segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Santa Isabel de Hungria


    Era princesa, filha de André II, rei de Hungria, e casou-se com Ludwig, Duque de Turíngia, região no centro de atual Alemanha, na época um dos mais ricos feudos do Sacro Império Romano-Germânico. Mas muito mais privilegiada foi ela por ser de família cheia de Santas. Pelo lado de sua mãe, foi sobrinha de Santa Edwiges, tia de Santa Cunegundes, de Santa Margarida de Hungria e da Beata Iolanda de Polônia, além de tia-avó de Santa Isabel de Portugal. E pelo lado do pai, era prima de Santa Inês de Praga.
    Nascida a 7 de julho de 1207 no castelo de Pressburg, atual Bratislava, capital de Eslováquia, ou na cidade de Sárospataka, no nordeste de Hungria, Elisabeth cresceu sob a forte influência de São Francisco de Assis, São Domingos e São Pedro Nolasco, Santos fundadores das ordens mendicantes que reconhecidamente reformariam a religiosa e social postura, quando Europa começou um longo e lento processo, deixando a vida do campo para erguer cidades. A realeza e a nobreza de então já reconheciam que a riqueza sem caridade era mera vaidade, e pior: atentava contra a pureza.
    Prometida em casamento desde o nascimento, nossa Santa foi educada a partir dos 4 anos junto ao futuro esposo, no castelo onde iriam viver. Ludwig, 7 anos mais velho, chegou a ser questionado pela mãe quanto à 'excessiva' religiosidade de sua futura esposa, mas, verdadeiramente apaixonado, ele preferia deixar as riquezas que abandonar Santa Isabel.
    Quando se casaram, ele aos 21 e ela aos 14, Santa Isabel recusou-se a usar a coroa, por compaixão da coroa de espinhos imposta a Jesus. Ludwig compreendeu-a e também dispensou a sua. Mesmo casados, Santa Isabel não abandonava as orações, as penitências e as práticas de caridade: materiais e espirituais.


    Ela sempre levava para os pobres os primeiros pães feitos no castelo, mas escondia-os, para não irritar sua nora. Uma manhã, quando saia com o manto carregado de pães, o marido, que voltava de uma caçada, encontrou-a à porta do castelo. Como já suspeitava daquela frequente atividade da esposa, ao vê-la um pouco curvada e segurando o manto dobrado à altura da cintura, perguntou o que levava, e ela, tratando aqueles pães como rosas que oferecia a Nossa Senhora, respondeu-lhe que eram rosas. Ele então pediu para as ver e ela obedientemente abriu o manto, que de fato se mostrou cheio de belas flores, embora não fosse primavera. Percebendo o milagre que havia acontecido ali, diante de seus olhos, Ludwig pediu e guardou uma dessas rosas por toda vida. E a partir desse dia autorizou-a a livremente distribuir pães aos necessitados.


    Tiveram 3 filhos, mas pouco depois de Gertrudes nascer, Ludwig morreu na Sexta Cruzada quando acompanhava o Imperador Frederico II. Os cunhados de Santa Isabel, que nem um pouco gostavam de sua vida de piedade, e até acusavam-na de ter desencaminhado o marido, apossaram-se das propriedades, expulsaram-na com os filhos em pleno inverno, sem comida nem dinheiro, e ainda proibiram o povo da região de acolhê-los.
    Após alguns dias de sofrimento, com o correr da notícia foi socorrida por sua tia Matilda, irmã de Santa Edwiges e abadessa do renomado convento beneditino cisterciense de Kitzingen, no centro de Alemanha, obra de São Bonifácio, e onde Santa Edwiges havia estudado. No entanto, sem poder criar os filhos, confiou-os aos cuidados de seus parentes e, como trabalho, pôs-se a tratar de enfermos e leprosos. E irmãos dotados de grandes recursos não lhe faltavam: o irmão Bela sucedeu seu pai no trono húngaro, a irmã Maria casou-se com Ivan Asen II, czar de Bulgária, e sua meia-irmã Yolanda casou-se com Jaime, rei de Aragão. Seu tio Ekbert, Bispo de Bamberg, no centro-leste de Alemanha, irmão de sua tia Matilde, ainda tentou fazê-la casar-se, acredita-se que com o próprio Imperador Frederico II, mas nossa Santa recusou-se.
    Com o retorno dos nobres cruzados que haviam acompanhado seu marido, eles indignaram-se com o tratamento que lhe deram seus cunhados e obrigaram-nos a restituir-lhe todos bens. Envergonhados, eles pediram-lhe desculpas e ela perdoou-os.


