quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

São João, Apóstolo e Evangelista


COM JESUS

    Como bem mostra seu Evangelho, São João é teólogo e místico. Ele não faz uma simples narrativa da história de Jesus. Prefere dar atenção às Suas pregações, expondo detalhes de argumentação, que obviamente é transcendental, e assim provocar mais profunda e reveladora meditação a respeito do Cristo.
    Apesar de novo, ainda por volta de seus 20 anos, São João Evangelista já era discípulo de São João Batista. E foi dos primeiríssimos Apóstolos a ter contato com Jesus, logo após Seu Batismo, em companhia de Santo André: "No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois de seus discípulos. E avistando Jesus que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus.' Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-Se Jesus, e vendo que O seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?' Disseram-Lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?' 'Vinde e vede', respondeu-lhes Ele. Foram aonde Ele morava e com Ele ficaram aquele dia. Era cerca da hora décima. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que O tinham seguido." Jo 1,35-40
    Depois desse encontro, São João Evangelista voltou com Jesus a Galileia, quando Ele já tinha a companhia de São Pedro, chamado pelo próprio irmão, Santo André: "Logo foi ele, então, à procura de seu irmão, e disse-lhe: 'Achamos o Messias, que quer dizer o Cristo.' Levou-o a Jesus, e Jesus, nele fixando o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).' No seguinte dia, tinha Jesus a intenção de dirigir-Se a Galileia." Jo 1,41-43a
    Pescador de uma colônia de Cafarnaum, junto a seu pai e seu irmão São Tiago Maior, São João também foi dos primeiríssimos chamados a seguir Jesus, logo após São Pedro e Santo André: "Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que com seu pai Zebedeu estavam consertando as redes. Chamou-os, e eles abandonaram a barca e seu pai e seguiram-nO." Mt 4,21-22
    São Lucas afirma que São João e São Tiago Maior faziam parte da mesma cooperativa de pesca de Santo André e São Pedro: "Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão..." Lc 5,10a
    São Marcos anota que seu pai tinha empregados, o que é sinal de destaque naquela pobre região. Foi quando ele e seu irmão partiram com Jesus: "Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus." Mc 1,20
    Tradicionais pescadores da região, sua família era de Betsaida, como a de São Pedro, além do próprio São Filipe: "Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro." Jo 1,44
    Eles frequentavam a casa de São Pedro em Cafarnaum, que Jesus adotou como 'Sua' casa: "Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André." Mc 1,29
    Jesus pôs-lhe um cognome: "Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão." Mc 3,17
    Ele também é dos primeiros na lista dos Apóstolos; sempre um dos quatro, do primeiro dos três grupos: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16
    Foi o que narrou São Mateus: "Jesus reuniu Seus Doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os imundos espíritos e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 13,1-3
    E também São Marcos: "Escolheu estes Doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele também escolheu André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelota; e Judas Iscariotes, que o entregou." Mc 3,16-19
    De fato, São João Evangelista fazia parte dos três Apóstolos mais íntimos de Jesus. Foi assim na ressurreição da filha do chefe da sinagoga de Cafarnaum: "Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: 'Tua filha morreu. Para que ainda incomodas o Mestre?' Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-Se ao chefe da sinagoga: 'Não temas. Crê somente!' E não permitiu que ninguém O acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago." Mc 5,35-37
    Assim foi no dia da Transfiguração, no sexto dia após São Pedro identificar Jesus como o Cristo: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e à parte conduziu-os a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias, conversando com Ele." Mt 17,1-3
