtico de Salomão. Os judeus rodearam-nO e perguntaram-Lhe: 'Até quando nos deixarás na incerteza? Se Tu és o Cristo, claramente dize-nos.' Jesus respondeu-lhes: 'Eu digo-vos, mas não credes. As obras que faço em Nome de Meu Pai, estas dão testemunho de Mim. Entretanto, não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. Minhas ovelhas ouvem Minha voz, Eu conheço-as e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a Vida Eterna. Elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de Minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai. Eu e o Pai somos um." Jo 10,22-30
    Entretanto, logo viria a definitiva Páscoa, quando Ele seria crucificado. A ressurreição de São Lázaro foi muito grande sinal, e por isso os principais dos judeus resolveram matá-Lo: "Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram n'Ele. Alguns deles, porém, foram aos fariseus e contaram-lhes o que Jesus realizara. Os pontífices e os fariseus convocaram o Sinédrio e disseram: 'Que faremos? Esse homem multiplica os milagres. Se assim O deixarmos proceder, todos crerão n'Ele, e os romanos virão e arruinarão nossa cidade e toda nação.'" Jo 11,45-48
    E o povo continuava a procurá-Lo no Templo: "Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente de todo país subia a Jerusalém antes da Páscoa para purificar-se. Procuravam Jesus e no Templo falavam uns com os outros: 'Que vos parece? Achais que Ele não virá à Festa?' Mas os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, todo aquele que soubesse onde Ele estava, O denunciasse, para prenderem-nO." Jo 11,55-57
    Segundo São Marcos, no Domingo de Ramos Jesus entrou em Jerusalém apenas para zelar pelo Templo, demonstrando Seu amor à Casa do Pai: "Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-Se ao Templo. Aí lançou olhos para tudo que O cercava. Depois, como já fosse tarde, voltou para Betânia com os Doze." Mc 11,11
    Segundo São Mateus, porém, mais uma vez Ele logo teria feito um chicote e expulsado os vendilhões do Templo. Era Sua terceira e última Páscoa em companhia dos Apóstolos, e, após muitos milagres, as crianças vão cantar-Lhe 'Hosanas': "Jesus entrou no Templo e dali expulsou todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas, e disse-lhes: 'Está escrito: Minha Casa chamar-se-á Casa de Oração (Is 56,7), mas dela vós fizestes um covil de ladrões (Jr 7,11)!' Os cegos e os coxos vieram a Ele no Templo e Ele curou-os, com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a Seus milagres e ouviam os meninos gritar no Templo: 'Hosana ao Filho de Davi!' Disseram-Lhe eles: 'Ouves o que dizem eles?' 'Perfeitamente', respondeu-lhes Jesus. 'Nunca lestes estas palavras: Da boca de meninos e de crianças de peito tirastes Vosso louvor (Sl 8,3)'?" Mt 21,12-16
    São Marcos, contudo, aponta que só na manhã seguinte Ele teria expulsado os vendilhões, após retornar de Betânia, onde teria ido pernoitar: "Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no Templo. E começou a expulsar os que no Templo vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos trocadores de moedas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não consentia que ninguém transportasse objeto algum pelo Templo." Mc 11,15-16
    Nesta última Páscoa, alegando as formalidades da ordenação, os principais dos religiosos perguntaram-Lhe por Sua autoridade. E este episódio também aconteceu no Templo: "Num daqueles dias, Jesus ensinava no Templo e anunciava ao povo a Boa Nova. Chegaram os príncipes dos sacerdotes e os escribas com os anciãos, e falaram-Lhe: 'Dize-nos: com que direito fazes essas coisas, ou quem é que Te deu essa autoridade?' Jesus respondeu: 'Eu também vos farei uma pergunta. Respondei-Me: O batismo de João era do Céu ou dos homens?' Eles começaram a raciocinar entre si, dizendo: 'Se dissermos: Do Céu, Ele dirá: Por que razão, pois, não crestes nele? Se, porém, dissermos: Dos homens, todo povo apedrejá-nos-á, porque está convencido de que João era Profeta.' Responderam, por fim, que não sabiam de onde era. Também lhes replicou Jesus: 'Nem Eu vos direi com que direito faço estas coisas.'" Lc 20,1-8
