segunda-feira, 11 de novembro de 2024

As Heresias


    O Catecismo da Igreja Católica ensina: "Chama-se heresia a pertinaz negação, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deve crer com divina e católica , ou a pertinaz dúvida a respeito dessa verdade...'" CIC § 2089
    Desde o tempo dos Apóstolos, a Igreja enfrenta movimentos e correntes de pensamento que renegam partes da Verdade revelada por Deus no Velho Testamento, bem como pelo próprio Jesus e pelo Espírito Santo, cuja maior parte está no Novo Testamento. A Segunda Carta de São Pedro mesmo já apontava: "Reconhecei que a longa  paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam, para sua própria ruína, como o fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,15-16.
    Foram várias heresias, muitas das quais ainda hoje estão presentes em 'igrejas' e 'opiniões' que tentam se impor sem o devido estudo ou esclarecimento. Abaixo estão as históricas e mais frequentes:
    - Docetismo: alguns cristãos do século II acreditavam e divulgavam que Jesus nunca teria vivido num corpo humano, mas tão somente num corpo espiritual, e que a crucificação foi só um fenômeno aparente. Daí vem seu nome, que em grego significa 'para parecer'. Para eles, que não admitiam abandonar a filosofia grega, Jesus teria sido um 'espectro'. Não chegaram a ser uma seita ou religião, apenas uma corrente de pensamento e que atingiu alguns estratos e comunidades da Igreja.
    Está na Bíblia - No Evangelho segundo São Lucas, ao fim da tarde do Domingo da Ressurreição, Jesus apareceu aos Apóstolos e disse-lhes: "Vede Minhas mãos e Meus pés. Sou Eu mesmo! Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho." Lc 24,39
    Gnosticismo: de antiga prática, muitas correntes filosófica-religiosas sincretizavam nomes e conceitos, pagãos e sagrados, e estiveram mais ativas no século II. Podemos dizer que houve um gnosticismo cristão, posto que uma dessas correntes chegou a camuflar-se usando o Catolicismo, e obteve a adesão de vários intelectuais que se diziam da Igreja. Mas a corrente majoritária era de um gnosticismo pagão, adotando apenas alguns conceitos do cristianismo.
    Valentin, que viveu entre o ano 100 e 160 d.C., dizia-se um gnóstico cristão, mas na verdade era um neoplatônico, pregava que o Cristo era um ser celestial que se uniu a Jesus, um ser meramente humano. Cristo seria apenas parte de um conhecimento de que precisamos para saber quem realmente somos, e assim nos salvarmos.
    Está na Bíblia - Nos dias de Sua última Páscoa em Jerusalém, conforme o Evangelho segundo São João, Jesus disse aos Apóstolos: "Presentemente, Minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-Me desta hora?... Mas é exatamente para isso que vim." Jo 12,27
    E nos registros do Livro dos Atos dos Apóstolos, São Paulo afirmou sobre sua própria fé, quando foi preso na Cidade Santa e levado a Cesareia para ser julgado pelo governador Felix, acusado de agitador pelos judeus: "... crendo em todas coisas que estão escritas na Lei e nos Profetas." At 24,14b
    - Sabelianismo: no fim do século II, Sabélio, padre e teólogo, negava o conceito da Santíssima Trindade, pois, para ele, Pai, Filho e Espírito Santo seriam exatamente a mesma Pessoa de Deus, apresentando-Se de diferentes 'modos'. Por isso, essa heresia também foi chamada de Modalismo. Seus seguidores ainda eram chamados de noecianos, porque Noeto havia sido o mestre de Sabélio e o verdadeiro mentor dessa teoria. Os fundamentos desse entendimento, contudo, continham grosseiros erros. Por exemplo: como Deus, e não o Ser Humano Jesus, poderia ter morrido na Cruz? Em 220, depois de muito teimar, Sabélio foi excomungado pelo Papa São Calixto I.
