segunda-feira, 4 de agosto de 2025

São João-Maria Vianney


    Mundialmente conhecido como o Cura (Padre) d'Ars, nasceu em 8 de maio 1786 na comuna de Dardilly, nas proximidades de Lyon, no sudeste de França, e viveu a infância sob o terror das bestiais matanças da Revolução Francesa, que entre outras aberrações criou uma chamada 'clero constitucional', de 'sacerdotes' fiéis ao Estado Francês e contrários à autoridade do Papa. Era de pobre família, o quarto de sete filhos, e desde pequeno, pelo exemplo de devoção a Maria Santíssima que tinha em sua mãe, demonstrou verdadeira paixão pela Santa Igreja Católica e pela Santa Missa: já dizia que queria ser Sacerdote.
    Sua localidade, porém, só veio a ter escola quando já era adolescente, e apenas durante dois anos pôde aprender a ler e escrever em francês, pois em sua região se falava um dialeto e ele continuava precisando ajudar seus pais, Matthieu Vianney e Marie Béluse, nos trabalhos da lavoura e do rebanho. Destes tempos, porque seria reverenciado como Santo bem antes de morrer, foram preservadas sua casa, com evidentes e necessárias reformas, e a cama em que nasceu.


    No pastoreio, aliás, pode-se dizer que por si mesmo ele iniciou sua espiritualidade, em momentos de oraçãocânticos litúrgicos e até pequenos sermões aos amigos pastores, que estavam proibidos em todo país pelos revolucionários. A própria igreja de Dardilly esteve fechada pelos anticlericais, do inverno de 1793 até o verão de 1795. Nesse período, em tempo livre nosso Santo tanto gostava de estar brincando com os amigos como a sós, rezando em meio à natureza.
    E tamanha era sua doce e serena vontade que, com a ajuda do Abade Charles Balley, convenceu seu pai, necessitado de seus trabalhos para sustentar a família, entrando aos vinte anos no Seminário de Ecúlly, em Lyon, e mais tarde, no Seminário de Santo Irineu. Balley, um dos padres refratários às loucuras da Revolução, que punham suas vidas em risco evangelizando nas casas, já tinha fama de santidade e era Cônego Regular da Congregação de França, ou de Santa Genoveva.
    Contudo, em razão da fragilidade de sua instrução, pois antes do breve período na escola só tivera uma doméstica alfabetização de sua mais velha irmã Catherine, os professores logo concluíram, desde o seminário menor, que ele tinha sérias limitações intelectuais para aprender Filosofia, Teologia e Latim, embora fosse um exemplo de obediência, contemplação e caridade.
    Contra todas dificuldades, aos vinte e nove anos, Jean-Marie Baptiste Vianney conseguiu concluir os estudos, mas tão evidente era seu despreparo intelectual que seus mestres não tinham coragem de apresentá-lo para o Sacramento da Ordenação. Mesmo assim seu fiel padrinho, o Abade Balley, não desistia dele: levou-o ao Monsenhor Courbon, Vigário Geral da Diocese de Lyon, que, ao saber de sua profunda devoção pelo Santo Rosário, ordenou-o diácono.


    Ao ser ordenado na Diocese de Grenoble, para onde foi enviado, não lhe foi permitido tomar Confissão dos fiéis, pois não demonstrava nenhuma autoridade para instruí-los e determinar-lhes as penitências: à vista de todos, era tímido e bonzinho demais. O Abade Balley, então, convidou-o para ser seu auxiliar em Ecúlly, onde fica por três anos, até que, por constantes apelações desse velho Sacerdote, tal proibição lhe foi retirada.
    Com a morte de seu grande mentor e amigo, o povo efusivamente pede que ele assuma seu lugar, mas a Diocese de Lyon não concordou e ele foi enviado para uma pequena aldeia de 230 habitantes, com fama de mundana e violenta. Havia sido a frustração de vários padres, pois 'de tudo' tinham tentado para trazer seu povo à piedade.
    São João-Maria Vianney, no entanto, parecia saber o que fazer. Por esses anos, suas penitências já o haviam levado à mais pura santidade. Ainda nas proximidades da aldeia, pois realmente era muito pequena, pediu informação a um menino na estrada, e, quando ele respondeu que era de lá e aquele era mesmo o caminho, prometeu-lhe: "Tu ensinaste-me o caminho de Ars, e eu ensiná-te-ei o caminho do Céu."


