segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os Juízos: Particular e Final


O JUÍZO FINAL

    Jesus anunciou que, por Seu poder, no Grande Dia de Sua Volta todos ressuscitarão, quer dizer, retomarão seus corpos. Mas deixou igualmente claro que, após o Julgamento Final, nem todos terão o mesmo destino. Foi perante os líderes judeus na segunda festa em Jerusalém depois de iniciada Sua Missão, falando em terceira Pessoa, como o Evangelho Segundo São João narrou: "Pois como o Pai tem a Vida em Si mesmo, também deu ao Filho ter a Vida em Si mesmo, e conferiu-Lhe o poder de julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de Sua voz: aqueles que praticaram o bem, irão para a Ressurreição da Vida, e aqueles que praticaram o mal, ressuscitarão para serem condenados." Jo 5,26-29
    Contudo, desde Sua Ascensão, Ele não está sozinho neste ofício, por ocasião dos Juízos Particulares, nem estará no dia do Juízo Final. Tem a companhia dos Santos, como se lê no Livro de Apocalipse de São João: "Também vi tronos, sobre os quais se sentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e todos aqueles que não tinham adorado a fera ou sua imagem, que não tinham recebido seu sinal na fronte nem nas mãos. Eles viveram uma vida nova, e com Cristo reinaram por mil anos." Ap 20,4
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios já o afirmava: "Não sabeis que os Santos julgarão o mundo? E, se o mundo há de ser julgado por vós, seríeis indignos de julgar os processos de mínima importância? Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais as pequenas questões desta vida!" 1 Cor 6,2-3
    Nosso Senhor mesmo deu um claro exemplo, no Evangelho Segundo São Mateus, respondendo a uma provocação de escribas e fariseus, e dizia de não israelitas do tempo de Salomão: "No Dia do Juízo, os ninivitas levantar-se-ão com esta geração e condena-la-ão, porque se converteram pela pregação de Jonas. No Dia do Juízo, a rainha do Sul levantar-se-á com esta geração e condena-la-á, porque veio dos confins da Terra para ouvir a Sabedoria de Salomão.” Mt 12,41a.42a
    E disse aos Apóstolos: "Respondeu Jesus: 'Em Verdade, declaro-vos: no Dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da Glória, vós, que Me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.'" Mt 19,27-28
    A Carta de São Paulo aos Romanos também fala de pagão julgando judeu, referindo-se ao Antigo Testamento: "Se, portanto, o incircunciso guardar os preceitos da Lei, porventura sua incircuncisão não será considerada circuncisão? E o fisicamente incircunciso, cumpridor da Lei, julgará a ti que, apesar da letra e da circuncisão, és transgressor da Lei." Rm 2,26-27
    E como era crença entre a maioria dos judeus, São Paulo, após ser preso em Jerusalém, afirmou perante o governador romano de Cesareia que no Dia do Senhor todos, bons e maus, ressuscitarão. É passagem do Livro de Atos dos Apóstolos: "Tenho esperança em Deus, como eles (fariseus) também esperam, de que há de haver a Ressurreição dos justos e dos pecadores." At 24,15
    Já o havia dito aos cristãos da cidade de Corinto: "Assim como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão." 1 Cor 15,22
    Essa era uma promessa feita por Deus no Livro do Profeta Daniel, quando Ele também o avisou de uma Grande Tribulação: "Naquele tempo, levantar-se-á Miguel, o grande príncipe, defensor dos filhos de teu povo. E será um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que as nações começaram a existir. Mas, nesse tempo, teu povo será salvo, todos que se acharem inscritos no Livro. Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão: uns para a Vida Eterna, outros para o eterno opróbrio. Aqueles que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento, e aqueles que a muitos homens tiverem ensinado os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas por toda eternidade." Dn 12,1-3
    Na Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, lemos que durante esta tribulação haverá inomináveis sacrilégios, quando muitos abandonarão a  e as obras do Diabo se tornarão acintosamente visíveis num destacado anticristo: "Ninguém vos engane de modo algum. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no Templo de Deus e apresentar-se como se fosse Deus." 2 Ts 2,3-4
    E a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo dá detalhes da guerra contra a Igreja Católica Apostólica Romana: "O Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a embusteiros espíritos e a diabólicas doutrinas, de hipócritas e impostores, marcados na própria consciência com o ferrete da infâmia..." 1 Tm 4,1-2
