sábado, 20 de janeiro de 2024

São Sebastião


    Natural da milenar Narbônia, cidade portuária do Mar Mediterrâneo, atualmente terras da França, viveu entre 256 e 286. Cidadão romano, radicou-se em Milão, onde foi criado pela mãe, segundo Santo Ambrósio, que viveu no século seguinte e como ele era gaulês.
    Sua mãe era de família cristã, e batizou-o ainda criança. Nosso Santo cresceu imponente e forte, e em 283, aos 27 anos, entrou para o exército romano. Logo chegou ao cargo de oficial, dadas suas qualidades para a vida militar: força física, coragem, obediência e prudência. Porém, como fervoroso cristão e conhecedor dos preconceitos de então, a intenção de São Sebastião era demonstrar a soldados e generais, e talvez até mesmo ao imperador, a real natureza dos seguidores de Cristo, verdadeiro Deus e Salvador da humanidade.
    Muito admirado por sua dedicação e Sabedoria, em breve conquistou a estima dos nobres e também do imperador Diocleciano, além da de um amigo dele, Maximiniano, que a partir de 285 foi indicado para o cargo de co-imperador. Sem saberem que São Sebastião era cristão, indicaram-no para capitão da famosa Guarda Pretoriana, que desde o imperador Otaviano, no início do século I, deixara de ser a guarda dos oficiais das legiões romanas para servir direta e exclusivamente à segurança pessoal do imperador. Era, portanto, um valoroso soldado, de reconhecidas inteligência e habilidades, apesar de relativamente novo.
    Nesses tempos de cruéis perseguições à Igreja, tanto quanto podia usava de entranhada caridade para com os mais desafortunados, e era diligente protetor dos seguidores de Jesus. De grande inspiração, sabia usar muito bem as palavras e as oportunidades para testemunhar Jesus, convertendo expressivo número de soldados e prisioneiros, já fortemente influenciados pelas histórias de tantos mártires da Igreja. Muitos pagãos romanos definitivamente abraçaram o Catolicismo por suas pregações.
    Quando os irmãos Marcos e Marcelino foram presos por não renegarem a , a família deles pediu a Cromácio, governador de Roma, que prorrogasse a data da execução da sentença de morte, para aumentar as chances de fazê-los prestar culto aos deuses pagãos. Enquanto seus pais, mulheres e filhos pediam-lhes para abandonar a fé, São Sebastião visitava-os para que permanecessem firmes e tivessem suas intenções voltadas para a Vida Eterna.
    Com luminosas exortações e atitudes, não só conseguiu manter estes irmãos confiantes nas promessas de Cristo como reconverteu toda família e ainda batizou outros 64 presos, além do próprio governador Cromácio e seu filho Tibúrcio, em companhia de seus parentes.
    Santo Ambrósio de Milão relata que enquanto ele consolava os dois prisioneiros condenados, uma Grande Luz encheu a prisão e Jesus apareceu-lhes rodeado de sete anjos. Ele deu o beijo da Paz no rosto de São Sebastião e garantiu-lhe que sempre estaria a seu lado.
    Após se converter, Cromácio, sem nada explicar a seus superiores, pediu destituição do cargo e foi morar fora de Roma, onde libertou todos seus escravos, batizou-os e secretamente acolhia os cristãos perseguidos pelo imperador. Segundo ele, São Sebastião também deveria deixar Roma, pois as conversões que ele operava, cada vez mais numerosas, irritavam Diocleciano. Mas nosso Santo, absolutamente seguro de que tão somente cumpria a vontade de Deus, resolveu ficar e ali continuar sua missão, no centro do poder, onde São Pedro havia anunciado a Palavra e, junto a tantos mártires, testemunhando a fé, entregando sua vida em sacrifício.
    Em 286, Zoé, uma cristã amiga de São Sebastião, foi miraculosamente curada por ele após ter perdido a voz por seis anos. Mas como era muito conhecida e representava um grande sinal do poder de Deus para todo povo, pois não parava de dar testemunhos públicos, por ordem de Diocleciano foi dependurada pelos calcanhares e sufocada na fumaça de uma fogueira. Morreu, porém, sem renegar a Cristo.
    Tarquilino, pai dos irmãos Marcos e Marcelino, que também não mais conseguia parar de testemunhar a visão que teve de Cristo na aparição a São Sebastião, foi morto a flechadas depois de horas de torturas, que sofreu em pé, com os pés presos a um poste, pois igualmente se negava a prestar culto aos deuses pagãos.
    Diante de tudo isso, São Sebastião já não continha em si a flama do Espírito Santo e ostensivamente pôs-se a converter pagãos, prontificando-se a acompanhá-los em seus martírios caso fossem descobertos. Abertamente pregava nas ruas, como faziam uns poucos corajosos e anônimos cristãos, já bastante feridos por tantas crueldades ou de súbito arrebatados pela poderosa e mística força de Deus.
    Inicialmente tolerado, a quem tentavam conter como um pueril revoltado, acabou denunciado por Fabiano, novo governador de Roma, e Diocleciano ficou muito surpreso ao saber quem estava incendiando o coração dos cristãos. Visivelmente contrariado, embora se achando capaz de convencê-lo, o imperador, seguro do poder dos bens materiais mas ignorante dos bens espirituais, ofereceu-lhe uma oportunidade: deveria escolher entre o cristianismo e o cargo que exercia. Acreditava que aquele inteligente capitão apenas estaria escandalizado com tanta brutalidade, ou embevecido com aquela nova e absurda religião. Para sua surpresa, no entanto, viu-o serenamente escolher sua fé.
    E estupefato com tão bem articuladas palavras, que atestavam a desconcertante espiritualidade de um jovem, restou-lhe acusá-lo de ingratidão e traição, e que estaria ameaçando, segundo ele, suas tentativas de restauração do Império Romano, já em decadência. Segundo o livro de Santo Ambrósio, 'Passio Sancti Sebastiani', nosso Santo respondeu a Diocleciano que, ao contrário, estava prestando um inestimável serviço ao povo, revelando o verdadeiro Deus e estimulando que 'incessantemente orassem ao Soberano Árbitro e Criador do Universo', na intenção de salvar o imperador e o Império.
    Irado, o imperador virou-lhe as costas e ordenou que fosse publicamente assassinado a flechadas pelos temíveis arqueiros da Mauritânia, cooptados pelos romanos, que tinham os mais fortes arcos e flechas, de grande precisão. Amarrado ao tronco de uma árvore para que sangrasse até a morte, São Sebastião foi alvejado em 4 pontos vitais: bexiga, artéria braquial, artéria femoral e, finalmente, o coração.


