sábado, 17 de maio de 2025

Para Ler Jesus


AS ESCRITURAS

    Há detalhes absolutamente essenciais a serem considerados quando lemos a Palavra de Deus. E com perfeita correção, o primeiro deles veda exatamente a livre interpretação dos sagrados textos. A Segunda Carta de São Pedro tratou de advertir: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de vontade humana." 2 Pd 1,20-21a
    Ora, se temos que Deus Se revelou, e assim uma religião revelada, em nada fruto de meras elucubrações, forçoso é concluir que tal Revelação tenha sido cercada de divinos cuidados para ser bem transmitida e bem compreendida. É o que a Carta de São Paulo aos Efésios atesta: "Certamente, ninguém jamais aborreceu sua própria carne. Ao contrário, alimenta-a e cuida como Cristo faz a Sua Igreja." Ef 5,29
    Sem dúvida, como os seguidores da tradição de São Paulo afirmam na Carta aos Hebreus, Jesus continua dando, lá do Céu, permanente instrução à Santa Igreja Católica: "Guardai-vos, pois, de recusar-se a ouvir Aquele que fala. Porque se não escaparam do castigo aqueles que d'Ele se desviaram quando lhes falava na Terra, muito menos escaparemos nós se O repelirmos quando nos fala desde o Céu." Hb 12,25
    Não há, portanto, como negar a Sagrada Tradição, que muito antes de alguma linha escrita se constituiu o único entendimento desde as primeiríssimas etapas da Revelação. A Carta de São Paulo aos Gálatas, mencionando o Livro de Gênesis, relata o período que vai de Abraão até os escritos de Moisés: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e a sua descendência. Não diz 'as seus descendentes', como se fossem muitos, mas fala de um só 'e a tua descendência (Gn 12,7), isto é, a Cristo. Afirmo, portanto: a Lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não pode anular o Testamento feito por Deus em boa e devida forma, e não pode tornar sem efeito a promessa. Porque, se a herança se obtivesse pela Lei, já não proviria da promessa. Ora, pela promessa é que Deus deu Seu favor a Abraão. Então que é a Lei? É um complemento ajuntado em vista das transgressões, até que viesse a descendência a quem fora feita a promessa foi promulgada por anjos, passando por um intermediário (Moisés)." Gl 3,16-19
    Assim, desde sempre se tem a única interpretação da vontade de Deus, inspirada pelo próprio Espírito de Deus, como a Primeira Carta de São Pedro revelou aos cristãos: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as Glórias que deviam segui-los. Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,10-12
    E velando por esse meticuloso trabalho do Divino Paráclito, ele arremata a questão, citando a inspiração e a fonte da Revelação: "Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21b
    Destaca, desta forma, a Divina Sabedoria contida nos Sagrados Livros, nem sempre compreendida: "... como vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas Cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também o fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,15b-16
    E a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios claramente explica a deplorável condição destes deturpadores: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela humana sabedoria, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que devem ponderá-las." 1 Cor 2,12-14
    Já a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz de Sua verdadeira força, que move a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo e está muito além de rasteiras interpretações das Escrituras: "Ele (Deus) é que nos fez aptos para sermos Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    Afirma a patente transcendência da Sã Doutrina, como é bem característico das coisas de Deus: "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, portanto, revindica a autoridade da Igreja sobre a Revelação: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Espírito Santo." 1 Ts 4,8