    De fato, ao falar de Seu Retorno no Evangelho Segundo São Lucas, Jesus também apontou um tempo de grande apostasia: "Mas quando o Filho do Homem vier, acaso achará fé sobre a Terra?" Lc 18,8a
    E noutra passagem, já na semana em que seria crucificado, Ele mesmo respondeu a essa pergunta: "E ante o crescente progresso da iniquidade, a caridade de muitos esfriará." Mt 24,12
    Antes de falar da Ressurreição, porém, Ele havia dito aos líderes judeus de Jerusalém que Deus Pai não conduziria o Julgamento, mas havia-Lhe incumbido dessa função: "Porque o Pai não julga ninguém, mas ao Filho entregou todo Julgamento." Jo 5,22
    Por isso, São Pedro ensinou na casa do centurião Cornélio, a instantes do 'Pentecostes dos Gentios': "Ele (Jesus) mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que é Ele Quem, por Deus, foi constituído Juiz dos vivos e dos mortos. D'Ele todos Profetas dão testemunho, anunciando que todos aqueles que n'Ele creem recebem o perdão dos pecados por meio de Seu Nome." At 10,38-39.42-43
    Sem dúvida, assim havia sido a visão de Deus Pai e Deus Filho, que Daniel teve: "Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um Ancião chegou e Se sentou. Brancas como a neve eram Suas vestes, e tal como a pura lã era Sua cabeleira. Seu trono era feito de chamas, com rodas de ardente fogo. Saído de diante d'Ele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares serviam-nO, dezenas de milhares assistiam-nO! O Tribunal deu audiência e os Livros foram abertos. Sempre olhando a noturna visão, vi um Ser, semelhante ao Filho do Homem, vir sobre as nuvens do Céu: dirigiu-Se para o lado do Ancião, diante de Quem foi conduzido. A Ele foram dados império, Glória e realeza, e todos povos, nações e línguas serviram-nO. Seu domínio será eterno, nunca cessará, e Seu Reino jamais será destruído." Dn 7,9-10.13-14
    Nosso Senhor reafirmava, no entanto, Sua total submissão ao Pai, ainda falando aos líderes da Cidade Santa: "De Mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço. E Meu Julgamento é justo, porque não busco Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou." Jo 5,30
    E após o Domingo de Ramos, quando causou divisão entre chefes do povo e fariseus de Jerusalém, disse que Sua Palavra é estritamente a Palavra do Pai: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo Me prescreveu o que devo dizer e o que devo ensinar. E sei que Seu Mandamento é Vida Eterna. Portanto, o que digo, digo-o segundo Me falou o Pai." Jo 12,49-50
    Com efeito, ainda no Livro de Deuteronômio e falando sobre Nosso Salvador, Deus Pai havia prometido aos israelitas através de Moisés: "Porei Minhas Palavras em Sua boca, e Ele comunicá-lhes-á tudo que Eu Lhe ordenar. Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as Palavras que Ele pronunciar em Meu Nome." Dt 18,18-19
    E Jesus havia dito, igualmente aos líderes judeus em Sua segunda festa em Jerusalém, que nesse Tribunal não Lhe caberia o papel de acusador, mas a Moisés, que das mãos de Deus recebeu a Lei: "Não julgueis que hei de acusar-vos diante do Pai. Há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais vossa esperança." Jo 5,45
    Aliás, essa era a advertência de São João Batista desde o começo de sua pregação, pois o Antigo Testamento, chamado de Lei, já estava amplamente divulgado: "O machado já está posto à raiz das árvores. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo." Lc 3,9
    E São Paulo declara Jesus, o Verbo Encarnado, como o próprio objetivo da Antiga Aliança, dizendo dos judeus: "Desconhecendo a Justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, eles não se sujeitaram à Justiça de Deus. Porque a finalidade da Lei é Cristo..." Rm 10,4a
    Além de Moisés, porém, havia mais um acusador, o inimigo, mas esse já foi vencido por Jesus quando Ele voltou ao Pai, como uma voz gritou nos Céus em registro de São João: "Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia a noite os acusava diante do Nosso Deus." Ap 12,10
    Jesus ainda explicou em Jerusalém durante Seus últimos dias que, como Salvador, também não condenaria ninguém. Seu Julgamento dar-se-ia pela Palavra que Ele estava anunciando. Ou seja, quem rejeita Sua Palavra, automaticamente condena-se: "Se alguém ouve Minhas Palavras e não as guarda, Eu não o condenarei, porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar. Quem Me despreza e não recebe Minhas Palavras, tem quem o julgue: a Palavra que anunciei julgá-lo-á no Último Dia." Jo 12,47-48
    Ora, Ele já havia dito a São Tiago Maior e a São João Apóstolo, quando eles quiseram rogar por fogo dos Céus contra uma vila de samaritanos que se recusaram a acolhê-los: "Não sabeis de que Espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para as salvar." Lc 9,55-56