     Chegando numa carroça a Ars-en-Dombes, atual Ars-sur-Formans, no departamento de Ain, região de Auvergne-Rhône-Alpes, que tem Lyon como capital, deu o colchão que havia na casa paroquial a um esmoler e foi morar na igreja, onde fez uma cama de ramas e usava um cepo de madeira por travesseiro.


    Fazia até três dias de jejum por semana, e, quando comia, cozinhava batatas quase apodrecidas, pois distribuía as melhores, que recebia da população, aos mais pobres. Um clérigo que o conheceu, afirmou: "Chegará o tempo, penso eu, em que o Cura d'Ars viverá apenas da Eucaristia."


    Ficava horas de joelho diante do Santíssimo Sacramento, ardorosamente pedindo pela conversão dos habitantes daquele lugar.


    De casa em casa foi apresentando-se como o novo padre, e demoradamente visitando toda gente, que estranhava sua velha e surrada batina, seus sapatos furados e seu corpo tão franzino, mas aos poucos abria-lhe o coração. E ele correspondia redobrando as atenções e as penitências pela Salvação daquelas almas que Deus lhe confiava. Em perfeita imitação do Cristo, ele pedia: "Meu Deus, concedei-me a conversão de minha paróquia! Sujeito-me a sofrer o que quiserdes, durante toda minha vida!"
    Com o passar do tempo, atraído por sua simplicidade e sinceridade, o povo começou a frequentar a igreja, e ele diligentemente passou às exortações para que não se trabalhasse mais aos domingos. No primeiro sermão de que tratou do assunto, chorou de sincera compaixão pelas almas que se perdiam, e também levou os fiéis às lágrimas. Muitas pessoas de Ars jamais esqueceriam essa pregação. Ele disse: "Se perguntássemos àqueles que trabalham nos domingos: 'Que acabais de fazer?', bem poderiam responder: 'Acabamos de vender nossa alma ao Demônio e de crucificar Nosso Senhor. Estamos a caminho do inferno.'"
    Seu dia-a-dia, porém, por contrariar os viciados no álcool, nas danças, na jogatina e os donos de tabernas, não era nada fácil. Mas ele não retrocedia, denunciando as tabernas, por exemplo: "...lugares onde se vendem almas, onde se arruínam famílias, onde se arruína a saúde, onde surgem brigas e onde se cometem crimes." Bem como seus donos: "... que roubam o pão de uma pobre mulher e de seus filhos, dando de beber aos bêbados que gastam aos domingos tudo que ganharam durante a semana.
    Seguia extremamente fiel a seus superiores e à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e apesar de amar estar a sós, cumpria com empenho todas suas funções, que não lhe permitiam quase nenhum retiro. Ele suspirava: "Ah, se eu soubesse o que é ser vigário... Teria entrado num convento de monges."
    Entretanto, as conversões começaram a acontecer, as tabernas foram fechando e a igreja ficou pequena. Por seu testemunho de piedosa vida, São João-Maria Vianney atraía multidões para sua pequena aldeia exatamente em busca do ministério que seus superiores no início lhe negavam: o Sacramento da Reconciliação com Deus.
    Sua  realmente impressionava. Vivia tão envolvido na luta pela Salvação dos fieis que já arrebanhava gente de todos lugares de França e até de outros países. Havia dias de passar dezoito horas no confessionário. Tinha o dom de conhecer os pensamentos, e a muitos estimulava a confessarem alguns pecados que tinham 'esquecido'. Também se recusava a absolver quem não demonstrasse verdadeiro arrependimento.
