quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Bem perto de Deus


    Mesmo sem saber que era Jesus que lhes falava, dois discípulos, que deixaram Jerusalém no Domingo da Ressurreição e partiram para Emaús, insistiram para que 'aquele estranho' pernoitasse na mesma estalagem que eles, pois Sua Palavra lhes abrasava o coração. É uma das últimas cenas do Evangelho segundo São Lucas: "'Fica conosco, já é tarde e o dia declina.' Entrou, pois, com eles. Aconteceu que, estando sentados à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-O. Então se lhes abriram os olhos e reconheceram-nO... mas Ele desapareceu. E diziam um para o outro: 'Não nos abrasava o coração quando pelo caminho Ele falava e explicava as Escrituras?'" Lc 24,29-32
    Noutro episódio, narrado no Evangelho segundo São Marcos, após entrar em Jerusalém no Domingo de Ramos, quando foi questionado por um escriba sobre o mais importante Mandamento, Jesus, depois de responder, atestou que ele conhecia a Graça de Deus, pelo comentário que fez, e disse-lhe em significativo elogio: "Não estás longe do Reino de Deus." Mc 12,34
    E São Paulo, quando foi a Atenas, falando no Areópago assim explicou a Criação e o sentido da vida. Está no Livro dos Atos dos Apóstolos: "De um só homem, Ele fez nascer todo gênero humano, para que habitasse sobre toda face da Terra. Aos povos fixou os tempos e os limites de sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e esforcem-se por encontrá-Lo, como que tateando, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós." At 17,26-27
    Moisés, de fato, já de suas grandiosas experiências com o Deus Único, veio questionar os israelitas ainda no deserto, antes de Deus lhes entregar os Dez Mandamentos. Lemos no Livro do Deuteronômio: "Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor Nosso Deus, sempre que O invocamos?" Dt 4,7
    Ora, Deus mesmo distinguia entre Sua forte presença e Sua Onipresença, falando no Livro do Profeta Jeremias: "'Porventura Eu sou Deus apenas quando estou perto?', Oráculo do Senhor. 'Também não O sou quando de longe? Poderá um homem ocultar-se de tal modo que Eu o não veja?', Oráculo do Senhor. 'Porventura não enche Minha presença o céu e a Terra?', Oráculo do Senhor." Jr 23,23-24
    Não por acaso, Jesus iniciou Seu ministério pregando o arrependimento, e exatamente por essa razão. Foi logo após mudar-Se de Nazaré para Cafarnaum, como narra o Evangelho segundo São Mateus: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    E assim ensinou aos Apóstolos, logo que escolheu os Doze: "Por onde andardes, anunciai que o Reino dos Céus está próximo." Mt 10,7
    Ele mesmo, em avançada etapa de Sua Missão, explicou aos fariseus a sutil instauração do Reino dos Céus: "O Reino de Deus não virá de um ostensivo modo. Nem se dirá: 'Ei-lo aqui'; ou: 'Ei-lo ali'. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós." Lc 17,20-21
    Pois havia declarado sua chegada ao confirmar publicamente os exorcismos que realizava, depois que começou Sua vida itinerante. Ele assim rebateu uma blasfêmia dos fariseus contra Sua Pessoa: "Mas se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então para vós chegou o Reino de Deus." Mt 12,28
    Também havia dito à samaritana, junto ao poço de Jacó, após retornar de Sua primeira visita a Jerusalém em vida pública, como se vê no Evangelho segundo São João: "Mulher, acredita-Me, vem a hora em que não adorareis o Pai nem neste monte nem em Jerusalém. Deus é Espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,21b.24
    E prometeu aos membros da Igreja, desde que realmente reunidos conforme Seus ensinamentos, logo após anunciar Sua Paixão pela segunda vez: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu no meio deles." Mt 18,20
    Pois servi-Lo é estar nos lugares onde Ele quer estar, como disse aos Apóstolos em Jerusalém na Páscoa em que seria crucificado: "Se alguém quer servir-Me, siga-Me. E onde Eu estou, aí também estará Meu servo. Se alguém Me serve, Meu Pai honrá-lo-á." Jo 12,26