    Também disse a Nicodemos, um chefe e notável dos fariseus, durante Sua primeira Páscoa em Missão na Cidade Santa, deixando claro que não crer n'Ele já implica alguma punição: "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para o condenar, mas para que por Ele o mundo seja salvo. Quem n'Ele crê, não é condenado, mas quem não crê já está condenado. Porque não crê no Nome do Único Filho de Deus." Jo 3,17-18
    E assim repetiu, quando encarregou os Apóstolos antes de Sua Ascensão, no Evangelho Segundo São Marcos: "E disse-lhes: 'Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.'" Mc 16,15-16
    No entanto, Ele não condenou a mulher flagrada em adultério, bem como os escribas e fariseus que queriam apedrejá-la, episódio que se deu no Templo de Jerusalém: "Então Ele Se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: 'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: 'Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.'" Jo 8,10-11
    E sequer aceitou, enquanto abertamente ensinava aos israelitas, mediar entre dois irmãos: "Disse-Lhe, então, alguém do meio do povo: 'Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.' Jesus respondeu-lhe: 'Meu amigo, quem Me constituiu juiz ou árbitro entre vós?'" Lc 12,13-14
    Sua Palavra, portanto, é Perene Juízo que já está em curso, como o Amado Discípulo apontou das últimas revelações que teve: "De Sua boca sai uma afiada espada, para com ela ferir as pagãs nações. Porque Ele deve governá-las com cetro de ferro, e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador." Ap 19,15-16
    E com toda paciência, neste Livro Jesus pede arrependimento à diocese de Pérgamo, uma das sete da Ásia de então: "Arrepende-te, pois! Senão em breve virei a ti e contra eles combaterei com a espada de Minha boca." Ap 2,16
    São João Evangelista, pois, viu o Juízo Final, que se dará em três breves atos: "Mas a fera foi presa, e com ela o falso profeta que realizara prodígios sob seu controle, com os quais seduzira aqueles que tinham recebido o sinal da fera e se tinham prostrado diante de sua imagem. Ambos foram lançados vivos no lago de sulfuroso fogo. Os demais foram mortos pelo Cavaleiro, com a espada que Lhe saía da boca." Ap 19,20-21a
    E por incrível que pareça, na Batalha Final também haverá gente do povo combatendo contra Deus: "Vi, então, um anjo de pé sobre o sol, a chamar em alta voz a todas aves que voam pelo meio dos céus: 'Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para comerdes carnes de reis, carnes de generais e carnes de poderosos carnes de cavalos e cavaleiros carnes de homens, livres e escravos, pequenos e grandes.' ... foram mortos pelo Cavaleiro, com a espada que Lhe saía da boca. E todas as aves fartaram-se de suas carnes." Ap 19,18.21b
    Deus mesmo havia-Se pronunciado 400 antes antes de Cristo, no Livro do Profeta Malaquias, falando de patentes pecados de Israel e recomendando arrependimento: "Virei ter convosco para o Julgamento, e serei pronta testemunha contra os adivinhos, os adúlteros, os perjuros, contra os que retêm o salário do operário, que oprimem a viúva e o órfão, que maltratam o estrangeiro e não Me temem,' diz o Senhor. 'Porque Eu sou o Senhor e não mudo. E vós, ó filhos de Jacó, ainda não sois um extinto povo. Desde os dias de vossos pais, apartaste-vos de Meus Mandamentos e não os guardastes. Voltai a Mim, e Eu voltar-Me-ei para vós,' diz o Senhor dos Exércitos." Ml 3,5-7a
    E versando sobre bons e maus, Ele já argumentava no Livro do Profeta Ezequiel: "'Terei Eu prazer com a morte do malvado?' Oráculo do Senhor Javé. 'Não desejo Eu, antes, que ele mude de proceder e viva? E se um justo abandonar sua Justiça, se praticar o mal e imitar todas abominações cometidas pelo malvado, viverá ele? Não será tido em conta qualquer dos bons atos que houver praticado. É em razão da infidelidade, da qual se tornou culpado, e dos pecados que tiver cometido que deverá morrer.'" Ez 18,23-24
    A condenação final, pois, é patente, como o Livro de Sabedoria, de cinco décadas antes de Jesus, já expressava: "Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, numa eterna ignomínia, porque Ele (Deus) os ferirá, sem voz os precipitará, em suas bases os abaterá e na última desolação os mergulhará. Eles serão entregues à dor, e a memória deles desaparecerá. Aterrorizados comparecerão com a lembrança de seus pecados, e suas iniquidades levantar-se-ão contra eles para os confundir." Sb 4,19-20
    Este sagrado autor até revela um detalhe: "... porque os filhos nascidos de ilícitas uniões serão, no Dia do Juízo, testemunhas a deporem contra seus pais." Sb 4,6
