sexta-feira, 18 de abril de 2025

A Sexta-Feira Santa

    O Evangelho segundo São Mateus assim descreve os últimos momentos de Jesus:

'PERANTE PILATOS'


    "Chegando a manhã, todos príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo reuniram-se no Sinédrio para entregar Jesus à morte. Ligaram-nO e levaram-nO ao governador Pilatos. Judas, o traidor, vendo-O então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes:
    - Pequei, entregando o Sangue de um Justo.
    Responderam-lhe:
    - Que nos importa? Isto é contigo!
    Então ele jogou no Templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.
    Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram:
    - Não é permitido lançá-lo no sagrado tesouro, porque se trata de preço de Sangue.
    Depois de haverem deliberado, com aquela soma compraram o campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros. Esta é a razão porque aquele terreno é chamado, ainda hoje, Campo de Sangue. Assim se cumpriu a profecia do Profeta Jeremias (Zc 11,12-13): 'Eles receberam trinta moedas de prata, preço d'Aquele Cujo valor foi estimado pelos filhos de Israel. E deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia prescrito.'

    Jesus compareceu diante do governador, que O interrogou:
    - És o Rei dos judeus?
    - Tu o dizes, respondeu-lhe Jesus.
    Ele, porém, nada respondia às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos. Perguntou-Lhe Pilatos:
    - Não ouves todos testemunhos que levantam contra Ti?
    Mas para grande admiração do governador, Ele não quis responder acusação alguma.
    Era costume que o governador soltasse um preso a pedido do povo em cada festa de Páscoa. Ora, havia naquela ocasião um famoso prisioneiro, chamado Barrabás. Pilatos dirigiu-se ao povo reunido:
    - Qual quereis que eu vos solte: Barrabás ou Jesus, que Se chama Cristo?
    Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe:
    - Nada faças a esse Justo! Hoje fui atormentada por um sonho que Lhe diz respeito.
    Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que pedisse a libertação de Barrabás, e que fizesse morrer Jesus. O governador então tomou a palavra:
    - Qual dos dois quereis que eu vos solte?
    Responderam:
    - Barrabás!
    Pilatos perguntou:
    - Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo?
    Todos responderam:
    - Seja crucificado!
    O governador tornou a perguntar:
    - Mas que mal fez Ele?
    E gritavam ainda mais forte:
    - Seja crucificado!
    Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse:
    - Sou inocente do Sangue deste Homem. Isto é convosco!
    E todo povo respondeu:
    - Que Seu Sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!
    Assim, ele libertou Barrabás, mandou açoitar Jesus e entregou-O para ser crucificado.

'A FLAGELAÇÃO'


    Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e rodearam-nO com todo pelotão. Arrancaram-Lhe as vestes e colocaram-Lhe um manto escarlate. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-Lha na cabeça e puseram-Lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante d'Ele, diziam com escárnio:
    - Salve, Rei dos judeus!
    Cuspiam-Lhe no rosto e, tomando da vara, davam-Lhe golpes na cabeça. Depois de escarnecerem d'Ele, tiraram-Lhe o manto e entregaram-Lhe as vestes. Em seguida, levaram-nO para crucificá-Lo.

'A CRUCIFICAÇÃO'


    Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a Cruz de Jesus. Chegaram ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar do 'crânio'. Deram-Lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas recusou-Se a beber.
    Depois de haverem-nO crucificado, dividiram Suas vestes entre si, tirando a sorte. Cumpriu-se assim a profecia do Profeta: 'Repartiram entre si Minhas vestes, e sobre Meu manto lançaram a sorte' (Sl 21,19).
    Sentaram-se e montaram guarda. Por cima de Sua cabeça penduraram um escrito, trazendo o motivo de Sua Crucificação: 'Este é Jesus, o Rei dos judeus'. Ao mesmo tempo, com Ele foram crucificados dois ladrões, um à Sua direita e outro à Sua esquerda.
    Aqueles que passavam, injuriavam-nO, sacudiam a cabeça e diziam:
    - Tu, que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva a Ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da Cruz!
    Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam d'Ele:
    - Ele salvou a outros e não pode salvar a Si mesmo! Se é Rei de Israel, que desça agora da Cruz e nós creremos n'Ele!
    - Confiou em Deus, Deus livre-O agora se O ama, porque Ele disse: 'Eu sou o Filho de Deus!'
    E os ladrões, com Ele crucificados, também O ultrajavam. Desde o meio-dia até às três da tarde, cobriu-se de trevas toda Terra.

