sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O Sacramento da Confissão


    Quando se fala em penitência, a primeira ideia que vem em mente são os sacrifícios físicos, como mera punição. Mas o sentido de penitenciar-se é bem diferente: é forçar a verdadeira mudança de vida, a transformação interior, e a melhor palavra para descrever essa renovação é conversão.
    Insensatamente, tem-se renegado a mais sincera demonstração de conversão que é a Confissão, a efetiva admissão de culpa. Como poderíamos ser perdoados por Deus se não reconhecemos nossos erros? Se não admitimos exatamente em que erramos? O Eclesiástico já recomendava esse imprescindível exercício de : "Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o Mal. Para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a Verdade, pois há uma vergonha que conduz ao pecado e uma vergonha que atrai Glória e Graça. Não te mostres parcial, causando tua própria perdição, não mintas em prejuízo de tua alma. De nenhum modo contradigas a Verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância. Não te envergonhes de confessar teus pecados, não te oponhas à correnteza do rio." Eclo 4,23-26.30-31
    Esconder os pecados, segundo este sagrado autor, pode representar a própria desgraça: "Oh! Quanto melhor é admoestar que se irritar, e não impedir de falar quem quer confessar sua falta! Como é bom que o corrigido manifeste seu arrependimento! Pois assim se evita um voluntário pecado. Há quem ache sua perdição diante da Glória, e há quem levante a cabeça após uma humilhação." Eclo 20,1.4.11
    Para manter Sua Aliança com Israel, o próprio Deus exigia a confissão dos pecados, mesmo que para isso o povo tivesse que ser dizimado e levado em cativeiro: "Perecereis entre as nações e a terra inimiga consumi-vos-á. Os que sobreviverem consumir-se-ão por causa de suas iniquidades na terra de seus inimigos, e também serão consumidos por causa das iniquidades de seus pais, que levarão sobre si. Assim, eles confessarão suas iniquidades e as de seus pais, as transgressões cometidas contra Mim, porque Me resistiram. Por isso, Eu também lhes resisti e os levei à terra de seus inimigos. Se, então, humilharem seu incircunciso coração e sofrerem a pena de sua iniquidade, Eu lembrar-Me-ei de Minha Aliança com Jacó, de Minha Aliança com Isaac e com Abraão, e lembrar-Me-ei dessa terra." Lv 26,38-42
    Como divina inspiração, o livro de Números continha tal previsão contra as ofensas ao próximo e ao Senhor: "O Senhor disse a Moisés: 'Dize aos israelitas: se um homem ou uma mulher causa qualquer prejuízo a seu próximo, assim se tornando culpado de uma infidelidade para com o Senhor, ele confessará sua falta e integralmente restituirá o objeto do delito, ajuntando um quinto a mais àquele que foi lesado.'" Nm 5,5-7
    Josué, sucessor de Moisés, usou deste expediente para com aqueles que contrariaram as ordens de Deus durante batalha contra Jericó: "Os israelitas cometeram uma infidelidade a respeito do interdito. Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zara, da tribo de Judá, reteve para si algumas coisas condenadas, e a cólera do Senhor inflamou-se contra os israelitas. Josué disse-lhe: 'Meu filho, dá Glória e homenagem ao Senhor, Deus de Israel! Confessa-me o que fizeste, sem nada ocultar.'" Js 7,1.19
    Também aconteceu durante a batalha contra os filisteus, quando Jônatas violou as juras que Saul havia feito a Deus, sobre si atraindo maldição de morte, mas acabou absolvido pelo povo: "'Confessa-me o que fizeste', disse Saul a seu filho. Jônatas contou-lhe: 'Provei um pouco de mel com a ponta da vara que eu tinha na mão. Eis que vou morrer!'" 1 Sm 14,43
    E assim o povo de Israel adotou esse ritual desde a fundação do judaísmo, como foi exigido daqueles que se casavam com estrangeiras: "No vigésimo quarto dia do mesmo mês, vestidos de sacos e com a cabeça coberta de pó, os israelitas reuniram-se para um jejum. Os que eram de origem israelita estavam separados de todos estrangeiros, e apresentaram-se para confessar seus pecados e as iniquidades de seus pais." Ne 9,1-2
    Sem dúvida, como poderíamos aproximar-nos de Deus sem antes nos purificarmos? Os seguidores da tradição de São Paulo falaram dessa condição: "E dado que temos um Sumo-Sacerdote estabelecido sobre a Casa de Deus, acheguemo-nos a Ele com sincero coração, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda mácula de pecado e o corpo lavado com a purificadora Água do Batismo." Hb 10,21-22
