terça-feira, 27 de agosto de 2024

Santa Mônica


    Se Santo Agostinho sobremaneira colaborou para a formulação da Teologia, muito deve-se à sua Santa mãe.
     Nascida de família cristã em 332, em Tagaste, hoje Souk Ahras, a noroeste da atual Argélia, país do norte da Árica e à margem do Mar Mediterrâneo. Casou-se com um pagão, por nome de Patrício, que se revelou rude, por vezes agressivo, mas ela não fazia nenhum mau comentário a seu respeito nem permitia que alguém o fizesse. De verdadeira , simplesmente cuidava de criar os filhos para Cristo e muito rezava por sua conversão.
    As vizinhas logo perceberam sua santidade. Como era possível viver em tamanha serenidade diante da embriaguez, da violência e da declarada infidelidade do marido? Assim se tornou conselheira e referência espiritual em sua comunidade. E tão humilde e tolerante, terminou por tocar profundamente o coração do marido, que abandonou a mundana vida e converteu-se. Tal Graça, no entanto, especificamente destinava-se a salvar-lhe a alma, pois pouco depois a saúde iria faltar-lhe, vindo a falecer.
    Mas ainda maior angústia já lhe apertava o coração. Se seus filhos mais novos já estavam encaminhados à luz do Catolicismo, aos 17 anos, e apesar da notória inteligência, Santo Agostinho, então estudante de Retórica e Artes em Cartago, antiga capital da atual Tunísia, também no norte da África, embora não fosse violento tinha tomado o mesmo caminho de vícios e promiscuidade do pai. Teve um filho, chamado Adeodato, de uma fortuita união, tornou-se maniqueísta, a grande heresia de seu tempo, uma seita filosófico-religiosa, e como professor de Gramática voltou à terra natal, Tagaste.
    Inicialmente Santa Mônica renegou-se a aceitá-lo em casa, mas, tempos depois, voltou atrás. De fato, ela tinha mais um filho e uma filha para educar: não podia pactuar com sua cínica devassidão. E mais uma prova da verdadeira e contagiante devoção dessa senhora foi a opção religiosa que fez a filha, Perpétua, desde cedo: foi das primeira mulheres a ir viver num mosteiro feminino.
    Contudo, do mesmo modo como agiu com o esposo, Santa Mônica não desistiu de Santo Agostinho. Ao pedir em preces pelo desencaminhado filho, ouviu de seu bispo alentadora resposta: "Vá e continue a rezar: é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas."
    E noites depois, em sonho, ela recebeu mais uma grande consolação de Deus: estava num bosque, chorando a perdição de seu filho, e dela aproximou-se um ser resplandecente (seu Anjo da Guarda), dizendo: "Teu filho voltará a ti." E ela, muito agradecida pela revelação, redobrou suas orações por sua conversão.
    Em paralelo, o brilhante professor tornava-se cada vez mais importante entre os estudiosos do Império Romano. Aos 29 anos, foi estabelecer-se em Roma como catedrático em Retórica, com o título de doutor. No dia da partida, Santa Monica estava com ele: queria acompanhá-lo, crendo poder ajudar-lhe a perceber a Verdade pela intercessão e constante presença, ainda que muitas vezes silenciosa, ao seu lado. Mas no porto, enquanto esperavam o navio, sua mãe foi rezar na igreja de São Cipriano. Ele aproveitou-se, disse que ia visitar um amigo e embarcou sem ela. Sobre essa vergonhosa atitude, Santo Agostinho fez questão de reconhecer em sua mais famosa obra: "Nessa noite parti ocultamente, enquanto ela ficou orando e derramando lágrimas por mim." (Confissões, V, 8)
    E da Cidade Eterna, ele acabou indo a Milão, atraído pela Sabedoria de Santo Ambrósio. Homem de singular inspiração, com absoluta naturalidade este bispo mostrou-lhe o Caminho da Verdade, e Santo Agostinho pediu-lhe o Batismo, assim como para seu filho. Santa Mônica, que não desistia de seu filho e já estava em Milão, pedia constantes conselhos a este inspirado e Santo bispo, parecendo saber que sua conversão estava próxima. E Santo Agostinho mesmo, dirigindo-se a Deus, anotou a reação que ela teve quando lhe contou de sua conversão: "Ela rejubila. Contamo-lhe como o caso se passou. Exulta e triunfa, bendizendo-Vos, Senhor, 'que sois poderoso para fazer todas coisas mais superabundantemente que pedimos ou entendemos.' Bendizia-Vos porque via que, em mim, lhe tínheis concedido muito mais que ela costumava pedir, com tristes e lastimosos gemidos." (Confissões, VIII, 12)
    Alguns meses depois, em 387, ciente de sua missão perante a cristandade, Santo Agostinho resolve adotar o celibato e voltar à sua terra. Mas na viagem de volta, aos 56 anos, Santa Mônica morre em Ostia, uma cidade costeira que funcionava como porto de Roma, e foi sepultada na Basílica de Santa Áurea.


    Antes de morrer, porém, deu-se aí um fato sobrenatural: olhando para o jardim na casa onde estavam hospedados, mãe e filho entregaram-se a altas cogitações sobre a Verdade e a Vida Eterna dos Santos, e assim entraram em êxtase. Verdadeiramente Santa, ela concluiu: "Meu filho, quanto a mim, já nenhuma coisa me dá gosto nesta vida. Não sei o que ainda faço aqui, nem por que ainda cá esteja, já esvanecidas as esperanças deste mundo. Por um só motivo desejava prolongar um pouco mais a vida: ver-te católico antes de morrer. Deus concedeu-me esta superabundante Graça, pois vejo que já desprezas a terrena felicidade para servires ao Senhor. Que faço eu, pois, aqui?" (Confissões, IX, 11)


    Segundo o próprio Santo Agostinho, cinco dias depois ela foi acometida de uma febre, e, vendo toda família como membros da Igreja, com autêntico desapego disse-lhe: "Enterra este corpo em qualquer parte e não te preocupes com ele. Só te peço que te lembres de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejas." (Confissões, IX, 11)


    Numa das mais belas obras do Catolicismo, o livro 'Confissões', Santo Agostinho faz um tocante registro da cristandade de sua Santa mãe, que nos faz lembrar, pelo segundo feito, exatamente o papel de Nossa Mãe Celestial, com a ligeira ressalva de que Maria nos gera para Deus em seu ventre espiritual. Ele diz: "Ela gerou-me; seja na sua carne, para que eu viesse à luz do tempo, seja com seu coração para que eu nascesse à Luz da eternidade." (Confissões, IX, 8)
    É a padroeira das mulheres casadas, além de modelo de mulher e viúva cristã. Historicamente, numerosas Graças tem alcançado para mães e esposas que rezam pela conversão de suas famílias.


    Em 1430, seu corpo foi reencontrado e transferido para uma linda capela na Basílica de Santo Agostinho em Roma, especialmente construída em homenagem a seu filho. O sarcófago original foi preservado.


    Santa Mônica, rogai por nós!