    Mesmo após seu reconhecimento popular e assumir intensas atividades, tinha fama de que vivia em dieta de quase que apenas pão e queijo, e quase sem dormir. E de seus frequentes jejuns e vigílias, na grande maioria das vezes em nome dos próprios confessantes, levavam-no a ensinar: "A penitência tem um bálsamo e um sabor de que não podem prescindir aqueles que alguma vez os conheceram... Neste caminho, o que custa é o primeiro passo."
    Afirmava sobre as dificuldades: "Não vos assusteis com vosso fardo. O Senhor carrega-o junto a vós."
    Sobre os mundanos descaminhos: "Nossa língua deveria ser utilizada somente para rezar, nosso coração para amar, nossos olhos para chorar."
    Sobre a pecaminosidade: "Há aqueles que vendem sua alma por dois tostões..."
    E sobre um dos pecados capitais: "A inveja torna duro e insensível o homem, incapaz de amar o próximo e a si mesmo."
    Numa época em que a sensualidade e a promiscuidade já começavam a exceder em todos meios sociais, como Nossa Senhora de Salette vai lamentar, sua castidade também foi exemplar: "Não há senão uma maneira de dar-se a Deus no exercício da renúncia e do sacrifício: é dar-se totalmente."
    Verdadeiro sábio, não denunciava tão somente o pecado, mas principalmente a ocasião que leva ao pecado. E reclamava das mulheres: "... com suas provocantes e indecentes vestes, logo darão a entender que são um instrumento de que se serve o inferno para perder as almas. Só no Tribunal de Deus saber-se-á o número de pecados de que foram causa."
    Dizia dos Santos, demostrando sua profunda inspiração: "O coração dos Santos é como um rochedo em meio ao mar."
    De Nossa Senhora, que tinha "amado antes de conhecê-la. Ela é meu mais antigo afeto."
    Para plenamente viver a pobreza, tinha um lema: "Meu segredo é bem simples: é dar tudo. Nada guardar."
    E rezava: "Meu infinitamente amável Deus, eu amo-Vos, e preferiria morrer por amar-Vos a viver sem Vos amar."
    Dizia com convicção: "A única felicidade que temos na Terra é a de amar a Deus e saber que Ele nos ama."
    Nos últimos anos de sua vida, com tocante simplicidade dizia: "Estou muito satisfeito. Já não tenho nada de meu. Deus pode chamar-me quando quiser."
    Por tão luminoso Ministério, após sua morte foi reconhecido pela Santa Igreja como o Padroeiro dos Sacerdotes. Para ele, "... o padre, antes de tudo, deve ser homem de oração."
    Tudo parecia-lhe bem simples: "Um bom pastor, um pastor segundo o Coração de Deus: eis o maior tesouro que Deus pode conceder a uma paróquia."
    Se algum amigo Sacerdote reclamava de dificuldades com o rebanho, ele arguia: "Rezastes, chorastes, gemestes, suspirastes. Mas porventura jejuastes, fizestes vigílias, dormistes sobre o duro chão, fizestes penitências corporais? Enquanto não o fizerdes, não julgueis que tudo fizestes!"
    Testemunhando seu amor pela Santa Eucaristia, os fiéis diziam: "... bastaria vê-lo celebrando a Santa Missa, e fazendo a genuflexão ao passar diante do sacrário."