    É quando Ele esclarece que o Filho de Deus, ou Filho do Homem, título que mais usou, não pode ser um mero filho de Davi, título pelo qual frequentemente era invocado: "Continuava Jesus a ensinar no Templo e propôs esta questão: 'Como dizem os escribas que Cristo é o Filho de Davi? Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a Meu Senhor: senta-Te à Minha direita, até que Eu ponha Teus inimigos sob Teus pés (Sal 109,1). Ora, se o próprio Davi chama-O Senhor, como então é Ele seu Filho?' E a grande multidão ouvia-O com satisfação." Mc 12,35-37
    É por esses dias que Ele vai prever a definitiva destruição do Templo, bem como de Jerusalém, que ocorreria cerca de 40 anos depois: "Ao sair do Templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-nO apreciar as construções. Jesus, porém, respondeu-lhes: 'Vedes todos estes edifícios? Em Verdade, declaro-vos: aqui não ficará pedra sobre pedra! Tudo será destruído!'" Mt 24,1-2
    Os mais próximos Apóstolos, então, vão perguntá-Lo por sinais para identificar esse momento, enquanto do Getsêmani Ele contemplava a tão amada Casa do Pai: "E estando sentado no monte das Oliveiras, defronte do Templo, perguntaram-Lhe à parte Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos quando hão de suceder essas coisas? E por que sinal se saberá que tudo isso estará para realizar-se?' Então Jesus pôs-Se a dizer-lhes: 'Cuidai que ninguém vos engane. Muitos virão em Meu Nome, dizendo: 'Sou eu.' E seduzirão a muitos. Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerra, não temais. Porque é necessário que estas coisas aconteçam, mas ainda não será o Fim. Levantar-se-ão nação contra nação e reino contra reino, e em diversos lugares haverá terremotos e fome. Isto será o princípio das dores. Cuidai de vós mesmos. Sereis arrastados diante dos tribunais e açoitados nas sinagogas, e comparecereis diante de governadores e reis por Minha causa, para dar testemunho de Mim diante deles. Mas primeiro é necessário que o Evangelho seja pregado a todas nações.'" Mc 13,3-10
    No entanto, todas manhãs Ele retornava: "Todos dias ensinava no Templo. Porém, os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os chefes do povo procuravam tirar-Lhe a vida. Mas não sabiam como realizá-lo, porque todo povo ficava suspenso de admiração quando O ouvia falar." Lc 19,47-48
    E assim, por exemplar humildade Ele mantinha essa rotina: "Durante o dia, Jesus ensinava no Templo, e à tarde saía para passar a noite no monte chamado das Oliveiras. E todo povo ia de manhã cedo ter com Ele no Templo, para ouvi-Lo." Lc 21,37-38
    Quando foi preso e levado ao Sinédrio, Jesus vai atestar Sua predileção pelos sagrados lugares de Seu povo: "O sumo sacerdote indagou de Jesus acerca de Seus discípulos e de Sua Doutrina. Jesus respondeu-lhe: 'Publicamente falei ao mundo. Ensinei na sinagoga e no Templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas.'" Jo 18,19-20
    E durante o julgamento, eles vão recordar Sua identificação com o Tempo, que tanto os perturbava: "Os sumos sacerdotes e todo Sinédrio buscavam algum testemunho contra Jesus para condená-Lo à morte, mas não o achavam. Muitos diziam falsos testemunhos contra Ele, mas seus depoimentos não concordavam. Então se levantaram alguns e deram este falso testemunho contra ele: 'Ouvimo-Lo dizer: Eu destruirei este Templo, feito por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens.'" Mc 15,55-58
    Mesmo durante a Crucificação, eles não esqueceriam esse detalhe: "Os que iam passando injuriavam-nO e abanavam a cabeça, dizendo: 'Olá, Tu que destróis o Templo e o reedificas em três dias! Salva-Te a Ti mesmo! Desce da Cruz!' D'Ele também escarneciam os sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os outros: 'Salvou a outros e a Si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, Rei de Israel, desça agora da Cruz para que vejamos e creiamos!'" Mc 15,29-32a
