Como é sabido, na Quinta-Feira Santa, durante a Santa Ceia, Jesus ofereceu Seu Corpo como o Pão da Vida. Bem antes, porém, logo depois da multiplicação dos pães e dos peixeis, Ele havia afirmado na sinagoga de Cafarnaum, no Evangelho Segundo São João: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
E como fato amplamente documentado, no ano de 1209, em Bélgica, Santa Juliana de Mont-Cornillon, freira agostiniana, começou a ter visões que pediam à Santa Igreja Católica uma festa para o Santíssimo Sacramento incluída no Calendário Litúrgico. Assim, em 1230, por graça da Divina Providência, ela teve a oportunidade de confidenciar suas visões ao arquidiácono de Liège, o cônego Jacques Pantaléon de Troyes, que viria a ser o Papa Urbano IV.
Em Bolsena, cidade da região de Lácio, Itália, no ano de 1264, o Padre Pietro de Praga, que duvidava que na Santa Eucaristia estivessem realmente transubstanciados o Corpo e o Sangue de Cristo, ao elevar a Hóstia Consagrada durante a Santa Missa viu dela sair Sangue e cair sobre o linho litúrgico. A notícia logo chegou ao Santo Padre Urbano IV, que estava na cidade de vizinha de Orvieto. E para ele não restou dúvida: Deus manifestamente pedia uma festa para o Santíssimo Sacramento.
Ele determinou que todos objetos envolvidos no milagre fossem trazidos para Orvieto em procissão, cerca de 20 quilômetros, no dia 19 de junho de 1264, quando solenemente os recebeu e levou à Catedral de Santa Prisca. Era a primeira procissão de Corpus Christi. A partir de então, iniciaram-se as procissões, dadas 60 dias pós a Páscoa. E em 11 de agosto de 1264, Urbano IV registrou na bula papal 'Transiturus de hoc mundo' a Festa de Preceito para homenagear o Corpo de Cristo, a ser celebrada na quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.
Mas Urbano IV morreu menos de dois meses após a publicação desta bula, não podendo implementar a tradição como queria. Havia pedido, porém, que o já indigne Santo Tomás de Aquino redigisse o Ofício Litúrgico da Festa, inclusive os hinos, o qual nosso Doutor Angélico intitulou Lauda Sion e ainda hoje é usado. E só em 1317, o Papa João XXII, o segundo a liderar a Igreja Católica a partir de Avignon, cidade do sudeste de França, viria a dar-lhe novo impulso. Contudo, conforme registros, a diocese de Colônia, Alemanha, adotou a procissão ainda antes de 1270. Daí se difundiu por Alemanha, depois França, Itália e Hungria. Em Roma, é feita desde 1350.
O linho, liturgicamente chamado corporal, com as marcas do Preciosíssimo Sangue de Jesus, segue exposto na também chamada Catedral de Orvieto, na região de Úmbria, centro de Itália.
Três das quatro pedras de mármore do altar, que fora banhado pelo Sangue que corria da Hóstia Consagrada, são devidamente preservadas como relíquias no Tabernáculo da Basílica de Santa Cristina, em Bolsena, que remonta o século XI.
O Milagre Eucarístico, no entanto, não aconteceu apenas em Bolsena. Já se havia dado em Lanciano, na região de Abruzos, também em Itália, por volta do ano 700. E aí não apenas saiu Sangue da Hóstia Consagrada, mas toda ela tornou-se Carne e ainda resiste incorrupta através dos tempos.
Foi analisada em 1971 e atestada como músculo cardíaco: contém, em seção, o miocárdio, endocárdio, o nervo vago e, no considerável espessor do miocárdio, o ventrículo cardíaco esquerdo. O sangue é humano do tipo AB, e, apesar de mais de 13 séculos, cuja conservação é outro milagre, ainda mantém fresca constituição, como se houvesse recém-saído de uma pessoa viva.
Ela encontra-se exposta no Santuário Eucarístico de São Francisco, em Lanciano.
