quinta-feira, 25 de julho de 2024

São Cristóvão


    Uma das mais antigas e populares devoções da Igreja é voltada a um alto e viril homem, que, antes de tornar-se um virtuoso pregador da Salvação, ajudava as pessoas a atravessar um rio de forte correnteza.
    Era filho de um rei pagão que vivia na Palestina, deu-lhe o nome de Réprobo e dedicou-o ao deus Apolo. Quando cresceu, porém, ele se revoltou contra as injustiças do mundo, inclusive as do próprio pai, e começou a levar uma vida de andarilho. Por sua estatura e força era respeitado, temido e até assediado por vários reis que o queriam como guerreiro ou em sua guarda pessoal, o que ele algumas vezes aceitou, mas, por seu sincero coração, não conseguia encontrar Paz como serviçal de ambiciosa e inescrupulosa gente.
    Nesses tempos, numa de suas bravatas de brutamonte recém-saído da juventude, jurou para si e para o mundo que só serviria a quem fosse realmente mais forte que ele. Por malícia, alguns homens desprovidos da Graça de Deus sugeriram-lhe servir ao Diabo, e ele, levado por orgulho, de pronto aceitou. Mas tão logo um anjo do mal lhe apareceu e o encaminhava para a primeira tarefa, por sua acurada lucidez Réprobo observou que ele tinha medo da Cruz, pois rapidamente se desviava do caminho sempre que encontrava alguma.
    Então quis conhecer o Evangelho, e acabou decidindo-se por servir a Cristo, que havia enfrentado a terrível morte na Cruz para salvar a humanidade. Para ainda mais O conhecer, foi ao encontro de um sábio e eremita cristão que lhe ensinou a mais pura forma de servir a Deus, através da constante prática da oração, da penitência e da caridade. Depois de alguns dias de ascese, porém, ainda irrequieto, Réprobo abandonou as orações e os jejuns, mas mostrando a mesma pureza de coração, ao salvar uma pessoa que se afogava, sentiu a melhor e mais profunda sensação de toda sua vida. E ficou morando à beira do perigoso rio, ajudando moradores locais e viajantes a atravessá-lo.
    Um dia, quando carregava um Menino ao ombro, percebeu que Seu peso ia aumentando, e muito, à medida que entrava no rio. Num gracejo, disse ao Menino que se sentia como se estivesse levando o mundo nos ombros, quando Ele lhe respondeu: "Tu não estás carregando o mundo, mas o Criador do mundo!" Era o Menino Jesus, e a mensagem que lhe dava era precisa: mesmo depois de abandonar as orações e as penitências, seguia com a alma agitada por recusar-se a carregar sobre si os pecados do mundo, como fez Jesus e lhe ensinou o eremita cristão.
    A partir daquele momento, por tão clara revelação, Réprobo viu que não havia mais como se furtar a essa obrigação.


    Ao relatar esse fato ao eremita, que logo o divulgou entre as pessoas mais próximas, passou a ser conhecido como Cristóvão, do grego Cristóforo, que significa 'aquele que carrega Cristo'. E ao aprofundar-se no conhecimento das Escrituras, revelando uma brilhante inteligência, tornou-se um grande pregador. Vendo que essa ajuda espiritual era muito mais importante, pois não salvava apenas vidas, mas almas, deixou o rio para peregrinar e anunciar o Evangelho nas cidades da Palestina.
    Eram anos de intensa perseguição aos cristãos, entretanto São Cristóvão seguia destemido e levantava a voz nas praças públicas, onde era ouvido por grandes multidões, e graças à sua franqueza convertia muita gente.
    No ano de 250, contudo, na cidade de Lícia, na atual Turquia, foi preso por um centurião de Décio, o imperador romano. Porém não foi fácil dominá-lo: os primeiros soldados foram repelidos com tamanha força que precisaram de quase 40 homens para acorrentá-lo.
    Preso, mas sem acreditar que se tratava de um religioso, os soldados puseram mulheres em sua cela para que o seduzissem. Com palavras e convicção, no entanto, ele conseguia tocar seus corações e fazia com que abandonassem a prostituição, convertendo-as e batizando-as.
    Surpreso com sua história, o governador da importante cidade de Antioquia ordenou que São Cristóvão fosse violentamente supliciado até renegar sua . E assim ele foi chicoteado, alvejado com flechas nos braços e nas pernas, teve sua pele queimada, mas seguia resistindo com bravura e professando em alta voz seu amor a Cristo. Ao saber de sua tenaz resistência, o governador, sentindo-se ultrajado, ordenou que ele fosse decapitado.
    Algumas décadas mais tarde, seus restos mortais foram levados para o Egito, mais precisamente para Alexandria, a pedido do Arcebispo Pedro I, seu grande admirador. Com o passar do tempo, porém, elas foram confundidas com as relíquias de São Menas, o que fez com que fossem esquecidas durante muito tempo. E assim, deslocadas de seu lugar de origem, e também por ser tão pitoresca, sua história quase desapareceu no próprio meio eclesiástico. Mas a devoção popular, sempre agradecida por frequentes graças e milagres alcançados através de sua intercessão, generosamente tratou de cultuar e divulgar sua memória através dos séculos.


    É um dos 14 Santos Auxiliares (junto à Santa Catarina de Alexandria, Santa Bárbara, Santo Egídio, Santa Margarida, São Jorge, São Pantaleão, São Vito, Santo Erasmo, São Brás, Santo Eustáquio, Santo Acácio, São Dionísio e São Ciríaco), aqueles a quem se clama em casos de graves doenças, por serem os grandes socorristas dos mais pobres. É especialmente evocado em casos de peste bubônica e epilepsia. É o Santo protetor contra os perigos de viagem e de tempestade, padroeiro dos solteiros e dos motoristas.
    Seu crânio hoje se encontra na igreja de Santa Justina, na ilha de Rab, da qual é patrono, que fica na atual Croácia. Local de fortes e católicas tradições desde o século IV, essa relíquia aí teria chegado em 809, como presente do patriarca de Constantinopla ao bispo local, e realizou grandes milagres relatados num livro do século XIII, sendo o mais importante quando libertou a cidade de um cerco dos muçulmanos em 1075.
    Em sua homenagem, foi erguida uma torre e uma igreja, e fundou-se uma poderosa irmandade com seu nome que vigorou até o século XIX. Abandonadas as construções, e em ruínas, suas relíquias foram levadas para a catedral da ilha.


    São Cristóvão, rogai por nós!