    Ora, na Carta aos Hebreus, os seguidores da tradição de São Paulo afirmaram: "Porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do espírito, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura Lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos d'Aquele a Quem havemos de prestar contas." Hb 4,12-13
    E Jesus já proferiu Seu veredicto. A poucos dias de Sua Páscoa, pregando Seu Mandamento de amor ao próximo, Ele revelou o critério pelo qual será concedida a Salvação: "Estes também Lhe perguntarão: 'Senhor, quando foi que Te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não Te socorremos?' E Ele responderá: 'Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim que deixastes de fazê-lo. E estes irão para o eterno castigo, e os justos, para a Vida Eterna.'" Mt 25,44-46
    Ele assim havia explicado a Nicodemos esse perene e automático Julgamento: "Ora, este é o Julgamento: a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a Luz, pois suas obras eram más." Jo 3,19
    Com razão, numa passagem por Jerusalém antes da Páscoa de Sua Paixão, Jesus apresentou-Se exatamente nesses termos: "Eu sou a Luz do mundo. Aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a Luz da Vida." Jo 8,12
    Assim, por patente força da Palavra de Deus, o Apóstolo dos Gentios diz que a revelação do Juízo Particular de muitas pessoas não trará nenhuma novidade, ao passo que sobre outras pouco resta por ser descoberto no Juízo Final: "Os pecados dos homens às vezes são conhecidos já antes de levados a Juízo. Outras vezes sê-lo-ão depois. Da mesma forma, as boas obras: ou já são manifestas ou não poderão permanecer ocultas." 1 Tm 5,24-25
    Porque aí tudo estará às claras para todos: "Isso claramente aparecerá no Dia em que, segundo meu Evangelho, Deus julgar as secretas ações dos homens, por Jesus Cristo." Rm 2,16
    E apesar de prudente, ele mostrava-se confiante: "É verdade que minha consciência em nada me acusa, mas não é por isso que posso ser considerado justo. Quem me julga é o Senhor! Portanto, não queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver merecido." 1 Cor 4,4-5
    Por isso, Jesus assegurou que no Grande Dia do Juízo tudo será revelado: "Porque nada há oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido." Lc 12,2
    No entanto, é claro que muitos prepotentes serão surpreendidos, como o Livro de Eclesiástico profetiza: "Quem anunciará, quem poderá suportar os efeitos de Sua Justiça? Pois as divinas sentenças estão longe do pensamento de muitos, e o decreto só se realizará no Último Dia. O homem de mesquinho coração só pensa em vaidades. O imprudente e o extraviado só se ocupam de loucuras." Eclo 16,22b-23
    Assim, após a exposição dos pecados dos impenitentes, e por força da Divina Justiça que será feita, não haverá dor ao vê-los condenados. Deus disse por Isaías: "... porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito. Pois Eu vou criar novos céus e nova Terra. O passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito, mas será experimentada a eterna alegria e felicidade daquilo que vou criar. Porque vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e seu povo ao júbilo..." Is 65,16b-18
    De uma voz nos Céus, São João ouviu que Deus, já em meio aos que alcançarem a Salvação, "Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição." Ap 21,4
    Porque punição, inequivocamente, haverá, tal qual o Eclesiástico adverte: "Lembra-te da ira do Último Dia, e do tempo em que Deus castigará, desviando o rosto." Eclo 18-24
    E será definitiva: "Pois o Senhor virá em meio ao fogo, com Seus carros de guerra semelhantes ao furacão, para acalmar Sua cólera e cumprir Suas ameaças em ardentes chamas, porque o Senhor fará a Justiça de toda Terra pelo fogo, com Sua espada sobre toda carne, e muitos cairão sob os golpes do Senhor." Is 66,15-16
    Da autocondenação, ao falar dos hereges dentro da Santa Igreja Católica, a Carta de São Paulo a São Tito também tratou: "O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido a primeira e a segunda vez, evita-o, visto que esse tal é um perverso que, perseverando em seu pecado, condena a si próprio." Tt 3,10-11
    Assim como ao falar do respeito que se deve ao Santíssimo Sacramento: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o pão ou beber o cálice do Senhor será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que O come e bebe-O sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação." 1 Cor 11,27-29
    Isso explica porque ele comemora por antecipação a Salvação daqueles que verdadeiramente amam o Evangelho: "De agora em diante, portanto, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo." Rm 8,1
    A Primeira Carta de São João diz o mesmo: "Nisto é perfeito em nós o amor: que tenhamos confiança no Dia do Julgamento, pois, como Deus é, assim nós também o somos neste mundo. No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no amor." 1 Jo 4,17-18
