domingo, 4 de fevereiro de 2024

A Única e Verdadeira União


    De tanto individualismo e presunção que se vê na atualidade, realmente parece impossível que até mesmo algumas poucas pessoas possam vir a concordar em todos assuntos de uma única e mesma . Estamos diante do caos, uma nova Babel domina toda Terra! Mas, como São Paulo ensina, deveríamos saber que "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Ele diz de quem realmente abraçou a Paixão de Cristo como caminho a ser seguido: "Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser..." Rm 6,5a
    Ora, foi isso que aconteceu em Antioquia pelas mãos de São Barnabé, quando um expressivo número de gentios entrou para a Igreja: "Assim uma grande multidão se uniu ao Senhor." At 11,24b
    E que a inspiração que leva ao verdadeiro conhecimento de Deus vem exclusivamente do Divino Paráclito, o Apóstolo dos Gentios também ensina: "Todavia, Deus revelou-as por Seu Espírito, porque o Espírito tudo penetra, mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus." 1 Cor 2,10-11
    Foi através d'Ele que Jesus instruiu os Apóstolos, como São Lucas registrou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus desde o princípio, até o dia em que foi arrebatado ao Céu, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera." At 1,1b-2
    E desde Sua Ascensão aos Céus, é Ele que tem conduzido a Igreja, pois Jesus mesmo prometeu: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,13
    São Pedro confirma Sua assistência: "... estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12b
    O Último Apóstolo, por fim, garante: "... pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14
    E por Sua Unção, ele defende a Sã Doutrina: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8
     O Príncipe dos Apóstolos também diz, ao defender a autoridade da Igreja: "Ananias, por que tomou conta Satanás de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus."  At 5,3.4b
    Pois a despeito do que incautos e hereges ensinam, o Espírito Santo jamais abandonou nem jamais abandonará a Igreja. Essa foi outra promessa de Jesus aos Apóstolos: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    E é Sua condução que pedimos na Oração de Invocação ao Espírito Santo: "Ó Deus que instruístes os corações de vossos fiéis com a Luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas coisas, segundo o mesmo Espírito..."
    Pois se apreciamos 'retamente todas coisas, segundo o mesmo Espírito', só poderíamos ser guiados a um único e mesmo entendimento. Essa é a Unidade da Igreja, a Comunhão dos Santos, a "Comunhão do Espírito Santo" de que São Paulo falou: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    E como a Bíblia foi inspirada pelo Divino Paráclito, não pode haver várias interpretações, muito menos pessoais interpretações, mas uma só: aquela que o próprio Espírito de Deus já revelou à Igreja. São Judas Tadeu atestou que a Revelação já foi concluída, quando falou da: "... fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos." Jd 3b
    Para livrar-nos da sedução da dissidência, certamente semeada pelo inimigo, São Pedro já advertia: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação." 2 Pd 1,20
    E assim como São Lucas, ele aponta a mesma origem: "Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21
    O próprio Jesus exigia fidelidade às Escrituras: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Nosso Salvador apontou de onde vem a discórdia: "Jesus propôs-lhes outra parábola: 'O Reino dos Céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas também apareceu o joio." Mt 13,24-26
    Denunciou sua origem no meio religioso: "Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque a Verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,44
     Ora, Deus não seria Deus se verdadeiramente não nos conduzisse à Unidade, à União. São João Evangelista anotou a involuntária profecia de Caifás sobre a Paixão de Jesus: "E ele não disse isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizava que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas para que também fossem reconduzidos à unidade os dispersos filhos de Deus." Jo 11,51-52
    Jesus mesmo sentenciou: "E quando Eu for levantado da terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
    E os seguidores da tradição de São Paulo advertem do contínuo ministério de Jesus: "Guardai-vos, pois, de recusar ouvir Aquele que fala. Porque se não escaparam do castigo aqueles que d'Ele se desviaram quando lhes falava na Terra, muito menos escaparemos nós se O repelirmos quando nos fala desde o Céu." Hb 12,25
    São João Evangelista foi mensageiro dessas instruções. Jesus ditou-lhe: "Ao anjo da igreja de Esmirna, escreve: 'Eis o que diz o Primeiro e o Último, que foi morto e retomou a Vida.'" Ap 2,8
