segunda-feira, 21 de abril de 2025

A Paciência

    Uma das grandes qualidades do cristão deve ser a paciência. Vivemos uma longa espera, e algumas situações são tão impactantes que o chão parece abrir-se sob nossos pés, e ficamos como que flutuando no vazio, sentindo-nos ou totalmente impotentes, na iminência do desespero, ou, em oposto extremo, cegos de raiva, a ponto de agredir.


    Ainda que o Livro de Jó seja uma alegoria, sua paciência tornou-se emblemática para todos que creem em Deus, embora este personagem também tenha chegado a momentos de tocante desespero, desejando a própria morte. De fato, ele vai dizer: "Que Deus consinta em esmagar-me, que deixe Suas mãos cortarem meus dias! Pois, que é minha força para que eu espere? Qual é meu fim, para portar-me com paciência? Será que tenho a fortaleza das pedras, e será de bronze minha carne?" Jó 6,9.11-12
    A Carta de São Paulo aos Romanos, pois, colocou nesses termos nossa expectativa pela Redenção como filhos de Deus: "Pois sabemos que toda Criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a redenção de nosso corpo." Rm 8,22-23
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses não desenganava quanto à longa espera: "No que se refere à Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com Ele, nós pedimo-vos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação ou carta a nós atribuída, afirmando que o Dia do Senhor está próximo." 2 Ts 2,1-2
    No entanto, ainda segundo o Apóstolo dos Gentios, temos o amparo da , que em si traz a esperança: "Nós que esperamos o que não vemos, e é em paciência que o aguardamos." Rm 8,25
    E conforme a Carta de São Paulo aos Colossenses, pela obediência e pela constante oração são-nos concedidos o conhecimento da Palavra, a Consolação e a Comunhão com o Pai, que nos permitem perseverar: "Por isso... não cessamos de orar por vós e pedir a Deus para que vos conceda pleno conhecimento da Sua vontade, perfeita Sabedoria e discernimento espiritual, para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, procurando agradar-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus. Para que, em tudo confortados pelo Seu glorioso poder, tenhais a paciência de tudo suportar com longanimidade." Cl 1,9-11
    Essa paciência vem da certeza de que é Deus mesmo que tudo realiza por meio de Cristo, como lemos na Carta de São Paulo aos Efésios: "N'Ele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio d'Aquele que tudo realiza por deliberado ato de Sua vontade, para servirmos à celebração de Sua Glória, nós que desde o começo voltamos nossas esperanças para Cristo." Ef 1,11-12
    Pois pelo Evangelho, e principalmente pelo Espírito de Deus derramado sobre nós, temos a certeza da Vida Eterna na remissão dos pecados que é oferecida a Sua Igreja: "N'Ele (Cristo) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa Redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor de Sua Glória." Ef 1,13-14
    Já na Segunda Carta de São Pedro, a paciência é uma inalienável etapa do desenvolvimento espiritual, pelo qual se obtém a verdadeira e definitiva purificação do coração: "Por estes motivos, esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o fraterno amor, e ao fraterno amor a caridade. Se estas virtudes se acharem abundantemente em vós, elas não vos deixarão inativos nem infrutuosos no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque quem não tiver estas coisas é míope, cego: esqueceu-se da purificação de seus antigos pecados." 2 Pd 1,5-9
    Citando o Livro de Provérbios, a Primeira Carta de São Pedro dirige uma palavra à juventude e a toda comunidade de fé: "Semelhantemente vós, que sois mais jovens, sede submissos aos anciãos. Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos mas dá Sua Graça aos humildes (Pr 3,34). Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus para que Ele vos exalte em oportuno tempo. Confiai-lhe todas vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o Demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. O Deus de toda Graça, que em Cristo vos chamou à Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,5-10
    É nesse compasso, portanto, perseverando na oração e no sacrifício da Santa Missa, que devemos levar a vida. São Paulo diz aos cristãos de Roma: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual." Rm 12,1
    Por isso, a Carta de São Tiago via no enfrentar das provações um exercício para alcançar essa virtude: "... sabendo que a prova de vossa fé produz a paciência." Tg 1,3
    E, com efeito, pelas mãos de Deus tudo tem sua razão de ser: "Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma." Tg 1,4
    Pois assim viveram os antigos destinatários da promessa, que foram dignos de Deus: "Tomai, irmãos, por modelo de paciência e de coragem os Profetas, que falaram em Nome do Senhor." Tg 5,10
