sábado, 30 de março de 2024

A Ressurreição da Carne


    Em Seu imenso amor por nós, o Pai Eterno não poderia deixar de oferecer-nos a própria eternidade. Referindo-Se à Sua condição humana, portanto mortal, Jesus disse: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E Eu sei que Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,49-50a
    Realmente falava de uma grandessíssima dádiva: a infusão do Santo Paráclito: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo aos que LhO pedirem." Lc 11,13
    Chegávamos à plenitude dos tempos, e assim ao cumprimento de mais uma etapa do projeto de Salvação: a reconciliação com Deus, profetizada através do Profeta Joel: "Depois disso, acontecerá que derramarei Meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões." Jl 3,1
    Isso se realizou com a Vinda do Cristo, que pouco antes de Sua Ascensão aos Céus disse à Nascente Igreja: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto." Lc 24,49
    Pois antes do dilúvio, diante da grande pecaminosidade que tomou a terra, Deus havia determinado: "Meu Espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será de cento e vinte anos." Gn 6,3b
    E São Paulo disse o que representa o Pentecostes, a definitiva Vinda do Santo Paráclito assegurada por Jesus: "Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a Vida e a Paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à Lei de Deus, e nem o pode. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se o Espírito de Deus realmente habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele. Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida aos vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,6-7.11
    Assim, além de explicitar Sua divindade, quando Se transfigurou Jesus deu um grande sinal do que aconteceria em Sua Ressurreição. Apresentava-Se, pela primeira vez, em corpo glorioso: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e à parte conduziu-os a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias, conversando com Ele." Mt 17,1-3
    O rosto de Moisés, após receber de Deus as Tábuas da Lei, também brilhava a ponto de ter que usar um véu. Mas era apenas seu rosto, como sinal da proximidade que ele tinha com Deus: "E tendo-o visto Aarão e todos israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele." Ex 34,30
    Esse corpo que pode apresentar-se brilhante como o sol, sem necessariamente ofuscar a vista, foi predito bem antes da Vinda de Jesus e aconteceria com Nossa Senhora, quando foi elevada ao Céu. Está lá no Cântico dos Cânticos: "Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha?" Ct 6,10
    De fato, a São João Evangelista, que cuidou de Nossa Mãe Celestial após a Paixão de Cristo, foi concedido ver sua Coroação no Céu, exatamente como havia sido profetizado: "Em seguida apareceu um grande sinal no Céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas." Ap 12,1
    E esse também é um suspiro de São Paulo, que vale para todos nós: "Nós, porém, somos cidadãos dos Céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante a Seu Corpo glorioso..." Fl 3,20-21