    E São Paulo assim descreveu o projeto de Deus: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência desde sempre formara, para realizá-lo na plenitude dos tempos, desígnio de reunir em Cristo todas coisas: as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10
    Também denunciou os frutos da 'semente do inimigo': "Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, torpes palavras de vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos." Cl 3,8-11
    Unidade essa que, centrada em Jesus, alcançará a eternidade na própria Trindade Santa: "E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que todas coisas Lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,28
    O próprio Jesus pediu ao Pai pela perfeita Unidade entre Ele, os Apóstolos e nós, para que a Igreja verdadeiramente viva em união, tal qual a d'Ele com o Pai e com o Espírito Santo: "Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Para que eles também estejam em Nós: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade..." Jo 17,21a.23a
    Pois por Seus poderes temos a Comunhão. E se alguém se perde, a razão é clara. Ele segue: "Pai Santo, guarda-os em Teu Nome, que Me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam Um como Nós. Enquanto Eu estava com eles, Eu guardava-os em Teu Nome... Conservei os que Me deste, e nenhum deles se perdeu exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura." Jo 17,11b-12a.c
    E a Comunhão significa proteção e, mais que a Graça, a própria Glória, como Deus diz pelo salmista: "Porque se uniu a Mim, Eu livrá-lo-ei. E protegê-lo-ei pois conhece Meu Nome. Quando Me invocar, Eu atendê-Lo-ei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e cobri-lo-ei de Glória. Será favorecido de longos dias, e mostrá-lhe-ei Minha Salvação." Sl 90,14-16
    Ora, Jesus distintivamente selou Sua união com os Apóstolos, fundamentos de Sua Igreja, pois essa união é a própria Glória de Deus: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um." Jo 17,22
    E nesse sentido expressamente pediu por nós, que cremos no testemunho dos Apóstolos: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que pela Palavra deles hão de crer em Mim." Jo 17,20
    Eis que uma inspirada frase de São Paulo, como vimos, tornou-se a 'Oração de Saudação', recitada logo no início da Santa Missa: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    A essa saudação, nós respondemos mencionando a mesma Unidade: "Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!"
    Ela fala da Unidade que o só Espírito de Deus pode proporciona-nos, acertadamente chamada de Comunhão Espiritual, que se efetiva através da Comunhão Eucarística, isto é, o Corpo e o Sangue de Jesus transubstanciados na Hóstia Consagrada. Diz São Paulo: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17
    Jesus mesmo afirmou que só assim se dá a perfeita Aliança com Ele: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue, permanece em Mim e Eu nele.'" Jo 6,56
    E em nome de uma vida verdadeiramente cristã, de efetiva conversão e para a conversão de nossos irmãos, Ele pedia: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim." Jo 15,4


 A INTEGRIDADE DO EVANGELHO

    Coerentemente, o Apóstolo dos Gentios insistia nessa necessária convergência espiritual para o Cristo, pois ela é a essência da Boa Nova: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho..." Fl 1,27
    E ele próprio deu exemplo de conduta de Comunhão, como quando foi ao encontro dos Apóstolos em Jerusalém, isto é, da igreja-mãe, para certificar-se da validade do que estava ensinando: "Catorze anos mais tarde, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, comigo também levando Tito. E subi em consequência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão." Gl 2,1-2
    Evangelho cuja integridade ele defendeu com ardor, evitando intrigas mesmo sob humilhações daqueles que eram a favor da continuação da obrigatoriedade da circuncisão: "Mas por causa de falsos irmãos, intrusos, que furtivamente se introduziram entre nós para espionar a liberdade de que gozávamos em Cristo Jesus, a fim de escravizar-nos, fomos, por esta vez, condescendentes, para que o Evangelho permanecesse em sua integridade." Gl 2,4-5
    Sem dúvida, Jesus determinou aos Apóstolos a retransmissão de Seus ensinamentos em sua totalidade, não em partes: "Ensinai-as (as nações) a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,20a
    Disse até mesmo do Antigo Testamento: "Pois em Verdade vos digo: passará o céu e a Terra, antes que desapareça um jota, um traço da Lei. Aquele que violar um destes Mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar, será declarado grande no Reino dos Céus." Mt 5,18-19
    E pela Graça de que todos viessem a conhecer a plenitude da Revelação, São Paulo rezava: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que mutuamente possais instruir-vos e exortar-vos com toda Sabedoria." Cl 3,16a