    Também quando Jesus profetizou sobre a destruição do Templo de Jerusalém e de toda cidade: "Saindo Jesus do Templo, disse-Lhe um de Seus discípulos: 'Mestre, olha que pedras e que construções!' Jesus replicou-lhe: 'Vês este grande edifício? Não restará pedra sobre pedra! Tudo será demolido.' E estando sentado no Monte das Oliveiras, defronte do Templo, em particular perguntaram-Lhe Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por qual sinal se saberá que tudo isso vai realizar-se?'" Mc 13,1-4
    E ainda no Monte das Oliveiras, pouco antes de Jesus ser preso: "Em seguida foram para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a Seus discípulos: 'Sentai-vos aqui, enquanto vou orar.' Consigo levou Pedro, Tiago e João, e começou a ter pavor e a angustiar-Se. Disse-lhes: 'Minha alma está numa tristeza mortal. Ficai aqui e vigiai.'" Mc 14,32-34
    Pensando em preservar a unidade do grupo e a Sã Doutrina, nosso Apóstolo proibiu um estranho de expulsar maus espíritos em Nome de Jesus, mas acabou corrigido por Ele: "João disse-Lhe: 'Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em Teu Nome, e proibimo-lho.' Jesus, porém, disse-lhe: 'Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em Meu Nome e em seguida possa falar mal de Mim. Pois quem não é contra Nós, é a Nosso favor.'" Mc 9,38-40
    Talvez a alcunha de Filhos do Trovão tenha origem num episódio em que São João e seu irmão quiseram destruir uma aldeia de samaritanos com relâmpagos, quando mais uma vez foram repreendidos por Jesus: "Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, Ele resolveu dirigir-Se a Jerusalém. Diante de Si enviou mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para arranjar-Lhe pousada. Mas não O receberam, por dar mostras que ia para Jerusalém. Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e consuma-os?' Jesus voltou-Se e severamente repreendeu-os: 'Não sabeis de que Espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.'" Lc 9,51-56
    Ousados, esses irmãos queriam o privilégio de sentar-se à direita e à esquerda de Jesus, quando da ostensiva instauração de Seu Reino. Mas Ele vai profetizar-lhes Seu 'Batismo', e aproveita a ocasião para ensinar que o Reino de Deus é de serviço, não de autoridade. São Marcos narrou: "De Jesus aproximaram-se Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-Lhe: 'Mestre, queremos que nos concedas tudo que Te pedirmos.' 'Que quereis que vos faça?' 'Concede-nos, na Tua Glória, que nos sentemos um à Tua direita e outro à Tua esquerda.' 'Não sabeis o que pedis', retorquiu Jesus. 'Podeis vós beber o cálice que Eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que Eu vou ser batizado?' 'Podemos', asseguraram eles. Jesus prosseguiu: 'Vós bebereis o cálice que Eu devo beber, e sereis batizados no batismo em que Eu devo ser batizado. Mas quanto ao assentardes à Minha direita ou à Minha esquerda, isto não depende de Mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado.' Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e deu-lhes esta diretriz: 'Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas, e seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim: todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja vosso servo. E todo aquele que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.'" Mc 10,35-44
    No relato de São Mateus, porém, esse pedido teria sido feito pela mãe deles. Esse fato, todavia, não os escusa, pois estavam presentes e assentiam: "Aproximou-se, então, a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para fazer-Lhe uma súplica. Perguntou-lhe Ele: 'Que queres?' Ela respondeu: 'Ordena que estes meus dois filhos se sentem, em Teu Reino, um à Tua direita e outro à Tua esquerda.'" Mt 20,20-21
    Essa senhora seria Salomé, por informação que se obtém comparando a cena da crucificação nos Evangelhos de São Mateus e São Marcos: "Ali também havia algumas mulheres que de longe olhavam. Tinham seguido Jesus desde a Galileia para servi-Lo. Entre elas, achavam-se Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu." Mt 27,55-56
    Pois São Marcos menciona seu nome: "Ali também se achavam umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que O tinham seguido e O haviam assistido quando Ele estava na Galileia. E muitas outras que com Ele haviam subido a Jerusalém." Mc 15,40-41