    O véu do Templo, enfim, será rasgado no momento de Sua Morte: "E à nona hora Jesus bradou em alta voz: 'Elói, Elói, lammá sabactáni?', que quer dizer: Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste (Sl 21,2)? Ouvindo isto, alguns dos circunstantes diziam: 'Ele chama por Elias!' Um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre, e pondo-a na ponta de uma vara deu-Lho para beber, dizendo: 'Deixai, vejamos se Elias vem tirá-Lo.' Jesus deu um grande brado e expirou. Então o véu do Templo rasgou-se de alto a baixo, em duas partes. O centurião que estava diante de Jesus, ao ver que Ele assim tinha expirado, disse: 'Este homem realmente era o Filho de Deus.'" Mc 15,34-39
    De toda forma, os Apóstolos e demais seguidores mantiveram-no como local de oração mesmo após a Ascensão do Senhor: "E permaneciam no Templo, louvando e bendizendo a Deus." Lc 24,53


IGREJA: O CORPO MÍSTICO DE CRISTO

    Mas a Igreja não vai nascer no Templo! A instituição da Eucaristia, por sinal, vai acontecer no cenáculo: "No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe: 'Onde queres que preparemos a ceia pascal?' Respondeu-lhes Jesus: 'Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com Meus discípulos.' Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa. Ao declinar da tarde, pôs-Se Jesus à mesa com os Doze discípulos. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-O e deu-O aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é Meu Corpo.' Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lhO, dizendo: 'Bebei dele todos, porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a Remissão dos pecados. Digo-vos: doravante não mais beberei desse fruto da vinha até o dia em que de novo o beberei convosco no Reino de Meu Pai.' Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte das Oliveiras." Mt 26,17-20.26-30
    E é aí, 'na sala de cima (At 1,13)' que se dará o Nascimento da Igreja no Pentecostes: "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda casa onde estavam sentados. Então lhes apareceu uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Pedro, então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com forte voz disse-lhes: 'Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Que toda Casa de Israel saiba com a maior certeza que este Jesus, que vós crucificastes, Deus constituiu-O Senhor e Cristo.' Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais Apóstolos: 'Que devemos fazer, irmãos?' Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para Remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos que de longe ouvirem o apelo do Senhor, Nosso Deus.' Os que receberam Sua Palavra foram batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número dos adeptos." Ap 2,1-4.14.36-39.41
    Mas como ainda tentavam reformar o judaísmo, os Apóstolos continuavam presentes no Templo: "Unidos de coração frequentavam todos dias o Templo. Partiam o Pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo povo. E o Senhor cada dia ajuntava-lhes outros que estavam a Caminho da Salvação." At 2,46-47
    Lá os sinais prometidos por Jesus confirmariam Sua Igreja: "Pedro e João iam subindo ao Templo para rezar à nona hora. Nisto levavam um homem que era coxo de nascença e que punham todos dias à porta do Templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas aos que entravam. Quando ele viu que Pedro e João iam entrando no Templo, implorou a eles uma esmola. Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: 'Olha para nós.' Ele olhou-os com atenção, deles esperando receber alguma coisa. Pedro, porém, disse: 'Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em Nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!' E tomando-o pela mão direita, levantou-o. Os pés e os tornozelos imediatamente firmaram-se-lhe. De um salto, pôs-se de pé e andava. Entrou com eles no Templo, caminhando, saltando e louvando a Deus. Todo povo viu-o andar e louvar a Deus." At 3,1-9
    Presos por ordem do sumo sacerdote, pois as atividades da Igreja continuavam agitando a Cidade Santa, um anjo dos Senhor vai libertar os Apóstolos e mandá-los exatamente ao Templo, como Jesus fazia: "Cada vez mais aumentava a multidão de homens e mulheres que acreditavam no Senhor. De maneira que traziam os doentes para as ruas e os punham em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém também afluía muita gente, trazendo os enfermos e os atormentados por imundos espíritos, e todos eles eram curados. Levantaram-se, então, os sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios de inveja, e deitaram as mãos nos Apóstolos e meteram-nos na cadeia pública. Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: 'Ide e apresentai-vos no Templo, e pregai ao povo as Palavras desta Vida.' Obedecendo a essa ordem, ao amanhecer eles entraram no Templo, e puseram-se a ensinar." At 5,14-21