    Segundo Jesus, em palavras que se seguiram à Santa Ceia, o convencimento do pecado é feito pelo Espírito Santo. E revelando o pecado, Ele também mostra o divino caminho da Justiça, assim como a condenação que já penaliza quem não Lhe obedece, como aconteceu o próprio Diabo: "Entretanto, digo-vos a Verdade: a vós convém que Eu vá! Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se Eu for, enviá-Lo-ei. E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da Justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Ele convencê-lo-á a respeito da Justiça, porque vou para junto de Meu Pai, e vós já não Me vereis. Ele convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,7-11
    Assim, a passagem do Cristo entre nós, por revelar o poder de Deus e trazer-nos o Espírito Santo, já desmascarou as maquinações do inimigo, que desde então perdeu definitivamente a influência sobre aqueles que guardam Sua Palavra. Foi o que Ele proclamou à multidão em Jerusalém, dias antes de Sua crucificação: "Agora é o Juízo deste mundo! Agora será lançado fora o príncipe deste mundo! E quando Eu for levantado da terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,31-32
    E assim, desde a Vinda de Jesus, se tem o atual inferno, que ainda não é o definitivo (cf. Ap 20,14), à espera do Juízo Final. Diz o Livro do Profeta Isaías, de 700 anos antes de Cristo, que versou sobre essas coisas: "Nesse Dia, Javé julgará, no Céu, o Exército do Céu, e na Terra, os reis da Terra. Todos serão reunidos e presos em correntes, ficarão fechados na prisão, e só depois de muito tempo é que serão devidamente condenados." Is 24,21-22
    Quanto a este acontecimento em si, que só não será mais terrível porque uma maioria em bilhões de almas já estarão julgados pelo Juízo Particular, terá uma evidente chamada, "a trombeta soará" (cf. 1 Cor 15,52) para vivos e mortos: "E virei para reunir os homens de todas nações e de todas línguas. Todos virão e verão Minha Glória." Is 66,18
    Da visão que teve, o Livro do Profeta Joel tem essa exclamação: "Que multidão, que multidão no vale do Julgamento. Sim, porque o Dia do Senhor chegou no vale do Julgamento!" Jl 4,14


DEUS DE MISERICÓRDIA, MAS TAMBÉM DE JUSTIÇA

    No Último Dia, entretanto, Jesus, o Justo Juiz, prometeu recompensar todo e qualquer pequeno gesto de caridade feito nessa vida. Disse após escolher os Doze Apóstolos: "Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é Meu discípulo, em Verdade Eu digo-vos: não perderá sua recompensa." Mt 10,42
    Mas há um detalhe: Ele também recompensa já nesta vida, e pode não nos dever mais nada na Vida Eterna. Por isso, recomendou: "Ajuntai para vós tesouros no Céu..." Mt 6,20a
    E havia dado exemplo: "Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em Verdade, Eu digo-vos: já receberam sua recompensa." Mt 6,2
    Pois com a mesma Justiça prometeu que cada imprópria fala terá um preço a ser pago. Ou seja, caso delas não nos arrependamos, seremos cobrados: "Eu digo-vos: no Dia do Juízo os homens prestarão contas de toda vã palavra que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado." Mt 12,36-37
    É o mesmo que a Carta de São Tiago nos diz: "Se alguém não cair por palavra, este é um perfeito homem, capaz de refrear todo seu corpo. Considerai como uma pequena chama pode incendiar uma grande floresta! A língua também é um fogo, um mundo de iniquidade. A língua está entre nossos membros e contamina todo corpo. E sendo inflamada pelo inferno, incendeia o curso de nossa vida." Tg 3,2.5-6
    De fato, as palavras são reflexos do que acontece em nossos corações, como Jesus disse das Bem-Aventuranças: "O bom homem tira boas coisas do bom tesouro de seu coração, e o mau homem tira más coisas de seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio." Lc 6,45
    E Deus tem a chave de nossos corações, como vemos no Livro de Provérbios: "A habitação dos mortos e o abismo estão abertos diante do Senhor; quanto mais os corações dos filhos dos homens!" Pr 15,11
    Ora, desde a Apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém, o religioso Simeão já havia dito a Nossa Senhora qual seria a Missão de Jesus: "Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações." Lc 2,34a-35b
    Esse Dia assim foi descrito por Nosso Senhor, em Seus últimos ensinamentos: "Quando o Filho do Homem voltar em Sua Glória e com Ele todos anjos, sentar-Se-á em Seu glorioso trono. Todas nações reunir-se-ão diante d'Ele, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E estes irão para o eterno castigo, e os justos, para a Vida Eterna." Mt 25,31-32.46
