domingo, 10 de março de 2024

A Comunhão


A UNIDADE EM CRISTO

    O quarto Domingo da Quaresma ficou conhecido como o Domingo 'Laetare', que em latim significa 'alegra-te', nome dado por causa do secular hino e muito usado nessa data, versando sobre a alegria de poder participar da Comunhão Eucarística, isto é, do Sacramento da Eucaristia. De fato, nesta vida não há maior alegria que se sentar à mesa com Jesus e comer do Pão da Vida Eterna. No livro do Apocalipse, São João Evangelista ouviu uma voz que lhe mandava escrever: "Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro." Ap 19,9b
    Na oração que fez ao Pai pela Unidade da Igreja, quer dizer, pela Comunhão Espiritual entre os membros da Igreja e Deus, ou ainda, pela Comunhão dos valores da Revelação entre nós, Jesus pede os auxílios do Pai para que os Apóstolos e os fiéis permaneçam em perfeita União, com Ele e entre si. Primeiro Ele pediu por nós, ou seja, por todos aqueles que seguiriam os ensinamentos dos Apóstolos: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que pela palavra deles hão de crer em Mim." Jo 17,20
    E então pediu por essa Comunhão Espiritual entre todos, sejam Sacerdotes ou fiéis, que Lhe seguem através da Sua Igreja, fundada sobre a pessoa de São Pedro: "Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste." Jo 17,21
    Revelando-Se Deus, Ele afirmou que essa Unidade é imprescindível à efetiva vida espiritual: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto..." Jo 15,5a
    Ele sentenciou: "... porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5b
    Por isso, revelou-Se essencial à humanidade: "Porque se não crerdes que EU SOU, morrereis em vosso pecado." Jo 8,24b
    Pouco antes de ser crucificado, Ele afirmou sobre Sua Ressurreição, dizendo da Comunhão dos Santos: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    E falou do amor à Revelação: "Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á, e Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada." Jo 14,23a
    Garantiu que sempre que estivermos reunidos, e realmente em Seu Nome, teremos Sua presença: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu em meio a eles." Mt 18,20
    Porque onde a Sã Doutrina for respeitada em sua integridade, aí está a Verdadeira Igreja, aí está Jesus, que disse: "Ensinai-as (as nações) a observar tudo que vos prescrevi. Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20
    Por fim, sabendo que o mundo só acreditaria na Manifestação do Cristo se enxergasse uma verdadeira união entre os cristãos, Jesus partilhou Sua Glória com os Apóstolos, que é a marca da Igreja. Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    Por isso, Ele pediu aos Apóstolos por este símbolo maior de Sua Igreja: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    Deixou claro, pois, o parâmetro desse amor: Seu amor por nós: "Dou-vos um novo Mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros." Jo 13,34
    Ele pedia perseverança e prometia a verdadeira alegria: "Como o Pai Me ama, assim também Eu vos amo. Perseverai em Meu amor. Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei os mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor. Disse-vos essas coisas para que Minha alegria esteja em vós, e vossa alegria seja completa." Jo 15,9-11
    E explicitou: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13
    Por isso, o Amado Discípulo prescreve a verdadeira conversão: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua Vida por nós. Nós também devemos dar nossa vida pelos nossos irmãos." 1 Jo 3,16


