terça-feira, 2 de janeiro de 2024

São Gregório Nazianzeno


    São Gregório Nazianzeno é Doutor da Igreja, e o mais talentoso retórico da Filosofia Patrística. Seus escritos são muito agradáveis e alcançaram a perfeição linguística. Filósofo, profundo conhecedor dos pensadores clássicos, usou a filosofia helenista como base para a compreensão da manifestação de Cristo. Junto aos irmãos São Basílio Magno e São Gregório de Nissa, são denominados os Padres Capadócios. Também foi um excelente orador.
     Era filho de um rico proprietário de terras em Arianzo, também chamado Gregório, que foi convertido ao Catolicismo por sua esposa, mãe de nosso Santo, e ordenado bispo numa cidade próxima, Nazianzo, na Capadócia, pois eram tempos em que a Igreja ainda não exigia celibato de seus Sacerdotes.
    São Gregório Nazianzeno teve o melhor estudo acadêmico que havia. Para isso, foi morar em Cesareia Marítima, depois em Alexandria e Atenas. Ao voltar, em 361, com cerca de 30 anos, foi batizado e ordenado Sacerdote por seu próprio pai, que o queria auxiliando nas funções de sua diocese. Mas ele resistiu e preferiu levar uma vida de ascetismo, retirando-se para o deserto em companhia de São Basílio Magno.
    Este, porém, com insistência estimulava-o a retornar e a ajudar seu pai nas grandes discussões que se levantavam sobre a Doutrina Cristã, e ele acabou concordando. Foram nesses primeiros momentos que se puseram à prova sua Sabedoria, oratória e capacidade de conciliação, e ele correspondeu muito bem, pondo fim às controvérsias locais.
    Juliano, o imperador romano de então, que por quase 10 anos em Atenas havia sido amigo de estudos, adolescência e juventude de São Basílio e São Gregório Nazianzeno, agora publicamente se posicionava contra a Igreja. Ficou conhecido com 'o apóstata'.
    São Gregório escreveu a 'Ofensiva contra Juliano', entre 362 e 363, e declarou que o amor e a paciência iriam converter os imperfeitos governantes, avessos a Cristo. Nessa obra afirma que, por Jesus, o ser humano é convidado a recuperar a semelhança divina e à união mística com Deus (Theosis).
    Juliano perseguiu-o como pôde, mas, em combate contra os persas, acabou morrendo apenas um ano depois. Joviano, que lhe sucedeu, era católico e ativo defensor da Igreja, permitindo a São Gregório retornar às rotinas. Por esses tempos, o arianismo era a heresia que mais causava problemas, principalmente na Capadócia, e nosso Santo fez-lhe forte e vitoriosa oposição. A Igreja então viu nele e em São Basílio importantes figuras de liderança, e, sob o império de Valente, outro cristão, foram ordenados bispos: São Basílio em Cesareia Mazaca, em 370, e São Gregório em Sásima, em 372.
    Sásima era uma minúscula diocese, estrategicamente criada por São Basílio para fazer oposição a Antimo, Bispo de Tiana, que não combatia o arianismo e com ele disputava a autoridade sobre aquela região. O pai de São Gregório, ainda vivo, teve que insistir para que ele assumisse o bispado, pois sabia da importância de sua presença naquele lugarejo, assim como de sua hierárquica ascensão para a Igreja.