    Está na Bíblia - O Evangelho segundo São Marcos assim narrou o Batismo de Jesus, quando a Santíssima Trindade, em Três distintas Pessoas, claro!, Se manifestou: "No momento em que Jesus saía da água, João viu os Céus abertos e sobre Ele descer o Espírito em forma de pomba. E ouviu-se dos Céus uma voz: 'Tu és Meu amado Filho. Em Ti ponho Minha afeição.'" Mc 1,10-11
    - Adocionismo: no século III, Paulo de Samósata, eleito Bispo de Antioquia por meio de apoio político, difundia que Jesus nasceu humano e só Se teria tornado divino ao ser batizado por São João Batista, momento em que teria sido 'adotado' como Filho de Deus, daí o termo adocionismo. No Concílio de Antioquia, no ano de 268 de nossa era, ele foi fragorosamente derrotado por Málquio de Antioquia, mas, como tinha as benesses da rainha, só anos mais tarde foi expulso à força do edifício de onde chefiava a igreja local.
    Está na Bíblia - Aos doze anos, quando ficou em Jerusalém após a Páscoa e no Templo com inteligência interrogava e respondia aos líderes religiosos, Jesus disse a Virgem Santíssima e a São José: "Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na Casa de Meu Pai?" Lc 2,49
    - Maniqueísmo: Mani, profeta da Assíria no século III, apresentou-se como inspirado pelo Espírito Santo para depurar as grandes religiões de então: hinduísmo, zoroastrismo, budismo, judaísmo e cristianismo. As mensagens dos líderes religiosos, 'pais da justiça', segundo ele teriam sido corrompidas. Delas criou uma sincrética filosofia, na qual a realidade seria dualista e estaria dividida entre Deus e o Diabo, Luz e Trevas. A matéria seria essencialmente má, e o espírito, essencialmente bom. Só os escolhidos, submetidos a rigorosas práticas de ascetismo, compreenderiam os segredos da 'purificação da luz'.
    Santo Agostinho, que inicialmente foi influenciado por essa heresia, após se converter, tornou-se seu maior opositor. Ela será condenada em vários Sínodos da Igreja ainda no século IV, e mais uma vez no século XII, no IV Concílio de Latrão.
    Está na Bíblia - Depois que multiplicou pães e peixes no deserto, indo à sinagoga de Cafarnaum, Nosso Salvador ofereceu-nos Seu Sangue e Sua Carne e prometeu ressuscitar nossos corpos: "Então Jesus lhes disse: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos. Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna. E Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,53-54
    E a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo assegura: "Pois tudo que Deus criou é bom, e nada há de reprovável quando se usa com ação de graças." 1 Tm 4,4
    Ora, mais de quatro séculos antes, o Livro do Eclesiastes já havia observado: "... todas coisas que Deus fez são boas..." Ecl 3,11a
    - Novacianismo: na metade do século III, Novaciano, padre romano, opôs-se a eleição do Papa Cornélio. Acusava-o de afrontar a Doutrina da Igreja por perdoar os cristãos batizados que, durante a perseguição do Imperador Décio, foram capturados e, sob ameaças de morte, tinham renegado a e oferecido sacrifícios a deuses pagãos. Para Novaciano, tal atitude havia sido uma traição ao sangue dos mártires da Igreja. Ele e seus seguidores foram declarados hereges no ano de 251, mas, mesmo após sua morte, muitos deles ainda eram encontrados em várias cidades e intitulavam-se 'puritanos', pois não admitiam misturar-se com a 'igreja corrompida', chegando ao ponto de rebatizarem-se. O título 'puritano', aliás, vai ser incautamente adotado por reformadores dentro da igreja anglicana ainda no fim século XVI, ou seja, havia poucas décadas desmembrada da Igreja Católica.
