quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

O Tempo de Deus


    O tempo é apenas mais uma das criações de Deus. Ele também é Senhor do tempo, portanto, podendo alongá-lo ou encurtá-lo a bem de Seus planos, como São Pedro diz: "... um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia." 2 Pd 3,8
    O salmista já o havia percebido: "... porque mil anos, diante de Vós, são como o dia de ontem que já passou, como uma só vigília da noite." Sl 89,4
    De fato, São Paulo vai dizer de nossos tempos: "Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado." 1 Cor 7,29a
    Profeta Daniel também disse: "É Ele Quem faz mudar os tempos e as circunstâncias..." Dn 2,21
    Ora, desde o início da Revelação, Ele sempre inspirou a humanidade quanto à Sua atemporal condição: "Abraão plantou um tamariz em Bersabeia e ali invocou o Nome do Senhor, Deus da eternidade." Gn 21,33
    Por isso, canta o Livro dos Salmos: "Antes que se formassem as montanhas, a Terra e o universo, desde toda eternidade Vós sois Deus." Sl 89,2
    E São Paulo fala de 'um tempo' em que o tempo nem existia: "Pregamos a Sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para nossa Glória." 1 Cor 2,7
    Assim Deus é o Senhor da História, e, por Sua vontade, nela entra e ativamente participa por amor aos Seus filhos. Foi o que Ele manifestou ao rei Ezequias, através do Profeta Isaías: "Ignoras que desde o princípio preparei o que acontecerá? Desde remotos tempos decidi o que agora realizarei..." 2 Rs 19,25
    Para entender Seus desígnios, então, os homens de Deus sempre foram estudiosos dos tempos, e por isso eram consultados por reis e rainhas, como Vasti fez, nos anos da rainha Ester: "Consultou os sábios versados na ciência dos tempos." Es 1,13
    De fato, toda obra de Deus, inclusive o tempo, é um convite para que o ser humano O conheça e O ame, como São Paulo ensinou em Atenas, no Areópago: "Ele fez nascer de um só homem todo gênero humano, para que habitasse sobre toda face da Terra. Aos povos fixou os tempos e os limites de sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e esforcem-se por encontrá-Lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós. Porque é n'Ele que temos a vida, o movimento e o ser..." At 17,26-28a
    Mas como a humanidade não tinha plena maturidade para percebê-Lo, Ele foi revelando-Se aos poucos, por Sua pura bondade. Foi o que pregou o Último Apóstolo na cidade de Icônio: "Em tempos passados, Ele permitiu que todas nações seguissem seus próprios caminhos. Contudo, nunca deixou de dar testemunho de Si mesmo, por Seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os férteis tempos, concedendo abundante alimento e enchendo vossos corações de alegria." At 14,16-17
    Ou seja, Ele sempre usou de muita paciência para com nossos pecados: "Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, agora a todos homens de todos lugares convida a arrependerem-se." At 17,30
    O Livro do Eclesiástico registrou: "A duração da vida humana é quando muito cem anos. No Dia da eternidade, esses breves anos serão contados como uma gota de água do mar, como um grão de areia. É por isso que o Senhor é paciente com os homens, e sobre eles espalha Sua Misericórdia." Eclo 18,8-9
    Ele até concede Graças aparentemente aleatórias, como fazia no tanque chamado Betesda, junto à Porta das ovelhas, em Jerusalém. São João Evangelista explicou: "Pois de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque, e a água punha-se em movimento. E o primeiro que entrasse no tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse." Jo 5,4
    Em tudo, porém, Deus deixa marcas de Seu poder. Diz São Paulo sobre os não judeus: "Desde a Criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,20
    Mas seja pelo momento de nossa morte seja pelo fim dos tempos, Ele também predeterminou o Dia do Juízo, assim como a Ressurreição da carne no Último Dia: "Porquanto fixou o Dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo Ministério de um Homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-Lo ressuscitado dentre os mortos." At 17,31
    Pois por Seus Profetas nos fez perceber que os fatos sempre estão sob Seu absoluto controle, como foi revelado através de Isaías: "Por uma poderosa inspiração, ele viu o fim dos tempos e consolou aqueles que choravam em Sião. Ele anunciou o futuro até o fim dos tempos, assim como as coisas ocultas antes que se cumprissem." Eclo 48,27-28
    Aliás, o Pai sempre Se manteve em íntimo contato com Seu povo, em especial na Vinda de Seu Filho, que os seguidores de São Paulo acertadamente designam como os últimos tempos: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus a nossos pais pelos Profetas. Agora, nestes tempos que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a Quem constituiu herdeiro de todas coisas, pelo Qual fez os séculos." Hb 1,1-2
    São Pedro também apontou este período de preparação dos Profetas: "Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,12
    Até a Manifestação do Cristo, porém, Deus pedia paciência a Seu povo, como respondeu ao Profeta Habacuc: "'Até quando, Senhor, implorarei sem que escuteis? Até quando Vos clamarei: 'Violência!', sem que venhais em socorro? Por que me mostrais o espetáculo da iniquidade, e Vós mesmo contemplais essa desgraça? Só vejo diante de mim opressão e violência, nada mais que discórdias e contendas.' E o Senhor assim me respondeu: 'Escreve esta visão, grava-a em tabuinhas, para que ela possa ser facilmente lida. Porque ainda há uma visão para um termo fixado, ela rapidamente aproxima-se de seu termo e não falhará. Mas, se tardar, espera-a, porque com toda certeza ela se realizará, e não falhará. Eis que sucumbe aquele que não tem íntegra alma, mas o justo vive da .'" Hab 1,2-3;2,2-4