    A palavra Sacramento vem do termo grego 'mysterion', ou seja, os Sacramentos da Igreja são mistérios. Assim, a Hóstia Consagrada, a Água do Batismo, os Santos Óleos do Batismo, da Crisma e da Extrema Unção e as Alianças do Matrimônio são partes visíveis de invisíveis eventos realizados por Deus. A Sabedoria já ensinava: "São por natureza insensatos todos que desconheceram a Deus, e através dos visíveis bens não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando Suas obras." Sb 13,1
    E o Eclesiástico também apregoa: "Jamais te glories de tuas vestes, nem te engrandeças no dia em que fores homenageado, pois só as obras do Altíssimo são admiráveis, dignas de Glória, misteriosas e invisíveis." Eclo 11,4
    A Confissão, pois, também é um Sacramento, e por isso uma celebração. Chama-se Sacramento da Penitência, da Conversão ou da Reconciliação, e também é comum ouvirmos falar em arrependimento e em contrição, mas não é difícil entender o porquê de tantos nomes, pois todo arrependimento é uma forma de contrição, e quem realmente se arrepende confessa, quem confessa já está se penitenciando, quem se penitencia quer converter-se e quem se converte reconcilia-se com Deus. São Paulo exalta essa preciosa Graça que nos é alcançada pelo Sangue de Cristo, bem como pela consequente Salvação: "Portanto, muito mais agora, que estamos justificados por Seu Sangue, por Ele seremos salvos da ira. Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,9-10
    E essa Reconciliação, tão facilmente concedida, basta querer, é mais uma prova do imenso amor que Deus nos tem. Jesus é a própria Divina Misericórdia. Ele disse a um fariseu: "Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para lavar os pés, mas esta, com suas lágrimas, regou-Me os pés e enxugou-os com seus cabelos. Não Me deste o ósculo, mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-Me os pés. Não Me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com perfume, ungiu-Me os pés. Por isso, digo-te: seus numerosos pecados foram-lhe perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas a quem pouco se perdoa, pouco ama." Lc 7,44-47


3 ATOS E A ABSOLVIÇÃO

    O Sacramento da Penitência é constituído de 3 atos do penitente e da absolvição dada pelo padre. Os atos são: o arrependimento, na intimidade da consciência, a confissão ao padre, à qual se junta a promessa de cumprir a penitência por ele estabelecida, e as obras de reparação, que é a penitência propriamente dita. Fora os Sacerdotes, pelo que foi revelado, só mesmo um anjo de alta hierarquia foi visto ministrando esse Sacramento em Nome de Deus, como aconteceu com o Profeta Isaías: "'Ai de mim', gritava eu. 'Estou perdido porque sou um homem de impuros lábios, e habito com um povo também de impuros lábios, e, entretanto, meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!' Porém, um dos serafins voou em minha direção. Na mão trazia uma viva brasa, que tinha tomado do Altar com uma tenaz. Aplicou-a em minha boca e disse: 'Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada.'" Is 6,5-7
    E tão grande é a importância da penitência que, logo ao iniciar Sua vida pública, foram essas as primeiras palavras de Jesus, e assim o primeiro Sacramento que Ele anunciou e exigiu: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Fazei penitência e crede no Evangelho." Mc 1,15
    Não só São Marcos registrou esse ensinamento, mas também foi da observação de São Mateus: "Desde então Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    E rebatendo toda soberba, Ele dedicou Sua Vinda a quem assumidamente deseja a conversão: "Não vim chamar os justos à conversão, mas sim os pecadores." Lc 5,32
    De fato, não poderia ser mais claro: "Jesus ainda lhes disse esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam, como se fossem justos, e desprezavam os outros: 'Subiram dois homens ao Templo para orar. Um era fariseu, o outro, publicano. O fariseu, em pé, em seu interior orava desta forma: 'Graças dou-Te, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros. Nem como o publicano que ali está. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos meus lucros.' O publicano, porém, mantendo-se à distância, sequer ousava levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!' Digo-vos: este voltou para casa justificado, e o outro não. Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.'" Lc 18,9-14