    Aliás, sempre em perfeita sintonia com a Igreja, São Paulo reverentemente foi conhecer São Pedro após sua conversão, quando subiu à Cidade Santa mesmo correndo risco de morte, pois estava sendo perseguido pelos judeus: "Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e com ele fiquei quinze dias." Gl 1,18
    Tal reverência à Igreja foi-lhe imposta pelo próprio Jesus desde sua conversão, quando reclamou de sua perseguição a Ele mesmo, e não à Igreja, e, mesmo falando pessoalmente com ele, não o autorizou a sair pregando, mas submeteu-o aos membros da Igreja: "Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' Saulo disse: 'Quem és, Senhor?' Respondeu Ele: 'Eu sou Jesus, a Quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer.'" At 10,4-5a.6
    E com exemplar humildade portou-se o eunuco, ministro da rainha de Candace, da Etiópia, que não se aventurou em pessoais interpretações da Escrituras, mas pediu ajuda ao diácono Filipe: "Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o Profeta Isaías, e perguntou-lhe: 'Porventura entendes o que estás lendo?' Respondeu-lhe: 'Como é que posso, se não há alguém que mo explique?' E rogou a Filipe que subisse e se sentasse junto dele." At 8,30-31
    Pois, como vimos, no princípio a Igreja tinha em Jerusalém seu centro de decisões, onde eram invocadas as 'Chaves do Reino dos Céus' sob posse de São Pedro. Ele vai dizer a Ananias, que dissimulava fazer parte da comunidade: "Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que tomou conta Satanás de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.'" At 5,3.4b
    E aí se deu o Primeiro Concílio, já sob a liderança de São Tiago Menor, para resolver a questão da circuncisão, levantada em Antioquia: "Alguns homens, descendo da Judeia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: 'Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.' Originou-se, então, grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar desta questão com os Apóstolos e os Anciãos em Jerusalém." At 15,1-2
    E como Jesus havia prometido, é o Divino Paráclito Quem guia as decisões da Igreja. É o que se lê na Carta de Jerusalém, resultante desse Concílio e redigida por sugestão de São Tiago Menor, bispo local, após o decisivo voto de São Pedro: "Com efeito, ao Espírito Santo e a nós bem pareceu não vos impor outro peso além do indispensável seguinte: que vos abstenhais das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da impureza. Dessas coisas, bem fareis em conscienciosamente guardar-vos. Adeus!" At 15,28-29
    Pois foi assim, nessa Unidade em torno das decisões da comunidade-mãe, que a Igreja chegou a nós, como São Paulo e São Timóteo evangelizavam: "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e Anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número." At 16,4-5
    Verdadeiramente zeloso da Comunhão, São Paulo, na Segunda Carta aos Coríntios, denuncia os falsos mestres que por soberba deturpam partes das Escrituras: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    Acusação essa que também foi feita por São Pedro, pois a esse tempo já se distorciam as próprias cartas de São Paulo: "Reconhecei que a longa paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam, para sua própria ruína, como também fazem com as demais Escrituras. Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais de vossa firmeza, levados pelo erro destes ímpios homens." 2 Pd 3,15-17
    O Príncipe dos Apóstolos adverte, por sinal, que o Juízo Final vai começar pela Igreja: "Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17
    De fato, já nos primeiros anos da Igreja havia muitos dissidentes que maliciosamente usavam partes das Escrituras, apossando-se da Palavra de Deus para provocar divisões. Essas parcialidades, esse concordar com isso e não com aquilo dos ensinamentos, essa 'escolha' é o verdadeiro significado da palavra heresia. São Paulo alerta a São Tito: "Igualmente exorta os moços a serem morigerados, e em tudo mostra-te modelo de bom comportamento: pela integridade na Doutrina, gravidade, sã e irrepreensível linguagem, para que o adversário seja confundido, não tendo de nós mal algum a dizer." Tt 2,6-8
    Ele recomendou distância diante de heréticos e de suas futilidades: "Quanto a tolas questões, genealogias, contendas e disputas relativas à Lei, foge delas, porque são inúteis e vãs. O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido a primeira e segunda vez, evita-o, visto que esse tal é um perverso que, perseverando no seu pecado, se condena a si próprio." Tt 3,9-11
    E não se mostrou nem um pouco tolerante com desvios dentro da Igreja: "Portanto, repreende-os severamente, para que se mantenham sãos na fé, e não deem ouvidos a judaicas fábulas nem a preceitos de homens avessos à Verdade." Tt 1,13b-14
    Ao contrário, pedia que esses erros fossem prontamente denunciados, como escreveu aos efésios: "E ninguém vos seduza com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de Deus sobre os rebeldes. Não vos comprometais com eles. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,6-7.10-11