O TEMPO DO FILHO

    Jesus, como Deus, também agiu em Seu específico tempo, embora tenha sido 'precipitado' por Sua mãe, Maria Santíssima, para realizar Seu primeiro grande milagre em público. Ele até chegou a argumentar, mas terminou obedecendo-lhe: "Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-Lhe: 'Eles já não têm vinho.' Respondeu-lhe Jesus: 'Que queres de Mim, mulher? Minha hora ainda não chegou.'" Jo 2,3-4
    Assim, Sua Paixão não Lhe era uma surpresa: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara Sua hora de passar deste mundo para o Pai..." Jo 13,1a
    Desde Suas primeiras pregações, pois, Nosso Senhor advertia do cumprimento dos tempos, e dizia que todos devem preparar-se para o encontro com Deus: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo! Fazei penitência e crede no Evangelho!" Mc 1,15
    Pois com o amadurecimento do povo de Deus, por obra do Antigo Testamento, Deus manifestou-Se na Pessoa de Jesus, assumindo a condição humana com todas suas limitações para mais claramente mostrar-nos o Caminho para o Céu. São Paulo diz: "Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei..." Gl 4,4
    E além de submisso a uma lei, enquanto humano Ele também teve que aprender a aceitar os desígnios e o tempo de Deus: "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,8
    Aliás, como fez desde Sua infância, enquanto crescia sob os cuidados de Nossa Senhora e São José: "E Jesus crescia em estatura, em Sabedoria e Graça, diante de Deus e dos homens." Lc 2,52
    Os desígnios de Deus, no entanto, às vezes são difíceis de suportar, como Jesus bem demonstrou no Jardim das Oliveiras ante a proximidade de Sua morte: "Aba! (Pai!). Tudo Te é possível. Afasta de Mim este cálice! Não se faça, porém, o que Eu quero, mas o que Tu queres." Mc 14,36
    Ou mais especificamente em Sua Paixão, sob extrema crueldade, quando Ele experimentou as profundezas da condição humana na desolação: "Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste? (Sl 21,2)" Mc 15,34
    Era a vontade de Deus, como haviam previsto os Profetas, que pela memória do sacrifício de Cristo a humanidade fosse redimida, e que Sua Epifania sinalizasse o início dos tempos finais. São Pedro diz: "Porque vós sabeis que não é por perecíveis bens, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, Aquele que foi predestinado antes da Criação do mundo, e que nos últimos tempos por amor a vós foi manifestado." 1 Pd 1,19-20
    Assim também com a mais evidente manifestação do inimigo, como São João Evangelista adverte: "Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora." 1 Jo 2,18
    E mesmo entre aparentes contrassensos, sabemos que em Jesus está a síntese de toda obra de Deus, como São Paulo escreveu aos colossenses: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação. N'Ele foram criadas todas coisas nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis criaturas: tronos, dominações, principados, potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de todas coisas, e n'Ele todas coisas subsistem." Cl 1,15-17
    Na noite anterior à Sua Crucificação, Ele mesmo afirmou-o: "Agora, pois, Pai, glorifica-Me junto a Ti, concedendo-Me a Glória que tive junto a Ti antes que o mundo fosse criado." Jo 17,5
    E quando confrontado com Abraão pelos judeus de Jerusalém, "Respondeu-lhes Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: antes que Abraão existisse, EU SOU." Jo 8,58
    Por isso, n'Ele contemplamos o que se pode compreender dos planos de Deus, certos de que só por Seu Sangue nos reconciliamos com o Pai: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos, desígnio de reunir em Cristo todas coisas, as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10