    E demonstrou como é sublime a Divina Misericórdia, ao colocá-la à frente de qualquer cura que se possa obter: "Eis que Lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: 'Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados.' Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: 'Este homem blasfema.' Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: 'Por que pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados são-te perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que na terra o Filho do Homem tem o poder de perdoar os pecados: Levanta-te', disse Ele ao paralítico, 'toma tua maca e volta para tua casa.' Levantou-se aquele homem e foi para sua casa. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens." Mt 9,2-8
    Contudo, também Seus milagres devem levar à conversão, como Ele sentenciou as cidades em volta do Mar da Galileia: "Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito grande número de Seus milagres, por terem-se recusado a arrepender-se: 'Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os milagres que em vosso meio foram feitos, há muito tempo elas teriam-se arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso, digo-vos: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidônia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até o Céu? Não! Serás atirada ao inferno! Porque se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro de teus muros, até este dia subsistiria. Por isso, digo-te: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!'" Mt 11,20-24
    O Sacramento da Confissão, portanto, foi declarado por Ele como principal finalidade da Nova Aliança, e exatamente no momento em que instituiu a Eucaristia, que é o Sacramento dos Sacramentos: "Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-O, partiu-O e deu-O aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é Meu Corpo.' Depois tomou o Cálice, rendeu graças e deu-lhO, dizendo: 'Bebei dele todos, porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a remissão dos pecados.'" Mt 26,26-28
    Eis que São Paulo adverte da suma importância da Confissão antes de comungar, para quem está em pecado mortal: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    São Pedro fez essa bela síntese da Missão de Jesus perante o Sinédrio, em evidência colocando a penitência: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
    Ele explicou que essa é a razão da aparente inatividade de Deus: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Assim como é a Missão da Igreja, que pelas Graças recebidas deve trazer todo povo à Confissão: "... temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo." 2 Pd 1,4
    E em perfeita coerência, o Príncipe dos Apóstolos foi o primeiro a confessar-se diante de Jesus, logo nos primeiros momentos em Sua companhia, por ocasião da pesca miraculosa: "Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: 'Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador." Lc 5,8
    De fato, Zacarias, pai de São João Batista, tinha profetizado precisamente assim o modo como Cristo realizaria a Salvação: "... para anunciar a Seu povo a Salvação, pelo perdão dos pecados." Lc 1,77
    Não por acaso, São João Batista, último Profeta e Santo Precursor de Jesus, usava do mesmo procedimento: "Dizia ele: 'Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus.'" Mt 3,2
    E assim ele apresentou Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Jo 1,29b


AS CONFISSÕES - DE SÃO JOÃO BATISTA A SÃO PAULO

    Aliás, também é da prática de São João Batista que temos registro da penitência que se realiza através da Confissão, sem a qual ele não batizava: "Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão." Mt 3,5-6
    E essa foi a essência de sua vida pública, como São Lucas atestou: "... sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a Palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias. Ele percorria toda região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados..." Lc 3,2-3
    Ele assim agia porque tinha a exata noção de importância do que ensinava. Dizia: "Fazei, pois, uma conversão realmente frutuosa..." Lc 3,8
    E bem como era de seu estilo, mostrava-se exigente, anunciando a iminência do Juízo que se efetivaria com o Evangelho de Nosso Senhor: "Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai frutos, pois, de verdadeira penitência. O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo." Mt 3,7-8.10