    Está na Bíblia - Jesus ensinou aos Apóstolos, enquanto os preparava: "Se teu irmão pecar, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar sete vezes no dia contra ti, e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: 'Estou arrependido', perdoá-lo-ás." Lc 17,3-4
    E no Evangelho segundo São Mateus, Ele determina um número infinito de perdão: "Então Pedro se aproximou d'Ele e disse: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?' Respondeu Jesus: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.'" Mt 18,21-22
    - Arianismo: no século IV, Ário, Bispo de Alexandria, negava que Jesus fosse consubstancial ao Pai, ou seja, Ele não seria Deus, mas tão somente um subordinado a Ele. Dizia, entretanto, que o Cristo era uma criatura pré-existente, "criada do nada", "a primeira e mais excelsa criatura de Deus" e que Ele havia encarnado em Jesus. Deus, portanto, seria apenas uma Pessoa, e Jesus apenas Seu filho. Deus seria um eterno mistério, e assim nunca Se teria revelado. Ele não respondia, porém, uma simples pergunta: Como poderíamos, então, saber alguma coisa sobre Deus?
    Em 325, o I Concílio Ecumênico de Niceia, convocado pelo Imperador Constantino I, afirmou em seu Credo que o Filho de Deus é "... gerado, não criado, consubstancial ao Pai..." E como Ário seguia resistindo, ainda durante o Concílio foi excomungado.
    Está na Bíblia - Durante uma festa da Dedicação em Jerusalém, no Templo, sob o pórtico de Salomão, Jesus afirmou aos líderes judeus, que Lhe pediam que claramente dissesse se Ele era o Cristo: "Eu e o Pai somos um." Jo 10,30


    Macedonianismo: na segunda metade do século IV, o Patriarca de Constantinopla, Macedônio I, negava que o Espírito Santo fosse Deus, o que fez com que ele e seus seguidores recebessem a alcunha de 'adversários do Espírito'. Acreditavam que o Divino Paráclito era uma criatura do Filho, para servir a Ele e ao Pai. Também pregavam que o Filho não tinha a mesma natureza que o Pai, mas apenas naturezas parecidas. Os antigos arianos, claro, trataram de segui-los.
    Em 381, o II Concílio Ecumênico de Constantinopla pôs fim a essa corrente de pensamento e afirmou que o Espírito Santo é "... o Senhor, o Doador da vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado." Assim ficou confirmado que o Santo Paráclito era consubstancial ao Pai e ao Filho, e com isso foi corroborado o conceito da Santíssima Trindade.
    Está na Bíblia - Na primeira Páscoa em Jerusalém em vida pública, visitado por Nicodemos, Jesus testemunhou a unicidade e a divina autonomia do Espírito Santo: "O vento sopra onde quer. Ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,8
    E prometeu aos Apóstolos em últimos diálogos após a Santa Ceia: "Se Me amais, guardareis Meus mandamentos. E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
    Apolinarianismo: no fim do século IV, Apolinário de Laodiceia explicava a natureza de Jesus como um corpo humano com mente divina. Seu espírito teria sido substituído pelo Verbo, ou seja, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Negava, portanto, a humanidade de Cristo, cujo Corpo seria apenas um veículo. Por essa afirmação, porém, Cristo, que não teve um corpo próprio, poderia incorporar em qualquer homem.
    Em 381, no mesmo I Concílio de Constantinopla, sua teoria foi amplamente rejeitada e confirmou-se que Jesus era totalmente homem, ao mesmo tempo que, por mistério, totalmente Deus. São Gregório Nazianzeno foi um dos presidentes do Concílio, e por sua brilhante argumentação aí seria reconhecido como o 'Teólogo da Trindade'.
    Está na Bíblia - Nosso Senhor disse aos Apóstolos quando instituiu a Santa Eucaristia: "Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.'" Lc 22,19
    Pelagianismo - no início do século V, Pelágio da Bretanha, monge ascético, defendia que o homem não depende de Deus para ser salvo, ou seja, não precisaria da Divina Graça. Para ele, o ser humano nasce 'moralmente neutro', e assim renegava o conceito do pecado original. Seus argumentos foram luminosamente desarticulados por São Jerônimo, tradutor e comentarista da Bíblia, e também por Santo Agostinho, que sustentava que toda humanidade estava sob o pecado e que só com o auxílio da Graça poderia salvar-se.