    Também alertou a São Timóteo: "Eu conjuro-te, diante de Deus e de Cristo Jesus e dos anjos escolhidos, a que guardes essas regras sem preferências, nada fazendo por espírito de parcialidade." 1 Tm 5,21
    Aliás, foi de singular clareza para com ele, revelando o verdadeiro espírito de um Sacerdote de Cristo: "Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, operário que não tem de que se envergonhar, íntegro distribuidor da Palavra da Verdade. Procura esquivar-te das frívolas conversas dos mundanos, que só contribuem para a impiedade. As palavras dessa gente destroem como a gangrena. Quem, portanto, se conservar puro e isento dessas doutrinas, será um nobre, santificado e frutuoso instrumento ao Seu Possuidor, preparado para todo benéfico uso." 2 Tm 2,15-17a.21
    Ele já lhe havia recomendado: "Vigia a ti e a Doutrina. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem." 1 Tm 4,16
    E profetizou que muitos buscariam novas 'religiões' ou 'mestres' coniventes com seus pecados: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si." 2 Tm 4,3
    São Tiago Menor também falou do comedimento para com mundanos assuntos, e da difícil missão dos Sacerdotes da Igreja: "Meus irmãos, entre vós não haja muitos a arvorar-se em mestres. Sabeis que seremos mais severamente julgados, porque todos nós caímos em muitos pontos. Se alguém não cair por palavra, este é um perfeito homem, capaz de refrear todo seu corpo." Tg 3,1-2
    Ele apontou as qualidades da verdadeira inspiração: "A Sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de Misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento." Tg 3,17
    Por isso, os seguidores de São Paulo conclamavam a todos à plenitude da Doutrina: "Pelo que, transpondo os elementares ensinamentos da Doutrina de Cristo, procuremos alcançar-lhe a plenitude. Não queremos agora insistir nas fundamentais noções da conversão, da renúncia ao pecado, da fé em Deus, a Doutrina dos vários batismos, da imposição das mãos, da Ressurreição dos mortos e do Eterno Julgamento." Hb 6,1-2
    E reclamavam de preguiçosas consciências: "A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornastes-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,12-14
    Em algumas de suas cartas, por exemplo, aos Romanos, aos Coríntios ou aos Efésios, São Paulo exaustivamente falou sobre o que significa sermos membros do Corpo Místico de Cristo, ou seja, da Igreja: "Pois, como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." Rm 12,4-5
    E para uma verdadeira reconciliação com Deus, ele aponta Cristo como a Cabeça da Igreja: "Ele é a Cabeça do Corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas coisas. Porque a Deus aprouve n'Ele fazer habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas, por intermédio d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus." Cl 1,18-20
    Esse é o objetivo da Paz que só Ele nos concede: "Triunfe em vossos corações a Paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único Corpo. E sede agradecidos." Cl 3,15
    Ele dizia que tal união só é possível pelo exercício da caridade: "Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos n'Aquele que é a Cabeça, Cristo." Ef 4,14-15
    E, em função dela, ele expunha-se a todos riscos: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
    O contrário, ainda segundo ele, é mera teimosia e desobediência, ou desvios de caráter fomentados pela ganância: "Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre os da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca porque transtornam inteiras famílias ensinando o que não convém, e isso por vil espírito de lucro." Tt 1,10-11
    Ele assim explica os autênticos carismas religiosos: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor." 1 Cor 12,4-5
    E indica a que eles se prestam: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Ora, foi pela Igreja que se deu o Sacrifício Pascal: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível." Ef 5,25b-27
    Por ela, tem sentido nossa vida: "Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor, se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor." Rm 14,7-8
    Mesmo no Purgatório: "Ele morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele." 1 Ts 5,10
    E só nela está a Vida"Porque é n'Ele (Deus) que temos a Vida, o movimento e o ser..." At 17,28a
    Lembrando a própria Criação, ele sempre e mais uma vez apelava à Unidade: "Mas para nós há um só Deus, o Pai, do Qual procedem todas coisas e para o Qual existimos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por Quem todas coisas existem e também nós." 1 Cor 8,6
    Laborioso conciliador, quando havia dissenção logo arguia em defesa da Comunhão: "Será que não caminhamos no mesmo Espírito? E não seguimos os mesmos passos?" 2 Cor 12,18
    Os apelos de São Pedro iam no mesmo sentido: "Finalmente, tende todos um só coração e uma só alma, sentimentos de fraterno amor, de Misericórdia, de humildade." 1 Pd 3,8