    São João Evangelista também era muito íntimo de São Pedro, formando um parceria que durou muitos anos, e com ele foi mandado por Jesus ao lugar onde seria preparada Sua última e Santa Ceia: "Jesus enviou Pedro e João, dizendo: 'Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa.'" Lc 22,8
    Como mascote dos Doze, era o Apóstolo que Jesus amava, o que vai ser dito várias vezes em seu Evangelho! E assim ele estava com a cabeça reclinada sobre Seu peito, quando Ele anunciou que seria traído. Provocado por São Pedro, ele perguntou-Lhe quem seria o traidor: "Dito isso, Jesus ficou perturbado em Seu Espírito e abertamente declarou: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: um de vós há de trair-Me!...' Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para instá-lo: 'Dize-nos de quem é que Ele fala.' Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-O: 'Senhor, quem é?'" Jo 13,21-24
    É a ele, pois, depois de São Pedro, claro!, que Santa Maria Madalena vai avisar que o Corpo de Jesus não estava na sepultura: "Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: 'Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram!'" Jo 20,2
    Também é ele quem primeiro reconhece Jesus ressuscitado, quando estavam pescando na Galileia: "Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: 'É o Senhor!' Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas." Jo 21,7
    E São Pedro, após ouvir a sentença que definiu seu martírio, assustou-se e, nervoso, questionou Jesus a respeito do destino de São João, seu dileto parceiro: "Voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava (aquele que estivera reclinado sobre Seu peito, durante a ceia, e perguntara-Lhe: “Senhor, quem é que Te há de trair?”). Vendo-o, Pedro perguntou a Jesus: 'Senhor, e este? Que será dele?' Respondeu-lhe Jesus: 'Que te importa se Eu quero que ele fique até que Eu venha? Segue-Me tu.' Correu, por isso, o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhe disse: 'Não morrerá', mas: 'Que te importa se quero que ele fique assim até que Eu venha?'" Jo 21,20-23
    É em seguida a essa passagem que São João 'assina' seu Evangelho: "Este é o discípulo que dá testemunho de todas essas coisas, e escreveu-as. E sabemos que seu testemunho é digno de ." Jo 21,24
    São João, ademais, foi o único a acompanhar de perto o Senhor durante Seu julgamento por Anás e pelo Sinédrio, pois São Pedro só foi até o pátio. Certamente por seu comportamento quase sempre calado diante dos discursos de Jesus, profundamente meditando-os, mas, mais provavelmente, porque seu pai Zebedeu fosse sacerdote (e assim ele seria levita!), franqueando-lhe acesso ao convívio do sumo sacerdote: "Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e com Jesus entrou no pátio da casa do sumo sacerdote, porém Pedro ficou de fora, à porta. Mas o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar." Jo 18,15-16
    E durante a crucificação, a qual também é dos Doze o único a presenciar, ele recebe a incumbência de cuidar de Nossa Senhora, pois, como ela não tinha outros filhos, enquanto viúva ficaria sozinha: "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu Sua mãe, e perto dela o discípulo que amava, disse à Sua mãe: 'Mulher, eis aí teu filho.' Depois disse ao discípulo: 'Eis aí tua mãe.' E dessa hora em diante o discípulo levou-a para sua casa." Jo 19,25-27


APÓS A RESSURREIÇÃO

    Depois da Ressurreição de Jesus, além da aparição aos Apóstolos em Jerusalém, quando lhes soprou o Espírito Santo para que pudessem perdoar os pecados, São João também é citado em Sua aparição na Galileia, por ocasião da segunda pesca miraculosa: "Depois disso, tornou Jesus a manifestar-Se a Seus discípulos junto ao lago de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros de Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: 'Vou pescar.' Responderam-lhe eles: 'Nós também vamos contigo.' Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não O reconheceram." Jo 21,1-4
    E depois da Ascensão de Jesus, ele está entre os Apóstolos à espera do Espírito Santo, do Pentecostes, no mesmo lugar onde aconteceu a Santa Ceia, e mais uma vez entre os quatro primeiros: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, irmão de Tiago." At 1,13