    E assim fielmente cumpriram essa ordem, embora também usassem as casas dos fiéis: "E todos dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo, no Templo e pelas casas." At 5,42
    São Paulo, por sua vez, reafirma esse comportamento da Igreja mesmo anos após sua conversão: "Voltei para Jerusalém e, orando no Templo, fui arrebatado em êxtase. E vi Jesus, que me dizia: 'Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão teu testemunho a Meu respeito.' Eu reconheci: 'Senhor, eles sabem que eu encarcerava e com varas açoitava nas sinagogas aqueles que creem em Ti. E quando se derramou o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu estava presente, consentia nisso e guardava os mantos dos que o matavam.' Mas Ele respondeu-me: 'Vai, porque Eu te enviarei para longe, às nações...'" At 22,17-21
    Mas os judeus acabariam por prendê-lo anos mais tarde, e precisamente no Templo de Jerusalém. Foi depois de ter tomado conselho de São Tiago Menor para fazer votos judeus, na tentativa de desfazer uma acusação de heresia: "Ao fim dos sete dias, os judeus, vindos da Ásia, viram Paulo no Templo e amotinaram todo povo. Lançando-lhe as mãos, gritavam: 'Ó judeus, valei-nos! Este é o homem que por toda parte prega a todos contra o povo, a Lei e o Templo. Além disso, introduziu até gregos no Templo e profanou o lugar santo.' É que tinham visto Trófimo, de Éfeso, com ele na cidade, e pensavam que Paulo o tivesse introduzido no Templo. Alvoroçou-se toda cidade com grande ajuntamento de povo. Agarraram Paulo e arrastaram-no para fora do Templo, cujas portas imediatamente se fecharam. Como queriam matá-lo, o tribuno da coorte foi avisado de que toda Jerusalém estava amotinada. Ele logo tomou soldados e oficiais e correu aos manifestantes. Estes, ao avistarem o tribuno e os saldados, cessaram de espancar Paulo. Então se aproximando o tribuno, prendeu-o e mandou acorrentá-lo com duas correntes." At 21,27-33
    Conduzido a Félix, que administrava a região a partir de Cesareia, o advogado dos judeus denunciou-o: "Encontramos este homem, uma peste, um indivíduo que fomenta discórdia entre os judeus no mundo inteiro. É um dos líderes da seita dos nazarenos. Tentou mesmo profanar o Templo, mas nós prendemo-lo!" At 24,5-6
    E ele mesmo fez sua defesa perante o governador romano, narrando a purificação proposta por São Tiago Menor e a essência do Evangelho: "Depois de muitos anos de ausência vim trazer à minha nação esmolas e rituais oferendas. Nesta ocasião, acharam-me no Templo depois de uma purificação, sem aglomeração e sem tumulto. Viram-me ali uns judeus vindos da Ásia, e estes é que deviam comparecer diante de ti e acusar-me, se tivessem alguma queixa contra mim. Ou digam estes aqui que crime terão achado em mim, quando eu compareci diante do Grande Conselho. A não ser esta única frase que proferi em alta voz no meio deles: 'Por causa da ressurreição dos mortos é que sou julgado hoje diante de vós!'" At 24,17-21
    Em carta aos tessalonicenses, ademais, São Paulo disse que a Igreja, que ele chama de 'Templo', será lugar de um sinal realizado pelo Maligno ao fim dos tempos: "De modo algum ninguém vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no Templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus." 2 Ts 2,3-4
    E conforme São Pedro, é pela Igreja que Deus começará o Juízo Final: "Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17
    Ela é, contudo, o próprio Corpo de Cristo, como Ele mesmo a identificou quando São Paulo perseguia os fiéis: "Saulo, porém, devastava a Igreja. Entrando pelas casas, delas arrancava homens e mulheres e entregava-os à prisão. Durante a viagem, já estando perto de Damasco, subitamente cercou-o uma resplandecente Luz vinda do Céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' Saulo disse: 'Quem és, Senhor?' Respondeu Ele: 'Eu sou Jesus, a Quem tu persegues.'" At 8,3;9,3-5