'A MORTE'


    Próximo das três da tarde, Jesus exclamou em forte voz:
    - Eli, Eli, lammá sabactáni? - que quer dizer: Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste (Sl 21,2)?
    A estas palavras, alguns dos que lá estavam diziam:
    - Ele chama por Elias.
    Um deles imediatamente tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre e apresentou-Lha na ponta de uma vara, para que bebesse. Os outros diziam:
    - Deixa! Vejamos se Elias virá socorrê-Lo.
    Jesus de novo lançou um grande brado, e entregou o espírito.
    E eis que o véu do Templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas. Os sepulcros abriram-se e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da Ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.
    O centurião e seus homens, que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor:
    - Verdadeiramente, este Homem era Filho de Deus!
    Ali também havia algumas mulheres que de longe olhavam. Tinham seguido Jesus desde Galileia para servi-Lo. Entre elas achavam-se Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

'O SEPULTAMENTO'


    Ao entardecer, um rico homem de Arimateia, chamado José, que também era discípulo de Jesus, foi procurar Pilatos e pediu-lhe o Corpo de Jesus. Pilatos cedeu-O. José tomou o Corpo, envolveu-O num branco lençol e depositou-O num novo sepulcro, que para si tinha mandado talhar na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro, e foi-se embora.
    Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo."
                                              Mt 27,1-61

     O Evangelho segundo São Lucas deu-nos mais estes detalhes:

    "Pilatos declarou aos príncipes dos sacerdotes e ao povo:
    - Eu não acho culpa alguma n'Este Homem.
    Mas eles fortemente insistiam:
    - Ele revoluciona o povo ensinando por toda Judeia, a começar de Galileia até aqui.
    A estas palavras, Pilatos perguntou se Ele era galileu. E quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém.
    Herodes alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-Lo por ter ouvido falar d'Ele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por Ele. Dirigiu-Lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu.
    Ali estavam os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-O com violência. Herodes, com sua guarda, tratou-O com desprezo, d'Ele escarneceu, mandou revesti-Lo de uma branca túnica e reenviou-O a Pilatos. Naquele mesmo dia, Pilatos e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro.
    Pilatos então convocou os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes:
    - Apresentaste-me Este Homem como agitador do povo, mas, interrogando-O eu diante de vós, não O achei culpado de nenhum dos crimes de que O acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-Lo devolveu. Portanto, Ele nada fez que mereça a morte. Por isso, soltá-Lo-ei depois de castigá-Lo.
    Acontecia que em cada festa ele era obrigado a soltar-lhes um preso. Todo povo gritou a uma voz:
    - À morte com Este, e solta-nos Barrabás.
    Este homem fora lançado ao cárcere devido a uma revolta levantada na cidade, por causa de um homicídio. Pilatos, porém, querendo soltar Jesus, falou-lhes de novo, mas eles vociferavam:
    - Crucifica-O! Crucifica-O!
    Pela terceira vez, Pilatos ainda interveio:
    - Mas que mal fez Ele, então? Não achei n'Ele nada que mereça a morte. Irei, portanto, castigá-Lo e, depois, soltá-Lo-ei.
    Mas eles instavam, reclamando em altas vozes que fosse crucificado, e seus clamores recrudesciam. Pilatos pronunciou, então, a sentença que lhes satisfazia o desejo. Soltou-lhes aquele que eles reclamavam e que havia sido lançado ao cárcere por causa do homicídio e da revolta, e entregou Jesus à vontade deles."
                                              Lc 23,4-25