E esse determinante sinal de Deus também se deu em muitos outros lugares através dos séculos, comprovadamente em mais de uma centena deles. Ou seja, o mundo não pode dizer-se alheio à patente realidade do Corpo e o Sangue de Cristo no Santíssimo Sacramento.
Citando os mais conhecidos, temos várias cidades de Itália, como Alatri, Santa Chiara di Assisi, Asti, Bagno di Romagna, Canosio, Cascia, Cava dei Tirreni, Dronero, San Mauro La Bruca, Ferrara, Firenzi, Valvasone e Gruaro, Macerata, Mogoro, Morrovalle, Offida, Patierno, Rimini, Roma, Rosano, San Pietro Damiano, Salzano, Scala, Siena, Trani, Torino, Veroli e Volterra.
Além de Itália, outros países de Europa foram igual e largamente agraciados: em Espanha nas cidades de Alboraya-Almacéra, Alcalà, Alcoy, Caravaca de la Cruz, Cimballa, Daroca, Gerona, Gorkum-El Escorial, Guadalupe, Ivorra, Moncada, Montserrat, O'Cebreiro, Onil, Ponferrada, San Juan de las Abadesas, Silla, Valença e Zaragoza. Em França nas cidades de Avignon, Blanot, Bordeaux, Dijon, Douai, Faverney, La Rochelle, Neuvy Saint Sepulcre, Les Ulmes, Marseille-En-Beauvais, Paris e Pressac. Em Alemanha nas cidades Augsburg, Benningen, Bettbrunn, Erding, Kranenburg, Regensburg, Weingarten, Wilsnack e Stich. Em Holanda nas cidades de Alkmaar, Amsterdam, Bergen, Boxmeer, Boxtel-Hoogstraten, Breda-Niervaart, Meerssen e Stiphout. Em Bélgica nas cidades de Bois-Seigneur-Isaac, Bruges, Bruxelas, Herentals, Herkenrode-Hasselt, Liège e Middleburg-Lovanio. Em Polônia nas cidade de Cracóvia, Glotowo, Legnica, Poznan e Sokółka. Em Áustria nas cidades de San Georgenberg-Fiecht, Seefeld e Weiten-Raxendorf. Em Portugal na cidade de Santarém. Em Suíça na cidade de Ettiswil. E em atual Croácia na cidade de Ludbreg.
Fora de Europa, houve milagres eucarísticos em México na cidade de Tixtla. Em Venezuela na cidade de Betania. Em Colômbia na cidade de Tumaco. Em Perú na cidade de Eten. Em Argentina.na cidade de Buenos Aires. Em Egito nas cidades de Santa Maria Egiziaca e Scete. E em Índia nas cidades de Chirattakonam e Vilakkannur.
O Milagre de Juazeiro, que popularmente consagrou o Padre Cícero, também foi um Milagre Eucarístico, que, aliás, se repetiu por várias vezes diante de muitas testemunhas, sempre na boca de Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, a 'beata' Maria de Araújo.
