domingo, 24 de março de 2024

O Domingo de Ramos


    A última chegada de Jesus a Jerusalém ficou conhecida como o Domingo de Ramos, pela saudação que Ele recebeu de peregrinos na estrada, na entrada da cidade e pelas ruas. São Mateus assim narrou:

    "Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:
    - Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles condená-Lo-ão à morte e entregá-Lo-ão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado. Mas ao terceiro dia ressuscitará.
    Ao sair de Jericó, uma grande multidão seguiu-O.
    Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar:
    - Senhor, Filho de Davi, tem Misericórdia de nós!
    A multidão, porém, repreendia-os para que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais forte:
    - Senhor, Filho de Davi, tem Misericórdia de nós!
    Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes:
    - Que quereis que Eu vos faça?
    - Senhor, que nossos olhos se abram!
    Jesus, cheio de compaixão, tocou-lhes os olhos. Instantaneamente recobraram a vista e puseram-se a segui-Lo.
    Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto do Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de Seus discípulos, dizendo-lhes:
    - Ide à aldeia que está à frente. Logo encontrareis uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e trazei-Mos. Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o Senhor necessita deles e que sem demora Ele os devolverá.
    Assim se cumpria, neste acontecimento, o oráculo do Profeta: "Dizei à filha de Sião: 'Eis que Teu Rei vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho de um animal de carga.'" (Zc 9,9)
    Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-nO montar. Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava ramos de árvores e espalhava-os pela estrada. E toda aquela multidão, que O precedia e que O seguia, clamava:
    - Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja Aquele que vem em Nome do Senhor! Hosana no mais alto dos Céus!
    Quando Ele entrou em Jerusalém, toda cidade alvoroçou-se, perguntando:
    - Quem é Este?
    A multidão respondia:
    - É Jesus, o Profeta de Nazaré da Galileia."
                                  Mt 20,17-19.29-34;21,1-11


    Nos registros de São Marcos, em diferencial, essa multidão expressamente aclamou a chegada do Reino dos Céus, o que teria contrariado ainda mais a Herodes: 

    "Tanto os que precediam como os que iam atrás clamavam:
    - Hosana! Bendito Aquele que vem em Nome do Senhor! O Bendito o Reino que vai começar, o Reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos Céus!'"
                                              Mc 11,9-10

    Ainda conforme este evangelista, após essa triunfal entrada Jesus não teria pernoitado em Jerusalém, nem se recolheu no Monte das Oliveiras, como era de Seu costume, mas retornou para um vilarejo próximo. Contudo, logo teria tratado de 'inspecionar' o Templo: "Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-Se ao Templo. Aí lançou olhos a tudo. Depois, como já fosse tarde, voltou para Betânia com os Doze." Mc 11,11
    E só na seguinte manhã Ele expulsaria os vendilhões do Templo, tornando a retirar-Se ao cair da tarde:

    "Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no Templo. E começou a expulsar aqueles que no Templo vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos trocadores de moedas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não consentia que ninguém transportasse objeto algum pelo Templo. E ensinava-lhes nestes termos:
    - Porventura não está escrito: 'Minha Casa chamar-se-á Casa de Oração para todas nações (Is 56,7)'? Mas dela vós fizestes um 'covil de ladrões (Jr 7,11).'
    Os príncipes dos sacerdotes e os escribas ouviram-nO e procuravam um modo de matá-Lo. Realmente temiam-nO, porque todo povo se admirava da Sua Doutrina. Quando já era tarde, saíram da cidade." 
                                              Mc 11,15-19

    A narrativa de São Mateus, porém, em conformidade com a de São Lucas, dá a entender que a expulsão teria acontecido no próprio Domingo de Ramos, quando Ele seria louvado pelas crianças, cumprindo mais uma profecia:

    "Jesus entrou no Templo e dali expulsou todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas, e disse-lhes:
    - Está escrito: Minha Casa chamar-se-á Casa de Oração (Is 56,7), mas dela vós fizestes um covil de ladrões (Jr 7,11)!'
    Os cegos e os coxos vieram a Ele no Templo e Ele curou-os, com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a Seus milagres e ouviam os meninos gritar no Templo:
    - Hosana ao Filho de Davi!
    Disseram-Lhe eles:
    - Ouves o que dizem eles?
    Respondeu-lhes jesus:
    - Perfeitamente. Nunca lestes estas palavras: 'Da boca de meninos e de crianças de peito tirastes Vosso louvor (Sl 8,3)'?" 
    Depois os deixou e saiu da cidade para hospedar-Se em Betânia.
                                              Mt 21,12-17

    Segundo São João Evangelista, Jesus havia sido ungido com o caro perfume no dia anterior ao Domingo de Ramos, quando citou uma triste profecia sobre os pobres:

    "Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele ressuscitara. Ali deram uma ceia em Sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de puro nardo, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo.
    Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, aquele que havia de traí-Lo, disse:
    - Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu o dinheiro aos pobres?
    Dizia isso não porque se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam. Jesus disse:
    - Deixai-a! Ela guardou este perfume para o dia da Minha sepultura. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas nem sempre tereis a Mim.
    Uma grande multidão de judeus veio a saber que Jesus lá estava. E chegou, não somente por causa de Jesus, mas ainda para ver Lázaro, que Ele ressuscitara."
                                              Jo 12,1-9