    Santa Irene, viúva de São Cástulo, foi à noite com cristãos ao local da execução, imaginando dar-lhe um digno funeral, mas encontrou-o miraculosamente vivo, apesar de copioso sangramento. Levou-o como morto à sua casa e dele cuidou até que se restabelecesse. Curado, ela tentou convencê-lo a fugir, mas a atitude de São Sebastião foi exatamente oposta. Apresentou-se ao imperador e acusou-o de injustiça e crueldade, culpando-o de acelerar a social e moral decadência de Roma.
    Diocleciano estava absolutamente perplexo ao ver São Sebastião vivo e são. E ainda ouviu dele: "É possível, Senhor, que eternamente vos permita iludir pelas imposturas e calúnias que sem cessar andam inventando contra os cristãos? Sabei que os fiéis estão longe de ser inimigos do Estado, que é somente às suas orações que vós sois devedor de todas prosperidades."
    Cego de ódio, o imperador não demorou para mais uma vez condená-lo à morte, agora passando pela terrível flagelação sofrida por Jesus, com chicotes de dilacerantes pontas de chumbo, chamados flagelos, mas indefinidamente prolongada para que sangrasse e agonizasse até perder os sentidos. Dado seu vigor físico, porém, pois resistia de pé e sem gritar, Diocleciano ordenou-lhe um brutal espancamento com o uso de clavas. Com todo corpo macerado e finalmente morto, foi jogado na conhecida 'cloaca máxima', maior e mais fétida fossa dos esgotos de Roma, para que apodrecesse e fosse comido pelos vermes, e não ser venerado em túmulo.
    Nessa mesma noite, porém, Santa Luciana teve um sonho em que São Sebastião lhe informava exatamente onde estava seu corpo, e pediu para sepultá-lo nas catacumbas da Via Ápia, próximo ao Vaticano, à época apenas um monte da periferia usado com cemitério de pagãos, no qual estavam sepultados as relíquias de São Pedro e São Paulo.
    Santo Agostinho, que viveu no século seguinte, fez vários sermões em sua homenagem. Com justiça, ele é considerado o terceiro padroeiro de Roma, após São Pedro e São Paulo. Nos primeiros séculos, a Igreja frequentemente invocava-o junto a São Jorge, em combate aos violentos inimigos da fé.
    Em 680 suas relíquias foram levadas para a Basílica de São Paulo Fora-dos-Muros, que é do século IV, construída pelo imperador Constantino. Neste ano, Roma estava sendo assolada por uma peste, mas a epidemia logo cedeu após a procissão que trasladou seus restos mortais.
    Também em Milão, em 1575, e Lisboa, em 1599, epidemias foram debeladas após procissões realizadas em sua devoção, e por isso tornou-se o protetor contra pestes.
    No Brasil, no ano de 1565, a expulsão dos franceses que haviam invadido o Rio de Janeiro foi alcançada por sua intercessão, exatamente na data de seu martírio, quando dele fizeram o Padroeiro da cidade.
    O nome Sebastos, em grego, significa divino, o mesmo que Augusto em latim.


    A Basílica de São Sebastião Fora-dos-Muros, também construída no século IV, era uma das sete igrejas do Jubileu. Nela estão uma das flechas que atingiu nosso Santo, e parte do pelourinho ao qual esteve amarrado quando sofreu seu martírio.


    A parte superior de seu crânio é venerada na igreja do convento beneditino da cidade Ebersberg, no sul da Alemanha, que é do século X e foi construída em sua homenagem.


    São Sebastião, rogai por nós!