    Diferente de São Mateus (cf. Mt 27,44), o Amado Médico apontou que um dos ladrões não O insultava. Ao contrário, defendeu-O dos ultrajes do outro e, realmente arrependido, fez-Lhe um sincero e tocante pedido por sua alma. Certamente sabia da história e dos milagres de Nosso Senhor, e talvez até tenha sido tocado por alguma de Suas pregações, ainda que não tenha abandonado a vida no crime. Mas ouviu esta redentora Palavra:

    "Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra Ele:
    - Se és o Cristo, salva a Ti mesmo e a nós!
    Mas o outro repreendeu-o:
    - Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós, isto é justo: recebemos o que mereceram nossos crimes, mas Este não fez mal algum.
    E acrescentou:
    - Jesus, lembra-Te de mim quando tiveres entrado em Teu Reino!
    Jesus respondeu-lhe:
    - Em Verdade, digo-te: hoje estarás Comigo no Paraíso."
                                              Lc 23,39-43

    E o Evangelho segundo São João apontou este revelador diálogo entre Jesus e Pilatos, a respeito do Reino dos Céus e da Verdade:

    "Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-Lhe:
    - És tu o Rei dos judeus?
    Jesus respondeu:
    - Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de Mim?
    Disse Pilatos:
    - Acaso sou eu judeu? Tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-Te a mim. Que fizeste?
    Respondeu Jesus:
     - Meu Reino não é deste mundo. Se Meu Reino fosse deste mundo, Meus súditos certamente teriam combatido para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas Meu Reino não é deste mundo.
    Então Lhe perguntou Pilatos:
    - És, portanto, Rei?
    Respondeu Jesus:
    - Tu o dizes: Eu sou Rei. É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz.
    Disse-Lhe Pilatos:
    - O que é a Verdade?...
    Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes:
    - Não acho n'Ele crime algum."
                                            Jo 18,33-38

    Ele também anotou a violenta flagelação que Jesus sofreu, mencionada como açoitamento na narrativa de São Mateus (cf. Mt 27,26), como os romanos sempre faziam antes de toda crucificação: "Então Pilatos tomou Jesus e mandou flagelá-Lo." Jo 19,1
    E assim registrou a grande hesitação do governador:

    "Falou-lhes Pilatos:
    - Tomai-O vós e crucificai-O, pois n'Ele eu não acho culpa alguma.
    Responderam-lhe os judeus:
    - Nós temos uma lei, e segundo essa lei Ele deve morrer porque Se declarou Filho de Deus.
    Estas palavras impressionaram Pilatos. Novamente entrou no pretório e perguntou a Jesus:
    - De onde és Tu?
    Mas Jesus não lhe respondeu. Pilatos então Lhe disse:
    - Tu não me respondes? Não sabes que tanto tenho poder para soltar-Te como para crucificar-Te?
    Respondeu Jesus:
    - Não terias poder algum sobre Mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado.
    Desde então Pilatos procurava soltá-Lo. Mas os judeus gritavam:
    - Se O soltares, não és amigo do imperador, porque todo aquele que se faz rei se declara contra o imperador."
                                              Jo 19,6b-12

    Ele registrou outras importantíssimas informações sobre este dia, como o nome de uma prima de Nossa Senhora, que era a verdeira mãe dos chamados 'irmãos' de Jesus, bem como o momento em que Nosso Salvador fez da Santíssima Virgem Nossa Mãe, representados que fomos por este Amado Discípulo, e desde então ela foi morar com ele porque simplesmente não tinha outros filhos que dela cuidassem. Ora, o quarto Mandamento de Deus determina exatamente honrar pai e mãe (cf. Êx 20,12), e 'Seus irmãos', se os tivesse, não poderiam se escusar:

    "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.
    Quando Jesus viu Sua mãe, e perto dela o discípulo que amava, disse à Sua mãe:
    - Mulher, eis aí teu filho.
    Depois disse ao discípulo:
    - Eis aí tua mãe.
    E dessa hora em diante o discípulo levou-a para sua casa."
                                             Jo 19,25-27

    Ao narrar esta mesma cena, o Evangelho segundo São Marcos, tal qual o de São Mateus acima (cf. Mt 27,56), nomina dois dos chamados 'irmãos' de Jesus como filhos desta senhora: "Ali também se achavam umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que O tinham seguido e O haviam assistido quando Ele estava em Galileia. E muitas outras que junto a Ele haviam subido a Jerusalém." Mc 15,40-41
    O mais teológico dentre os evangelista, pois, São João assim descreveu os últimos instantes de Jesus:

    Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para cumprir-se plenamente a Escritura, disse:
    - Tenho sede.
    Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-Lhe à boca.
    Havendo Jesus tomado do vinagre, disse:
    - Tudo está consumado.
    Inclinou a cabeça e entregou o espírito.
                                             Jo 19,28-30

    São Lucas ainda registrou a compaixão do Senhor pelos soldados romanos, enquanto era crucificado: "E Jesus dizia: 'Pai, perdoa-lhes. Porque não sabem o que fazem.'" Lc 23,34a
    E a despeito do escárnio dos religiosos judeus, também atestou a generalizada comoção entre todos demais presentes, que se viu na dispersão ao final: "E toda multidão dos que assistiam a este espetáculo e viam o que se passava, voltou batendo no peito." Lc 23,48
    Ele fala do tradicional funeral judeu que as seguidoras de Jesus pretendiam dar a Seu Corpo após o sábado, pois pela Lei não poderiam entrar neste dia, depois do pôr do sol, 'trabalhando', acabou sendo sepultado às pressas: "Elas viram o túmulo e o modo como o Corpo de Jesus ali fora depositado. Elas voltaram e prepararam aromas e bálsamos. No dia de sábado, observaram o preceito do repouso." Lc 23,55a-56
    E também relatou as palavras de São Pedro, no Livro de Atos dos Apóstolos, dizendo do fim de Judas Iscariotes depois que se enforcou: "Depois, tombando para a frente, arrebentou-se pelo meio e todas suas entranhas derramaram-se." At 1,18b
    Sem dúvida, foi o castigo em face dos indizíveis privilégios que teve, presenciando tantos sinais e ouvindo o Verbo do próprio Deus Encarnado. Jesus havia-o advertido durante a Santa Ceia: "O Filho do Homem vai, segundo o que d'Ele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for traído! Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido..." Mc 14,21
    Detalhes da infame flagelação de Jesus, porém, foram profetizados haviam vários séculos. O Livro do Profeta Isaías, falando pelo próprio Cristo, trazia: "Ofereci as costas para baterem-Me e as faces para arrancarem-Me a barba. Não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é Meu Auxiliador, por isso não Me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado." Is 50,6-7
    Este mesmo Profeta também falou pelo próprio Pai: "Eis que Meu Servo há de prosperar, Ele elevar-Se-á, será exaltado, será posto nas alturas. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-Lo, tão desfigurado Ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano, assim numerosas nações ficarão estupefatas a Seu respeito, reis manter-se-ão em silêncio, vendo coisas que não lhes haviam sido contadas e ao tomarem consciência de coisas que não tinham ouvido." Is 52,13-15
    Disse, enfim, nos versículos do 'Servo Sofredor': "Em verdade, Ele tomou sobre Si nossas enfermidades e carregou nossos sofrimentos. E nós O reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi trespassado por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a Paz, caiu sobre Ele. Sim, por Suas feridas fomos curados. Foi maltratado, mas livremente humilhou-Se e não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro, como uma ovelha que permanece muda na presença de seus tosquiadores, Ele não abriu a boca. Porém, se Ele oferece Sua vida como sacrifício pelo pecado, por meio d'Ele o desígnio de Deus há de triunfar." Is 53,4-5.7.10b