    Pois estamos diante do chamado Mistério de Cristo, como São Paulo diz: "... coube-me a Graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o salvador desígnio de Deus, mistério oculto desde a eternidade..." Ef 3,8-9
    A partir d'Ele, portanto, os tempos foram divididos. O Julgamento, que é Sua Palavra, já foi proferido. Ou aderimos ao Seu projeto de amor, ou nos perdemos, pois assim rezam os Anciãos diante do Trono, conforme a visão que São João Evangelista registrou no Livro do Apocalipse: "Damo-Te Graças, Senhor, Deus Onipotente, que és e que eras, porque assumiste a plenitude de Teu real poder." Ap 11,17
    Dos contemporâneos de Sua Encarnação, de fato, Jesus cobrou atenção para com os tempos que se vivia: "Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?" Mt 16,4
    E se Deus Se resguardara até então, Seus Apóstolos já não teriam mais porque vacilar. Jesus sentenciou: "Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo Profeta Isaías: 'Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração deste povo se endureceu. Taparam seus ouvidos e fecharam seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda. E convertam-se, e assim Eu cure-os (Is 6,9s)'. Mas quanto a vós, bem-aventurados vossos olhos porque vêem! Ditosos vossos ouvidos porque ouvem! Eu declaro-vos, em Verdade: muitos Profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram." Mt 13,14-17
    Por fim, e em pleno cumprimento de Sua Missão, Ele desceu à mansão dos mortos e de lá retirou Seu povo, que O havia precedido: "Irritaram-se os pagãos, mas eis que sobreveio Tua ira e o tempo de julgar os mortos, de dar a recompensa a Teus servos: aos Profetas, aos Santos, aos que temem Teu Nome..." Ap 11,18
    Ao falar dos que persistem no pecado, São Pedro explicou: "Eles darão conta Àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. Pois para isto o Evangelho também foi pregado aos mortos, para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam segundo Deus quanto ao espírito." 1 Pd 4,5-6
    E assim muitos ressuscitaram com Ele, como São Mateus atestou: "Os sepulcros abriram-se e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da Ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas." Mt 27,52-53
    Não por acaso, com a chegada de Jesus aos Céus deu-se uma grande celebração por sua inconteste vitória contra Satanás. São João Evangelista registrou: "Eu ouvi no Céu uma forte voz que dizia: 'Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia-e-noite os acusava diante do Nosso Deus.'" Ap 12,10
    E como prometido, dos Céus Ele voltará, no dia da Recriação dos Cosmos. É o que ensina São Pedro, após curar um aleijado no Templo de Jerusalém: "Virão, assim, da parte do Senhor os tempos de refrigério, e Ele enviará Aquele que vos é destinado: Cristo Jesus. É necessário, porém, que o Céu O receba até os tempos da restauração universal, da qual outrora falou Deus pela boca de Seus santos Profetas." At 3,20-21
    Mas quanto ao cumprimento dos tempos finais, não nos foi dado saber nenhum detalhe, como disse o próprio Jesus aos Apóstolos, pouco antes de Sua Ascensão aos Céus: "Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em Seu poder..." Ap 1,7
    Em São Marcos, aliás, Ele inclui até a Si mesmo: "Passarão o céu e a Terra, mas Minhas palavras não passarão. A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do Céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai." Mc 13,31-32
    Mas São Paulo, das revelações pessoais que teve, deixou um detalhe em carta aos tessalonicenses: "A respeito da época e do momento, não há necessidade, irmãos, de que vos escrevamos. Pois vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como um ladrão de noite. Quando os homens disserem: 'Paz e segurança!', então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher grávida. E não escaparão!" 1 Ts 5,1-3