    Essa já era uma antiga prática do povo judeu, que antecipava a chegada à Cidade Santa para cumprir os rituais de purificação e assim poder comer a Páscoa: "Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente de todo país subia a Jerusalém antes da Páscoa para purificar-se." Jo 11,55
    Na cidade de Éfeso, por exemplo, onde São Paulo pregava e operava milagres, judeus e gregos sensibilizavam-se e iam até ele para confessar-se e abraçar a Doutrina Cristã: "Muitos dos que haviam acreditado vinham confessar e declarar suas obras." At 19,18
    Ciente da missão que Jesus lhe confiou, sua exortação era clara e contundente: "Porque é Deus que, em Cristo, Consigo reconciliava o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo rogamos-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,19-20
    E o Apóstolo dos Gentios afirmou usar dessa autoridade, bem como a ter concedido a seus seguidores em Corinto: "A quem vós perdoais, também eu perdoo. Com efeito, o que perdoei, se alguma coisa tenho perdoado, foi por amor a vós, sob o olhar de Cristo." 2 Cor 2,10
    Pedia, pois, exame do consciência também aos gálatas: "Cada um examine seu procedimento." Gl 6,4a
    Pedia sinceridade: "Examinai-vos a vós mesmos, se estais na fé. Provai-vos a vós mesmos." 2 Cor 13,5a
    Disse do bem da penitência pela Confissão: "Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas sendo julgados pelo Senhor, Ele castiga-nos para não sermos condenados com o mundo." 1 Cor 11,31-32
    Pois não cogitava dispensá-las: "Receio que, à minha chegada entre vós, Deus ainda me humilhe a vosso respeito, e tenha de chorar por muitos daqueles que pecaram e não fizeram penitência da impureza, da fornicação e da dissolução que cometeram." 2 Cor 12,21
    Mas, falando aos teimosos, também avisou de seu direito de negar o perdão, referindo-se, claro, à necessária penitência e conversão: "Quando de minha segunda visita, já adverti àqueles que pecaram, e hoje, que estou ausente, torno a repeti-lo a eles e aos demais: se eu for outra vez, não usarei de perdão!" 2 Cor 13,2
    E dizia: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo. Também estamos prontos para castigar todos desobedientes, desde que vossa obediência seja perfeita." 2 Cor 10,5-6
    Contudo, em caso de sincero arrependimento e penitência, a Igreja e todo cristão têm o dever de perdoar, como Jesus ensinou: "Se teu irmão pecar, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. Se sete vezes no dia pecar contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: 'Estou arrependido', perdoá-lhe-ás." Lc 17,3-4
    Com efeito, esse foi o primeiro Sacramento ministrado pelos Apóstolos, quando foram enviados por Jesus na jornada que inaugurava seus ministérios: "Eles partiram e pregaram a penitência." Mc 6,12
    E durante as pregações de Jesus, eles também ministravam o batismo usado por São João Batista, isto é, exigindo prévia confissão de pecados: "Em seguida, foi Jesus com Seus discípulos para os campos da Judeia e ali Se deteve com eles, e batizava. ... se bem que não era Jesus quem batizava, mas Seus discípulos..." Jo 3,22;4,2
    No mesmo sentido, ao comentar entre o povo sobre trágicas mortes de que se tinha notícia, Jesus energicamente recomendava o arrependimento: "Mas se não vos arrependerdes, todos perecereis do mesmo modo." Lc 13,3
    E dizia o que a penitência representa para os Céus: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador, que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    Quando São Pedro, inspirado por Deus Pai, declarou que Ele era o Messias, Jesus tratou de atribuir-lhe essa especial função: o poder de ligar e desligar na Terra, que também equivale a perdoar ou não os pecados: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos Céus." Mt 16,19
    Da mesma forma, quando apareceu ao colégio dos Apóstolos pela primeira vez, Jesus fez questão de ressaltar o papel que lhes cabia: "Então lhes abriu o espírito para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 'Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência a todas nações, começando por Jerusalém." Lc 24,45-47
    Segundo São João Evangelista, desde então Ele os constituiu Seus Ministros para que redimissem os pecados da humanidade. Tão urgente é essa reconciliação, pois, que Jesus a instituiu logo em Sua primeira aparição: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos." Jo 20,22-23
    Por fim, nas revelações do livro do Apocalipse, essa mesma diretriz deu Jesus à igreja de Sardes, pois essencialmente vincula o Evangelho ao arrependimento: "Lembra-te de como recebeste e ouviste a Doutrina. Observa-a e arrepende-te. Se não vigiares, a ti virei como um ladrão, e não saberás a que horas te surpreenderei." Ap 3,3
