Em Paris, uma noviça da Companhia Filhas da Caridade, fundada por São Vicente de Paulo, foi despertada na noite da festa deste Santo, em 19 de Julho de 1830, por uma infantil voz (seu Anjo da Guarda) que lhe chamava à capela do convento, pois lá Nossa Senhora estava a sua espera. A princípio, ela teve medo de desobedecer as regras de sua congregação, mas a voz garantiu-lhe que todas freiras estavam dormindo.
Ela acreditou porque, enquanto comemoravam o dia de São Vicente, havia poucas horas, a Madre Superiora pregou sobre sua vida e a cada uma delas distribuiu um pequeno pedaço do sobrepeliz que ele usava. Santa Catarina Labouré recebeu-o com muita devoção e logo pediu sua intercessão (cf. Ap 6,10) para que pudesse ver Nossa Senhora, pois este sempre foi seu maior sonho. E ao fazer essa oração, teve a clara sensação de que seu desejo se realizaria naquela noite.
Embalada por essa mesma sensação, ela foi à capela, que inexplicavelmente encontrou aberta e iluminada. Ao ajoelhar-se junto ao altar, viu a Imaculada Virgem envolta em Luz, sentada na cadeira da Madre Superiora. A mesma e infantil voz disse-lhe: "A Santíssima Maria deseja falar-te." Ela aproximou-se, ajoelhou-se a seus pés e colocou as mãos em seu colo. Então a Mãe do Céu lhe disse: "Deus deseja encarregar-te de uma missão. Tu encontrarás oposição, mas não temas: terás a Graça de poder fazer todo necessário. Conta tudo a teu confessor. Os tempos estão difíceis para França e para o mundo. Vai ao pé do altar. Graças serão derramadas sobre todos, grandes e pequenos, e especialmente sobre aqueles que as buscarem. Terás a proteção de Deus e de São Vicente, e meus olhos sempre estarão sobre ti. Haverá muitas perseguições, a Cruz será tratada com desprezo, será derrubada e o sangue correrá."
Catherine Labouré não comentou com ninguém sobre essa aparição até o dia 27 de novembro do mesmo ano, ainda em noviciado, quando foi à capela para as orações de vésperas e mais uma vez viu a Santíssima Virgem, agora pairando sobre o altar, tal qual a imagem acima. Estava sobre o globo terrestre, esmagando a Serpente sob seus pés, e nos dedos tinha anéis de diferentes cores, cujos raios iluminavam o globo. Num arco oval sobre si, havia a luminosa frase: "Oh Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós." Ela explicou-lhe: "Esta é a imagem das Graças que concedo àqueles que me pedem." E sobre os anéis que não projetavam raios, acrescentou: "Esta é a imagem das Graças que as pessoas esquecem de pedir-me." Deu-lhe, então, essas instruções: "Faz cunhar uma medalha onde apareça minha imagem como agora a vês. Todos que a usarem receberão grandes Graças." Depois, voltando-lhe as costas, fez com que ela visse como seria o desenho no verso da medalha, hoje mundialmente conhecida.
É o M de Maria, a Santa Cruz sobre o Monte Calvário, 12 estrelas que simbolizam as tribos de Israel e os Apóstolos, o Sagrado Coração de Jesus cercado de espinhos, por cuja devoção Ele prometeu a Graça da Vida Eterna através de Santa Margarida-Maria Alacoque em 1675, e, ao lado, o Imaculado Coração de Maria traspassado pela espada como havia previsto o religioso Simeão no Templo de Jerusalém (cf. Lc 2,35), quando da Apresentação do Menino Jesus.
Por fim, pediu-lhe que formasse uma confraria com o nome de Filhos de Maria.
Sem saber como poderia realizar tais tarefas, Catherine questionou Nossa Senhora, que simplesmente mandou procurar seu confessor, o Padre Jean-Marie Aladel, que era vicentino, também chamado de lazarista. De fato, com carinho ele escutou todos esses relatos, mas pediu que nossa Santa guardasse tudo em silêncio. Sempre muito obediente, ela iria professar votos anuais em janeiro de 1831.
E só dois anos depois, após com cuidado examinar seu humilde comportamento, ele, sem revelar a identidade da Irmã Catarina da Caridade, foi ao Arcebispo de Paris, Dom Quelen, que autorizou a cunhagem inicial de 2 mil medalhas, realizada em 20 de junho de 1832. Elas mostraram-se especialmente eficazes contra a epidemia de cólera que abatia Europa desde 1830, e só em França vitimou 100 mil, mas teve 'repentina cessação' já entre setembro e outubro. Este arcebispo instaurou um inquérito para acompanhar os resultados obtidos pelos fiéis que a usavam, e sua conclusão foi essa: "A rápida propagação, o grande número de medalhas cunhadas e distribuídas, os admiráveis benefícios e singulares Graças obtidos parecem sinais do Céu, que confirmam a realidade das aparições, a Verdade das narrativas da vidente e a difusão da Medalha."
