sábado, 24 de agosto de 2024

São Bartolomeu Apóstolo


    Foi um dos primeiros Apóstolos, precedido apenas por Santo André, São Pedro, São Filipe e, muito provavelmente, São João Evangelista. E teria sido este último quem narrou o encontro de São Bartolomeu, a quem chamava de Natanael, com Jesus, dois dias depois de Seu fulgurante Batismo por São João Batista, nas águas do Jordão:

    "No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-Se a Galileia. Encontra Filipe e diz-lhe:
    - Segue-Me.
    Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe encontra Natanael e diz-lhe:
    - Achamos Aquele de Quem Moisés escreveu na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José.
    Respondeu-lhe Natanael:
    - Pode, porventura, vir boa coisa de Nazaré?
    Filipe retrucou:
    - Vem e vê.
    Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz:
    - Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.
    Natanael pergunta-Lhe:
    - De onde me conheces?
    Respondeu Jesus:
    - Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.
    Falou-Lhe Natanael:
    - Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.
    Jesus replicou-lhe:
    - Crês só porque te disse: 'Eu vi-te debaixo da figueira'? Verás coisas maiores que esta.
    E ajuntou:
    - Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem." 
                                                  Jo 1,45-51


     Natanael é o nome hebraico equivalente a Bartolomeu, que é o usado nos Evangelhos sinóticos quando mencionam a relação dos Apóstolos. E obedecendo a ordem de encontros registrada pelo Amado Discípulo, ele sempre está entre os primeiros, e também sempre logo após São Filipe. São Mateus, como exemplo, anotou: "Jesus reuniu Seus Doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os imundos espíritos e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,1-4
    Só no Livro dos Atos dos Apóstolos, São Lucas coloca São Tomé, seu mais destacado companheiro, à sua frente, na lista que antecede o dia do Pentecostes: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14
    Como visto acima, após uma demonstração de clarividência de Jesus, São João Evangelista apresenta-o como o primeiro a declará-Lo como o Filho de Deus, precedendo o próprio São Pedro, mas, é provável, tanto quanto a própria afirmação do Filipe, que ele o tenha dito só por espanto, sem uma perfeita consciência do que falava.
    O próprio São João Evangelista, ao relatar a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná, vai afirmar que só então os Apóstolos acreditaram em Jesus: "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11
    E ainda no primeiro encontro, Jesus prometeu-lhe muito mais que mera clarevidência: uma singular demonstração de que Ele é a própria manifestação de Deus na Terra, invocando a imagem da escada vista em sonho por Jacó, dado no lugar onde Abraão armou sua tenda e ergueu o primeiro altar. Está no Livro do Gênesis: "E teve um sonho: via uma escada, que, apoiando-se na terra, com o cimo tocava o Céu, e anjos de Deus subiam e desciam pela escada. No alto estava o Senhor, que lhe dizia: 'Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac. A ti e à tua descendência darei a terra em que estás deitado. Estou contigo, para guardar-te onde quer que fores, e reconduzi-te-ei a esta terra. E não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi.' Jacó, despertando de seu sono, exclamou: 'Em Verdade, o Senhor está neste lugar e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a Casa de Deus. É aqui a Porta do Céu.'" Gn 28,12-13.15-17
    Nessa mesma passagem, vemos que São Bartolomeu, como a maioria dos judeus à época, alimentava um declarado preconceito contra a Galileia ou qualquer de suas cidades, como Nazaré. Mesmo sendo ele mesmo galileu. Era, de fato, muito pobre lugar, para além da Samaria, também habitado por sírios e gregos, e de maioria pagã. Por isso, era pejorativamente conhecida como 'das nações', como vemos na profecia de Isaías, no registro de São Mateus: "A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, a Galileia das nações, este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande Luz, e surgiu uma aurora para os que jaziam na sombria região da morte (Is 9,1)." Mt 4,15-16
    Mas foram exatamente esses motivos pelos quais Deus enviou Seu Filho para lá. O Messias, apresentando-Se como alguém de uma pobre gente e de 'corrompidos' costumes, era certamente um "... sinal de contradição...' Lc 2,34
    Ademais, aí temos outro sinal: Deus sempre esteve e vai estar junto aos mais pobres. E além de lugar escolhido por Nossa Senhora, para a Sagrada Família era ideal refúgio de uma provável perseguição dos filhos de Herodes (cf. Mt 2,22), que seriam seus sucessores, pois ele mesmo já havia tentado matar Jesus no episódio conhecido como o martírio dos inocentes de Belém.
    O preconceito de São Bartolomeu, porém, não o impediu de chamar Jesus de Salvador, ainda que ele o tenha feito de um ímpeto.
    São João Evangelista também teve o cuidado de identificar o local de nascimento de São Bartolomeu. É na cena da pesca miraculosa, que ele narra como tendo acontecido depois da Ressurreição de Jesus: "Estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná da Galileia), os filhos de Zebedeu e outros dois dos Seus discípulos." Jo 21,2
    Tal registro reflete a distinção com que São Bartolomeu era tratado, e como São João Evangelista o conhecia e estimava. Foi feito por ocasião da solene investidura do Pontificado de São Pedro, quando Jesus confiou ao Príncipe dos Apóstolos, de cordeiros a ovelhas, todo Seu rebanho. Portanto, junto aos bem letrados filhos do sacerdote Zebedeu, sempre íntimos de Jesus, e ao intelectual e especulativo São Tomé, São Bartolomeu foi privilegiada testemunha, digna da importância deste fato. Assim segue a narrativa:

    "Disse-lhes Simão Pedro:
    - Vou pescar.
    Responderam-lhe eles:
    - Nós também vamos contigo.
    Partiram e entraram na barca.
    Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Esta já era a terceira vez que Jesus Se manifestava a Seus discípulos, depois de ter ressuscitado.
    Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
    - Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?
    Respondeu ele:
    - Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
    Disse-lhe Jesus:
    - Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas." 
                                    Jo 20,3a.4a.14-15.17b

    Leitor e observador das Escrituras, São Bartolomeu era contemplativo, e seguia São João Batista antes do início da vida pública de Nosso Senhor, como mostra o Evangelho que vimos: estava em retiro espiritual na área de atuação do Batista, sentado debaixo de uma figueira às margens do Jordão. E já havia conquistado a companhia e o coração de São Filipe, que também era estudioso e contemplativo, além de exigente e pragmático judeu. Por fim, o melhor testemunho sobre nosso Santo é do próprio Jesus, que nele viu um "... verdadeiro israelita, no qual não há falsidade." Jo 1,47
    A Sagrada Tradição conta que São Bartolomeu, com a virtude da fortaleza dada pelo Espírito Santo, foi pregar o Evangelho na Índia, um lugar religiosamente caótico, de muitas seitas, idolatrias e primitivismo. Também esteve na Armênia, possivelmente na companhia de São Judas Tadeu, parente próximo de Jesus, onde conseguiu converter o rei, a família real e muitos nobres. Contudo, tendo despertado a inveja dos sacerdotes pagãos, foi cruelmente martirizado: mandaram que o amarrassem e com facas arrancassem sua pele para sangrar até a morte.


    Além do destemor, outro grande exemplo deixado por São Bartolomeu foi o sincero, simples e discreto modo com que serviu a Jesus. Estava sempre presente, mas sem se arrogar posição ou tomar a palavra. Não bastaria ver e ouvir o Mestre? Sua capacidade para perceber a Verdade e sua honestidade intelectual eram tão grandes, como o próprio Jesus afirmara, que tudo testemunhava em total recolhimento, falando apenas o estritamente necessário. Ao modo de Nossa Senhora, sempre guardando profundo silêncio, plenamente satisfazia-se com a divina presença do Mestre e com Sua Palavra. E, de tão verdadeiro, para saber o que pensava, bastava olhar-lhe nos olhos ou em sua expressão.
    Por obra de piedade de cristãos que ele converteu, suas relíquias foram muito bem guardadas, e mais tarde levadas a Roma, onde foram sepultadas e sobre elas ergueram uma basílica, que, por óbvio, leva seu nome. A bacia usada para até lá transportar seus restos mortais ainda é preservada.



    Seu crânio é venerado, entre outras relíquias, na Capela dal Pozzo, no Camposanto Monumentale, ao lado da Catedral da Assunção de Nossa Senhora, na cidade italiana de Pisa.


    São Bartolomeu, rogai por nós!