    Assim também à igreja de Éfeso: "Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei teu candelabro de seu lugar, caso não te arrependas." Ap 2,5
    São Paulo assim registrou o poder de ministrar a Penitência: "... Deus... por Cristo... confiou-nos o ministério desta Reconciliação." 2 Cor 5,18
    Defendia, pois, a seriedade dos Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores de Deus, exortamo-vos a que não recebais Sua Graça em vão." 2 Cor 6,1
    E assim contrastava o Ministério do Espírito Santo com o Antigo Testamento: "Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação!" 2 Cor 3,9
    Disse desse dom: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    Falava de santificação: "E fi-lo em virtude da Graça que me foi dada por Deus, de ser o Ministro de Jesus Cristo entre os pagãos, exercendo a sagrada função do Evangelho de Deus. E isso para que os pagãos, santificados pelo Espírito Santo, Lhe sejam uma agradável oferta." Rm 15,15b-16
    Jesus mesmo disse aos Apóstolos, garantindo a invencibilidade da Igreja: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu Nome, Ele conceda-vos." Jo 15,16
    Os Apóstolos, pois, ao receberem o Espírito Santo no Pentecostes, bem entenderam o que lhes cabia. São Pedro vai dizer em sua primeira pregação diante dos judeus: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados..." At 2,38
    Ao curar um paralítico na companhia de São João Evangelista, ele faz outro sermão aos presentes judeus, mas termina do mesmo modo, convidando-os ao arrependimento e à conversão: "Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos para serem apagados vossos pecados." At 3,19
    Um mago da Samaria, percebendo a Graça que se derramava pela Crisma, quis comprar de São Pedro o poder de impor as mãos sobre os fiéis, para também fazer descer o Espírito Santo. Mas foi severamente repreendido, e, arrependido, implorou a ele mesmo que intercedesse por seu pecado: "Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha a cair sobre mim." At 8,24
    São Paulo, já em suas primeiras pregações, tinha o mesmo foco. Ele e São Barnabé operavam muitos milagres, mas buscavam mesmo era a conversão de todo povo: "... pregamos justamente para que vos convertais das coisas vãs ao Deus vivo..." At 14,15
    E como ele disse aos atenienses no Areópago, é necessário que os povos se arrependam, pois a Vida de Jesus é o parâmetro do Juízo, e Sua Ressurreição é uma prova: "Deus, porém, não levando em conta os tempos de ignorância, agora convida a todos homens de todos lugares a arrependerem-se. Porquanto fixou o Dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo Ministério de um Homem que para isso destinou. Como garantia, a todos deu o fato de tê-Lo ressuscitado dentre os mortos." At 17,30-31
    Era exatamente isso que Jesus lhe havia pedido na aparição que o converteu, no caminho de Damasco. Ele enviou-o aos não-judeus "... para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à Luz e do poder de Satanás a Deus, para que, pela fé em Mim, recebam o perdão dos pecados..." At 26,18
    E foi isso que o Último Apóstolo disse ao rei Agripa, quando teve que explicar qual era o objetivo de suas pregações: "... para que se arrependessem e convertessem-se a Deus, com a prática de obras dignas desse arrependimento." At 26,20


A GRAÇA DO PERDÃO

    Os benefícios da Confissão, enfim, são realmente grandes Graças. Por este Sacramento, temos:
    - remissão dos pecados mortais, pois só pela Comunhão, que a Confissão possibilita, chegamos a serenidade da consciência e da alma: "... porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a remissão dos pecados." Mt 26,28
    - reconciliação com Deus: "... nós gloriamo-nos em Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem desde agora temos recebido a reconciliação!" Rm 5,11b
    - destemor: "... e libertar aqueles que, pelo medo da morte, toda vida estavam sujeitos a uma verdadeira escravidão." Hb 2,15
    - paz espiritual: "... dou-vos Minha Paz..." Jo 14,27
    - força para resistir nos combates espirituais: "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,38
    - consolação nos difíceis momentos, pois Jesus é "... a Consolação de Israel..." Lc 2,25

    É em nome de tão desejáveis bênçãos que São Tiago Menor nos recomenda essa salutar prática de piedade e humildade, e não só aos padres: "Confessai vossos pecados uns aos outros..." Tg 5,16