    Identicamente agia São Pedro em defesa da Igreja, claramente falando como o líder, o Príncipe dos Apóstolos, quando corrigiu um mau seguidor no Livro de Atos dos Apóstolos: "Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração para que mentisses ao Espírito Santo...? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus." At 5,3b.4b
    E em reclamação aos líderes judeus no Evangelho Segundo São João, Jesus tentou despertá-los dessa atávica condição : "Por que não compreendeis Minha linguagem?" Jo 8,43a
    Pois já havia detectado sua incapacidade para assimilar: "... Minha Palavra não penetra em vós." Jo 8,37b
    Até explicou, com toda simplicidade, como chegava a essa conclusão, dizendo do Pai: "Vós nunca ouvistes Sua voz nem vistes Sua face. E não tendes permanentemente Sua Palavra em vós, pois não credes n'Aquele que Ele enviou." Jo 5,37b-38
    Também reclamou de Nicodemos, um notável fariseu de Jerusalém: "Disse Jesus: 'És doutor em Israel e ignoras estas coisas?... Se vos tenho falado das terrenas coisas e não Me credes, como crereis se vos falar das celestiais?'" Jo 3,10.12
    E São João Batista testemunhou a Seu respeito: "Com efeito, Aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque sem medidas Ele concede o Espírito." Jo 3,34
    Os discípulos de São Paulo, pois, garantem as Escrituras como Revelação: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus a nossos pais pelos Profetas. Ultimamente, falou-nos por Seu Filho..." Hb 1,1-2a
    Porque a Sagrada Tradição foi confiada pelo próprio Jesus e exclusivamente aos membros de Seu Reino de Sacerdotes, que Ele mesmo escolhe e garante eterno sucesso, como disse aos Apóstolos na última noite entre eles: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo que ouvi de Meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí a fim de que, tudo que pedirdes ao Pai em Meu Nome, Ele vos conceda." Jo 15,15-16
    São Paulo apontou essa retransmissão e pediu sua conservação, em específico falando da Ressurreição do Senhor: "Eu lembro-vos, irmãos, o Evangelho que vos preguei e que tendes acolhido, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos, se o conservardes como vo-lo preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a . Eu primeiramente transmiti-vos o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressurgiu ao terceiro dia..." 1 Cor 15,1-4a
    A Carta de São Judas, de fato, atesta que a Revelação foi integralmente entregue: "... senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, de uma vez por todas confiada aos Santos." Jd 3b
     E só pelo Sagrado Magistério da Igreja ela é transmitida, como sensatamente vai perguntar o ministro da rainha da Etiópia a São Filipe Diácono: "O Espírito disse a Filipe: 'Aproxima-te deste carro.' Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o Profeta Isaías, e perguntou-lhe: 'Porventura entendes o que estás lendo?' Respondeu-lhe: 'Como é que posso, se não há alguém que mo explique?' E rogou a Filipe que subisse e sentasse junto a ele." At 8,29-31
    Essa é a interpretação guardada e repassada pelos Apóstolos, pois tradição significa entrega, e que oralmente se retransmitiu sob a Luz do Divino Paráclito, como a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo diz: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela força do Espírito Santo que em nós habita." 2 Tm 1,13-14
    Pois foi pelo próprio Espírito Santo que Jesus instruiu os Apóstolos, como São Lucas registrou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera..." At 1,1b-2
    E São Paulo seguiu atestando essa instrução: "Lendo-me, podereis entender a noção que me foi concedida do Mistério de Cristo, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito a Seus Santos Apóstolos e profetas." Ef 3,4-5
    Assim, é em sua inteireza e não em pedaços que ela deve ser repassada. Pois, escolher na Sã Doutrina o que acreditar e o que não, é o que se chama heresia: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    Ora, isso foi o que o próprio Jesus pediu aos Apóstolos ao fim do Evangelho Segundo São Mateus: fidelidade à integridade de Seus ensinamentos: "Ensinai-as (as nações) a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,20a