OS ÚLTIMOS TEMPOS: TEMPOS DO ESPÍRITO SANTO, DA IGREJA OU DOS SACRAMENTOS

    Até lá, porém, não ficamos sem a Divina Luz. Para os tempos que Lhe sucederiam, Jesus garantiu à Sua Igreja a permanente presença do Espírito Santo através dos séculos: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    D'Ele nós temos a inspiração e a orientação, ainda segundo Jesus: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu e anunciá-vos-á." Jo 16,13-14
    São Paulo fala, portanto, do glorioso Ministério do Espírito Santo, iniciado com o nascimento da Igreja, isto é, no Pentecostes: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito?" 2 Cor 3,7-8
    Ele claramente distingue os dois Testamentos: "Porém, se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a Lei." Gl 5,18
    E São João Evangelista, referindo-se ao Sacramento da Crisma, explica: "Vós, porém, tendes a Unção do Santo e sabeis todas coisas. Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se em vós permanecer o que ouvistes desde o princípio, também permanecereis vós no Filho e no Pai. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como Sua unção vos ensina todas coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei n'Ele, como ela vos ensinou." 1 Jo 2,20.24.27b
    Desde a Manifestação do Cristo, então, e após tantos castigos acontecidos às gerações que Lhe antecederam, mas não só a elas, o Apóstolo dos Gentios reafirma que vivemos os últimos tempos: "Todas estas desgraças aconteceram-lhes para nosso exemplo, foram escritas para nossa advertência, para nós a quem toca o final dos tempos." 1 Cor 10,11
    Pois a Igreja, enquanto Casa do Senhor, já se firmou, e como depositária do Evangelho leva a Salvação às nações. Isaías profetizou: "No fim dos tempos, acontecerá que o monte da Casa do Senhor estará colocado à frente das montanhas, e dominará as colinas. A ele acorrerão todas gentes, e os povos virão em multidão: 'Vinde', dirão eles, 'subamos à montanha do Senhor, à Casa do Deus de Jacó! Ele ensiná-nos-á Seus Caminhos, e nós trilharemos Suas veredas.'" Is 2,2-3a
    São Pedro, entretanto, lembra que o privilégio de receber a inteira mensagem da Salvação nos enche de responsabilidade: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo, assim como as Glórias que deviam segui-los. Cingi, portanto, os rins de vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na Graça que vos será dada no Dia em que Jesus Cristo aparecer." 1 Pd 1,10-11.13
    Por isso, ele faz uma revelação e pergunta-se: "Porque vem o momento em que pela Casa de Deus se começará o Julgamento. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus? E se o justo se salva com dificuldade, que será do ímpio e do pecador?" 1 Pd 4,17-18
    De fato, Jesus mesmo avisou: "Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, mais dele há de exigir-se." Lc 12,48b
    De toda forma, nós também ainda gozamos da paciência de Deus, como São Paulo argumenta na Carta aos Romanos: "Ou será que desprezas as riquezas de Sua bondade, de Sua tolerância, de Sua paciência, não entendendo que a bondade de Deus te convida à conversão?" Rm 2,4
    Sem dúvida, só através de Seu Filho temos a plena Redenção dos pecados: "Deus destinou-O para ser, pelo Seu Sangue, vítima de propiciação mediante a fé. Assim Ele manifesta Sua justiça; porque no tempo de Sua paciência Ele havia deixado sem castigo os pecados anteriores." Rm 3,25
    São Pedro, pois, vê o amor de Deus no vagar do tempo dessa espera: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco. Ele não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Convicto, ele determina a todos fiéis: "Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte em oportuno tempo. Vós sabeis que vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. O Deus de toda Graça, que vos chamou em Cristo à Sua eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,6.9b-10