Assim, em 7 anos, 10 milhões de medalhas foram distribuídas em todo mundo, e 1876 o número passou de um bilhão. Todos portadores pediam para ser enterrados com ela.
Ainda em 1837, as Filhas da Caridade e os Lazaristas fundaram a Associação dos Filhos de Maria Imaculada, para dar avançada instrução religiosa aos jovens, e assim formar adultos de autêntica piedade católica. Em 1966, a Associação adotou o nome de Juventude Mariana e, em 2009, adotou em França o nome internacional de Juventude Mariana Vicentina, que hoje tem mais de 150 mil membros em cerca de 50 países.
Os dizeres na medalha, '... concebida sem pecado...', confirmavam uma devoção de muito tempo. Com efeito, desde 1476, o Papa Sisto IV tinha declarado o dia 8 de dezembro como festa universal da Imaculada Conceição de Maria. Entretanto, só na mesma data no ano de 1854, ou seja, mais de 20 anos depois da aparição a Catherine, o Papa Pio IX solenemente declarou esse Dogma de Fé, em sua bula 'Ineffabilis Deus'.
Ora, a origem dessa devoção remonta os tempos da Sagrada Tradição. O Evangelho Segundo São Lucas, que registra a saudação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora, revelou que ela já era agraciada antes mesmo da concepção de Nosso Senhor: "Ave, agraciada..." Lc 1,28
Pois no Livro de Jó, meditando sobre a concepção do ser humano e dirigindo-se a Deus, este protagonista já indicava que a gestação de Jesus não poderia ser em uma impura mulher: "O homem nascido de mulher vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias. É como uma flor que germina e logo fenece, uma sombra que foge sem parar. E é sobre ele que abres os olhos, e chama-o a Juízo Contigo. Quem fará sair o Puro do impuro?" Jó 14,1-4
Isso apenas confirma o valor que Deus dá à castidade, segundo promessa feita no Livro do Profeta de Isaías: "Por isso, o próprio Senhor dá-vos-á um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e chamá-Lo-á Deus Conosco." Is 7,14
Também diz respeito à própria Palavra de Deus, no Livro de Gênesis, quando Ele disse à Serpente ainda no Paraíso, determinando duas posições claramente antagônicas quanto ao pecado: "Entre ti e a mulher porei ódio, entre tua descendência e a dela." Gn 3,15a
Realmente, o inimigo vai perseguir Nossa Senhora. Mas tal qual um anjo, que segundo Jesus "não se casarão nem se darão em casamento (cf. Mc 12,25)", ela 'voou' para seu retiro em Éfeso. É quando o Maligno passa a perseguir seus filhos, "sua descendência", ou seja, a Santa Igreja Católica, como está nas visões do Livro de Apocalipse de São João: "O Dragão, vendo que fora precipitado à Terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino. Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente. Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, àqueles que guardam os Mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus." Ap 12,13-14.17
De fato, esta é a única passagem da Bíblia que volta a falar na cabeça da Serpente, depois que Deus lhe disse da superioridade de Nossa Senhora, a quem ela só infligiria dores atacando seus mais frágeis filhos: "Esta feri-te-á a cabeça, e tu feri-lhe-ás o calcanhar." Gn 3,15b
A Sagrada Devoção ao Imaculado Coração de Maria, pois, foi confirmada pela própria Santíssima Virgem na Aparição de Lourdes, em 1858, quando ela se apresentou como a 'Imaculada Conceição' a uma jovem e humilde camponesa, Santa Bernadete de Lourdes, que sequer tinha ouvido falar desse Dogma. Também na Aparição de Fátima, em 1917, aliás, em conformidade com a Aparição de Quito no remoto ano de 1594, ela prometeu que, após grandes heresias e tribulações, seu Imaculado Coração triunfaria.
No século XX, deu-se um novo impulso na divulgação das Graças da Medalha Milagrosa por São Maximiliano Maria Kolbe, então jovem frade Ordem Conventual dos Frades Menores, que a escolheu como emblema dos membros da Milícia da Imaculada, por ele fundada em Roma a 16 de outubro de 1917. Ademais, a bandeira da União Europeia, por unanimidade adotada no Conselho de Europa a 8 de dezembro de 1955, festa da Imaculada Conceição, foi inspirada nas doze estrelas da Medalha Milagrosa. E o azul ao fundo já era bem conhecido em Brasil: é a cor do manto de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Atualmente, 4 milhões de medalhas são vendidas por ano apenas no convento da aparição.
Santa Catarina Labouré, que viveu no anonimato, faleceu em 1876, aos 70 anos. Em 1933, ao ser exumado, seu corpo estava incorrupto como até hoje se vê. As relíquias de Santa Luísa de Marilac, a primeira superiora das Filhas da Caridade, estão ao lado esquerdo do altar, e ele está exposto ao lado direito na capela do convento onde se deu a aparição, que passou a chamar-se Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.