    Pela Sacramento da Comunhão, portanto, usufruímos de Sua presença, porque Ele garantiu à Igreja pouco antes de Sua Ascensão aos Céus: "Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20
    E pela Comunhão da Santíssima Trindade, esta também é a condição do Espírito Santo entre nós. Jesus afirmou em Suas últimas palavras depois da Santa Ceia: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    Porque só com a total libertação promovida pelo Santo Paráclito podemos servi-Lo em santidade, como havia previsto o sacerdote Zacarias, pai de São João Batista, ainda no início do Novo Testamento: "... libertados de inimigas mãos, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,74-75
    Sem dúvida, ao referir-se à Criação, na Carta de São Paulo aos Colossenses, ele fala de coisas visíveis e invisíveis, mencionando algumas classes de anjos: "N'Ele (Cristo) foram criadas todas coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele." Cl 1,16
    E revelar esta invisível realidade é a Missão de Nosso Salvador, que pregou abertamente em Jerusalém diante dos fariseus: "Jesus então disse: 'Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.'" Jo 9,39
    Pois Deus detém o controle de tudo, como os seguidores tradição de São Paulo afirmam na Carta aos Hebreus: "Nenhuma criatura Lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos d'Aquele a Quem havemos de prestar contas." Hb 4,13
    Sua Paixão, Morte e Ressurreição, aliás, Jesus simplesmente descreveu como estar ou não visível: "Ainda um pouco de tempo, e já não Me vereis. E um pouco mais de tempo depois, tornareis a ver-Me, porque vou para junto do Pai." Jo 16,16
    Suas aparições aos Apóstolos depois da Ressurreição, ademais, têm mais exata tradução na expressão 'tornou-Se visível': "Por fim, tornou-Se visível aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Ora, é nesses termos que o Último Apóstolo O descreve: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação." Cl 1,15
    E na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo, instando-o a pregar, ele invocava a real presença de Deus, por saber sempre estar diante de Seus olhos: "Eu conjuro-te em presença de Deus e de Jesus Cristo..." 2 Tm 4,1a
    Pois já na Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo, ele assim rezava pelo Sacramento da Ordenação deste seu grande colaborador: "Em presença de Deus, que dá a vida a todas coisas, e de Cristo Jesus, que ante Pôncio Pilatos abertamente testemunhou a Verdade, recomendo-te que guardes sem mácula, irrepreensível o Mandamento..." 1 Tm 6,13-14a
    Na Carta de São Paulo aos Efésios, nos mesmo termos ele reza pelo fortalecimento dos fieis: "Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai... " Ef 3,14a
    Usou de idêntico argumento, na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: "Já há muito pensais que nos justificamos diante de vós. Perante Deus, em Cristo, é que nós falamos! Mas tudo isto, meus caríssimos, para vossa edificação." 2 Cor 12,19
    E sabia que a meramente física vida é apenas um desterro: "Sabemos que todo tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor." 2 Cor 5,6b
    Por isso, dizia: "Andamos pela e não pela visão." 2 Cor 5,7
    Logo, a proximidade de Deus e de Seu Reino é uma espiritual condição, sinalizada pela inspiração que nos move. E assim, para que São Pedro pudesse conduzir a Igreja, Jesus prometeu-lhe a mais elevada inspiração que o ser humano jamais recebeu. Foi logo após este Apóstolo, por revelação do Pai, identificá-Lo como o Cristo: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19
    Neste sentido, para que entendamos a importância de São Pedro, e assim de seus sucessores, noutra ocasião Jesus reclama dos religiosos que estudavam as Escrituras, a quem lhes era revelado o Caminho da Salvação, mas nem o seguiam nem ajudavam o povo a segui-lo: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes de entrar os que vinham." Lc 11,52