    Contudo, fomos mesmo avisados por São Paulo de que espiritualmente viveríamos difíceis tempos, quando muitos abandonam a Igreja por causa da proliferação de falsas e tenebrosas doutrinas: "O Espírito expressamente diz que, nos vindouros tempos, alguns hão de apostatar da fé dando ouvidos a embusteiros espíritos e a diabólicas doutrinas, de hipócritas e impostores, marcados na própria consciência com o ferrete da infâmia..." 1 Tm 4,1-2
    E assim se dá apesar do reinado dos Santos junto ao Cristo já em ação, que durará um perfeito período, como São João Evangelista atesta: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e todos aqueles que não tinham adorado a Fera ou sua imagem, que não tinham recebido seu sinal na fronte nem nas mãos. Eles viveram uma Nova Vida e com Cristo reinaram por mil anos. Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo: com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,4.6
    São verdadeiramente inglórios tempos, por força dos poderes que a 'besta' recebe de Satanás, durante os quais à Igreja só restará reagir pela oração: "Também lhe foi dado fazer guerra aos Santos e vencê-los. Recebeu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação, e hão de adorá-la todos habitantes da Terra cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da Vida, do Cordeiro Imolado. Quem tiver ouvidos, ouça! Quem procura prender, será preso. Quem matar pela espada, pela espada deve ser morto. Esta é a ocasião para a constância e a confiança dos Santos!" Ap 13,7-10
    Pois mesmo diante de verdadeiras chacinas, nem a intercessão dos Santos no Céu, diante do Trono de Deus, será prontamente atendida: "Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do Altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: 'Até quando Tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar nosso sangue contra os habitantes da Terra?' Então foi dada a cada um deles uma branca veste, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam para ser mortos com eles." Ap 6,9-11
    Segundo o 'Homem vestido de linho', como viu o Profeta Daniel, será: "... no momento em que a força do povo santo for inteiramente esmagada, que todas estas coisas se cumprirão." Dn 12,7b
    Ele acrescenta: "Os ímpios agirão com perversidade, mas nenhum deles compreenderá, enquanto que os sábios compreenderão." Dn 12,10b
    O Arcanjo Gabriel explicou a este Profeta: "'Eis', disse, 'vou revelar-te o que acontecerá nos últimos tempos da cólera, porque isso diz respeito ao tempo final. No fim do reinado deles, quando estiver cheia a medida dos infiéis, um rei surgirá, cheio de crueldade e fingimento. Seu poder aumentará, nunca porém por si mesmo. Fará monstruosas devastações, terá êxito em suas empresas, exterminará os poderosos e o povo dos Santos. Graças à sua habilidade, fará triunfar sua perfídia, seu coração inchar-se-á de orgulho. Mandará matar muita gente que não espera por isso, levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes, mas será aniquilado sem a intervenção de mão humana.'" Dn 8,19.23-25
    O próprio Jesus avisou de tempos de total impotência por parte da Igreja: "Enquanto for dia, cumpre-Me terminar as obras d'Aquele que Me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar." Jo 9,4
    Falou inclusive de claros sinais que se verão por todo Cosmo, pouco antes de Sua Volta: "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na Terra, a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda Terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande Glória e majestade. Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai vossas cabeças, porque se aproxima vossa libertação." Mt 21,25-28
    Ainda segundo Ele, a situação da Cidade Santa servirá de sinal: "... Jerusalém será pisada pelos pagãos, até completarem-se os tempos das pagãs nações." Lc 21,24b