    Ungida a Igreja pelo Santo Paráclito para anunciar Jesus, São João continuou como o 'braço direito' de São Pedro, quando realizaram o primeiro milagre: "Pedro e João iam subindo ao Templo para rezar à hora nona. Nisto, levavam um homem que era coxo de nascença e que todo dia punham à porta do Templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas aos que entravam. Quando ele viu que Pedro e João iam entrando no Templo, implorou-lhes uma esmola. Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: 'Olha para nós.' Ele olhou-os com atenção, esperando deles receber alguma coisa. Pedro, porém, disse: 'Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu dou-te: em Nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!' E tomando-o pela mão direita, levantou-o. Os pés e os tornozelos imediatamente firmaram-se. De um salto pôs-se de pé, e andava. Entrou com eles no Templo, caminhando, saltando e louvando a Deus." At 3,1-7
    Os judeus consideravam os galileus como 'indoutos', mas o Evangelho de São João, suas três Cartas Católicas e o Livro do Apocalipse claramente mostram que ele era muito bem letrado e inteligente. E junto a São Pedro, movidos pelo Espírito de Deus, eles resistiam diante do Sumo Sacerdote e dos principais de Israel em pleno Sinédrio: "Vendo eles a coragem de Pedro e de João, e considerando que eram homens sem estudo e sem instrução, admiravam-se. Reconheciam-nos como companheiros de Jesus. Mas vendo com eles o homem que tinha sido curado, não puderam replicar. Mandaram que se retirassem da sala do Conselho, e conferenciaram entre si: 'Que faremos destes homens? Porquanto o milagre por eles feito se tornou conhecido de todos habitantes de Jerusalém, e não o podemos negar. Todavia, para que esta notícia não mais se divulgue entre o povo, com ameaças proibamos que no futuro falem a alguém nesse Nome.' Chamaram-nos e ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em Nome de Jesus. Responderam-lhes Pedro e João: 'Julgai-o vós mesmos se é justo, diante de Deus, mais obedecermos a vós que a Deus. Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.'" At 4,13-20
    Tempos depois, São João seguiu com São Pedro para a Samaria, onde crismariam os primeiros não-judeus, ainda que descendentes de hebreus. Era o 'Pentecostes dos Samaritanos': "Os Apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em Nome do Senhor Jesus. Então os dois Apóstolos impuseram-lhes as mãos e eles receberam o Espírito Santo." At 8,14-17
    Mas logo São João iria perder seu irmão, o primeiro Apóstolo a ser martirizado, e tomaria um grande susto com a prisão de seu grande e importante parceiro: "Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para maltratá-los. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro." At 12,1-3
    São Paulo apontou o reconhecimento dado a São João como uma das colunas da Igreja, junto a São Pedro e São Tiago, o Menor, parente próximo de Jesus e segundo 'Bispo' de Jerusalém, após a partida de São Pedro daí. Apóstolos absolutamente exemplares, eles tinham os pobres como a opção preferencial da Igreja, como recomendaram a São Paulo. Este narrou esse encontro aos gálatas: "Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a Graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo: iríamos aos pagãos e eles aos circuncidados. Apenas recomendaram-nos que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente minha intenção." Gl 2,9-10


SUA MENSAGEM

    Como bem afirmou em uma de suas Cartas Apostólicas, o testemunho de São João tinha um claro objetivo: todos levar à Comunhão: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da Vida, porque a Vida se manifestou e nós temo-la visto, damos testemunho e anunciamos-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que Se nos manifestou. O que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos para que vós também tenhais comunhão conosco. Ora, nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,1-3
    Contudo, defendendo plena fidelidade aos ensinamentos de Jesus, de todos cobrava irrepreensíveis atitude e comportamento: "... aquele que afirma n'Ele permanecer, também deve viver como Ele viveu." 1 Jo 2,6
    E já avisava que nem todos que 'anunciam' Jesus são de Deus. Referia-se, portanto, aos primeiros dissidentes, rebeldes e desobedientes: "Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, certamente ficariam conosco. Mas isto se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos." 1 Jo 2,18-19