MULTIFORME, MATERIAL E IMATERIAL

    Logo ao ressuscitar, na manhã do primeiro dia, Jesus não Se apresentou de modo a ser reconhecido por Santa Maria Madalena: "... voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não O reconheceu." Jo 20,14
    E instantes depois, quando permitiu ser reconhecido, ela quis abraçá-Lo, mas Ele não o permitiu, certamente por alguma especial condição de Seu Corpo: "Disse-lhe Jesus: 'Não Me retenhas, porque ainda não subi a Meu Pai...'" Jo 20,17
    Sua simples reaparição sem feridas e hematomas já era um grande milagre, pois Seu Corpo foi impiedosamente massacrado durante a flagelação ordenada por Pilatos, pelas quedas na subida ao Calvário (teve que ser ajudado!) e pela brutalidade da morte na Cruz. Ao morrer, Sua aparência nem lembrava a de um ser humano, como Isaías profetizou Seus últimos momentos: "Assim como, à Sua vista, muitos ficaram embaraçados, tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana...” Is 52,14
    Dois de Seus discípulos, que caminhavam para Emaús no Domingo da Ressurreição, também não puderam reconhecê-Lo, pois ao menos inicialmente Ele assim não o quis. Aí Jesus demonstrou como eles eram frágeis na , e não guardavam Sua Palavra. Ele não avisou que ressuscitaria? "Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-Se deles e caminhava com eles. Mas seus olhos estavam-lhes como que vendados, e não O reconheceram." Lc 24,15-16
    Mas nem sempre assim Ele Se manifestava. Nesta mesma situação, aliás, apresentou-Se com Sua conhecida aparência, e exatamente durante o ritual do Santíssimo Sacramento, como pediu para ser celebrado, embora logo em seguida tenha demonstrado mais um poder de Sua Divindade: "Aproximaram-se da aldeia para onde iam e Ele fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-nO a parar: 'Fica conosco, já é tarde e o dia declina.' Então entrou com eles. Aconteceu que, estando conjuntamente sentados à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-lhO. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram... mas Ele desapareceu." Lc 24,28-31
    E no mesmo domingo, momentos depois, também apareceu fisicamente ao Colégio dos Apóstolos. E para tirar qualquer dúvida, disse-lhes: "Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho." Lc 24,39
    Chegou a comer diante deles: "Mas, ainda vacilando eles e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Então Lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,41,43
    E São Pedro atestava-o, como disse perante Cornélio e sua família pouco antes do 'Pentecostes dos Gentios': "Mas Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu que aparecesse, não a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que com Ele comemos e bebemos depois que ressuscitou." At 10,40-41
    Contudo, eram verdadeiramente aparições, pois 'atravessavam paredes' como São João Evangelista descreveu: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se em meio a eles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,19
    Na segunda aparição aos Apóstolos, não por acaso igualmente num domingo, Ele também Se apresentou de modo a ser imediatamente reconhecido: "Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se em meio a eles e disse: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,26
    E logo ofereceu Suas feridas para que São Tomé as tocasse: "Põe aqui teu dedo e olha Minhas mãos. Estende tua mão e coloca-a em Meu lado. E não sejas incrédulo, mas crê!" Jo 20,27
    Na terceira aparição ao Colégio dos Apóstolos, já na Galileia, de novo Ele apresentou-Se irreconhecível, mas só por um breve momento: "Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não O reconheceram. Perguntou-lhes Jesus: 'Amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?' 'Não', responderam-Lhe. Disse-lhes Ele: 'Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis.' Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes. Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: 'É o Senhor!' Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava nu, e lançou-se às águas." Jo 21,4-7
    E logo em seguida Ele comeu Pão e peixe diante eles. Tinha Seu próprio alimento, mas fez questão de comer do peixe que os Apóstolos haviam recém-pescado: "Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima delas, e Pão. Disse-lhes Jesus: 'Trazei aqui alguns dos peixes que agora apanhastes.' Depois de haverem comido..." Jo 21,9-10.15
    Eram todas essas aparições, porém, a realização de uma promessa do próprio Jesus, quando avisou aos Apóstolos de como se daria Sua Paixão: "Ainda um pouco de tempo, e já não Me vereis. Depois, mais um pouco de tempo, e tornareis a ver-Me, porque vou para junto do Pai." Jo 16,16
    Ele assegurou, como São Mateus registrou, que muitos veriam Sua Glória: "Em Verdade, declaro-vos: muitos destes que aqui estão não verão a morte, sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade de Seu Reino." Mt 16,28
     De fato, na aparição da Galileia São Paulo anotou um expressivo números de videntes: "Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos)." 1 Cor 15,6