    E enquanto havia apenas o Evangelho de São Mateus, escrito em aramaico, sem nenhuma versão em grego, língua universal de então, São Paulo ferrenhamente defendia a tradição oral: "Mas ainda que alguém, nós ou um anjo baixado do Céu, vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema." Gl 1,8
    Como São Pedro avisava sobre deturpadores, o Livro de Apocalipse de São João também advertiu os que corrompiam as Escrituras: "Eu declaro a todos aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste Livro: se alguém lhes ajuntar alguma coisa, Deus ajuntará sobre ele as pragas descritas neste Livro. E se alguém dele tirar qualquer coisa, Deus tirar-lhe-á sua parte da árvore da Vida e da Cidade Santa, descritas neste Livro." Ap 22,18-19
    Similar prescrição já estava no Livro de Deuteronômio, quando Moisés determinou aos israelitas: "Não ajuntareis nada a tudo que vos prescrevo, nem tirareis nada daí, mas guardareis os Mandamentos do Senhor, Vosso Deus, exatamente como vos prescrevi." Dt 4,2
    Quanto aos apócrifos, livros não totalmente inspirados pelo Espírito Santo, o Evangelho Segundo São Lucas apontou, e desde as primeiras linhas, que muitos haviam tentado narrar a Vida de Jesus. Ressalvava, no entanto, o testemunho dos Apóstolos: "Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e se tornaram Ministros da Palavra." Lc 1,1-2
    E por absoluto cuidado com a autêntica transmissão da Revelação, sedimentada no correto entendimento do Antigo Testamento, o próprio Jesus questionava os Mestres da Lei: "Que está escrito na Lei? Como lês?" Lc 10,26
    Ele dizia que o erro do ser humano vem precisamente do desconhecimento das revelações e dos divinos poderes. É do Evangelho Segundo São Marcos: "Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus." Mc 12,24
    De fato, sendo Ele próprio a mais importante etapa da Revelação, Nosso Salvador não menospreza as etapas da Verdade que a Seu tempo já haviam sido revelada. Ele tratou de dizê-lo logo no início de Sua Missão, no Sermão da Montanha: "Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para aboli-los, mas sim para levá-los à perfeição." Mt 5,17
    Ao contrário, Ele afirmou com todas letras: "... ora, a Escritura não pode ser anulada..." Jo 5,35b
    Mesmo porque os Sagrados Livros que O precederam fazem menção especificamente a Ele, que disse: "Vós examinais as Escrituras, julgando encontrar nelas a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    E questionou: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em Mim, porque Ele escreveu a Meu respeito. Mas, se não acreditais em seus escritos, como acreditareis em Minhas Palavras?" Jo 5,46-47
    Por essa perfeita coerência com o Antigo Testamento, Ele garante aos religiosos judeus que Sua Palavra é o Caminho para a Verdade: "Se permanecerdes em Minha Palavra, sereis Meus verdadeiros discípulos. Conhecereis a Verdade, e a Verdade libertá-vos-á." Jo 8,31-32
    Ainda afirmou que, assim como Ele mesmo, Seus ensinamentos são imutáveis, eternos: "O céu e a Terra passarão, mas Minhas Palavras não passarão." Mt 24,35
    Aos que julgam conhecer Deus, Ele fez uma proposta: "Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo." Jo 7,17
    E vai desiludir a muitos, como disse aos fariseus: "Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai." Jo 8,19b
    Por isso, para a Salvação de nossas almas, Ele oferece-nos Seu Senhorio, Seus ensinamentos e Sua Consolação: "Tomai sobre vós Meu jugo e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de Coração e achareis o repouso para vossas almas." Mt 11,29
    Não por acaso, escrevendo a São Timóteo, São Paulo deixa uma perfeita definição da pureza das Escrituras e de seu poder: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de proporcionar-te a Sabedoria que conduz à Salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus torna-se perfeito, capacitado para toda boa obra." 2 Tm 3,15-17