    Como ninguém, ele soube sintetizar a Missão de Jesus: "Eis a promessa que Ele nos fez: a Vida Eterna." 1 Jo 2,25
    E sabia que a Comunhão restituiria à humanidade a natureza divina, a semelhança à qual fomos feitos: "Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto O veremos como Ele é." 1 Jo 3,2
    Ele lembrava que o povo de Deus tem o 'selo' do Espírito Santo: "Quem observa Seus Mandamentos, permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    Ensinou que é o Espírito Santo que leva o fiel à obediência à Igreja, diferenciando-o das pessoas do errante mundo: "Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,6
    E em mais uma magistral síntese, deixou-nos um dos mais conhecidos conceito de Deus: "Aquele que não ama, não conhece a Deus. Porque Deus é amor." 1 Jo 4,8
    Com a experiência de quem seguiu Jesus desde os primeiros passos, ele dizia: "E Seus Mandamentos não são penosos..." 1 Jo 5,3
    Realmente inspirado, em seu Evangelho não temeu apresentar Jesus como o Cristo, como Ele mesmo afirmou à samaritana: "Respondeu a mulher: 'Sei que deve vir o Messias, que Se chama Cristo. Quando vier, pois, Ele fá-nos-á conhecer todas coisas.' Disse-lhe Jesus: 'Sou Eu, Quem fala contigo.'" Jo 4,25-26
    Ou como o próprio Deus, conforme a Confissão de São Tomé perante Jesus Ressuscitado, dada em seus registros: "Respondeu-lhe Tomé: 'Meu Senhor e Meu Deus!'" Jo 20,28
    Lançou os fundamentos para a compreensão da Santíssima Trindade ao comentar sobre os Sacramentos, nos quais Deus Pai Se faria representar pela Água Viva: "Ei-lo, Jesus Cristo, Aquele que veio pela Água e pelo Sangue. Não só pela Água, mas pela Água e pelo Sangue. E o Espírito é Quem dá testemunho d'Ele, porque o Espírito é a Verdade. São, assim, três os que dão testemunho: o Espírito, a Água e o Sangue. Estes três dão o mesmo testemunho." 1 Jo 5,6-8
    Colaborou para os conceitos de pecado mortal e venial: "Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus dá-lhe-á a Vida. Isto para aqueles que não pecam para a morte. Há pecado que é para morte. Não digo que se reze por este. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte." 1 Jo 5,16-17
    Estudioso, e íntimo da classe sacerdotal de Jerusalém (cf. Jo 18,16), em três classes reconhecia os pecados: "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo." 1 Jo 2,16
    E atestou a capacidade e as condições concedidas para que conheçamos a Deus: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no Verdadeiro, nós que estamos em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro Deus e a Vida Eterna." 1 Jo 5,20
    Apresentava-se à Igreja como um mero presbítero. Aliás, como fazia São Pedro (cf. 1 Pd 5,1), deixando um registro da tradição judaica dos Anciãos como representantes do povo judeu, e que foi adotada pelo Catolicismo sob o nome de Padres: "O Ancião à Eleita Senhora e a seus filhos, que amo na Verdade. Não somente eu, mas também todos que conheceram a Verdade, por causa da Verdade que permanece em nós e que conosco eternamente ficará." 2 Jo 1,1-2
    A ele Jesus fez as revelações que constam do último da livro da Bíblia, o Apocalipse: "Revelação de Jesus Cristo, que Lhe foi confiada por Deus para manifestar a Seus servos o que em breve deve acontecer. Ele, por Sua vez, por intermédio de Seu anjo, comunicou ao Seu servo João, o qual atesta, como Palavra de Deus, o testemunho de Jesus Cristo e tudo que viu." Ap 1,1-2
    À época já era idoso, e estava exilado na ilha de Patmos, na Grécia, ao leste do Mar Egeu, onde deve ter escrito, ou ao menos compilado, seu Evangelho e suas Cartas. Mas foi certamente aí que ele começou a escrever o Apocalipse: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e por trás de mim ouvi forte voz como de trombeta, que dizia: 'O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.'" Ap 1,9-11
    Assim como atesta a Sagrada Tradição, as visões da Beata Catarina Emmerich dão conta que, depois da Samaria, quando São Pedro seguiu numa longa viagem em missão até Roma, São João mudou-se para Éfeso, onde foi Bispo, mas em específico para das perseguições dos judeus (cf. Ap 12,13s) livrar Nossa Senhora, que aí, em área rural, ocultamente morou até o dia de Sua Assunção.