    Para Pelágio, a habilidade moral dada por Deus era o bastante para a Salvação, embora mais tarde ele tenha admitido que a Graça facilitasse a obediência. Ainda segundo ele, o papel de Jesus era ser 'um bom exemplo fixo' para a humanidade, além de proporcionar a expiação dos pecados. Foi condenado como herege em 417 pelo Papa Inocêncio I, decisão que foi ratificada em 418 pelo Papa Zósimo, e mais uma vez no I Concílio de Éfeso, em 431.
    Está na Bíblia - Pouco antes de partir para o Horto das Oliveiras, onde seria preso, Jesus asseverou aos Seus seguidores: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5
    - Nestorianismo: Nestório, monge e Patriarca de Constantinopla do século V, ensinava que a natureza humana de Jesus não se unia à Sua natureza divina, e por isso Maria não poderia ser chamada de Mãe de Deus. Em 431, no I Concílio de Éfeso, ele viu suas ideias derrotadas por São Cirilo de Alexandria e, por não reconhecer as decisões, foi condenado como herege. Foi-lhe concedido, porém, viver num mosteiro, pois se esperava que se arrependesse, mas ele morreu sem voltar atrás.
    Como seus seguidores continuavam divulgando tais ensinamentos, em 451, no Concílio de Calcedônia, eles foram novamente declarados heréticos, mas, com apoio dos governantes da Pérsia, decidiram aí formar a igreja assíria do oriente. Essa ruptura ficou conhecida como o Cisma Nestoriano.
    Está na Bíblia - Depois que Nossa Senhora concebeu do Espírito Santo, Santa Isabel disse-lhe por ocasião de sua visita: "De onde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de Meu Senhor?" Lc 1,43
    E Jesus, invocando o poder de Seus milagres, pedia aos judeus: "... a fim de que reconheçais que o Pai está em Mim, e Eu no Pai." Jo 10,38
    - Monofisismo: era uma teoria cristológica que afirmava que Jesus tinha apenas a natureza divina, portanto, nada de humano. Êutiques, celibatário sacerdote muito respeitado em Constantinopla, ensandecidamente levantou essa ideia logo depois da condenação de Nestório. Não demorou, pois, e em 448 também foi condenado por heresia. Mas em 449, no controverso II Concílio de Éfeso, que foi revogado pelo Papa São Leão Magno, Êutiques foi reconduzido ao posto, graças a apoio político, e seus oponentes foram depostos.
    Em 451, porém, no Concílio da Calcedônia, suas ideias foram amplamente rejeitadas e de novo ele foi condenado por heresia, sendo em definitivo deposto.
    Está na Bíblia - Como os quatro Evangelhos atestam, Jesus morreu na Cruz. Eis o relato de São João Evangelista: "Chegando, porém, a Jesus, como O vissem já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu Sangue e Água." Jo 19,33-34
    - Cisma do Oriente: no século XI, os Patriarcas vinculados a Constantinopla  definitivamente proclamaram não reconhecer a supremacia do Papa sobre a Igreja. No século IX, o Imperador Bizantino, Miguel III, o Ébrio, havia deposto Inácio, o Patriarca de Constantinopla, e nomeado Fócio, mas o Papa São Nicolau Magno não reconheceu nem a destituição nem o novo patriarca. Muito ambicioso, para acirrar a intriga e provocar a ruptura com o Papado, Fócio insidiosamente invocou a questão 'Filioque', até então uma irresoluta divergência doutrinária entre Roma e Constantinopla sobre a procedência do Espírito Santo, que o Oriente dizia proceder apenas do Pai, e não do Filho.
    Em 1054, Miguel Cerulário, Patriarca de Constantinopla, por meses recusou-se a receber o Cardeal enviado pelo Papa Leão IX, que ali estava para informar-lhe que o Bispo de Roma era o 'Patriarca Ecumênico'. Como realmente não o recebia, Miguel terminou sendo excomungado. Ele reagiu 'excomungando' o Cardeal e o Papa, iniciando o desligamento de oficial modo.