JESUS DEUS

    Quanto à Pessoa de Jesus, para que saibamos avaliar o peso de Sua Palavra, também há detalhes de suma importância. Primeiro, precisamos saber que ninguém se volta para Cristo por mera e pessoal decisão. Temos mesmo que reconhecer que isso é puro mistério, desígnio de Deus, assunto de espiritualidade. É Deus Pai que nos inspira a procurá-Lo, como Jesus mesmo explicou: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o trouxer... " Jo 6,44a
    Também disse: "Todo aquele que o Pai Me der, virá a Mim, e quem vem a Mim Eu não rejeitarei." Jo 6,37
    E ainda, citando o Livro do Profeta Isaías: "Está escrito nos Profetas: 'Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13).' Assim, todo aquele que ouviu o Pai e por Ele foi instruído, vem a Mim." Jo 6,54
    A recíproca também é verdadeira: não podemos conhecer Deus senão através de Jesus: "... ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Noutra passagem, Ele vai dizer o mesmo por outras palavras: "Ninguém conhece Quem é o Filho senão o Pai, nem Quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Lc 10,22
    Por fim, e acenando para a Comunhão da Santíssima Trindade, São Paulo afirma que ninguém se dá conta de que Jesus é Deus se não for inspirado pelo próprio Espírito de Deus: "... ninguém pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    E em mais uma assertiva sobre a Trindade Santa, vemos Jesus mesmo dizer aos judeus: "Eu e o Pai somos Um." Jo 10,30
    Afirmou-o de novo quando rezou ao Pai a Oração da Unidade, pela perfeita união entre os membros da Igreja: "Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti... Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam um, como Sós somos Um..." Jo 17,21a.22
    A São Filipe Apóstolo, que pediu que tão somente lhes mostrasse o Pai, Jesus abertamente havia respondido: "Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, também viu o Pai." Jo 14,9
    Com efeito, Ele afirmou Sua própria divindade muitas vezes e de diversas formas, como logo após o Lava-pés, falando aos Apóstolos e usando um título com que Deus Se apresentou (cf. Êx 3,14a): "Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque EU SOU." Jo 13,13
    Ele já havia dito aos judeus, por ocasião da Festa das Tendas: "Ele disse-lhes: 'Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso, disse-vos: morrereis no vosso pecado. Porque se não crerdes que EU SOU, morrereis no vosso pecado.'" Jo 8,23-24
    E assim foi, invocando o Mistério da Trindade, que Ele explicou como fazia tantos e tão grandiosos milagres: "... o Pai, que permanece em Mim, é que realiza Suas próprias obras. Crede-Me: Eu estou no Pai, e o Pai está em Mim." Jo 14,10b-11
    Por isso, recomendou-nos perseverar a Seu lado prometendo-nos Comunhão, pois, como Deus, Ele é essencial a nossas vidas: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque, sem Mim, nada podeis fazer." Jo 15,4-5
     Exatamente por perceber Sua Divina Encarnação, São Pedro, sempre inspirado pelo Pai (cf. Mt 16,17), ao reafirmar seu amor por Jesus, com espontaneidade vai declarar Sua Onisciência: "Senhor, Tu sabes tudo..." Jo 21,17
    E ainda de mais explícito modo, São Tomé, depois de desacreditar em Sua Ressurreição, ao vê-Lo diante de si e tocar Suas feridas, vai balbuciar o que já suspeitava: "Meu Senhor e Meu Deus!" Jo 20,28


     Quanto à Missão de Jesus, já havia sido revelada a São José por seu Anjo da Guarda, quando lhe garantiu que a gravidez de Maria se deu por obra do Espírito Santo: "Ela dará à luz um Filho, a Quem porás o Nome de Jesus, porque Ele salvará Seu povo de seus pecados." Mt 1,21
    São João Batista, após batizá-Lo, também vai declarar Sua Obra: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Jo 1,29
    E desde o início de Sua vida pública, Ele ensinou-nos a renegar ao pecado: "Desde então Jesus começou a pregar: 'Arrependam-se, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    Aliás, exatamente a mesma função que Ele delegou às primícias de Sua Igreja, que eram os Apóstolos: "Então chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois... Eles partiram e pregaram o arrependimento." Mc 6,7.12
    Mas, como bem disse São João Batista, notemos que não há como nos libertar do pecado sem a ajuda do Filho de Deus. E Jesus mesmo vai afirmar: "Portanto, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres." Jo 8,36