A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

    Jesus, porém, não ressuscitou sozinho, mas com vários Santos: "Os sepulcros abriram-se e muitos corpos de Santos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da Ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas." Mt 27,53
    Isso também não deveria ser surpresa, pois o próprio Jesus havia dito: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Pois como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim também deu ao Filho ter a Vida em Si mesmo... Não fiqueis admirados com isso, pois vem a hora em que todos que estão nos túmulos ouvirão Sua voz e sairão." Jo 5,25-26.28
    E disse como Suas ovelhas livremente disporão dos Céus: "EU SOU a Porta! Se alguém entrar por Mim, será salvo. Tanto entrará como sairá, e encontrará pastagem." Jo 10,9
    São Pedro, com efeito, mais tarde iria atestar Sua descida à mansão dos mortos, embora também tenha registrado que nem todos participariam da 'primeira ressurreição', que só cabe aos Santos. Ou seja, as penas do Purgatório haverão de ser cumpridas: "Pois para isto foi o Evangelho pregado também aos mortos. Para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam segundo Deus quanto ao espírito." 1 Pd 4,6
    Como anunciava a Ressurreição da Carne, Jesus, em debate com saduceus, teve que dar explicações desta doutrina que havia alguns séculos fora revelada e já estava sendo corretamente observada e propagada: "Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento, mas os que serão julgados dignos do futuro século e da Ressurreição dos mortos não terão mulher nem marido. Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, porque são ressuscitados. Por outra parte, que os mortos hão de ressuscitar é o que Moisés revelou na passagem da ardente sarça (Ex 3,6), chamando ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele todos vivem." Lc 20,34-38
    São Paulo, com efeito, explicou: "Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão." 1 Cor 15,22
    E lamentou por aqueles cuja esperança só está voltada para coisas materiais: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
    Pois sabemos que todos vão ressuscitar, é fato, mas nem todos terão o mesmo destino. Jesus afirmou: "Aqueles que praticaram o bem irão para a Ressurreição da Vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados." Jo 5,29
    Por isso, nestes termos alertava para o castigo maior, que também será aplicado ao corpo: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena." Mt 10,28
    De fato, Deus havia feito essa promessa através do Profeta Ezequiel: "Eis o que diz o Senhor Javé: 'Ó Meu povo, vou abrir vossos túmulos. Eu fá-vos-ei sair deles... Então sabereis que Eu é que sou o Senhor, ó Meu povo... quando Eu pôr em vós Meu Espírito para fazer-vos voltar à vida...'" Ez 37,12a.13a.14a
    Também através de Daniel: "Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns para uma Vida Eterna, outros para a ignomínia, a eterna infâmia. Aqueles que tiverem sido inteligentes fulgirão como o brilho do firmamento, e aqueles que a muitos tiverem introduzido nos caminhos da justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor." Dn 12,2-3
    Ora, Ezequiel foi arrebatado e testemunhou a grandiosa visão do Vale dos Ossos Secos: "Profetizei, pois, assim como tinha recebido ordem. No momento em que comecei, um barulho fez-se ouvir e, em seguida, um ensurdecedor ruído enquanto os ossos vinham unir-se aos outros. Prestando atenção, vi que músculos se formavam sobre eles, que carne neles nascia e que uma pele os recobria. Todavia, não tinham espírito. 'Profetiza ao Espírito!', disse-me o Senhor. 'Profetiza, Filho do Homem, e dirige-te ao Espírito.' Eis o que diz o Senhor Javé: 'Vem, Espírito, dos quatro cantos do Céu, sopra sobre esses mortos para que revivam.' Proferi o Oráculo que Ele me havia ditado, e daí a pouco o Espírito penetrou neles. Retornando à vida, eles levantaram-se sobre seus pés: um grande, um imenso exército." Ez 37,7-10
    E os testemunhos de Judas Macabeu também sustentam: "Mas o Criador do mundo, que formou o homem em sua origem e a todas coisas deu existência, restituí-vos-á, em Sua Misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora fizerdes pouco-caso de vós mesmos por amor às Suas leis." 2 Mc 7,23
    São Paulo não tem dúvida: "Com os mensageiros de Seu poder, Ele descerá do Céu por entre chamas de fogo para fazer justiça àqueles que não reconhecem a Deus e aos que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. Como castigo, eles sofrerão a eterna perdição, longe da face do Senhor e de Sua Suprema Glória. Naquele Dia, Ele virá e será a Glória de Seus Santos e a admiração de todos fiéis, e também vossa, porque crestes no testemunho que vos demos." 2 Ts 1,7b-10
    Foi, pois, por amor a Lázaro e para dar outro sinal da Ressurreição que Jesus lhe devolveu a vida. Não era, entretanto, a definitiva Ressurreição, que confere ao ressuscitado um incorruptível e glorioso corpo. Sem dúvida, anos mais tarde São Lázaro 'tornaria' a morrer. Sua ressurreição foi só uma prova de nossa vocação para a eternidade, assim como os demais a quem Jesus e os Apóstolos ressuscitaram. Tais sinais confirmam a Palavra e o poder de Jesus, pois num dos momentos em que Se revelou como Deus, Ele disse a Santa Marta: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá." Jo 11,25
    Ele disse-o ainda de mais explícito modo, garantindo que Ele mesmo, e não Deus Pai, ressuscitaria quem n'Ele cresse: "Esta é a vontade de Meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e n'Ele crê, tenha a Vida Eterna. E Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,40
    E deixou claro que tal Graça se daria pelo poder do Santíssimo Sacramento: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna. E Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,54
    Por esse Sacramento, portanto, temos o início da eternidade: "Assim como vive o Pai que Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
    Aliás, Ele disse sobre Sua própria Ressurreição: "... dou Minha Vida para retomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas dou-a de Mim mesmo porque tenho o poder para dá-la como tenho o poder para reassumi-la." Jo 10,18
    E através dela garantiu a Comunhão dos Santos, iniciada com aos Apóstolos: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20