MÍSTICA MARIANA?

    Aliás, diante do incipiente Ministério Mariano, pois muito lhe impressionara a visão da 'Mulher Coroada', em profundo respeito ao Santíssimo Nome de Maria, e para melhor explicitá-la como a Mulher que esmaga a cabeça da serpente (cf. Gn 3,15), à Santíssima Virgem ele só se referiu como 'Sua Mãe', junto ao Nome de Jesus, ou 'a Mulher', sem jamais mencionar o nome 'Maria' em todos seus escritos.
    De fato, depois do Gênesis, São João é o único sagrado autor em toda Bíblia a mencionar o principal alvo de todo projeto de Deus: a cabeça da serpente, que, depois de precipitada do Céu, foi mantida longe de Maria Santíssima durante sua vida na terra. Ele narrou: "Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da serpente." Jo 12,14
    A aprofundada teologia de São João, portanto, bem como sua mística, devem-se ao intenso convívio com a divina espiritualidade da Santíssima Mãe de Deus, que ele vai intitular Mãe dos fiéis e Mãe da Igreja ao registrar a perseguição que lhe faz o Dragão: "Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os Mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus." Ap 12,17
    Daí, de Éfeso, ele ajudava na coordenação de muitas igrejas e frequentemente era procurado para esclarecer questões da Doutrina e da História de Jesus, pois foi o último Apóstolo a morrer. São Policarpo, Santo Inácio de Antioquia e São Clemente tiraram muitas dúvidas com ele.
    Apesar de ser um dos Apóstolos mais próximos de Jesus, São João jamais questionou a liderança de São Pedro, pois, além de presenciar a entrega das 'chaves do Reino dos Céus' (cf. Mt 16,19), bem ouviu quando Ele lhe incumbiu de 'confirmar os irmãos (cf. Lc 22,32)', durante a Santa Ceia, e de 'apascentar' Seus cordeiros e ovelhas (cf. Jo 21,15-17), por ocasião da segunda pesca miraculosa, que também foi testemunhada por São Tomé, São Bartolomeu e São Tiago Maior.
    E mesmo vindo a ser o mais longevo Apóstolo, também nunca questionou a liderança do Bispo de Roma sobre toda Igreja, seja após a morte do Príncipe dos Apóstolos, seja após a destruição de Jerusalém no ano 70 pelos romanos. Ele sabia da importância de uma sede para centralizar decisões, como nas primeiras décadas foi Jerusalém, da força do colégio de assessores que em Roma se formou em torno deste bispado, batizado com o sangue dos Apóstolos Pedro e Paulo e sustentado por inúmeras comunidades nesta que era a maior metrópole de então, e da absoluta fidelidade dos cristãos romanos, muitos dos quais entregaram a vida por amor a Cristo. Autênticos mártires, que é o significado da palavra 'testemunho', eles realmente fizeram de seu sangue 'a semente de cristãos', como veio a atestar o historiador Tertuliano.
    Os primeiros escritos de São João foram encontrados em fragmentos de papiro em terras do Egito, o que leva a crer que ele tenha passado por lá depois de sair de Éfeso, após a Assunção de Nossa Senhora, e antes de ser exilado em Patmos, e que já se preocupava em deixar seu Evangelho.
    Exilado em Patmos por ordem de Domiciano, lá ficou por 4 anos até assumir o imperador Nerva, em 96. Então voltou a Éfeso, onde faleceu de causas naturais em 103, aos 94 anos, e aí foi sepultado. Mas quando Constantino procurou seus restos mortais para edificar-lhes uma igreja, encontrou a sepultura vazia. Contudo, o imperador Justiniano I, que viveu entre 482 e 565, tratou de aí construir uma basílica, arruinada desde o século IX, dada a expansão do belicista Império Islâmico.


    São João Apóstolo, rogai por nós!