O ESPIRITO SANTO

    Pois assim como precisamos de Seu Espírito para compreender as Escrituras, d'Ele também dependemos para vencer os pecados. A Carta de São Paulo aos Romanos aponta: "Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,8-9
    Aliás, sequer temos ciência de nossos pecados sem Sua ajuda, como Nosso Senhor revelou: "Entretanto, digo-vos a Verdade: convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei a vós. E, quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Ele convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Eu vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis. Ele convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,7-11
     O Divino Paráclito, portanto, é o maior presente que Deus tem para dar a Seus filhos, segundo o próprio Jesus: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo aos que LhO pedirem." Lc 11,13
    São Pedro, porém, falou de uma condição muito específica para que tal doação acontecesse: "... o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32b
    Também explicou a finalidade dessa doação, que fecha o ciclo, pois obedecemos para recebê-Lo e recebemo-Lo para obedecer: "... santificados pelo Espírito para obedecer a Jesus Cristo..." 1 Pd 1,2
     Sem dúvida, o Divino Espírito era o 'Prometido do Pai', também conhecido como Defensor, ou Consolador, que Jesus enviou exclusivamente à Igreja e com ela para sempre ficará: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    E conosco permanecendo para sempre, ao longo dos tempos Ele tem assessorado a Igreja em cada novo detalhe que explicita da Revelação, como Nosso Senhor prometeu: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,15
    Assim Ele tem feito desde o Primeiro Concílio da Igreja, realizado em Jerusalém, quando se decidiu suspender, para com os convertidos, a mosaica lei da circuncisão. São Tiago Menor pronunciou-se após o decisivo voto dado por São Pedro: "Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Reconhecidamente carentes dos auxílios do Espírito de Deus para toda boa obra, portanto, cabe sermos humildes e solicitar Seus socorros, segundo recomendação de Jesus: "E Eu digo-vos: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, abrir-se-lhe-á." Lc 11,9-10

A VONTADE DE DEUS

    Em síntese, unindo-Se a nós em peregrinação por esse mundo, Jesus veio ensinar a cumprir plenamente a vontade de Deus. Ele disse na sinagoga, após a multiplicação dos pães e dos peixes: "Pois desci do Céu não para fazer Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou." Jo 6,38
    E sentenciou que, em Sua Igreja, a hierarquia se constitui de serviço ao próximo: "Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes com autoridade as governam. Assim não seja entre vós. Todo aquele que entre vós quiser tornar-se grande, faça-se vosso servo. E o que entre vós quiser tornar-se o primeiro, faça-se vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar Sua Vida em resgate por muitos." Mt 20,25-28
     Exemplo que Ele emblematicamente deu: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, vós também façais." Jo 13,14-15
    Cumpriu, portanto, e em perfeita submissão, a vontade do Pai até a morte. Ele rezou no Horto das Oliveiras: "Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Não se faça, todavia, Minha vontade, mas sim a Tua." Lc 22,42
    O Livro de Salmos havia profetizado sobre Sua Missão: "... Eis que Eu venho. No rolo do Livro está escrito de Mim. Fazer Vossa vontade, Meu Deus, é o que Me agrada, porque Vossa Lei está no íntimo de Meu Coração." Sl 39,8-9
    E mais uma vez demonstrando a Comunhão da Santíssima Trindade, Jesus revela que a vontade do Pai é que vivamos a Igreja e alcancemos a Ressurreição: "Esta é a vontade de Meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e n'Ele crê, tenha a Vida Eterna. E Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,40
    Ele expressamente pediu que celebrássemos Sua Paixão pelo Sacramento da Eucaristia: "Fazei isto em memória de Mim." Lc 22,19b
    No mesmo sentido, a Primeira Carta de São João diz que, para serem realizados, nossos pedidos devem amoldar-se à vontade do Filho de Deus: "A confiança que n'Ele depositamos é esta: em tudo quanto Lhe pedirmos, se for conforme Sua vontade, Ele atender-nos-á." 1 Jo 5,14
    São Paulo exorta-nos, pois, a resistir às ilusões do mundo e a cumprir nosso papel de cristão: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
    E resume: "Esta é a vontade de Deus: vossa santificação." 1 Ts 4,3a
    Com efeito, Jesus determinou-nos, fazendo menção ao Livro de Levítico: "Portanto, sede Santos, assim como Vosso Pai Celeste é Santo (Lv 19,2)." Mt 5,48