    O próprio Jesus evocou sua memória durante o Sermão da Montanha, que consta do Evangelho segundo São Mateus: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e falsamente disserem todo mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os Profetas que vieram antes de vós." Mt 5,10-12
    Os seguidores da tradição de São Paulo retrataram-nos na Carta aos Hebreus, salvaguardando o Advento, a Vinda de Cristo para sua geração: "Alguns foram torturados, por recusarem ser libertados, movidos pela esperança de mais gloriosa Ressurreição. Outros sofreram escárnio e açoites, cadeias e prisões. Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio, mortos a fio de espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelha e de cabra, necessitados de tudo, perseguidos e maltratados, homens de quem o mundo não era digno! Refugiaram-se nas solidões das montanhas, nas cavernas e em subterrâneos antros. E, no entanto, todos estes mártires da fé não conheceram a realização das promessas!" Hb 11,35b-39
    Lembraram os primeiríssimos chamados, antes mesmo da Lei, que veio por Moisés: "Desejamos, apenas, que ponhais todo empenho em guardar intata vossa esperança até o fim, e que, longe de tornarde-vos negligentes, sejais imitadores daqueles que pela fé e paciência se tornam herdeiros das promessas." Hb 6,11-12
    Evocam, enfim, tantos Santos que entre nós já passaram, e o próprio Cristo: "Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das correntes do pecado. Com perseverança corramos ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé, Jesus. Em vez de gozo que se Lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue na luta contra o pecado." Hb 12,1-4
    Esse foi o luminoso exemplo dado por Tobit no Livro de Tobias, seu filho, e acabou sendo curado: "Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova para que sua paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à posteridade. Como sempre havia temido a Deus desde sua infância, e guardado Seus Mandamentos, ele não se afligiu nem murmurou contra Deus por ter sido atingido pela cegueira. Mas firme perseverou no temor de Deus, e continuou a dar-Lhe graças em todos dias de sua vida." Tb 2,12-14
    E outro exemplo está na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, que se valia de orações: "Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que padecemos na Ásia. Ali desmedidamente fomos maltratados, além das nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sair com vida. Sentíamos dentro de nós mesmos a sentença de morte, para que aprendêssemos a pôr nossa confiança não em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos. Ele livrou-nos e livrá-nos-á de tamanhos perigos de morte. Sim, esperamos que ainda nos livrará se também nos ajudardes vós, com orações em nossa intenção." 2 Cor 1,8-11a
    Tratado com desdém por alguns, ele viu-se obrigado a listar: "Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, minha cotidiana preocupação, a solicitude por todas igrejas!" 2 Cor 11,23b-28
    Pois já havia dito de todo verdadeiro Sacerdote da Santa Igreja: "Mas em todas coisas apresentamo-nos como Ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações, pela pureza, pela ciência, pela longanimidade, pela bondade, pelo Espírito Santo, por uma sincera caridade, pela Palavra da Verdade, pelo poder de Deus, pelas ofensivas e defensivas armas da justiça, na honra e na desonra, na boa e na má fama." 2 Cor 6,4-8


DEUS TAMBÉM ESPERA

    Contudo, não estamos sós nessa espera. Com longanimidade, Deus também aguarda por nossas atitudes de efetiva caridade, seja material, seja espiritual. Esse proceder, como o Príncipe dos Apóstolos diz aos fiéis, é prova de Sua intenção de dar a todos oportunidade para a conversão, pois o Juízo, Particular ou Final, é certo: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Ele fala da Recriação: "Nós, porém, segundo Sua promessa, esperamos novo céu e uma nova Terra, nos quais a justiça habitará. Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em por Ele ser achados sem mácula e irrepreensíveis na Paz. Reconhecei que a longa paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado." 2 Pd 3,13-15
    Ora, o Livro de Salmos já tinha observado: "O Senhor é clemente e compassivo, longânime e cheio de bondade." Sl 144,8
    O sagrado autor do Livro de Sabedoria, de fato, diz ao Senhor: "Tendes compaixão de todos, porque Vós podeis tudo. E para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens." Sb 11,23
    Perfeitamente observou: "Senhor de Vossa força, Vós julgais com bondade e governai-nos com grande indulgência, porque sempre Vos é possível empregar Vosso poder, quando quiserdes. Agindo desta maneira, mostrastes a Vosso povo que o justo deve ser cheio de bondade, e inspirastes Vossos filhos a boa esperança de que, após o pecado, lhes dareis tempo para a penitência. Porque se os inimigos de Vossos filhos, dignos de morte, Vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para emendarem-se, com quanto cuidado não julgareis Vós Vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento Vossa Aliança, repleta de ricas promessas!" Sb 12,20