    Está na Bíblia - Jesus disse aos Apóstolos, instantes antes de rezar ao Pai a Oração da Unidade: "Entretanto, digo-vos a Verdade: convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei." Jo 16,7
    - Valdenses e albigenses: no fim do século XII, Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que havia renunciado à sua fortuna, dizia que os cristãos não precisavam dos Sacerdotes da Igreja para salvarem-se, mas tão somente de oração e dos ensinamentos de Jesus. Contudo, não explicava como os ensinamentos de Jesus haviam chegado a ele. Os 'pastores', dizia esse heresiarca, homens comuns que não precisariam deixar suas famílias nem seus trabalhos, poderiam ler a Bíblia, comentá-la e ser conselheiros morais do povo.
    Eles influenciaram outro movimento no sul da França, os albigenses, que se dividiam entre os 'perfeitos', pessoas que viviam em constante penitência, e os 'crentes', que acreditavam que só havia uma única absolvição dos pecados por toda vida, não podendo o cristão tornar a pecar. Os praticantes dessas correntes viviam esmolando, levando uma vida extremamente austera, e recusavam qualquer autoridade da Igreja.
    Em 1209, o Papa Inocêncio III contou com a santidade de São Domingos para pôr fim a essas heresias, mas eles ainda resistiram de forma organizada até 1229. Desarticulados, no século XVI iriam abraçar, claro!, o movimento 'reformador' de Calvino na França e depois influenciar a 'Reforma Protestante' na Suíça.
    Está na Bíblia - Após anunciar aos Apóstolos Sua Paixão pela segunda vez, Jesus garantiu-lhes: "Quem vos ouve, a Mim ouve. E quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16
    Claramente disse-lhes sobre aquele que ofende a Deus: "Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se também recusar ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
     E nas revelações do Livro do Apocalipse de São João, por sete vez Ele determina que todo cristão ouça sua diocese, afirmando que é o Espírito Santo que fala através delas: "Eis o que diz Aquele que segura as sete estrelas em Sua mão direita, Aquele que anda pelo meio dos sete candelabros de ouro. Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" Ap 2,1b.7a

     Sempre muito salutares, portanto, são essas palavras de um fervoroso defensor da Sã Doutrina, na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, operário que não tem de que se envergonhar, íntegro distribuidor da Palavra da Verdade. Procura esquivar-te das frívolas conversas dos mundanos, que só contribuem para a impiedade. As palavras dessa gente destroem como a gangrena. Quem, portanto, se conservar puro e isento dessas doutrinas, será um nobre, santificado, útil instrumento a Seu Possuidor, preparado para todo benéfico uso." 2 Tm 2,15-17a.21
    Recomendou-lhe mais: "Vigia a ti e a Doutrina. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, salvarás a ti mesmo e aos que te ouvirem." 1 Tm 4,16
    Já a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios expressa: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    E exaltando a Comunhão que só em Cristo é promovida pelo Santo Paráclito, a Carta de São Paulo aos Efésios prescreve: "N'Ele (Cristo) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa Redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor de Sua Glória." Ef 1,13-14
    Sinal da Glória de Deus, da Comunhão da Santíssima Trindade e da passagem de Jesus entre nós, a Unidade da Igreja foi objeto de oração de Jesus ao Pai, quando rezou pelos Apóstolos e por todos que os ouviriam: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que, pela palavra deles, hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste. Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,20-23
    Pois Nosso Senhor mesmo defendia a Revelação e determinou a integral divulgação de Sua Doutrina. Foi o que disse em últimas palavras antes de Sua Ascensão: "Ensinai-as (nações) a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,20a
    Ademais, quando os fariseus se escandalizaram com Seus ensinamentos sobre o que seriam 'alimentos impuros', pronunciou-Se sobre todos desvios da fé: "Toda planta que Meu Pai Celeste não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, ambos tombarão na mesma vala." Mt 15,13b-14
    E como ensinava o amor ao próximo, essencialmente pedia amor entre Seus representantes. Quando Judas Iscariotes saiu para traí-Lo, Ele prometeu aos Apóstolos em despedida: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35

    "Em Comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"