A IGREJA
 
    Para que a vontade de Deus chegue a nosso conhecimento, desde a escolha de São Pedro Jesus pessoalmente tem edificado Sua Igreja, que é a guardiã da Palavra: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja." Mt 16,18a
    E declarou que ela é invencível: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b
    Não ouvi-la, portanto, é incidir em heresia, pois Ele determinou: "Se se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se também se recusar a ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
    Ou seja, é recusar-se a ouvir o próprio Deus, ainda segundo Jesus: "Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16
    Em especial diligência, rezou ao Pai a fim de que a Palavra, por Ele confiada aos Apóstolos, fosse aceita por nós, e assim prevalecesse a Unidade da Igreja, que é a prova de Sua passagem entre nós. Ele referiu-Se aos Onze: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste." Jo 17,20-21
    Para tanto, Ele derramou Sua Glória sobre a Igreja, que por isso é notória representante d'Ele e do amor do Pai: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    E foi a Igreja, então representada pelos Apóstolos, que Jesus instituiu como Seu instrumento para perdoar nossos pecados mediante a Confissão: "'Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,21b-23
    Antes de subir aos Céus, ademais, Ele garantiu à Igreja total assistência através dos tempos: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20b
    E por fim, em Apocalipse Ele demonstrou ter absoluto controle sobre a Igreja, representada pelas dioceses da Ásia de então: "Eis o simbolismo das sete estrelas que viste em Minha mão direita, e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas." Ap 1,20
    Por essa razão, São Paulo vibra com o acolhimento dado à Palavra da Salvação pela comunidade de Tessalônica, mesmo que o Evangelho ainda não tivesse sido escrito: "Por isso é que nós também não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a Palavra de Deus, que de nós ouvistes, e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como Palavra de Deus, que eficazmente age em vós, os fiéis." 1 Ts 2,13

A ORAÇÃO

    Mas não há fé sem oração, e por isso São Paulo pedia: "Orai sem cessar." 1 Ts 5,17
    Nem, claro, sem o frequente contato com o Verbo de Deus: "Logo, a fé provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17
    Aliás, sem viver a Igreja e sem, o mais importante, o auxílio do Santo Paráclito, como São Judas Tadeu recomenda: "Mas vós, caríssimos, edificai-vos mutuamente sobre o fundamento de vossa santíssima fé. Orai no Espírito Santo." Jd 20
    Com efeito, o Apóstolo dos Gentios revelou: "Outrossim, o Espírito vem em auxílio a nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos." Rm 8,26
    E assim também é a oração em relação à compreensão das Escrituras. A Carta de São Paulo aos Colossenses rezava a Deus pela boa instrução dos cristãos: "Por isso, desde o dia em que o soubemos, nós também não cessamos de orar por vós e pedir a Deus que vos conceda pleno conhecimento de Sua vontade, perfeita Sabedoria e percepção espiritual, para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, em tudo procurando agradar-Lhe, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus." Cl 1,9-10
    Ora, os próprios Apóstolos pediram a Jesus que lhes ensinasse a rezar, e foi nessa ocasião que Ele nos deixou o Pai Nosso: "Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-Lhe um de Seus discípulos: 'Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou a seus discípulos.'" Lc 11,1
    O próprio Jesus, aliás, muito assíduo em Suas orações ao Pai, demoradamente rezou antes de escolher Seus Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos..." Lc 6,12
    E pontualmente recomendou as orações contra as armadilhas do inimigo: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação." Mt 26,41
    Contra possessões: "Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração." Mtv 9,29
    E deixou claro que, para uma verdadeira Comunhão com o Pai, a oração deve ser inalienável parte da vida de um cristão: "Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que sempre é necessário orar, sem jamais deixar de fazê-lo." Lc 18,1

    "Em comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"