    Ou seja, cada um será recompensado ou punido estritamente por sua própria conduta. Vale dizer: pensamentos e palavras, atos e omissões. Ele já havia anunciado: "Porque o Filho do Homem há de vir na Glória de Seu Pai com Seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras." Mt 16,27
    E ainda junto ao Mar de Galileia, abertamente referia-Se ao inferno: "Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus em meio aos justos, e arrojá-los-ão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes." Mt 13,49-50
    Nas revelações que teve, São João Apóstolo assim viu o Juízo: "Eu ainda vi uma branca nuvem, sobre a qual Se sentava como que um Filho do Homem, com a cabeça cingida de coroa de ouro e na mão uma afiada foice. Outro anjo saiu do Templo, gritando em alta voz para Aquele que estava sentado na nuvem: 'Lança Tua foice e ceifa. É chegada a hora de ceifar, pois a seara da Terra está madura.' O Ser que estava sentado na nuvem então lançou a foice à Terra, e a Terra foi ceifada.' Outro anjo saiu do Templo do Céu. Também tinha uma afiada foice. E outro anjo, aquele que tem poder sobre o fogo, saiu do Altar e bradou em alta voz para aquele que tinha a foice afiada: 'Lança a afiada foice e vindima os cachos da vinha da Terra, porque suas uvas estão maduras.' O anjo lançou sua foice à Terra e vindimou a vinha da Terra, e atirou os cachos no grande lagar da ira de Deus. O lagar foi pisado fora da cidade, e dele saiu sangue que atingiu até o nível dos freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios." Ap 14,14-20
    Quando isso acontecerá, porém, como Jesus disse aos Apóstolos na última aparição após Sua Ressurreição, não nos foi revelado: "Não pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em Seu poder..." At 1,7
    Eles já O haviam perguntado antes, na última semana entre eles: "Indo Ele sentar-Se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com Ele, perguntaram-Lhe: 'Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de Tua Volta e do fim do mundo?'" Mt 24,3
    Ele percebia: "Como eles ouviam isso, Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o Reino de Deus ia manifestar-se imediatamente." Lc 19,11
    Por isso, prescreveu alguns sinais, entre as profecias sobre os últimos tempos, como o anúncio do Evangelho a toda Terra: "Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro, para servir de testemunho a todas nações, e então chegará o fim." Mt 24,14
    Também falou do tempo limite das dominações das nações sobre Israel, que se iniciaria com a destruição da Cidade Santa pelos romanos, no ano 70 de nossa era: "Cairão (os judeus) ao fio de espada e serão levados cativos para todas nações, e Jerusalém será pisada pelos pagãos, até completarem-se os tempos das pagãs nações." Lc 21,24
    Tal notação foi repetida pelo Apóstolo dos Gentios, quando se referiu à conversão dos judeus: "Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que não vos gabeis de vossa sabedoria: esta cegueira de uma parte de Israel só durará até que haja entrado a totalidade dos pagãos." Rm 11,25
    Nosso Senhor, por fim, mencionou grandes e cósmicos sinais: "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na Terra, a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que sobrevirão a toda Terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem, com grande Glória e majestade." Lc 21,25-27
    Sabemos por certo que, seja no Juízo Final seja no Particular, Jesus pegará de surpresa os impenitentes, como Ele mesmo mandou São João Evangelista avisar ao anjo da diocese de Sardes: "Lembra-te de como recebeste e ouviste a Doutrina. Observa-a e arrepende-te. Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que horas te surpreenderei." Ap 3,3
    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses também vaticinou: "A respeito da época e do momento, não há necessidade, irmãos, de que vos escrevamos. Pois vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como um ladrão de noite. Quando os homens disserem: 'Paz e segurança!', então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão!" 1 Ts 5,1-3
    Portanto, não nos enganemos com a aparente vitória da maldade, ou com a suposta inoperância de Deus. A Segunda Carta de São Pedro pondera: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    De fato, são muitos os que se iludem, como o Eclesiástico apontava: "Porque a sentença contra os maus atos não é imediatamente executada, o coração dos homens enche-se de desejo de fazer o mal..." Eclo 8,11
    Mas, como a Primeira Carta de São Pedro revela, Deus começará pela Igreja Católica a exigir o cumprimento de Sua Palavra: "Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17