    Contudo, como não mais abandonou o serviço aos pobres e doentes, e ainda sofrendo a ausência do amado esposo e companheiro, Santa Isabel entregou o ducado da Turíngia ao mais velho cunhado, Henrique, que lhe prometeu devolver a Hermano, seu mais velho filho, quando este atingisse a maior idade.
    Devotamente decidida, adotou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco, dividindo-se entre a criação dos filhos e a pobreza evangélica, com fervor praticando o amor aos mais necessitados. Usou parte de suas posses para construir o Hospital São Francisco de Assis, em Marburg, no atual estado de Hesse, centro-oeste de Alemanha. Fazia o impossível para ajudar todos órfãos e idosos.


    Como testemunhou uma amiga em seu processo de canonização, por várias vezes foi vista levitando, enquanto adorava o Santíssimo Sacramento. Também há relatos de que Jesus e Maria Santíssima lhe apareceram em repetidos momentos para lhe consolar da solidão, e São João Batista, em reconhecimento a sua vida de renúncias, pessoalmente vinha trazer-lhe a Comunhão Eucarística. Quando lhe perguntavam o que iria fazer com o que restava de suas posses, ela respondia: "Minha verdadeira herança é Jesus Cristo!"


    Vivendo em muito modesta moradia, faleceu de enfermidade em 1231, ainda aos 24 anos, depois que pediu para se confessar e receber a extrema unção. Também pediu ao Sacerdote que distribuísse seus parcos pertences entre pobres e necessitados. Seu corpo foi velado na capela do hospital que fundou, para onde acorreu uma multidão que lhe arrancou pedaços das vestes e do pano que cobria o rosto, além de cortar mechas de cabelos e até unhas. Dias antes, porém, Nossa Mãe Celeste havia-lhe aparecido cercada de anjos e dito que ela já tinha um lugar no Céu.
    Muitos milagres são relatos como alcançados junto a seu túmulo. Quatro criadas testemunharam em seu processo de canonização: duas de longo convívio, que por ela foram feitas suas damas de companhia, e duas que com ela trabalharam no hospital. Uma que com ela conviveu, disse que havia sido uma vivaz, determinada e imaginativa criança, com um forte senso de justiça e excepcional compaixão. Que desde jovem demonstrou piedoso zelo e dirigiu seus pensamentos e aspirações, tanto lúdicos quanto sérios, para Deus. Muitas relatos orais ainda foram recolhidos 40 anos após sua morte. Foram-lhe dedicadas várias biografias. É a Padroeira da Ordem Terceira de São Francisco, dos atuais estados alemães de Turíngia e Hesse, e também é venerada como Santa pela igreja anglicana.


    Em 1981, enquanto ainda era Cardeal, o amado Papa Bento XVI disse a seu respeito: "Deus era real para ela. Aceitou-O como realidade e por isso dedicava-Lhe uma parte de seu tempo, permitia que Ele e Sua presença lhe custassem alguma coisa. E como realmente tinha descoberto a Deus, e Cristo não era para ela uma distante figura, mas o Senhor e o Irmão de sua vida, a partir de Deus encontrou o ser humano, imagem de Deus. Essa também é a razão porque quis e pôde levar aos homens os divinos Justiça e amor. Só quem encontra a Deus também pode ser autenticamente humano."
    Os 800 anos de seu nascimento foi comemorado com um selo pelo Correio de Alemanha, usando uma pintura secular.


    Em relicário que guardou parte de seus restos mortais está no Museu de Estocolmo, em Suécia, e uma relíquia de seu braço direito está na capela do Castelo de Sayn, na cidade de Benndorf, no centro-leste de Alemanha. A maior parte de suas relíquias, porém, são veneradas na belíssima Catedral de Marburg, que foi construída em sua homenagem, sobre seu túmulo, a partir de 1235, ano de sua canonização. Lá ela é venerada como Santa Isabel de Turíngia.


    Santa Isabel de Hungria, rogai por nós!