    Nosso Senhor, de fato, exigia verdadeira fidelidade. Ele segue com o 'ai de vós': "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Exigia sinceridade: "Hipócritas! É bem de vós que fala o Profeta Isaías: 'Este povo honra-me somente com os lábios. Seu coração, porém, está longe de Mim.'" Mt 15,7-8
    Com efeito, o Livro dos Salmos canta: "O Senhor aproxima-Se dos que O invocam, daqueles que O invocam com sinceridade." Sl 144,18
    Neles já se avisava: "Longe dos pecadores está a Salvação, daqueles que não observam Vossas leis." Sl 118,155
    E nestes termos falava da necessária contrição: "O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. O Senhor livra a alma de Seus servos. Não será punido quem a Ele se acolhe." Sl 33,19.23
    A Carta de São Tiago, no mesmo sentido, recomenda: "Aproximai-vos de Deus, e Ele aproximar-Se-á de vós." Tg 4,8a
    Mas também é contundente com os que vivem em pecado: "Lavai as mãos, pecadores, e purificai vossos corações, ó homens de dupla atitude. Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele exaltar-vos-á." Tg 4,8b.10
    A divina inspiração e o conhecimento da Revelação, portanto, são Graças a serem vividas e partilhadas com os irmãos, assim como Jesus fez. Para comunicar-nos a grande benção que foi estar perto d'Ele, São João Evangelista registrou logo no início sua impressão e a dos demais Apóstolos: "De Sua plenitude, todos nós recebemos Graça sobre Graça." Jo 1,16
    Pois estar perto de Jesus é estar perto de Deus. Ele mesmo afirmou ser o exclusivo acesso ao Pai, a momentos de seguirem para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Aliás, na Festa da Dedicação, também em Jerusalém, quando quase foi apedrejado, perante os judeus havia sido ainda mais explícito: "Eu e o Pai somos Um." Jo 10,30
    Por isso, desde Sua segunda festa na Cidade Santa, determinou que em torno de Si se iniciavam decisivos tempos: "Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,23
    E referindo-Se à Graça mencionada por São João Apóstolo, Ele disse aos Doze junto ao Mar da Galileia, arrematando a preparação que lhes dava (cf. Mt 11,1): "Mas quanto a vós, bem-aventurados vossos olhos, porque vêem! Ditosos vossos ouvidos, porque ouvem! Eu declaro-vos, em Verdade: muitos Profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram." Mt 13,16-17
    Assim, deles exigia total gratuidade no exercício do sacerdócio: "De graça recebestes, de graça deveis dar!" Mt 10,8
    O Príncipe dos Apóstolos, pois, plenamente ciente do bem que o amor de Jesus lhe fazia, não aceitava d'Ele afastar-se. Nem mesmo quando muitos se escandalizaram e O abandonaram porque Ele prometia Sua Carne e Seu Sangue como o Pão do Céu: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da Vida Eterna." Jo 6,68
    Ora, quando Jesus Se transfigurou no Monte Tabor, e diante das aparições de Moisés e Elias, ele, desnorteado por vislumbrar a Glória de Deus, ali quis ficar eternamente: "Senhor, é bom estarmos aqui." Mt 17,4
    Com efeito, a Graça que os Apóstolos obtiveram foi inigualável. Podemos imaginá-la pelas próprias palavras de Jesus quando rezou ao Pai a Oração da Unidade, então pedindo pela Igreja, pois deles Se despedia: "Dei-lhes a Glória que Me deste..." Jo 17,22
    Quantas almas sonharam e ainda sonham com esse encontro? Na Carta de São Paulo aos Filipenses temos esse suspiro: "Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor. Mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Fl 1,23-24
    A humanidade, de fato, anseia por essa hora. É o que atesta a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, falando de quando O "... veremos face a face." 1 Cor 13,12
    Por isso, recita o salmista: "Fala-Vos meu coração, busca-Vos minha face. Vossa face, ó Senhor, eu procuro-a. Não escondais de mim Vosso semblante, não afasteis com ira Vosso servo." Sl 26,8-9a
    Repetia-se: "Ó Senhor, não me afasteis de Vossa face..." Sl 50,13a