    E no Evangelho de São Lucas, antes de começarem a descer o Monte das Oliveiras para entrar na Cidade Santa, deu-se outro marcante episódio: a profecia da destruição de Jerusalém:

    "Aproximando-Se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo:
    - Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz!... Mas não. Isso está oculto a teus olhos. Sobre ti virão dias em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te atacarão por todos lados. Destruí-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e em ti não deixarão pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada."
                                              Lc 19,41-44

    Ainda conforme São João Evangelista, também participaram desta acolhida judeus peregrinos que já estavam na cidade para celebrar a Páscoa, certamente das regiões por onde Ele havia pregado: 

   "No dia seguinte, uma grande multidão que tinha vindo à festa em Jerusalém ouviu dizer que Jesus ia aproximando-Se. Saíram-Lhe ao encontro com ramos de palmas, exclamando:
    - Hosana! Bendito O que vem em Nome do Senhor, o Rei de Israel!"
                                              Jo 12,12-13

    São Lucas registra que havia até fariseus, nem sempre opositores de Jesus (cf. Lc 13,31), entre os que chegavam a Jerusalém. E Ele vai adverti-los de outra profecia:

    "Quando já ia aproximando-Se da descida do Monte das Oliveiras, toda multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas maravilhas que tinha visto. E dizia:
    - Bendito o Rei, que vem em Nome do Senhor! Paz no Céu e Glória no mais alto dos Céus
    Neste momento, alguns fariseus interpelaram a Jesus em meio à multidão:
    - Mestre, repreende Teus discípulos.
    Ele respondeu:
    - Digo-vos: se estes se calarem, as pedras clamarão (Hab 2,11)!'"
                                              Lc 19,37-40

    E não só peregrinos, como o Amado Discípulo atesta, mas muitos judeus de Jerusalém juntaram-se a esse cortejo, pois testemunharam a ressurreição de São Lázaro e por isso acreditavam em Jesus:        
    "Todos, pois, que se achavam com Ele quando chamara Lázaro do sepulcro e ressuscitara-o, aclamavam-nO. Por isso, o povo saía-Lhe ao encontro, porque tinha ouvido que Jesus fizera aquele milagre. Mas os fariseus disseram entre si:
    - Vede! Nada adiantamos! Reparai que todo mundo corre a Ele!'" 
                                              Jo 12,17-19

    Esses religiosos já estavam desnorteados desde as primeiras notícias deste milagre, mas só se preocupavam com o pacto que tinham com Roma, que lhes garantia seus cargos:

    "Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram n'Ele. Alguns deles, porém, foram aos fariseus e contaram-lhes o que Jesus realizara. Os pontífices e os fariseus convocaram o Sinédrio e disseram:
    - Que faremos? Esse homem multiplica os milagres. Se O deixarmos assim proceder, todos crerão n'Ele, e os romanos virão e arruinarão nossa cidade e toda nação.'" 
                                              Jo 11,45-48

    É quando o líder religioso de então vai profetizar Sua Paixão pela redenção da humanidade e pela Unidade da Igreja:

    "Um deles, chamado Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes:
    - Vós nada entendeis! Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda nação.
    E ele não disse isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizava que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para que fossem reconduzidos à Unidade os dispersos filhos de Deus. E desde aquele momento resolveram tirar-Lhe a vida. Em consequência disso, Jesus já não andava em público entre os judeus. Retirou-Se para uma região vizinha ao deserto, a uma cidade chamada Efraim, e ali Se detinha com Seus discípulos." 
                                             Jo 11,49-54

    Ora, esse foi o pedido de Jesus em oração ao Pai, pouco antes de Sua Paixão: "Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Para que também eles estejam em Nós: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade..." Jo 17,21.23a
    E para tanto Ele derramou o distintivo sinal de Sua Glória sobre a Igreja: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um." Jo 17,22
    Enfim, em oposição à multidão que acolheu Jesus neste dia, segundo São Paulo, a multidão que através de Pilatos vai condená-Lo e libertar Barrabás só era composta de gente de Jerusalém. Aliás, tal rejeição havia sido profetizada pelo próprio Jesus, como vimos acima, quando chorou pela Cidade Santa (cf. Lc 19,41-42). Os peregrinos, pois, menos envolvidos e mais refratários à dominação estrangeira, nada viam nesse arremedo de caridade que era o 'indulto pascal' oferecido pelos romanos. O Apóstolo dos Gentios pregava: "Com efeito, os habitantes de Jerusalém e seus magistrados não conheceram Jesus, e, sentenciando-O, cumpriram os oráculos dos Profetas, que cada sábado são lidos." At 13,27
    E ainda assim, como São Mateus registrou, eles só tomaram essa decisão porque foram incitados pelos líderes religiosos: "Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo para que pedisse a libertação de Barrabás, e fizesse morrer Jesus." Mt 27,20

    "Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo! O Céu e a terra proclamam Vossa Glória. Hosana nas alturas! Bendito o que vem em Nome do Senhor! Hosana nas alturas!"