Quanto à Transubstanciação, pois, que em toda Santa Missa ocorre no momento da consagração da Hóstia, não há dúvida: o pão e o vinho oferecidos no altar realmente transformam-se em Corpo e Sangue de Cristo. O fato é que alguns ainda teimam em não acreditar na própria Palavra de Jesus, que expressamente disse: "Pois Minha Carne é verdadeiramente uma comida e Meu Sangue, verdadeiramente uma bebida." Jo 6,55
Ora, é por Sua Carne e por Seu Sangue que nos é concedida a Graça da Comunhão com Deus: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele." Jo 6,56
E havia advertido: "Disse-lhes então Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos.'" Jo 6,53
É o Pão de Céu, portanto, exclusivamente celebrado pela Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que devemos buscar como verdadeiro alimento. Foi isso que Ele disse à multidão, depois que multiplicou pães e peixes: "Respondeu-lhes Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: buscais-Me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal.'" Jo 6,26-27
Eis que a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios exorta: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, então, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
E nestes termos ele explica a celebração do Santíssimo Sacramento, invocando a Sagrada Tradição, ou seja, a fiel retransmissão dos ensinamentos de Jesus: "Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-O e disse: 'Isto é Meu Corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o Cálice, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança no Meu Sangue. Todas vezes que O beberdes, fazei-o em memória de Mim.' Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice, lembrais a Morte do Senhor, até que Ele venha." 1 Cor 11,23-26
Mas também adverte do necessário exame de consciência, que muitas vezes acaba por recomendar o Sacramento da Confissão: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
Sobre outras 'comunhões', ele diz com toda clareza: "As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. Não podeis beber, ao mesmo tempo, o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar, ao mesmo tempo, da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,20-22
Ao menos uma vez por ano, pois, deve-se cumprir o Sacramento da Confissão. Ora, os judeus já faziam assim desde que adotaram o sacrifício pela reparação dos pecados, pois ele também exigia prévia purificação. Diz o Livro de Levítico: "Todo homem puro poderá comer da carne do pacífico sacrifício. Mas aquele que a comer em estado de impureza, será cortado de seu povo." Lv 7,19b-20
A própria família do levita deveria estar em estado de pureza para comer das oferendas consagradas a Deus pelo povo. O Livro de Números registrou estas palavras de Deus a Aarão, que era levita e foi o primeiro sumo sacerdote de Israel: "Contigo farás aproximarem-se do Santuário teus irmãos da tribo de Levi, a tribo de teu pai, para que se juntem a ti e te ajudem quando estiveres com teus filhos diante da Tenda do Testemunho. Fui Eu que escolhi os levitas, vossos irmãos, entre os israelitas. Dados ao Senhor, são-vos de novo entregues para fazerem o serviço da Tenda de Reunião. Todo membro de tua família que estiver puro comerá dessas coisas." Nm 18,2.6.11b
Assim como todo povo de Israel para comer a Páscoa, que era uma obrigação: "Mas se alguém, estando puro, não se encontrar em viagem, e todavia não fizer a Páscoa, será cortado de seu povo, porque não apresentou a oferta do Senhor no tempo estabelecido. Este levará a pena de seu pecado." Nm 9,13
Ora, tão vital é o Santíssimo Sacramento que toda a Missão de Jesus foi orientada precisamente para esse momento. O Evangelho Segundo São Lucas apontou: "Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: 'Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa.' Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera, e prepararam a Páscoa. Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa, e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer.'" Lc 22,7-8.13-15
Além de ser o mais importante dos Sacramentos, ao qual todos demais estão ordenados, ele ainda é a visível e material presença de Deus entre nós. Sem dúvida, a promessa de estar conosco até o 'fim dos tempos' refere-se tanto a Seu Santo Espírito (cf. Jo 14,16), pela comunhão da Santíssima Trindade, quanto à Santa Eucaristia, como Ele mesmo afirmou momentos antes de Sua Ascensão, no Evangelho Segundo São Mateus: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim dos séculos." Mt 28,20
Que nos alegremos, então, com esse indizível privilégio de podermos sentar à mesa com Nosso Senhor e receber Seu Corpo e Seu Sangue como alimento. Aguardemos com Ele, à mesa do altar, pelo banquete celestial, que prometeu no Evangelho Segundo São Marcos: "Em Verdade, digo-vos: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus." Mc 14,25
E que nossa verdadeira felicidade seja o altar do Senhor, agora e na eternidade, como o anjo disse na visão do Livro de Apocalipse de São João: "Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro." Ap 19,9
A secular procissão de Corpus Christi, portanto, faz-nos recordar o caminho que Jesus fez do Cenáculo, onde ofereceu Seu Corpo e Seu Sangue, até o Monte das Oliveiras, onde livremente Se entregou para ser crucificado. E neste difícil momento, sentindo que chegava Sua hora, Ele convidou-nos à vigília: "Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai Comigo." Mt 26,38
"Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa Morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"