O CORPO GLORIOSO

    São Paulo, fabricante de tendas por profissão, chamava de 'tenda' a carne em que vivemos: "Pois enquanto permanecemos nesta 'tenda', gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos com uma nova veste por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela Vida." 2 Cor 5,4
    E fez esta explanação aos coríntios, falando da transformação daqueles que estiverem vivos ao tempo da Definitiva Vinda de Cristo: "Assim também é a Ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso; semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo animal, também há um espiritual. Como está escrito: 'O primeiro homem, Adão, foi feito vivente alma (Gn 2,7).' O Segundo Adão é Vivificante Espírito. Mas não é o espiritual que vem primeiro, e sim o animal. O espiritual vem depois. O primeiro homem, tirado da terra, é terreno, o Segundo veio do Céu. Qual o homem terreno, tais os homens terrenos, e qual o Homem Celestial, tais os homens celestiais. Assim como reproduzimos em nós as feições do homem terreno, precisamos reproduzir as feições do Homem Celestial. O que afirmo, irmãos, é que nem a carne nem o sangue podem participar do Reino de Deus, e que a corrupção não participará da incorruptibilidade. Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta, porque a trombeta soará. Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. É necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista de imortalidade. Quando este corpo corruptível estiver revestido de incorruptibilidade, e quando este corpo mortal estiver revestido de imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: 'A morte foi tragada pela Vitória' (Is 25,8). 'Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão (Os 13,14)?'" 1 Cor 15,42-55
    Verdadeiramente inspirado, também deu detalhes das últimas horas do fim dos tempos: "Eis o que vos declaramos, conforme a Palavra do Senhor: por ocasião da Vinda do Senhor, nós que estivermos ainda vivos não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do Céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós, os vivos, os que ainda estamos na terra, seremos arrebatados juntamente a eles sobre nuvens ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor." 1 Ts 4,15-17
    E o próprio Jesus avisou que nem laços conjugais nem laços de trabalho evitarão o Juízo: "Eu digo-vos: naquela noite, dois estarão na mesma cama, um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas moendo farinha, uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo, um será levado e o outro será deixado." Lc 17,34-35
    São Paulo, porém, teve que deixar claro que nada era para já: "No que diz respeito à Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com Ele, rogamo-vos, irmãos, não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e vos alarmar, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós, e que vos afirmassem estar iminente o Dia do Senhor." 2 Ts 2,1-2
    E São Pedro explica: "O Senhor não tarda a cumprir Sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que Ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se. Considerai como a paciência do Senhor vos é salutar." 2 Pd 3,9.15a
    São João Evangelista, pelas revelações que teve, também deu detalhes da nova condição da carne ressuscitada: "Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum abrasá-los-á, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será Seu Pastor e levá-los-á às fontes das Águas Vivas..." Ap 7,15b-16a
    E indicou que, por pessoal consolação de Deus, aí não haverá sofrimento algum: "Ele (Deus) enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição." Ap 21,4
    Com efeito, mesmo aqui na Terra, corpos de muitos Santos ainda não se decompuseram. O corpo de Santa Luzia já tem 1700 anos e ainda pode ser visto, não se corrompeu por completo. São sinais que Deus nos dá da futura e definitiva Ressurreição da carne.