    O Livro do Profeta Joel já exortava, pedindo penitências: "'Por isso, ainda agora - Oráculo do Senhor -, voltai a Mim de todo vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto.' Rasgai vossos corações e não vossas vestes voltai ao Senhor Vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-Se do castigo que inflige. Quem sabe se Ele mudará de parecer e voltará atrás, deixando após Si uma bênção? Ofertas e libações ao Senhor, Vosso Deus." Jl 2,12-14
    São Paulo também o observou, dizendo da necessária Confissão: "Ou desprezas as riquezas da Sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida ao arrependimento?" Rm 2,4
    Ora, o tempo que nos é dado é de suma importância, pois, a despeito de quando se dará o Juízo Final, logo após a morte cada um de nós enfrentará o Juízo Particular: "Como está determinado que os homens uma só vez morram, e logo em seguida vem o Juízo..." Hb 9,27
    Atentando contra paciência de Deus, pois, muitos nesse mundo agem como o mau servo da parábola de Jesus, ignorando divinos desígnios e o próprio Juízo Particular: "Mas, se é um mau servo que consigo imagina: 'Meu Senhor tarda a vir', e põe-se a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios, o Senhor desse servo virá no dia em que ele não O espera e na hora em que ele não sabe. E despedi-lo-á e mandá-lo-á ao destino dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes." Mt 24,48-51
    Com efeito, para que bem compreendêssemos o agir de Deus e a inviolável instauração de Seu projeto, Nosso Salvador falou de nossa 'reles' contribuição, que o Evangelho segundo São Marcos apontou: "Jesus disse à multidão: 'O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga.'" Mc 4,26-28
    No Livro de Apocalipse de São João, por sinal, foi revelado que os perseverantes serão premiados em realmente oportuno momento, como na Grande Tribulação. Disse Jesus: "Porque guardaste a Palavra de Minha paciência, Eu também te guardarei da hora da provação, que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da Terra." Ap 3,10
    E para estes tempos, um anjo do Apocalipse também apontou os Santos como melhores exemplos: "Eis o momento para apelar para a paciência dos Santos, dos fiéis, aos Mandamentos de Deus e à fé em Jesus." Ap 14,12
    Embora eles também tenham intercedido a Deus por urgência, quando obtiveram uma expressiva resposta: "Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: 'Até quando Tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar nosso sangue contra os habitantes da Terra?' Então foi dada a cada um deles uma branca veste e lhes foi dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para serem mortos." Ap 6,9-11
    Foi, aliás, nessa condição de fidelidade e santidade que o Amado Discípulo teve grandes revelações: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, forte voz como de trombeta, que dizia: 'O que vês, escreve-o num Livro...'" Ap 1,9-11a
    São Paulo, no mesmo sentido, mostrou-nos como reconhecer um autêntico representante de Cristo: não com palavras mas atitudes: "Os distintivos sinais do verdadeiro Apóstolo realizaram-se, em vosso meio, através de uma paciência a toda prova..." 2 Cor 12,12
    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses distinguia procederes no trato com cada fiel, porém especificamente pedia um deles para com todos: "Pedimo-vos, porém, irmãos, corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende paciência para com todos." 1 Ts 5,14
    A Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo vai pedir-lhe o mesmo: "Eu conjuro-te em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por Sua Aparição e por Seu Reino: prega a Palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir." 2 Tm 4,1-2
    Dá importantes instruções sobre essa batalha espiritual: "Rejeita as tolas e absurdas discussões, visto que geram contendas. A um servo do Senhor não convém altercar. Bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do Demônio, que a seus caprichos os mantém cativos e submetidos." 2 Tm 2,23-26
    Dirigindo-se aos cristãos da cidade de Éfeso, ele pedia pelos membros da Igreja: "Exorto-vos, pois, prisioneiro que sou pela causa do Senhor, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza de alma, mutuamente suportando-vos com caridade. Sede solícitos em conservar a Unidade do Espírito no vínculo da Paz." Ef 4,1-3
    Também pediu aos da cidade de Colosso: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e mutuamente perdoai-vos, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós." Cl 3,12-13
    E recomenda alguns cuidados a mais com quem não é da Igreja Católica: "Procedei com Sabedoria no trato com os de fora. Sabei aproveitar todas circunstâncias. Que vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal, e a cada um sabei responder devidamente." Cl 4,5-6