    São Paulo, pois, escreve aos colossenses: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24
    Também diz aos efésios: "... Cristo é o Chefe da Igreja, Seu Corpo, da qual Ele é o Salvador." Ef 5,23b
    Confirma a plenitude da Igreja: "... que é Seu Corpo, o receptáculo d'Aquele que todas coisas preenche sob todos aspectos." Ef 1,22
    Ainda assim define o Cristo: "Ele é a Cabeça da Igreja, que é Seu Corpo." Cl 1,18a
    E pediu nosso empenho: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo." Ef 4,11-12
    Explica aos coríntios: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Também há diversas operações, mas é o mesmo Deus que tudo opera em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito. A um é dada uma palavra de Sabedoria pelo Espírito; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a Graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, a cada um repartindo como Lhe apraz. Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Se um membro sofre, todos membros padecem com ele. E se um membro é tratado com carinho, todos outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o Corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um de Seus membros. Na Igreja, Deus primeiramente constituiu os Apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas línguas. São todos Apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? Fazem todos milagres? Têm todos a Graça de curar? Falam todos em diversas línguas? Interpretam todos?" 1 Cor 4,4-12.26-30
    Por isso, recomendava, lembrando a finalidade última dos dons: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, em abundância procurai tê-los para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Ardorosamente defendia a Unidade da Igreja: "Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo Espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé, que entre vós há contendas. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: Eu sou discípulo de Paulo; eu, de Apolo; eu, de Cefas; eu, de Cristo. Então estaria Cristo dividido?" 1 Cor 1,10-13a
    Nestes termos definia os cristãos, quando o Templo de Jerusalém diminuía em importância perante a Igreja, isto é, o Corpo Místico de Cristo, que é indestrutível: "Não sabeis que sois o Templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o Templo de Deus, Deus destruí-lo-á. Porque o Templo de Deus é sagrado, e isto sois vós." 1 Cor 3,16-1
    Ora, tal qual a exclusividade do Espírito Santo, que só é derramado sobre a Igreja, Jesus também havia prometido: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?' Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á, e Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada." Jo 14,2-23
    Ele assegurou essa Comunhão aos Apóstolos a partir de Sua Ressurreição: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    E ao apontar a inspiração de São Pedro, quando ele O reconheceu como o Messias, garantiu-lhe a invencibilidade: "Então Jesus lhe disse: 'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus. E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela.'" Mt 16,1-18
    Rezando ao Pai, Ele diz que a Glória de Deus agora está na União da Igreja: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    São Paulo ainda foi mais explícito ao atestar Seu Corpo, quando 'restringiu' as 'liberdades' dos cristãos: "Ou não sabeis que vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o Qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?" 1 Cor 6,19
    Ele afirma: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17b
    E referindo-se ao Antigo Testamento, sentencia: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é o Corpo de Cristo." Cl 2,17
    Assim, não temos como pensar a Igreja senão pela santidade, pois esta é a vontade de Deus. E isto também é mistério: "Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível. Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,25-27.32