    Um exemplo já foi dado quando veio a destruição de Jerusalém pelos babilônios, pois Deus mesmo determinou a Seus anjos: "'Começai por Meu Templo.' E eles começaram pelos anciãos que estavam diante do Templo. Ele ainda falou: 'Profanai o Templo, enchei de cadáveres seu interior e saiam pela cidade para matar." Ez 9,6b-7
    Para nos conscientizar da gravidade desse momento, o Príncipe dos Apóstolos lembrou do destino dado por Deus aos anjos caídos: "Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas precipitou-os nos tenebrosos abismos do inferno, onde os reserva para o Julgamento... é porque o Senhor sabe livrar das provações os piedosos e reservar os ímpios para serem castigados no Dia do Juízo, principalmente aqueles que correm com impuros desejos atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade. Audaciosos, arrogantes, não temem falar injuriosamente das Glórias..." 2 Pd 2,4.9-11
    A Carta de São Judas também diz: "Os anjos que não tinham guardado a dignidade de sua ordem, mas abandonado seus tronos, Ele guardou-os com eternas cadeias nas trevas, para o julgamento do Grande Dia." Jd 6
    E tão grandioso será esse Dia que os céus e a Terra serão refeitos, como São Pedro reafirmou: "Mas os céus e a Terra, que agora existem, são guardados pela mesma Divina Palavra, e reservados para o fogo no Dia do Juízo e da perdição dos ímpios." 2 Pd 3,7
    Pois Deus já havia prometido através de Isaías, como vimos: "Pois Eu vou criar novos céus e nova Terra." Is 65,17a
    Isso será antecedido, porém, da destruição de tudo que conhecemos: "Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à Terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a Terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas Minha Salvação sempre subsistirá, e Minha vitória não terá fim." Is 51,6
    Jesus também sentenciou, alegando a perenidade da Sua Palavra: "O céu e a Terra passarão, mas Minhas Palavras não passarão." Mt 24,35
    São Tiago Menor, porém, garante que quem usa de Misericórdia para com seu semelhante já tem um grande trunfo no Dia do Juízo: "Haverá Juízo sem Misericórdia para aquele que não usou de Misericórdia. A Misericórdia triunfa sobre o Julgamento." Tg 2,13
    E vale lembrar uma já antiga revelação, citada em Provérbios: "... a caridade cobre uma multidão dos pecados." Pr 10,12


O JUÍZO PARTICULAR

    O Juízo Particular é aquele que se dá logo após à morte, e cuja sentença é aplicada tão somente à alma, ou seja, é o que está acontecendo desde a Ascensão de Jesus aos Céus e vai acontecer até o Dia do Juízo Final, quando se dará a Ressurreição da Carne. Os discípulos de São Paulo registraram-no: "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o Juízo..." Hb 9,27
    É nesse sentido que se entende as palavras de Jesus, ao final de Apocalipse, quando falou que logo voltaria: "Eis que venho em breve, e Minha recompensa está Comigo para dar a cada um conforme suas obras." Ap 22,12
    Ou como disse perante o Sinédrio, quando foi julgado e questionado pelos líderes judeus se era o Cristo: "Tu o disseste. Além disso, Eu declaro-vos que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do Céu.'" Mt 26,64b
    Ou esta exortação na Carta aos Hebreus, pedindo assiduidade à Santa Missa, que erroneamente diz não haver perdão em caso de apostasia: "Não abandonemos nossa assembleia, como é costume de alguns, mas mutuamente admoestemo-nos, e tanto mais quando vedes aproximar-se o Grande Dia. Depois de termos recebido e conhecido a Verdade, se voluntariamente a abandonarmos, já não haverá sacrifício para expiar este pecado. Só teremos que esperar um tremendo Juízo e o ardente fogo, que há de devorar os rebeldes." Hb 10,25-27
    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz algo parecido, mencionando uma individualizada e imediata recompensa: "Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto ao Senhor. Porque teremos de comparecer diante do Tribunal de Cristo: ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo." 2 Cor 5,8.10
    Ou, quanto à individualização, ainda mais expressamente ele diz nesta passagem: "Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus." Rm 14,12
    E Jesus deu a entender que nos dois Julgamentos, a serem realizado sem diferentes  'séculos', há oportunidade para o perdão, embora aí também tenha dito que há pecados que em hipótese alguma terão o perdão automático, isto é, por Graça da Divina Misericórdia, pois carecem do devido arrependimento: "Por isso, Eu digo-vos: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada. Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem, será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste nem no vindouro século." Mt 12,32
