Como é sabido, na Quinta-Feira Santa, durante a Santa Ceia, Jesus ofereceu Seu Corpo como o Pão da Vida. Bem antes, porém, por ocasião da multiplicação dos pães e dos peixeis, Ele havia afirmado na sinagoga de Cafarnaum: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
Em 1209, na Bélgica, Santa Juliana de Mont Cornellieu, freira agostiniana, começou a ter visões que pediam à Igreja uma festa para o Santíssimo Sacramento incluída no Calendário Litúrgico. No ano de 1230, por graça da Divina Providência, ela teve a oportunidade de confidenciar suas visões ao arquidiácono de Liège, que viria a ser o Papa Urbano IV. E a partir daí se iniciaram as Procissões de Corpus Christi.
Na Itália, em Bolsena, no ano de 1263, o padre Pietro de Praga, que duvidava que na Eucaristia estivessem realmente transubstanciados o Corpo e o Sangue de Cristo, ao elevar a Hóstia Consagrada viu dela sair Sangue e cair sobre o linho litúrgico. Esse linho foi levado a Orvieto, residência de Urbano IV, que à época já era o Sumo Pontífice. Não restava mais dúvida para ele: Deus manifestamente pedia uma festa para o Santíssimo Sacramento. E em 11 de agosto de 1264, registrou em bula papal a Festa de Preceito para homenagear o Corpo de Cristo.
O linho com as marcas do Preciosíssimo Sangue de Jesus está exposto na Catedral de Orvieto.
Três das quatro pedras de mármore do altar, que fora banhado pelo Sangue que corria da Hóstia, são devidamente preservadas como relíquias no Tabernáculo da Basílica de Santa Cristina, em Bolsena, que remonta o século XI.
O Milagre Eucarístico, no entanto, não aconteceu apenas em Bolsena. Já se havia dado em Lanciano, também na Itália, por volta do ano 700. E aí não apenas saiu Sangue da Hóstia Consagrada, mas toda ela tornou-se Carne e ainda resiste incorrupta através dos tempos.
Foi analisada em 1971 e atestada como músculo cardíaco: contém, em seção, o miocárdio, endocárdio, o nervo vago e, no considerável espessor do miocárdio, o ventrículo cardíaco esquerdo. O sangue é humano do tipo AB, e, apesar de mais de 13 séculos, cuja conservação é outro milagre, ainda mantém fresca constituição, como se houvesse recém-saído de uma pessoa viva.
Ela encontra-se exposta no Santuário Eucarístico de São Francisco, em Lanciano.
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E esse determinante sinal de Deus também se deu em muitos outros lugares através dos séculos, em mais de uma centena deles. Ou seja, o mundo não pode dizer-se alheio à patente realidade do Corpo e o Sangue de Cristo no Santíssimo Sacramento.
Citando os mais conhecidos, temos várias cidades da Itália, como Trani, Rimini, Alatri, Firenzi, Valvasone e Gruaro, Siena, Macerata, Bagno di Romagna, Torino, Veroli, Mogoro, Patierno e San Mauro La Bruca.
Na França em Blanot, Faverney e Pressac, na Alemanha em Walldürn, na Holanda em Alkmaar e Amsterdam, na Polônia em Cracóvia e Poznań, em Portugal em Santarém, na Espanha em O Cebreiro e Ivorra, na Áustria em San Georgenberg-Fiecht, na Suíça em Ettiswil, na Bélgica em Bois-Seigneur-Isaac, e na atual Croácia em Ludbreg.
O Milagre do Juazeiro, que popularmente consagrou o Padre Cícero, também foi um Milagre Eucarístico, que, aliás, se repetiu por várias vezes diante de muitas testemunhas, sempre na boca da beata Maria de Araújo.