    São Gregório, porém, que preferia viver como eremitaa despeito dessa atitude um tanto animosa de São Basílio, acabou aceitando. Mais tarde, assim descreveria sua Cátedra: "... pequeno lugarzinho, absolutamente desprezível; uma irrisória parada de cavalos na estrada principal... sem água, vegetação ou a companhia de cavalheiros... esta era minha igreja em Sásima!"
    Com o envelhecimento e a enfermidade de seu pai, ainda em 372 ele voltou a Nazianzo e aos poucos foi assumindo suas funções, mesmo contrariando São Basílio. É nessa época que redige suas primeiras e conhecidas 'Orações Episcopais', ou seja, oficialmente incorporando o espírito de sua ordenação. Em 374, com a morte de seu pai e de sua mãe, continuou administrando a diocese, embora se tenha recusado a aceitar o bispado. Doou toda sua herança aos pobres e continuou a viver a evangélica pobreza.
    Em 375 retornou a Selêucia, e aí se retirou em um mosteiro até 379, quando faleceu São Basílio. Como não pode ir ao funeral, por problemas de saúde, escreveu uma tocante carta ao irmão dele, São Gregório, Bispo de Nissa, na qual se despede do amigo com dois belíssimos poemas.
    Com a morte do imperador Valente, em 378, assumiu Teodósio I, católico que fervorosamente sustentava as decisões tomadas pela Igreja no Concílio de Niceia, em 325. Na prática, elas designavam o completo expurgo do arianismo, que ensinava que Jesus não era Deus, e do apolinarismo, que dizia que Jesus havia sido um homem com uma mente divina. Os niceanos, que pelos arianos haviam sido expulsos de Constantinopla, sede do Império Romano à época, enfim puderam voltar.
    Em 379, São Gregório foi convidado pelos participantes do Concílio de Antioquia e por seu arcebispo, Melécio, para viver em Constantinopla. Ele era a pessoa certa para fazer frente aos hereges arianos, que ainda persistiam e dominavam algumas igrejas naquela região. Por seu espirito ermitão, inicialmente ele resistiu, mas, sentindo-se chamado, aceitou com resignação. Primeiro foi morar na região de Tiana, adotando a mesma estratégia de São Basílio quando lhe propôs Sásima: firmou-se numa vila próxima à cidade, oferecida por sua prima Teodósia, de onde, de uma pequena igreja que chamou de 'Anastasia', escreveu cinco sermões que marcaram a História da Igreja: ardorosamente versam em defesa das decisões do Concílio de Niceia.
    Como era muito respeitado por sua vida ascética, grandes multidões iam escutá-lo. Fragorosamente derrotados, os arianos ficaram furiosos e tentaram matá-lo na vigília da Páscoa de 379, invadindo armados a pequena igreja. Mas, graças à ajuda do povo, nosso Santo conseguiu escapar ileso. Houve mais uma tentativa, que mais tarde se descobriu como uma armadilha articulada por Pedro, Bispo de Alexandria, pois queria ser Bispo de Constantinopla e temia perder o posto para São Gregório, como tudo indicava.
    Escandalizado, São Gregório quis retornar à vida eremítica. Contudo, os que lhe eram fiéis não o permitiram. Surgem, então, novas críticas, acusando-o de fraqueza. E como ainda havia padres arianos que ocupavam importantes paróquias na diocese de Constantinopla, a situação continuou agitada até que o imperador Teodósio I resolveu expulsar Demófilo, Bispo (ou Patriarca) de Constantinopla, da Basílica dos Apóstolos, e ordenar São Gregório para substituí-lo.
    Acreditando na guia do Espírito Santo para resolver as divisões dentro da Igreja, São Gregório instou Teodósio I para que convocasse o Primeiro Concílio de Constantinopla. Melécio, Arcebispo de Antioquia, foi indicado para presidi-lo, mas veio a falecer durante os encontros. Eleito São Gregório em seu lugar, e com sua indicação de Paulino como Arcebispo de Antioquia, levantou-se forte oposição dos bispos das províncias romanas do Egito e da Alexandria, que, valendo-se das normas hierárquicas, contestavam a 'transferência' de São Gregório de Sásima, que ele abandonara, para Constantinopla.
    Reconhecendo esse 'erro' e cansado de tantos atritos, em inspirado discurso voltou-se São Gregório Nazianzeno para o imperador e, em nome de algum consenso, surpreendeu a todos com seu pedido de dispensa da Presidência do Concílio e do Arcebispado de Constantinopla. Comovido, Teodósio I reconheceu seu gesto de grandeza e, diante do difícil concerto, aceitou sua renúncia. A maior parte dos bispos do Concílio, no entanto, pediram-lhe que participasse de um ritual de despedida, quando ele proferiu a famosa 'Oração 42'.
    Nosso Santo significativamente contribuiu para o reconhecimento do Espírito Santo como Deus, e assim para a compreensão do Dogma da Santíssima Trindade, exercendo grande influência sobre os Padres Latinos e Gregos. Para ele, o Divino Paráclito estava 'escondido' no Antigo Testamento e mais claramente manifestou-Se após a Ascensão de Jesus, no Pentecostes. Ao defender a consubstancialidade de Jesus com o Pai, lançou com São Basílio e São Gregório de Nissa o conceito de três Pessoas em Um só Deus, e por isso também é conhecido como 'o Teólogo Trinitário'.
    Deixou 43 discursos, entre eles os renomados 'Discursos Teológicos'. Escreveu 249 cartas, muitas delas dirigidas a São Basílio, três delas versando contra o apolinarismo. E são seus mais de 400 memoráveis poemas sobre dogmas, moral, amigos e sobre si mesmo, além de epitáfios. Apesar de não ter escrito nenhum tratado ou comentário essencialmente bíblico, ficou igualmente conhecido pelo título de 'o Teólogo'.
    Retornando a Nazianzo, porém, não conseguiu ser dispensado do bispado e teve que fazer frente ao apolinarismo que ali ainda resistia. Ao final de 383, com mais de 60 anos, por conta de sua intensa vida de penitente, alegou falta de condições de saúde para continuar como bispo e aposentou-se.
    Seus ensinamentos, entretanto, seguiram ecoando entre os fiéis:

    "Se Vós não existísseis, ó Meu Cristo, eu sentir-me-ia como uma finita criatura."
    "O que Ele era, Ele colocou de lado; O que Ele não era, Ele assumiu. Ele toma sobre Si a pobreza de minha carne, para que eu possa receber as riquezas de Sua divindade."
    "Não consigo pensar sobre o Um, sem ser rapidamente cercado pelo esplendor dos Três; nem consigo discernir os Três, sem ser imediatamente levado para o Um."
    "A Graça não é dada aos que dizem ter, mas aos que vivem a ."
    "Nada agrada tanto a Deus quanto o arrependimento e a Salvação do homem, para quem se destinam todas Suas palavras e mistérios."
    "Estas três coisas Deus exige de todos batizados: correta fé no coração, Verdade na língua, temperança no corpo."
    "Em breve participaremos de mais perfeito e mais puro modo, quando o Verbo conosco celebrar a Nova Páscoa no Reino de Seu Pai, manifestando-nos e revelando-nos o que até agora só em parte nos mostrou."
    "Todos que viveram de acordo com Deus ainda vivem para Deus, embora tenham partido desta vida. Por isso, Deus é chamado de Deus de Abraão, Isaque e Jacó, pois Ele é o Deus, não dos mortos, mas dos vivos (Mt 22,32)."
    "Nós precisávamos de um Deus encarnado, um Deus morto, para que pudéssemos viver. Nós fomos mortos com Ele, para que possamos ser purificados; ressuscitamos com Ele, porque morremos com Ele; Nós fomos glorificados com Ele, porque ressuscitamos com Ele."
    "Como um peixe não pode nadar sem água, e como um pássaro não pode voar sem ar, assim um cristão não pode avançar um único passo sem Cristo."
    "Nós não somos feitos para nós mesmos; somos feitos para o bem de todos nossos semelhantes."
    "Dê algo, por menor que seja, para aquele que precisa. Pois não é pequeno para quem não tem nada, nem é pequeno para Deus, se dermos o que pudermos."
    "É como empregar uma pequena ferramenta em grandes construções, se usarmos a sabedoria humana na busca do conhecimento da realidade."
    "É difícil praticar a obediência; mas ainda mais difícil é praticar a liderança."
    "Pois nada é tão agradável para os homens quanto falar da vida de outras pessoas, principalmente sob a influência de afeição ou de ódio, o que muitas vezes quase que por completo nos cega à Verdade."
    "Quase todo pecado é cometido por causa do prazer sensual; e o prazer sensual é superado pelas dificuldades e pelas angústias que voluntariamente surgem do arrependimento, ou mesmo involuntariamente, como resultado de algum salutar e providencial reverso."
    "É melhor escolher uma louvável guerra que a paz que separa de Deus. A fé que pelos Santos Padres me foi ensinada, que em todos momentos ensinei sem ajustar de acordo com os tempos, essa fé nunca cessarei de ensinar. Eu nasci com isso e por isso vivo."

    Então voltou para Arianzo, sua terra natal, e aí faleceu em 389. Foi enterrado em Nazianzo, onde o imperador Teodósio ergueu uma sólida e vistosa igreja em sua homenagem, que ainda hoje pode ser vista, embora tenha sido tomada pelos muçulmanos e transformada em mesquita.


    Em 950, porém, por maior honraria suas relíquias foram levadas para a igreja dos Santos Apóstolos, em Constantinopla. E em 1204, para evitar profanações pelos islamitas, os cruzados levaram-nas para Roma, onde na Basílica de São Pedro têm uma capela que leva seu nome, e cujo altar é dedicado a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.


    Conhecido por seus esforços pelo reenvidamento do Ecumenismo, em 2004 o Papa São João Paulo II reteve apenas parte delas no Vaticano, e devolveu-as, junto às relíquias de São João Crisóstomo, a Istambul, antiga Constantinopla, e aí foram guardadas na Catedral de São Jorge, sede do patriarcado da igreja ortodoxa.


    São Gregório Nazianzeno, rogai por nós!