    Tal passagem evidencia a existência do Purgatório, porque só após a expiação de todos pecados é que as almas são efetivamente perdoadas. E este é o perdão do vindouro século, pois mesmo após a absolvição da culpa permanece a pena a ser cumprida, também chamada de penitência e que é determinada pelo Sacerdote. Neste 'lugar', ou melhor, neste estado de purificação tem-se o fogo purificador de que São Paulo fala: "Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro ou prata ou preciosas pedras, com madeira ou feno ou palha, a obra de cada um aparecerá. O Dia do Julgamento demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo! O fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,11-15
    E referindo-se à constante e necessária adoração a Deus, seja nessa vida ou no Purgatório, ele disse: "Também é por isso que, vivos ou mortos, esforçamo-nos por agradar-Lhe." 2 Cor 5,9
    No Livro de Salmos, o levita Asaf igualmente falou desse fogo que precede a definitiva aproximação ao Pai: "... Nosso Deus vem vindo e não Se calará. Um abrasador fogo precede-O... Do alto, Ele convoca os Céus e a Terra para julgar Seu povo: 'Escutai, ó Meu povo, que Eu vou falar: Israel, vou testemunhar contra ti. Deus, Teu Deus, sou Eu.'" Sl 49,3a.4.7
    De fato, nem todos pecados são mortais, como São João Apóstolo ensina: "Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte." 1 Jo 5,17
    Por isso, logo após o Juízo Particular, além da possibilidade de punição total, que é o inferno, e da total absolvição, que é o Céu e só cabe aos Santos, também podem ocorrer as intermediárias punições que Jesus asseverou: "Aquele servo que conheceu a vontade de Seu Senhor, mas não se preparou e não agiu conforme Sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu, e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado." Lc 12,47-48
    Eis que São Paulo, aqui se referindo ao Antigo Testamento, atinadamente explica a condição de muitos que morrem sem conhecer a vontade de Deus: "Todos aqueles que sem a Lei pecaram, sem aplicação da Lei perecerão. E aqueles que pecaram sob o regime da Lei, pela Lei serão julgados." Rm 2,12
    Quem realmente pratica a Palavra de Deus, porém, já tem de Jesus a garantia da imediata Vida Eterna, que até o dia do Juízo Final será usufruída pelas almas: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: quem ouve Minha Palavra e crê n'Aquele que Me enviou, tem a Vida Eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a Vida." Jo 5,24
    Não por acaso, das revelações que teve, São João Evangelista assim viu os Santos, aqueles que passam com louvor pelo Juízo Particular e não têm mais que temer o Juízo Final: "Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo: com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,6
    Já a Carta de São Paulo aos Colossenses menciona a santidade chamando-a de perfeito conhecimento, que se alcança ainda nesta vida como a completa restauração, em nós, da imagem de Deus: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos." Cl 3,9b-11
    Esse era o objetivo de sua missão! A Carta de São Paulo aos Gálatas exclama: "Filhinhos meus, por quem de novo sinto dores de parto até que Cristo seja formado em vós..." Gl 4,19
    E após o Juízo Final, Jesus submeterá tudo ao Pai: "E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,28
    Isso será logo depois da Batalha Final, que o inimigo e seus anjos, aqui mencionadas três ordens deles, levantarão contra o Senhor: "Em seguida virá o fim, quando Ele entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos inimigos debaixo de Seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus sujeitou tudo debaixo de Seus pés." 1 Cor 15,24-26
    Foi nesse sentido o conselho de Gamaliel aos judeus do Sinédrio a respeito dos Apóstolos, quando estes começaram a pregar no Templo de Jerusalém, contrariando as ordens do sumo sacerdote: "Vós arriscar-vos-íeis a entrar em luta contra o próprio Deus." Ap 5,29
    E também a narração de São Judas Tadeu, citando o apócrifo livro de Henoc: "Eis que veio o Senhor entre milhares de Seus Santos para julgar a todos e confundir todos ímpios, por causa das obras de impiedade que praticaram e de todas injuriosas palavras que têm proferido contra Deus." Jd 14b-15
    Eis porque Jesus enfaticamente tratou de avisar do risco da maior condenação nos casos de pecados mortais, quando a alma é severamente punida logo após a morte, e, após o Juízo Final, por conta da Ressurreição de toda carne, também o corpo (cf. Jo 5,29): "Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma! Pelo contrário, temei Aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!" Mt 10,28

    "Esperamos entrar na Vida Eterna!"