    E logo no Sermão da Montanha, Jesus garantiu: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!" Mt 5,8
    Para tanto, porém, os discípulos de São Paulo registraram a necessária santificação: "Procurai a Paz com todos, e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14
    Mas também mencionaram as delícias de viver em Comunhão com Deus: "Porque aqueles que uma vez foram iluminados, saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo, experimentaram a doçura da Palavra de Deus e as maravilhas do vindouro mundo..." Hb 6,4


PARTÍCIPES DA GLÓRIA DE DEUS

    Porque unidos a Cristo, mesmo em dificuldades, somos motivados por uma misteriosa e reconfortante força. Diz São Paulo: "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
    A partir de numa resposta que obteve de Jesus, ele explicou como essa força age. Estava pedindo alívio de uma dor, um grande incômodo... "Mas o Senhor disse-me: 'Basta-te Minha Graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente Minha força.' Portanto, prefiro gloriar-me de minhas fraquezas, para que em mim habite a força de Cristo." 2 Cor 12,9
    Esse era o segredo de sua perseverança: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da sabedoria. Antes eram uma demonstração do Espírito e do divino poder..." 1 Cor 2,4
    E lembrando as trombetas de Josué, que destruíram as muralhas de Jericó, ele dá um testemunho: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações." 2 Cor 10,4
    A Primeira Carta de São Pedro também dá testemunho do sagrado Ministério do Sacerdócio: "Como bons dispensadores das diversas Graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: a Palavra, para anunciar as mensagens de Deus; um ministério, para exercê-lo com uma divina força..." 1 Pd 4,10-11
    Mas eles não se vangloriavam dessa dádiva. São Paulo, por exemplo, bem sabia de Quem ela lhe vinha: "Eu tornei-me servo deste Evangelho em virtude da Graça, que me foi dada pela onipotente ação divina." Ef 3,7
    Pois, sem a ajuda de Deus, sequer podemos discernir o bem que nos fazem Suas obras, o bem que faz a santidade: "A razão de nossa glória é esta: o testemunho de nossa consciência de que, no mundo, e particularmente entre vós, temos agido com santidade e sinceridade diante de Deus, não conforme o espírito de sabedoria do mundo, mas com o socorro da Graça de Deus." 2 Cor 1,12
    Ora, o Pai quer dar-nos grandes Graças. Embora errantes, Ele quer partilhar Sua santidade conosco. Os seguidores de São Paulo comparam-nO aos pais terrenos: "Pois eles nos educaram por pouco tempo, segundo sua própria conveniência. Deus, porém, educa-nos para nosso bem, a fim de comunicar-nos Sua santidade." Hb 12,10
    De fato, como procedeu Jesus para com os Apóstolos, Deus quer partilhar conosco Sua própria Glória, Sua divindade. A Segunda Carta de São Pedro atestou: "... foram-nos concedidos os prometidos bens, os maiores e mais valiosos, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina..." 2 Pd 1,4
    E como ele testemunhou perante o Sinédrio, quando os Apóstolos foram presos pela primeira vez, a divindade vivencia-se através do "... Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    Ora, segundo São Paulo, "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Disse mais, referindo-se à Sua Paixão, da Qual comungamos: "Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser..." Rm 6,5a
    E São Pedro afirma que em Jesus temos tudo de que realmente precisamos: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua Virtude." 2 Pd 1,3
    Nesse sentido, o Apóstolo dos Gentios diz que Jesus é a plena manifestação de Deus, para muito além das físicas fronteiras de Israel: "Ele veio anunciar a Paz a vós, que estáveis longe, e a Paz aos que estavam próximos." Ef 2,17
    E garante: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,13