    Nas revelações a São João Evangelista, contudo, fala-se apenas do lado de fora do Templo, talvez uma alusão à proteção de que usufrui a Igreja, quando nos foi comunicado um tempo meramente simbólico: "Foi-me dada uma vara semelhante a uma vara de agrimensor, e disseram-me: 'Levanta-te! Mede o Templo de Deus e o Altar com Seus adoradores. O átrio fora do Templo, porém, deixa-o de lado e não o meças: foi dado aos gentios, que hão de calcar aos pés a Cidade Santa por quarenta e dois meses.'" Ap 11,1-2
    O fim desses tempos também foi previsto através do Profeta Joel, quando Deus prometeu: "Sabereis, então, que Eu sou o Senhor, Vosso Deus, que habita em Sião, Minha Santa Montanha. Jerusalém será um lugar sagrado, onde os estrangeiros não mais tornarão a passar." Jl 4,17
    São Paulo, por sua vez, fala de uma época em que a fé quase desaparecerá, confirmando a constância e resiliência do pequeno resto: "No que diz respeito à Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com Ele, rogamo-vos, irmãos, não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós, e que vos afirmassem estar iminente o Dia do Senhor. Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no Templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus." 2 Ts 2,1-4
    E deu estes detalhes: "Agora, sabeis perfeitamente que algo o detém, de modo que ele só se manifestará a seu tempo. Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o afastamento daquele que o detém. A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda sorte de enganadores portentos, sinais e prodígios. Ele usará de todas seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à Verdade que teria podido salvá-los. Por isso, Deus enviá-lhes-á um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro." 2 Ts 2,6-7.9-11
    O próprio Jesus aludiu à apostasia numa pergunta: "Mas quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a Terra?" Lc 18,8b
    E Ele mesmo respondeu: "E ante o crescente progresso da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo." Mt 24,12-13
    De fato, o pequeno resto, que persevera e representa a Igreja, chegará a perfeita santidade, como São Paulo previu: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo que será tudo em todos." Cl 3,11
    É então que se dará a final batalha: "Depois de completarem-se mil anos, Satanás será solto da prisão. Sairá dela para seduzir as nações dos quatro cantos da Terra, de Gog e Magog, e reuni-las para o combate. Serão numerosas como a areia do mar. Subiram à superfície da Terra e cercaram o acampamento dos Santos e a Cidade Querida." Ap 20,7-9a
    Mas, com a garantia do Divino Paráclito, devemos aguardar pela finalização da obra da Salvação, que pertence exclusivamente a Deus: "N'Ele (Cristo) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa Redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor de Sua Glória." Ef 1,13-14
    Pois mesmo estando em minoria, aí se terá a mesma situação em que o Espírito de Deus inspirou a Jaziel, quando moabitas e amonitas se reuniram contra os israelitas: "'Prestai atenção', disse ele, 'homens de Judá e de Jerusalém, e tu, rei Josafá! Eis o que vos diz o Senhor: Não temais! Não vos deixeis atemorizar diante dessa imensa multidão, pois essa guerra não compete a vós, mas a Deus.'" 2 Cro 20,15
    A Vitória de Cristo, portanto, é mais que certa. São João Evangelista registrou: "Eu vi a Fera e os reis da Terra com seus exércitos, reunidos para fazer guerra ao Cavaleiro e Seu Exército. Mas a Fera foi presa, e com ela o falso profeta que realizara prodígios sob seu controle, com os quais seduzira aqueles que tinham recebido o sinal da Fera e se tinham prostrado diante de sua imagem. Ambos foram lançados vivos no sulfuroso lago de fogo. Os demais foram mortos pelo Cavaleiro, com a espada que Lhe saía da boca." Ap 19,19-21a
    A revelação feita a São Paulo foi mais sucinta: "Então o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor Jesus destruí-lo-á com o sopro de Sua boca, e aniquilá-lo-á com o resplendor da Sua Vinda." 2 Ts 2,8
    Ele complementa: "E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,28