RESSURREIÇÃO DE CRISTO: ESSÊNCIA DA DOUTRINA

    Segundo São Paulo, conhecer o Mistério de Cristo é conhecer o poder que há em Sua Ressurreição, e este é obtido oferecendo-se com Ele em sacrifício: "Anseio pelo conhecimento, de Cristo e do poder de Sua Ressurreição, pela participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos." Fl 3,10-11
    Os seguidores de sua tradição afirmam: "Foi por sua que Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac, seu único filho, depois de ter recebido a promessa e ouvido as palavras: 'Uma posteridade com teu nome sê-te-á dada em Isaac (Gn 21,12).' Estava ciente de que Deus é poderoso até para ressuscitar alguém dentre os mortos. Assim ele conseguiu que seu filho lhe fosse devolvido, e isso é um ensinamento para nós!" Hb 11,17-19
    E evocando já tantos testemunhos, eles exortam à perseverança em Cristo: "Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das correntes do pecado. Com perseverança corramos ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé, Jesus. Em vez de gozo que se Lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus." Hb 12,1-2
    São Pedro também diz que a Ressurreição de Cristo é a fonte de nossa esperança, o impulso da Nova Vida: "Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo! Em Sua grande Misericórdia, Ele fez-nos renascer pela Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma viva esperança..." 1 Pd 1,3
    Testemunhar Sua Ressurreição, de fato, era o tema central das primeiras pregações dos Apóstolos. Só depois se divulgaram Seus Ensinamentos e, ainda mais tarde, detalhes de Sua História. Mas, por demais marcante e absolutamente reveladora, era Sua Ressurreição que no início eles anunciavam, como foi exigido de São Matias, que substituiu Judas Iscariotes. Disse São Pedro em reunião com os Dez, ainda antes do Pentecostes: "Convém que destes homens que em nossa companhia têm estado todo tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do Batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles se torne conosco testemunha de Sua Ressurreição." Ap 1,21-22
    E foi o que eles fizeram com ardor: "Com grande coragem, os Apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a Graça." At 4,33
    São Paulo também menciona a Ressurreição como o feito central do Ministério de Jesus: "Dou testemunho a pequenos e a grandes, nada dizendo senão o que os Profetas e Moisés disseram que havia de acontecer, a saber: que Cristo havia de padecer e seria o primeiro que, pela ressurreição dos mortos, havia de anunciar a Luz ao povo judeu e aos pagãos." At 26,22b-23
    Foi o que ele pregou em Atenas: "Alguns filósofos epicureus e estoicos conversaram com ele. Diziam uns: 'Que quer dizer esse tagarela?' Outros: 'Parece que é pregador de novos deuses.' Pois lhes anunciava Jesus e a Ressurreição. Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e perguntaram-lhe: 'Podemos saber que nova doutrina é essa que pregas?'" At 17,18-19
    E ele assim ensinou: "Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, agora convida a todos homens de todos lugares a arrependerem-se. Porquanto fixou o dia em que com justiça há de julgar o mundo, pelo ministério de um Homem que para isso destinou. Como garantia disso, deu a todos o fato de tê-Lo ressuscitado dentre os mortos." At 17,30-31
    Também argumentou com os coríntios, em respostas aos que renegavam a ressurreição: "Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã nossa pregação, e também é vã vossa fé. Pois se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou." 1 Cor 15,12-14.16
    Para envolver em sua defesa os fariseus, que concordavam com essa doutrina, ele usou deste argumento perante o Sinédrio, quando foi preso: "Por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos é que sou julgado." At 23,6