COMUNHÃO COM DEUS

     Sem dúvida, a Comunhão Espiritual, que só é propiciada pela Comunhão Eucarística, é a razão de ser da Igreja. Por ela, instantemente pedia São Paulo aos filipenses: "Se portanto, existe... alguma Comunhão no Espírito... completai minha alegria, deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a Unidade." Fl 2,2-3
    Ele declarou a única maneira pela qual Deus pode permanecer conosco: "... tenham um mesmo sentir e pensar, vivam em Paz, e o Deus do amor e da Paz estará convosco." 2 Cor 13,11
    Porque a Comunhão, em todos sentidos, é nossa vocação: "Sede um só corpo e um só espírito, assim como por vossa vocação fostes chamados a uma só esperança." Ef 4,4
    É a forma correta de dar Glória a Deus: "... para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo." Rm 15,6
    Ele expressamente dizia qual deve ser nosso esforço: "Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz." Ef 4,3
    Aos que se permitiam escolher um pregador ou Apóstolo favorito, e assim causavam divisões dentro da Igreja, ele contundentemente vai perguntar: "Então Cristo está dividido?" 1 Cor 1,13
    E condenava a busca de opinião de pessoas de fora da Igreja: "No entanto, quando tendes contendas desse gênero, escolheis para juízes pessoas cuja opinião é tida em nada pela Igreja." 1 Cor 6,4
    São Tiago Menor, da mesma forma, era absolutamente restritivo: "Está alguém enfermo? Chame os Sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em Nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor restabelecê-lo-á. Se cometeu pecados, sê-lhe-ão perdoados." Tg 5,14-15
    Deus, portanto, quer reunir-nos em torno de Si através da Igreja, que é a imagem do Seu Reino, símbolo da Unidade da fé. E assim todas vocações, que recebemos de Deus, devem servir "... para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,13
    Essa é a razão de nosso Batismo: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,13
    Pois o Batismo nos faz Um: "Todos vós, que fostes batizados em Cristo, revestiste-vos de Cristo. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois Um em Cristo Jesus." Gl 3,27-28
    E São João Evangelista diz que expandir a Comunhão pelo mundo é a própria missão dos Apóstolos: "... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." Jo 1,3
    Isso representa, ainda segundo ele, estar na Luz da Verdade, na companhia dos irmãos, onde podemos obter o perdão de nossas faltas: "Se dizemos ter Comunhão com Deus, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,6-7
    Porque estar em Comunhão é uma inalienável condição para ser discípulo de Jesus. Ele mesmo sentenciou: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    E se há desunião, é porque não há amor. Falha-se exatamente no Mandamento dado por Cristo: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo." Jo 15,12
    Havemos de formar, pois, um só rebanho, porque para isso Ele mesmo trabalha: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. Também preciso conduzi-las, e ouvirão Minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,16
    Essa é Sua Missão e de Sua Igreja, como São Paulo afirma: "Tudo isso vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou Consigo, e confiou-nos o ministério desta reconciliação." 2 Cor 5,18
    Esse é o projeto de Deus em Jesus, como apontam os seguidores de São Paulo: "Aquele para Quem e por Quem todas coisas existem, desejando conduzir à Glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o Autor da Salvação deles, para que Santificador e santificados formem um só todo. Por isso, Jesus não hesita em chamá-los Seus irmãos..." Hb 2,10-11
    Seu Sacrifício reuniu judeus e pagãos, pelo Espírito Santo, num mesmo Corpo, como São Paulo exorta: "Porque é Ele nossa Paz. Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, abolindo na própria Carne a Lei, os preceitos e as prescrições. Desse modo, em Si mesmo Ele quis fazer dos dois povos uma única nova humanidade pelo restabelecimento da Paz, e ambos reconciliá-los com Deus, num só Corpo reunidos pela virtude da Cruz, nela aniquilando a inimizade. Ele veio anunciar a Paz a vós, que estáveis longe, e a Paz aos que estavam próximos. É graças a Ele que uns e outros, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai." Ef 2,14-18
    Sem Jesus, de fato, nada de proveitoso podemos fazer: "Eu sou a Videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5
    E são Suas próprias palavras: "Quem não está Comigo, está contra Mim. E quem Comigo não ajunta, espalha." Mt 12,30

    "Fazei de nós um só Corpo e um só Espírito!"
    "Santificai e reuni Vosso povo!"
    "Confirmai Vosso povo na Unidade!"
    "Senhor Jesus Cristo, disseste a Vossos Apóstolos: 'Eu deixo-vos a Paz, Eu dou-vos Minha Paz.' Não olheis nossos pecados, mas a fé que anima Vossa Igreja. Dai-lhe, segundo Vosso desejo, a Paz e a Unidade, Vós que sois Deus com o Pai e o Espírito Santo. Amém!"