DIZIA O SANTO CURA D'ARS

    Sobre oração:
    "O homem é um pobre, que tudo precisa pedir a Deus."
    "Quantas almas podemos converter com nossas orações!"
    "A oração, eis toda felicidade do homem sobre a Terra."
    "A oração não é outra coisa senão uma união com Deus."
    "Para que nossa oração seja ouvida, não depende da quantidade de palavras, mas do fervor de nossas almas."
    "A Ave Maria é uma oração que jamais cansa."

    Sobre a Confissão:
    "Dou-lhes uma pequena penitência, e o resto faço-a eu por ele."
    "Se eu estivesse triste, imediatamente iria confessar-me."
    "A porta do Céu está fechada ao ódio. No Céu não há rancor."

    Sobre Deus e Sua Misericórdia:
    "... mais pronto para perdoar que uma mãe para tirar seu filho do fogo."

    Sobre a Eucaristia:
    "Aquele que comunga, perde-se em Deus como uma gota de água no oceano. Não é possível separá-los."
    "Quando comunga, a alma impregna-se do bálsamo do amor, como a abelha do perfume das flores."
    "Que faz Nosso Senhor no Tabernáculo? Espera-nos."

    Sobre Nossa Senhora:
    "As Três Pessoas Divinas contemplam a Santíssima Virgem. Ela é sem mancha, está ornada de todas virtudes que a tornam tão formosa e agradável à Trindade."
    "Maria deseja tanto que sejamos felizes!"
    "Deus podia ter criado um mundo mais belo que este que existe, mas não podia ter dado a uma criatura
 o ser mais perfeita que Maria."
    "O Pai compraz-Se em olhar o Coração da Santíssima Virgem como a obra-prima de Suas mãos."
    "Tanto tenho bebido nessa fonte (Coração da Santíssima Virgem), que há muito tempo ela teria secado se não fosse inesgotável."

    "O mais seguro meio de conhecermos a vontade de Deus é rezarmos a Nossa Boa Mãe."
    "Quando nossas mãos tocam uma aromática substância, perfumam tudo que tocam. Façamos passar nossas orações pelas mãos da Santíssima Virgem. Ela perfumá-las-á."
    "Se o inferno pudesse arrepender-se, Maria alcançaria essa Graça."

    "Se o pecador invoca essa Boa Mãe, ela fá-lo entrar de algum modo pela janela."
    "São Bernardo diz que converteu mais almas por meio da Ave Maria que por meio de todos seus sermões."
    "Maria! Não me abandoneis um só instante, permanecei sempre a meu lado!."

    Sobre o Sacerdote:
    "Se não fosse o padre, a Morte e a Paixão de Nosso Senhor de nada serviriam."
    "Devemos considerar o padre, quando está no altar e no púlpito, como se fosse o próprio Deus."
    "O Sacerdote é um homem que ocupa o lugar de Deus, um homem que está revestido de todos poderes de Deus."
    "... quando se quer destruir a religião, começa-se por atacar o padre."
    "No lugar onde não há mais o padre, não há mais o Sacrifício da Missa."
    "Deixai uma paróquia sem padre por vinte anos, e aí adorarão os animais."
    "O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando virdes o padre, pensai em Nosso Senhor Jesus Cristo."
    "Quanto é triste um padre que não tenha vida interior. Mas para tê-la, é preciso que haja tranqüilidade, silêncio e o retiro espiritual."
    "O que nos impede de sermos Santos, a nós, os padres, é a falta de reflexão. Nós não nos encontramos em nós mesmos, não sabemos o que estamos fazendo. O que nos falta é a reflexão, a oração e a união com Deus."
    "O Sacerdote deve estar tão constantemente envolvido no Espírito Santo quanto está em sua batina."

    "Só no Céu compreenderemos a felicidade de poder celebrar a Missa."
    "O Sacerdote só será bem compreendido no Céu... Se o compreendêssemos na Terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor."

    "Oh, como o Sacerdote é algo sublime! Se ele se apercebesse, morreria... Deus obedece-lhe: diz duas palavras e Nosso Senhor desce do Céu."
    "Se tivéssemos fé, veríamos Deus oculto no Sacerdote, como a luz por trás da vidraça, como vinho misturado na água."
    "Se um padre vier a morrer em consequência dos trabalhos e sofrimentos suportados pela Glória de Deus e pela Salvação das almas, não seria nada mal."
    "O padre deve estar sempre pronto para responder às necessidades das almas."
    "O padre não é para si. Não dá a si a absolvição. Não administra a si os Sacramentos. Ele não é para si, é para vós."
    "Se não tivéssemos o Sacramento da Ordem, não teríamos Nosso Senhor. Quem O colocou no Tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu nossa alma à entrada da vida? O padre. Quem a alimenta para dar-lhe força de fazer sua peregrinação? O padre. Quem a preparará para comparecer perante Deus, lavando a alma pela última vez no Sangue de Jesus Cristo? O padre, sempre o padre. E se alma vier a morrer, quem a ressuscitará, quem lhe dará a calma e a Paz? Ainda o padre. Não há benefício algum de que vos lembreis sem logo ver ao lado desta recordação a figura do Sacerdote. O Sacerdote tem as chaves dos celestiais tesouros, é o procurador de Deus, é o ministrador de Seus bens."

    Após 40 anos de sacerdócio em Ars, e 35 anos de perseguições, até o penúltimo ano de vida, por parte de Satanás, pois também era grande exorcistamorreu aos 73 anos, em 1859, sob grande comoção popular, amplamente venerado como Santo. Seu corpo, sepultado sobre um altar da pequenina Basílica de Ars, construída para a devoção a ele, ainda não se decompôs.


    São João-Maria Vianney, rogai por nós!