    Afirmativamente, Cornélio, um centurião romano, buscava a Deus e numa visão foi instruído a ouvir São Pedro, e sua reverência resultou no 'Pentecostes dos Gentios': "Por isso, logo mandei chamar-te e felicito-te por teres vindo. Agora, pois, ei-nos todos reunidos na presença de Deus para ouvir tudo que Ele te ordenou a dizer-nos." At 10,33
    Eis porque os seguidores de São Paulo abertamente convocam: "E dado que temos um Sumo-Sacerdote estabelecido sobre a Casa de Deus, a Ele acheguemo-nos com sincero coração, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda mácula de pecado e o corpo lavado com a Purificadora Água do Batismo." Hb 10,21-22
    Pois em Comunhão com Jesus já vivemos o Reino dos Céus, que por Ele foi efetivamente instaurado: "Em verdade, não vos aproximastes de uma palpável montanha, invadida por violento fogo, nuvem, trevas, tempestade, som da trombeta e aquela tão terrível voz que aqueles que a ouviram suplicaram que ela não mais lhes falasse. Vós, ao contrário, aproximaste-vos da Montanha de Sião, da cidade do Deus Vivo, da Jerusalém Celestial, das miríades de anjos, da festiva assembleia dos primeiros inscritos no Livro dos Céus, e de Deus, Universal Juiz, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e do Sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel." Hb 12,18-19.22-24
    Devemos, pois, apenas confiar e nos entregar nas mãos do Pai, pois é Ele mesmo que nos concede a força para cumprir Sua vontade: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua vontade, em vós realizando Ele próprio o que é agradável a Seus olhos..." Hb 13,20-21
    Ora, o Livro dos Salmos profetizou a Redenção em Jesus: "Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque Ele diz palavras de Paz a Seu povo, a Seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para Ele. Sim, Sua Salvação está bem perto dos que O temem, de sorte que Sua Glória retornará à nossa Terra." Sl 84,9-10
    E assim reconheceu o Templo de Jerusalém, hoje representado pela Igreja, como adequado lugar para este contato: "Vinde, exultantes entrai em Sua presença! Cantando entrai sob Seus pórticos, com cânticos vinde a Seus átrios! Glorificai-O e bendizei Seu Nome..." Sl 99,2.4
    Pois lá não se tinha apenas Sua presença, como viu o salmista: "Na presença dos anjos, eu cantá-Vos-ei, prostrar-me-ei ante Vosso Santo Templo." Sl 137,1b-2a


PERFEITA SANTIDADE

    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses diz ainda mais: "O Deus da Paz conceda-vos perfeita santidade. Que todo vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a Volta de Nosso Senhor Jesus Cristo!" 1 Ts 5,23
    Ele exorta-nos a viver a Nova Vida: "... revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,24
    Mas vivê-la todos dias, como disse o pai de São João Batista: "... possamos servi-Lo, em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,74-75
    E em todas coisas, como São Pedro prega: "A exemplo da santidade d'Aquele (Deus) que vos chamou, também sede vós Santos, em todas vossas ações..." 1 Pd 1,15a
    Pois pelo Divino Paráclito somos ungidos para a mais perfeita obediência: "... santificados pelo Espírito para obedecer a Jesus Cristo, e receber a aspersão de Seu sangue." 1 Pd 1,2
    Para uma santa submissão, tal qual o Cordeiro Imolado, como São Paulo relata: "Saúda-vos Epafras, vosso concidadão, servo de Jesus Cristo. Ele não cessa de lutar por vós em suas orações, para que, numa perfeita e plena convicção, plenamente submissos permaneçais à divina vontade." Cl 4,12
    E como Jesus e São João Batista fizeram, indistintamente a todos São Pedro pregou o Sacramento da Confissão, as penitências. Foi logo após o Pentecostes, quando uma multidão acorreu ao local onde os Apóstolos estavam, admirada com o dom de línguas : "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos que de longe ouvirem o apelo do Senhor, Nosso Deus.'" At 2,38-39