    São profecias de impressionante precisão: "Mas aprouve ao Senhor esmagá-Lo pelo sofrimento... a vontade do Senhor será realizada por Ele. Após suportar em Sua Pessoa os tormentos, alegrar-Se-á de conhecê-Lo até o enlevo. 'O Justo, Meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre Si suas iniquidades. ... porque Ele próprio deu Sua vida e Se deixou colocar entre os criminosos, tomando sobre Si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.'" Is 53,10a.c-11,12b
    E no Livro de Salmos, no mesmo canto que prenunciava a repartição de Suas vestes, já estavam as zombarias que Ele ouviu enquanto estava crucificado, como São Mateus registrou (cf. Mt 27,43): "Todos que Me veem, zombam de Mim. Dizem, meneando a cabeça: 'Esperou no Senhor, pois Ele O livre, O salve, se O ama.'" Sl 21,8-9
    Falando por Ele, também expressava vívidos detalhes de Sua Paixão: "Minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar Minha língua: Vós reduziste-Me ao pó da morte. Sim, rodeia-Me uma malta de cães, cerca-Me um bando de malfeitores. Traspassaram Minhas mãos e Meus pés: poderia contar todos Meus ossos." Sl 21,16-18a
    Em outro deles, surpreendentemente consta: "... em Minha sede deram-Me vinagre para beber." Sl 68,22
    Enfim, o motivo que levaria à Crucificação de Jesus já havia sido exposto por São João Evangelista, desde Sua segunda festa em Jerusalém em vida pública após a cura do paralítico no Tanque de Betesda, quando foi recriminado por 'trabalhar' num sábado e respondeu: "'Meu Pai trabalha até agora e Eu também trabalho.' Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-Lhe a vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas ainda afirmava que Deus era Seu Pai, e assim Se fazia igual a Deus." Jo 5,17b-18
    Os chefes dos sacerdotes mesmos vão alegá-lo durante o julgamento de Pilatos, como visto acima, quando ele lhes ofereceu Jesus de volta, dizendo que eles mesmo O crucificassem, porque n'Ele não via culpa alguma: "Nós temos uma lei e, segundo essa lei, Ele deve morrer, porque Se declarou Filho de Deus." Jo 19,7
    Outro esclarecedor detalhes é que São Paulo, em pregação aos judeus na sinagoga de Antioquia da Pisídia, afirma que a multidão que pedia a Pilatos para condenar Jesus e libertar Barrabás, além de insuflada pelos líderes religiosos, como São Mateus diz (cf. Mt 27,20), era feita apenas de gente de Jerusalém. Os peregrinos, que aclamaram Jesus no Domingo de Ramos, não se interessavam por esse 'juri popular' promovido por judeus e romanos: "Com efeito, os habitantes de Jerusalém e seus magistrados não conheceram Jesus, e, sentenciando-O, cumpriram os oráculos dos Profetas, que cada sábado são lidos." At 13,27
    Com efeito, apesar de todas Suas manifestações na Cidade Santa, em geral em festas judaicas, o povo daí não O conhecia, como se vê no Domingo de Ramos: "Quando Ele entrou em Jerusalém, alvoroçou-se toda a cidade, perguntando: 'Quem é Este?' A multidão respondia: 'É Jesus, o Profeta de Nazaré de Galileia.'" Mt 21,10
    O próprio Jesus havia profetizado essa rejeição, momentos antes de entrar em Jerusalém neste triunfal domingo: "Aproximando-Se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: 'Oh! Se tu, ao menos neste dia que te é dado, também conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz!... Mas não, isso está oculto a teus olhos.'" Lc 19,41-42
    Por isso, o Príncipe dos Apóstolos vai dirigir-se especificamente a eles em sua pregação no dia do Pentecostes: "Pedro, então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com forte voz lhes disse: 'Homens de Judeia e todos vós que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção a minhas palavras. Este Homem, depois de ter sido entregue segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós mataste-Lo, crucificando-O por mãos de ímpios. Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2,14.23.38
    Ora, isso também já estava previsto desde o Profeta Isaías, que disse: "Ele será a pedra de escândalo e a pedra de tropeço para as duas casas de Israel, o laço e a cilada para os habitantes de Jerusalém." Is 8,14
     E por fim, a Carta de São Paulo aos Gálatas faz recordar o que significa a crucificação segundo o Antigo Testamento, citando o Livro de Deuteronômio: "Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-Se maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (cf. Dt 21,23)." Gl 3,13