    Mas ele é muito claro ao indicar quais ministros podem celebrar este e os demais Sacramentos: "Chame os Sacerdotes da Igreja..." Tg 5,14
    Ora, isso já estava instituído desde o Pentateuco, no Livro de Levítico: "A expiação será feita pelo sacerdote, que foi ungido e empossado para exercer o sacerdócio..." Lv 16,32
    Desde então já estava estabelecida a confissão para pecados como falso testemunho, tocar coisa impura ou jurar, que deviam ser expiados pelo sacerdote: "Aquele, pois, que for culpado de uma dessas coisas, confessará aquilo em que faltou. Em expiação pelo pecado cometido, apresentará ao Senhor uma fêmea de seu rebanho miúdo, uma ovelha ou uma cabra em sacrifício pelo pecado, e por ele o sacerdote fará a expiação de seu pecado." Lv 5,5-6
    E São João Evangelista garante: "Se confessarmos nossos pecados, Deus está aí, fiel e justo para perdoar-nos os pecados e para purificar-nos de toda iniquidade." 1 Jo 1,9
    Porém, para tanto pede que vivamos a Comunhão da Igreja: "Se dizemos ter Comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado. Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a Verdade não está em nós." 1 Jo 1,6-8
    São Paulo diz o mesmo: "Ajudai-vos uns aos outros a carregar vossos fardos, e deste modo cumprireis a Lei de Cristo. Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo." Gl 6,2-3
    Se realmente amamos Jesus, portanto, devemos colaborar com Ele em Sua missão, arrependendo-nos, convertendo-nos e afastando-nos do pecado. Em Antioquia da Pisídia, São Paulo claramente disse em Nome de Quem age a Igreja: "Sabei, pois, irmãos, que por Jesus se vos anuncia a remissão dos pecados." At 13,38
    Pois não podemos duvidar de que Ele tenha cumprido Sua missão, como seus seguidores pregam: "Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos Céus..." Hb 1,3b
    São Paulo taxativamente afirma: "... pelo Seu Sangue temos a Redenção..." Ef 1,7
    Mas não deixava de lembrar as imprescindíveis penitências: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria." Cl 3,5
    Essa era uma antiga exortação, como o Profeta Isaías já fazia, assegurando o perdão: "Abandone o ímpio seu caminho, e o injusto homem, suas maquinações. Volte para o Senhor, que dele terá piedade. Volte para Nosso Deus, que é generoso no perdão." Is 55,7
    Magistralmente, o salmista dá nítidos detalhes da angustiante situação do inconfesso: "Enquanto me conservei calado, entre contínuos gemidos mirravam-se-me os ossos. Pois dia e noite Vossa mão pesava sobre mim, esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão. Então Vos confessei meu pecado, e não mais dissimulei minha culpa. Disse: 'Sim, vou confessar ao Senhor minha iniquidade.' E Vós perdoastes a pena de meu pecado." Sl 31,3-5
    Também aqui: "Porque minhas culpas se elevaram acima de minha cabeça, como pesado fardo me oprimem em demasia. São fétidas e purulentas as chagas que minha loucura me causou. Estou abatido, extremamente recurvado, todo o dia ando cheio de tristeza. Inteiramente inflamados estão meus rins, não há parte sã em minha carne. Sim, minha culpa eu confesso, meu pecado atormenta-me." Sl 37,5-8.19
    Mas também registra como encontrar a alegria: "Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido." Sl 31,1
    E inspiradamente atinava: "Ainda que Vosso servo neles atente, com todo cuidado guardando Teus juízos, quem pode, entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas." Sl 18,12-13
    Ora, os Provérbios atestam: "Quem dissimula suas faltas, não há de prosperar. Quem as confessa e as detesta, obtém Misericórdia." Pr 28,13
    A Confissão, pois, significa reconhecer não apenas nossas máculas, mas a indefectível Glória de Deus. Ele mesmo diz: "Quem Me oferece uma confissão, glorifica-Me, e ao íntegro homem mostrarei a Salvação de Deus." Sl 50,23
    Ora, a Vinda de Jesus deu-se como na profecia de Isaías, mas com específica notação sobre os destinatários: "Mas virá como Redentor a Sião, e aos arrependidos filhos de Jacó..." Is 59,20
    Ao fim, temos essa elucidativa recomendação de Nosso Salvador à Santa Faustina: "Minha filha, da mesma forma que te preparas em Minha presença, assim também te confessas diante de Mim; apenas oculto-Me atrás do Sacerdote. Nunca investigues como é o Sacerdote atrás do qual Eu Me ocultei, e desvenda-te na Confissão, como se fosse diante de Mim, e encherei tua alma de Minha Luz." (Diário, 1725)

    "Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!"