    Porque o ministério da purificação dos pecados é um precioso dom atribuído por Jesus à Igreja, para a continuação de Sua Redentora Missão, como tratou logo em Sua primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Pois só realmente purificados podemos voltar à presença do Pai, como o São Paulo afirma: "Em Cristo, pela fé que n'Ele temos, conseguimos plena liberdade para confiantemente aproximarmo-nos de Deus." Ef 3,12
    Com efeito, estar perto de Deus é estar em Comunhão com Ele e com os irmãos, e assim produzir frutos. Na Carta de São Paulo a Filêmon, nosso Santo diz: "Que tua Comunhão na fé seja eficaz, fazendo-te conhecer todo bem que somos capazes de realizar para o Cristo." Fm 1,6
    O próprio Jesus clamava por essa união, como pediu aos Apóstolos numa de Suas últimas exortações: "Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim." Jo 15,4
    Ele mesmo vivia em perfeita união com o Pai, e disse aos Seus discípulos que Sua Ressurreição o provaria, assim como a Comunhão dos Santos: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    Seu exemplo, portanto, é para ser seguido, e não apenas admirado. Temos que buscar Sua maturidade, pois para tanto serve a Igreja nas palavras de São Paulo: "... para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo..." Ef 4,12-13
    Admitidamente, essa não é fácil tarefa, ainda segundo ele: "Pois todos aqueles que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição." 2 Tm 3,12
    Mas foi assim, pelo sacrifício na Santa Cruz, que Nosso Salvador uniu os povos de toda Terra: "Agora, em Jesus Cristo, vós, que outrora estáveis longe, tornaste-vos próximos, pelo Sangue de Cristo." Ef 2,13
    Por essa razão, São Pedro recomenda: "Achegai-vos a Ele, Pedra Viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus..." 1 Pd 2,4
    Saibamos, porém, que não dispomos de todo tempo. Como o Livro do Profeta Isaías ensina, nossa vida, ou a própria Volta de Jesus, pode ser muito breve: "Buscai o Senhor enquanto pode ser achado. Invocai-O enquanto Ele está perto." Is 55,6
    Mas se nos dispusermos ao Espírito Santo, tudo se torna possível. São Paulo diz: "... recebemos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos concedeu." 1 Cor 2,12
    E assim conseguimos permanecer junto a Cristo em qualquer situação, como aconteceu com São João Evangelista que, já idoso, foi levado como escravo a ilha de Patmos. São as primeiras palavras do Livro do Apocalipse: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus..." Ap 1,1
    Devemos, pois, bem meditar sobre o caminho que seguimos. São Pedro alerta: "... considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade... " 2 Pd 3,11
    Não podemos iludir-nos com a vanglória e os mundanos valores. Sobre isso, Jesus foi bem claro, dizendo aos judeus de Jerusalém depois que causou escândalo por curar em dia de sábado um paralítico no tanque de Betesda: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Neste sentido, São Paulo, pelas visões com que foi agraciado, atesta a realidade espiritual que vive o cristão: "Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,17b
    São Pedro elogia: "Este Jesus, vós amai-Lo sem O terdes visto. N'Ele credes ainda sem O verdes, e isto é para vós a fonte de uma inefável e gloriosa alegria, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a Salvação de vossas almas." 1 Pd 1,8-9
    E o próprio Salvador havia dito a São Tomé, recriminando-o por desacreditar nos testemunhos dos irmãos: "Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!" Jo 20,29b
    Se nos mantivermos na humildade, portanto, como na parábola das bodas, por Ele seremos convidados para estarmos sempre mais perto: "Amigo, vem para um melhor lugar!" Lc 14,10
    Pois sabemos que depois dos Sacramentos da Igreja e da Adoração ao Santíssimo Sacramento, o infalível meio para permanecer perto de Deus é através do Santo Rosário, isto é, juntando-se em oração à Nossa Senhora. De fato, ninguém esteve por mais tempo que ela na intimidade de Jesus. Foram mais de 33 anos já aqui na Terra...

    "Vosso Filho permaneça entre nós!"