    Ele vai evocar esta Tradição mais uma vez diante Félix, procurador da Judeia, diante de quem foi levado sob custódia, testemunhando que haverá ressurreição, seja para a Vida Eterna, seja para os castigos do inferno, como também acreditavam os fariseus: "Tenho esperança em Deus, como também eles esperam, de que há de haver a ressurreição dos justos e dos pecadores." At 24,15
    E São João Evangelista, no livro do Apocalipse, assim avisa da Volta de Jesus: "Ei-Lo que vem com as nuvens. Todos olhos vê-Lo-ão, mesmo aqueles que O traspassaram." Ap 1,7a
    A ressurreição, portanto, é basilar capítulo do Catolicismo, como o Credo diz e os seguidores de São Paulo ensinam: "Pelo que, transpondo os elementares ensinamentos da Doutrina de Cristo, procuremos alcançar-lhe a plenitude. Não queremos agora insistir nas fundamentais noções da conversão, da renúncia ao pecado, da fé em Deus, a doutrina dos vários batismos, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do Eterno Julgamento." Hb 6,1-2
    Aliás, nosso Batismo consiste numa súplica a Deus, para que Ele nos mantenha vigilantes e no correto Caminho em nome da Ressurreição de Seu Filho: "Esta água prefigurava o Batismo de agora, que também salva a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma boa consciência, pela Ressurreição de Jesus Cristo." 1 Pd 3,21
    Porque Sua Ressurreição é a grande força do Evangelho. Foi por ela que Deus O consagrou, como prega o Apóstolo dos Gentios: "... em poder foi estabelecido Filho de Deus por Sua Ressurreição dos mortos..." Rm 1,4
    Ora, a Ressurreição de Jesus já havia sido profetizada por Davi nos Salmos, como São Pedro explicou: "É, portanto, a Ressurreição de Cristo que ele previu e anunciou por estas palavras: 'Ele não foi abandonado na região dos mortos, e Sua Carne não conheceu a corrupção (Sl 15,10).'" At 2,31
    Falando através de Davi, era o próprio Jesus que rezava a Deus: "Por isso, Meu Coração alegra-se e Minha alma exulta. Até Meu Corpo descansará seguro, porque Vós não abandonareis Minha alma na habitação dos mortos nem permitireis que Vosso Santo conheça a corrupção." Sl 15,9-10
    Essa é a Glória do 'Filho de Maria': "Senhor, Eu sou Vosso Servo. Vosso Servo, Filho de Vossa Serva. Quebrastes Meus grilhões." Sl 115,7
    Através do salmista, portanto, já era proclamada essa certeza: "Na presença do Senhor continuarei Meu caminho, na terra dos vivos." Sl 114,8
    A partir da ressurreição, como vimos Jesus afirmar, os seres humanos havidos por filhos de Deus alcançarão essa angelical condição: "Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos, mas serão como os anjos de Deus no Céu." Mt 22,30
    É lá que nosso amor a Deus, e por consequência aos nossos semelhantes, será recompensado. Jesus disse sobre a caridade que se faz aos mais necessitados: "Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na Ressurreição dos justos." Lc 14,14
    Os Santos, por sinal, para si asseguram a Vida Eterna já durante a passagem terrena, sem que suas almas passem pelo Purgatório. Aqui mesmo eles alcançam a perfeita Comunhão com Deus, e após um glorioso Juízo Particular, o Juízo Final não os assusta, pois já estão reinando com Cristo: "Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo: com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,6
    O livro da Sabedoria já dizia: "Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento tocá-los-á. Aparentemente estão mortos, aos olhos dos insensatos. Seu desenlace é julgado como uma desgraça e sua morte, como uma destruição, quando na verdade estão na Paz! Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, e, por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, os achou dignos de Si. Ele provou-os como ouro na fornalha, e acolheu-os como holocausto." Sb 3,1-6
    Contudo, na parábola de Lázaro e o Rico, Jesus afirmou, atestando a descrença já de então, que nem mesmo Sua Ressurreição levaria todos à fé: "Se não ouvirem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lc 16,31b

    "Anunciamos, Senhor, Vossa Morte e proclamamos Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!"