quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Santo André Apóstolo


    O irmão de São Pedro é considerado o 'protocletos', que em grego significa 'primeiro convocado'. Religioso e sensível, já era discípulo de São João Batista quando Jesus Se apresentou para ser batizado.
    Entre os Apóstolos, também é o primeiro a afirmar e a anunciar Jesus como o Messias, além de convocar um novo discípulo, o próprio São Pedro. São João Evangelista narrou esse episódio: "No seguinte dia, lá estava João outra vez com dois de seus discípulos. E ao avistar Jesus, que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus.' Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-Se Jesus, e vendo que O seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?' Disseram-Lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?' 'Vinde e vede', respondeu-lhes Ele. Foram aonde Ele morava e com Ele ficaram aquele dia. Era cerca da décima hora. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que O tinham seguido. Logo foi ele, então, à procura de seu irmão e disse-lhe: 'Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo).' Levou-o a Jesus, e Jesus, nele fixando o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)!'" Jo 1,35-42
    Por essa frase, vemos que Jesus demonstra conhecer São Pedro e também seu pai, portanto, também pai de Santo André. Sinal de Sua Onisciência? Ele vai dar idêntica mostra ao encontrar São Bartolomeu: "Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz: 'Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.' Natanael pergunta-Lhe: 'Donde me conheces?' Respondeu Jesus: 'Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.' Falou-Lhe Natanael: 'Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.'" Jo 1,47,49
    Como São Filipe, Santo André e São Pedro eram de Betsaida, nome que significa 'casa da pesca', lugar próximo a Cafarnaum e ao Mar da Galileia: "Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro." Jo 1,44
    Sabemos que, junto ao irmão, Santo André fazia parte de uma colônia de pescadores, mas, após Se retirar para o deserto por 40 dias, Jesus retornou e convidou-os para que pescassem almas: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo!' Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: 'Vinde após Mim, e fá-vos-ei pescadores de homens.' Na mesma hora, abandonaram suas redes e seguiram-nO." Mt 4,17-20
    Santo André era solteiro e morava com São Pedro, cuja casa foi dote de casamento, pois morava com a sogra: "Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-Se a ensinar. Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e sem tardar falaram-Lhe a respeito dela. Aproximando-Se Ele, tomou-a pela mão e levantou-a. Imediatamente a febre deixou-a e ela pôs-se a servi-los." Mc 1,21.29-31
    Mas São Lucas, que era médico, deu outro 'diagnóstico' para esta febre: "Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram-lhe por ela. Inclinando-Se sobre ela, ordenou Ele à febre, e a febre deixou-a. Ela imediatamente levantou-se e pôs-se a servi-Los." Lc 4,38-39
    Na lista dos Apóstolos, Santo André aparece em segundo lugar nos Evangelhos de São Mateus e São Lucas, atrás apenas do irmão, o Príncipe dos Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelote; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,12-16
    Ou na quarta posição em São Marcos e nos Atos dos Apóstolos (At 1,13), dando devido lugar a São Tiago Maior e São João, que com São Pedro eram os três mais íntimos de Jesus. Ou seja, nosso Santo sempre estava entre os quatro, do primeiro dos três grupos de quatro: "Designou Doze, dentre eles, para ficar em Sua companhia. Ele enviá-los-ia a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes Doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele também escolheu André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelote; e Judas Iscariotes, que O entregaria." Mc 2,14-19
    No dia em que multiplicou pães e peixes, Jesus provocou São Filipe, mas foi Santo André quem dispôs do que os Apóstolos tinham para que o milagre da 'partilha' acontecesse: "Jesus subiu a um monte e ali Se sentou com Seus discípulos. Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus. Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão, que vinha ter com Ele, e disse a Filipe: 'Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?' Um de Seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-Lhe: 'Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas o que é isto para tanta gente?'" Jo 6,3-9
    E é através de Santo André que São Filipe dá um importantíssimo recado a Jesus, quando Nosso Salvador percebe que Seu Nome já havia chegado a países vizinhos, e por isso anuncia a chegada de Sua hora: "Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe (aquele de Betsaida da Galileia) e rogaram-lhe: 'Senhor, quiséramos ver Jesus.' Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe disseram-no ao Senhor. Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só. Se morrer, produz muito fruto.'" Jo 12,20-24
    Por essas passagens e pela seguinte, notamos que São Marcos torna a indicar que Santo André fazia parte de um grupo mais íntimo de Cristo, ainda que não tão íntimo como eram São Pedro, São Tiago Maior e São João Evangelista: "Saindo Jesus do Templo, disse-Lhe um de Seus discípulos: 'Mestre, olha que pedras e que construções!' Jesus replicou-lhe: 'Vês este grande edifício? Não se deixará pedra sobre pedra que não seja demolida.' E estando sentado no monte das Oliveiras, defronte ao Templo, perguntaram-Lhe à parte Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por qual sinal se saberá que tudo isso vai realizar-se?' Jesus pôs-Se, então, a dizer-lhes: 'Cuidai que ninguém vos engane. A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do Céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.'" Mc 13,1-7.32
    No livro dos Atos dos Apóstolos, Santo André só é mencionado na lista dos Onze, nos dias que antecede ao Pentecostes, o que explica sua intensa atividade fora de Jerusalém desde os primeiros anos da Igreja, como sustenta a Sagrada Tradição: "Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam na oração, e com eles as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele. Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar." Ap 1,13-14;2,1
    Segundo Santo Hipólito, após a Ascensão de Jesus, Santo André pregou na Trácia, hoje região da Bulgária. O apócrifo livro 'Atos de André' aponta-o como o fundador da igreja na importantíssima Bizâncio, que no século IV iria ser chamada de Constantinopla. Este fato teria acontecido no remoto ano de 38, pouquíssimo tempo, portanto, após a Paixão do Senhor. Estácio teria sido ordenado bispo por ele, e substituiu-o após nova partida sua em peregrinação. Ainda hoje ele é reconhecido como o Padroeiro de Istambul, atual nome da cidade, a mais importante da Turquia e ponto de conexão da Ásia com a Europa.
    Baseando-se em Orígenes, Eusébio de Cesareia diz que Santo André teria pregado na Ásia Menor, atual Turquia, especificamente na região da Cítia, que fica na costa do Mar Negro, peregrinado por algumas cidades ao longo do Rio Volga, e por isso é também o Padroeiro da Rússia, além de ter evangelizado Kiev, capital da atual Ucrânia. É igualmente Padroeiro da Romênia, onde também exerceu seu apostolado. Parece mesmo ter tomado todo entorno do Mar Negro como área de atuação.
    De volta a Grécia, radicou-se em Patras, na região da Acaia, terras do sudeste, onde fundou a igreja local, que viria a ser modelo para todas demais. Por sua incendiária fama, pois realizava milagres e convertia a muitos, o governador e juiz romano Egeas quis impor-lhe sua autoridade, mas nosso Apóstolo recusou-a e recomendou-lhe que ele é deveria submeter-se à autoridade de Cristo. E como mensageiro da Verdade, ainda lhe revelou que, pela patente impostura de muitos sacerdotes e pelos maus costumes do povo, os deuses pagãos haviam-se tornado anteparos de demônios, que a todos seduziam, enganavam e molestavam.
    Informados desta denúncia, e enfurecidos, os principais sacerdotes pagãos passaram a assediar Egeas, e por ilações conseguiram que ele ordenasse a crucificação de Santo André. Todos ficaram espantados, porém, quando ele, com insuspeita alegria, recebeu sua condenação. Numa atitude que vai lembrar a do próprio São Pedro, pois foi executado antes dele, Santo André apenas lhe pediu que fosse crucificado numa cruz diferente da de Jesus, porque não era digno de morrer como Seu Mestre.