A VIDA ETERNA

    Assim como Deus, a alma, Sua mais bela criação, também é eterna. Isso se dá quer sejamos bons ou maus, pois, o projeto de Deus, que é inviolável, consiste em conduzir-nos, através da Ressurreição, ou seja, em corpo e alma, à eternidade. Uns, porém, para a condenação eterna, e outros para Sua Eterna Glória, como foi revelado desde o Profeta Daniel: "Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns para uma Vida Eterna, outros para a ignomínia, a eterna infâmia." Dn 12,2
    O próprio Jesus, falando de Si, afirmou: "Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos que se acham nos sepulcros deles sairão ao som de Sua voz: os que praticaram o bem irão para a Ressurreição da Vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados." Jo 5,28-29
    O Segundo Livro de Macabeus também registra essa promessa: "... o Rei do universo ressuscitá-nos-á para a Vida Eterna, se morrermos por fidelidade às Suas leis." 2 Mc 7,9b
    Ora, Nosso Salvador disse em revelação a São João Evangelista: "Eis que em breve venho, e Minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim." Ap 22,12-13
    E no Livro de Tobias, São Rafael Arcanjo já afirmava que a caridade pode levar-nos à eternidade: "... porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a Misericórdia e a Vida Eterna..." Tb 12,9
    Esta também era uma das recomendações de São Pedro, citando o Livro dos Provérbios, seja por conta do Juízo Particular ou do Juízo Final: "O fim de todas coisas está próximo. Sede, portanto, prudentes e vigiai na oração. Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12)." 1 Pd 4,7-8
    Na Carta a São Tito, enfim, São Paulo diz que a eternidade era uma antiga promessa: "... esperança da Vida Eterna, prometida em longínquos tempos por Deus veraz e fiel..." Tt 1,2
    De fato, como menciona o Deuteronômio, há muitos séculos que Ele tem sido o verdadeiro refúgio de Seus filhos: "... o Deus dos antigos tempos que é Teu refúgio, e Teu apoio Seus eternos braços..." Dt 33,27

A VIDA TERRENA

    Em sua visão nem sempre tão esperançosa, pois ainda não era bem conhecida a doutrina de Ressurreição, o Eclesiastes lista algumas situações às quais estamos expostos. Ela vale, contudo, além de atestar os misteriosos desígnios de Deus, para que se contemple a alternância dos momentos de uma vida, mas jamais como licença para se abuse do livre arbítrio:

"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus:
tempo para nascer, e tempo para morrer;
tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado;
tempo para matar, e tempo para sarar;
tempo para demolir, e tempo para construir;
tempo para chorar, e tempo para rir;
tempo para gemer, e tempo para dançar;
tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las;
tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se.

Tempo para procurar, e tempo para perder;
tempo para guardar, e tempo para jogar fora;
tempo para rasgar, e tempo para costurar;
tempo para calar, e tempo para falar;
tempo para amar, e tempo para odiar;
tempo para a guerra, e tempo para a paz." Ecl 3,1-8

    Com efeito, citando os grandes evangelizadores de Corinto até então, entre os quais se inclui, São Paulo diz: "Tudo é vosso: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente e o futuro. Tudo é vosso! Mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus." 1 Cor 13,21b-23

    "Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"