Quanto à Transubstanciação, pois, que em toda Santa Missa ocorre no momento da consagração da Hóstia, não há dúvida: o pão e o vinho oferecidos no altar realmente transformam-se em Corpo e Sangue de Cristo. O fato é que alguns ainda teimam em não acreditar na própria Palavra de Jesus, que expressamente havia dito: "Pois Minha Carne é verdadeiramente uma comida e Meu Sangue, verdadeiramente uma bebida." Jo 6,55
Ora, é por Sua Carne e por Seu Sangue que nos é concedida a Graça da Comunhão com Deus: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele." Jo 6,56
E Ele havia advertido: "Disse-lhes então Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos.'" Jo 6,53
É o Pão de Céu, portanto, exclusivamente celebrado pela Igreja de Jesus, que devemos buscar como verdadeiro alimento. Foi isso que Ele disse à multidão, após a multiplicação dos pães e dos peixes: "Respondeu-lhes Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: buscais-Me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal.'" Jo 6,26-27
São Paulo exorta: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, então, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
E nestes termos ele explica a celebração do Santíssimo Sacramento, invocando a Sagrada Tradição, ou seja, a fiel retransmissão dos ensinamentos de Jesus: "Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-O e disse: 'Isto é Meu Corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o Cálice, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança no Meu Sangue. Todas vezes que O beberdes, fazei-o em memória de Mim.' Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice lembrais a morte do Senhor, até que Ele venha." 1 Cor 11,23-26
Mas também adverte do necessário exame de consciência, que pode recomendar o Sacramento da Confissão: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
Sobre outras 'comunhões', ele dizia com toda clareza: "As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. Não podeis beber ao mesmo tempo o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,20-22
Em muitos casos, pois, antes se deve cumprir o Sacramento da Confissão, como já era feito entre os judeus desde o sacrifício pela reparação dos pecados, que também exigia prévia purificação. Diz o Levítico: "Todo homem puro poderá comer da carne do pacífico sacrifício. Mas aquele que a comer em estado de impureza será cortado de seu povo." Lv 7,19b-20
A própria família do levita deveria estar em estado de pureza, para comer das oferendas consagradas a Deus pelo povo: "Todo membro de tua família que estiver puro comerá dessas coisas." Nm 18,11b
Assim como todo povo de Israel para comer a Páscoa, que era uma obrigação: "Mas se alguém, estando puro, não se encontrar em viagem, e todavia não fizer a Páscoa, será cortado do seu povo, porque não apresentou a oferta do Senhor no tempo estabelecido. Este levará a pena de seu pecado." Nm 9,13
Ora, tão vital é o Santíssimo Sacramento que toda a Missão de Jesus foi orientada precisamente para esse momento: "Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa. Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa, e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer.'" Lc 22,13-15
Além de ser o mais importante dos Sacramentos, ele ainda é a visível e material presença de Deus entre nós. Sem dúvida, a promessa de estar conosco 'até o fim do mundo' refere-se tanto ao Seu Santo Espírito, pela comunhão da Santíssima Trindade, quanto à Eucaristia, como Ele mesmo prometeu momentos antes de Sua Ascensão: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20
Que nos alegremos, então, com esse indizível privilégio de podermos sentar à mesa com Jesus e receber Seu Corpo e Seu Sangue como alimento. Aguardemos com Ele, à mesa do altar, pelo banquete celestial, como Ele prometeu: "Em Verdade, digo-vos: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus." Mc 14,25
E que nossa verdadeira felicidade seja o altar do Senhor, agora e na eternidade, como disse o anjo na visão que teve São João Evangelista: "Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro." Ap 19,9
A secular procissão de Corpus Christi, portanto, faz-nos recordar o caminho que Jesus fez do Cenáculo, onde ofereceu Seu Corpo e Seu Sangue, até o Monte das Oliveiras, onde livremente Se entregou para ser crucificado. E neste difícil momento, sentindo que chegava Sua hora, Ele convidou-nos à vigília: "Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai Comigo." Mt 26,38
"Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"