    E, movidos pelo Santo Espírito, somos convidados a participar desta família: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que todo edifício, harmonicamente disposto, levanta-se até formar um Templo Santo no Senhor. É n'Ele que conjuntamente vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,19-22
    Os seguidores da tradição de São Paulo assim se referiam ao Seu Corpo: "Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos vindouros bens. E através de mais excelente e mais perfeito Tabernáculo, não construído por mãos humanas, isto é, não deste mundo." Hb 9,11
    Ora, já estava nos Levíticos: "Porei Meu Tabernáculo no meio de vós, e Minha alma não vos rejeitará. Andarei entre vós: serei Vosso Deus e vós sereis Meu povo." Lv 26,11-12
    Mas esta família também já se estabeleceu nos Céus, conforme São Paulo: "Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao Qual deve sua existência toda família no Céu e na terra,..." Ef 3,14-15
    Com efeito, assim como os Apóstolos são as colunas da Igreja, Jesus prometeu aos que resistirem ao Mal: "Farei do vencedor uma coluna no Templo de Meu Deus, de onde jamais sairá..." Ap 3,12a
    São João Evangelista teve esta visão dos Santos no Céu: "Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de brancas vestes e palmas na mão... Então um dos anciãos falou comigo e perguntou-me: 'Esses, que estão revestidos de brancas vestes, quem são e de onde vêm?' Respondi-lhe: 'Meu Senhor, tu o sabes!' E ele disse-me: 'Esses são os sobreviventes da grande tribulação. Lavaram suas vestes e alvejaram-nas no Sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e dia e noite servem-nO em Seu templo. Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á em Sua Tenda. Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será Seu Pastor e levá-los-á às fontes das Águas Vivas. E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos.'" Ap 7,9.13-16
    E os quatro querubins e os vinte e quatro anciãos (serafins? tronos?) vão cantar ao Cordeiro, por Sua Igreja: "Quando recebeu o livro, os quatro seres e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um uma cítara e as taças de ouro cheias de perfume, que são as orações dos Santos. Cantavam um novo cântico, dizendo: 'Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de Teu Sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça. E deles fizeste para Nosso Deus um Reino de Sacerdotes, que reinam sobre a terra.'" Ap 5,8-10
    O Amado Discípulo ainda registra que é do Templo do Céu, onde a Glória de Deus é total, que partem os anjos do Apocalipse para flagelar a terra: "Depois disso, eu vi abrir-se no Céu o Templo que encerra o Tabernáculo do Testemunho. Os sete Anjos que tinham os sete flagelos saíram do Templo, vestidos de puro e resplandecente linho, cingidos ao peito com cintos de ouro. Então um dos quatro seres lhes deu sete taças de ouro, cheias da ira de Deus, que vive pelos séculos dos séculos. Encheu-se o Templo de fumaça provinda da Glória de Deus e de Seu poder. E ninguém podia entrar, enquanto não se consumassem os sete flagelos dos sete Anjos." Ap 15,5-8
    E então a Jerusalém Celestial é apresentada como a esposa do Cordeiro: "Nisto ouvi como que um imenso coro, sonoro como o ruído de grandes águas e como o ribombar de possantes trovões, que cantava: 'Aleluia! Eis que reina o Senhor, Nosso Deus, o Dominador! Alegremo-nos, exultemos e demos-Lhe Glória, porque se aproximam as Núpcias do Cordeiro. Sua Esposa está preparada.' Eu vi descer do Céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o Esposo." Ap 19,6-7;21,2
    De fato, ao preparar "um povo bem disposto", São João Batista preparava a Igreja para receber Jesus. Ele vai dizer a seus discípulos que viram os Apóstolos batizando: "Aquele que tem a esposa é o Esposo. O amigo do Esposo, porém, que está presente e O ouve, sobremaneira regozija-se com a voz do Esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,29
    Na Nova Jerusalém, entretanto, não mais haverá Templo, pois sua transfiguração, ou a da Igreja, na própria Pessoa de Deus já se terá completado: "Nela não vi, porém, templo algum, porque o Senhor Deus Dominador é Seu Templo, assim como o Cordeiro." Ap 21,22

    "Em Comunhão com toda a Igreja, aqui estamos!"