    São João Apóstolo todavia aponta uma querela sobre o Titulus Crucis, que São Mateus registrou como "um escrito" acima de Sua cabeça(cf. Mt 27,37): "Pilatos, ademais, redigiu uma inscrição e fixou-a por cima da Cruz. Nela estava escrito: 'Jesus de Nazaré, Rei dos judeus.' Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: 'Não escrevas: Rei dos judeus, mas sim: Este Homem disse ser o Rei dos judeus.' Respondeu Pilatos: 'O que escrevi, escrevi.'" Jo 19,19-22
    E narrou mais estes detalhes da Crucificação: é o mais importante capítulo da história de São Longuinho, por este evangelista tratado como um soldado, mas que seria o centurião romano encarregado da Crucificação, segundo São Marcos (cf. Mc 15,39), São Mateus (cf. Mt 27,54) e São Lucas (cf. Lc 23,47), e que reconheceu Jesus como o Filho de Deus: "Os judeus temeram que os corpos ficassem nas cruzes durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com Ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como O vissem já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu Sangue e Água." Jo 19,31-34
    Ora, isso também foi profetizado num Salmo, em que diz do Pai sobre Cristo: "Ele protege cada um de Seus ossos, nem um só deles será quebrado." Sl 33,21
    A estátua de São Longuinho, como testemunha da Crucificação e do grande sinal do Sangue e Água de Cristo, é uma das quatro, junto às de Santa Helena, Santa Verônica e Santo André, que ficam ao redor do Altar Papal na Basílica de São Pedro.


    Segundo a Sagrada Tradição, ele tinha uma grave enfermidade num dos olhos, que foi imediatamente curada por respingos do Sangue e da Água que saíram do lado de Jesus. Convertido, ele abandonou o exército romano e tornou-se evangelista em Cesareia Marítima, na região da então Samaria, e em Capadócia, que fica em atual Turquia. Aí, por seu constante e destemido testemunho, ele foi torturado, teve os dentes arrancados e a língua cortada, e assim morto, portanto reconhecido como mártir.
    A lança usada por São Longuinho, séculos mais tarde revestida com uma lâmina de ouro, é venerada em Viena, Áustria. É mais uma relíquia que prova que Jesus não foi mitificado, processo que certamente teria que levar pelo menos algumas décadas, mas foi prontamente reconhecido como o Messias, pois a este artefato desde sempre foi dado a devida importância.


    As pedras que sustentaram a Santa Cruz, assim como a lápide sobre a qual o Corpo de Cristo foi apressadamente ungido antes de ser posto no túmulo, são veneradas na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, que foi construída por ordem e sob os cuidados de Santa Helena, sobre o local de Seu sepultamento.


    Enfim, temos esse expressivo desabafo de Nosso Senhor Jesus Cristo, feito em aparição a Santa Faustina, que Ele chamou de 'Apóstola de Minha Misericórdia' (Diário, 1142): "São poucas as almas que contemplam Minha Paixão com um verdadeiro afeto. Concedo as mais abundantes Graças às almas que piedosamente meditam sobre Minha Paixão." (Diário, 737)
    Já lhe havia revelado sobre penitências: "Uma hora de reflexão sobre Minha Dolorosa Paixão tem maior mérito que um ano inteiro de flagelação até o sangue..." (Diário, 369)
    Rezemos ao Pai:

    "Pela Sua Dolorosa Paixão, tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro!"