    Ainda pediu maior amor para com os Sacerdotes da Santa Igreja, escrevendo aos cristãos da cidade de Tessalônica: "Assim, pois, mutuamente consolai-vos e edificai-vos, como já fazeis. Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e admoestar-vos. Para com eles tendes singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,11-13
    Sintetizou esta bela fórmula de cristandade, ao dirigir-se aos romanos: "Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração." Rm 12,12
    Pois via em sua própria história um grande exemplo da paciência de Jesus, sinalizando que qualquer um, independente do pecado que cometeu, pode alcançar a Salvação. A Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo explica: "Eis uma verdade absolutamente certa e merecedora de fé: Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. Se encontrei Misericórdia, foi para que primeiro em mim Jesus Cristo manifestasse toda Sua longanimidade, e eu servisse de exemplo para todos que, a seguir, n'Ele crerem para a Vida Eterna." 1 Tm 1,15-16
    E deixou a simplicidade, o manso tocar do cotidiano como a grande marca de vida na fé: "Procurai viver com serenidade, ocupando-vos de vossas próprias coisas e trabalhando com vossas mãos, como vo-lo temos recomendado." 1 Ts 4,11
    Sobre esse aspecto, nos Provérbios encontramos uma pérola da Sabedoria, o próprio exemplo do Cristo! "Mais vale a paciência que o heroísmo, mais vale quem domina o coração que aquele que conquista uma cidade." Pr 16,32
    Sem dúvida, na grande maioria dos casos, nem a ira nem a violência são as reações que Deus espera de nós, como São Tiago Menor ensina: "Já sabeis, meus diletíssimos irmãos: todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para irar-se. Porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus." Tg 1,19-20
    São Pedro detalha: "Caríssimos: se com paciência suportais aquilo que sofreis por terdes feito o bem, isto torna-nos agradáveis diante de Deus. De fato, para isto fostes chamados. Cristo também sofreu por vós deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais Seus passos. Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em Sua boca. Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava Sua causa nas mãos d'Aquele que julga com justiça." 1 Pd 2,19.21-23
    Realmente, Nosso Salvador ensinou-nos a total resignação perante a vontade de Deus: "Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias preocupações. A cada dia basta seu mal." Mt 6,34
    E ensinou muito mais que resignação. Tomando a paciência do próprio Pai como exemplo, falou de amor aos inimigos: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, rezai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo, sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Também não fazem isto os pagãos? Portanto, sede Santos, assim como Vosso Pai Celeste é Santo." Mt 5,43-48
    Dias antes de morrer, falando das perseguições que sofreriam os primeiros cristãos, da destruição de Jerusalém, da violência, das incompreensões do mundo e das tribulações do fim dos tempos, Ele deixou uma simples receita que deve ser uma constante em nosso comportamento, como está no Evangelho segundo São Lucas: "Em vossa paciência, possuí vossas almas." Lc 21,19
    Igualmente foi o que São João Evangelista recomendou, ao falar dos poderes do inimigo em difíceis tempos: "Foi-lhe dado, também, fazer guerra aos Santos e vencê-los. Recebeu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação, e hão de adorá-la todos habitantes da Terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no Livro da Vida do Cordeiro Imolado. Quem tiver ouvidos, ouça! Quem procura prender, será preso. Quem matar pela espada, pela espada deve ser morto. Esta é a ocasião para a constância e a confiança dos Santos!" Ap 13,7-10
    Pois mesmo alertando para tantas e tão grandes contrariedades, inclusive Sua própria Crucificação, Jesus garantiu enquanto Se despedia dos Apóstolos, no Evangelho segundo São João: "Referi-vos essas coisas para que em Mim tenhais a Paz. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo." Jo 16,33
    Fica, portanto, a lembrança do temor dos Apóstolos durante a tempestade no mar de Galileia. Navegamos na frágil barca de São Pedro, que é a Verdadeira Igreja, mas, por mais difícil que seja a situação, não podemos desesperar-nos: estamos com Jesus. E mesmo que Ele pareça dormir, devemos estar certos que Ele detém o controle de tudo: "De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia. Os discípulos achegaram-se a Ele e acordaram-nO, dizendo: 'Senhor, salva-nos! Nós perecemos!' E Jesus perguntou: 'Por que este medo, gente de pouca fé?' Então, levantando-Se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria. Admirados, diziam: 'Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?'" Mt 8,24-27

    "Esperamos, ó Cristo, Vossa vinda gloriosa!"