    Por dois dias ficou dependurado numa cruz em forma de X, e por não ser assistidos por nenhum cristão, porque todos foram ameaçados de morte, indicou onde estavam e doou seus pertences aos carrascos, que estavam visivelmente constrangidos em cumprir aquela ordem. Agia sob inspiração, pois eles viriam a converter-se e seus parcos bens, a maior parte deles sagrados, usados para celebrar a Eucaristia, seriam devolvidos à igreja local, que sobreviveria na clandestinidade.
    Assim sua santidade, como seu especial carisma, de expressiva amabilidade, foram amplamente reconhecidos. Seu testemunho pelo sacrifício, de fato, foi marcante: não demonstrou vacilação alguma quanto à Divina Providência ou à Vida Eterna.
    Seus restos mortais ficaram em Patras até 357, quando Constantino os levou a Constantinopla. Na Quarta Cruzada, no início do século XII, os cruzados levaram-nos a Roma, por temerem as recorrentes profanações dos invasores turcos, seguidores do islamismo.
    Conforme a Sagrada Tradição, ao serem levadas a Europa por cruzados, suas relíquias primeiro estiveram na Escócia, onde ficou por bom tempo numa cidade que passou a levar seu nome, Saint Andrews, e por isso a bandeira deste país traz sua cruz.


    Após a união entre a Escócia e a Inglaterra, cuja bandeira já ostentava a Cruz de Cristo, a do Reino Unido incorporou a cruz de Santo André.


    Ainda durante as cruzadas, fragmentos dos ossos de seu pé foram levados a Donetsk, capital de uma região da Ucrânia.


    Em 1964, o Papa São Paulo VI devolveu suas relíquias a Patras, quando já eram apenas os ossos de um dedo, parte do crânio e pedaços de sua cruz.


    Seu crânio, em peregrinação a Amalfi, na Itália, foi venerado pelo saudoso Papa Bento XVI, ainda enquanto Sumo Pontífice.


    Santo André, rogai por nós!