O PÃO DO CÉU

    Jesus já havia falado sobre o Pão do Céu, essencial para a Comunhão Espiritual. Ele ofereceria Seu Corpo em sacrifício por amor à humanidade, para a Redenção de nossos pecados e para que Se tornasse o alimento da Vida Eterna. Portanto, o Corpo de Cristo, isto é, a Comunhão Eucarística, é o verdadeiro maná oferecido pelo Pai: "Então lhes disse Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos. Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia. Pois Minha Carne é verdadeiramente comida e Meu Sangue, verdadeiramente bebida. Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele. Este é o Pão que desceu do Céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste Pão viverá eternamente.'" Jo 6,53-56.58
    Realmente falava de outra Vida: "Assim como vive o Pai que Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
    O Rito Eucarístico, pois, tornou-se prática entre os Apóstolos e os fiéis desde os primeiríssimos dias da Igreja, como vemos logo após o Pentecostes: "Eles eram perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na fraterna Comunhão, na fração do Pão e nas orações." At 2,42
    E desde sempre reverenciando o dia da Ressurreição de Jesus, ele era celebrado no Domingo, como vemos da prática de São Paulo: "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou a palestra até a meia-noite." At 20,7
    Este Apóstolo ensina que no Sacrifício oferecido por Jesus, mistério ao qual somos chamados a participar, está a prova da fidelidade de Deus, que nos oferece a Vida Eterna: "Fiel é Deus, por Quem fostes chamados à Comunhão em Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor." 1 Cor 1,9
    Ferrenho defensor da Unidade, ele diz que a Igreja, ao participar do Rito Eucarístico, entra em perfeita Comunhão com Cristo, quer dizer, vive em verdadeira Unidade com Ele e torna-se um só Corpo: "O Cálice de bênção, que benzemos, não é a Comunhão do Sangue de Cristo? E o Pão, que partimos, não é a Comunhão do Corpo de Cristo? E como há um único Pão, nós, embora muitos, somos um só Corpo, pois todos participamos desse único Pão." 1 Cor 10,16-17
    Mas alerta que nem todos ritos religiosos, que dizem oferecer a Comunhão, devidamente respeitam o Sacrifício de Cristo. E proibia quem os frequentasse de participar do verdadeiro altar do Senhor: "Digo o contrário: é aos demônios e não a Deus que os pagãos oferecem sacrifícios. Não quero que entreis em comunhão com os demônios. Não podeis beber do Cálice do Senhor e do cálice dos demônios. Não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios." 1 Cor 10,20-21
    Ele bem sabia que nem todo pão honra a Igreja de Jesus: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos a festa, pois, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
    Com veemência pedia que usássemos de discernimento, porque respeitar é diferente de participar: "Não vos atreleis ao mesmo jugo que os infiéis! Pois que afinidade poderia existir entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão entre a Luz e as trevas?" 2 Cor 6,14
    E alerta quem está em pecado, e da necessária Confissão antes de comungar: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    Mencionando a Graça Sacramental, enfim, pedia o devido respeito a todos Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores de Deus, exortamo-vos a que não recebais Sua Graça em vão." 2 Cor 6,1


A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO

    E como São João Evangelista bem disse, só o Espírito de Deus, que conduz a Igreja, pode levar-nos à verdadeira Comunhão: "Quem observa Seus Mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele. E que Ele permanece em nós, sabemos pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    Mas o Espírito de Deus, afirma Jesus, não pode ser recebido por qualquer pessoa. Ele foi exclusivamente derramado sobre a Igreja: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
    São Pedro disse a quem Deus O concede: "Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    Ora, falando dessa Comunhão, São Paulo concebeu esta belíssima frase que é usada no início da Santa Missa: "Que a Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    Ele reclamou dos coríntios: "Nós somos cooperadores de Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Não sabeis que sois o Templo de Deus, e que o Espírito de Deus em vós habita?" 1 cor 3,9.16
    Afirmou: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    E escrevendo aos filipenses, ele exalta a unidade entre os cristãos e agradece a Deus em suas orações: "... por causa de vossa Comunhão no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora." Fl 1,5
    Em nome da Comunhão no Espírito Santo, carinhosamente pedia a todos que mantivessem essa indefectível união: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma Comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a unidade." Fl 2,1

POR CRISTO, PARA O BEM DA IGREJA

    Ora, São Paulo tinha-se despojado de tudo para buscar a total Comunhão com Cristo: "E assim quero conhecer a Cristo, o poder de Sua Ressurreição e a Comunhão em Seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a Ele em Sua Morte..." Fl 3,10
    E explicou o sentido da Santa Missa, onde revivemos e atualizamos a Paixão de Nosso Senhor: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual!" Rm 12,1
    Ele afirma que comungar é capacitar-se para ser instrumento do Sumo Bem, como escreveu a Filêmon: "Que tua Comunhão na seja eficaz, fazendo-te conhecer todo bem que somos capazes de realizar para Cristo." Fm 1,6
    No mesmo sentido, São João Evangelista diz que o anúncio do Evangelho tem como evidente finalidade a Comunhão, com Deus e com os irmãos na Igreja: "O que vimos e ouvimos, isso agora vos anunciamos para que estejais em Comunhão conosco. Nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,3
    Pede amor ao Verdadeiro Evangelho: "Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se permanecer em vós o que ouvistes desde o princípio, também permanecereis vós no Filho e no Pai." 1 Jo 2,24
    Lembrando o purificador poder do Sangue de Cristo, ele também pediu discernimento aos que participam da Santa Ceia: "Se dizemos que estamos em Comunhão com Deus, e no entanto andamos em trevas, somos mentirosos e não praticamos a Verdade. Mas se caminhamos na Luz, como Ele está na Luz, então estamos em Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,6-7
    E os Apóstolos, mesmo diante de ocasionais divergências, buscaram viver a perfeita Comunhão. É o que São Paulo atesta: "Por isso, Tiago, Pedro e João, considerados como colunas, reconheceram a Graça que me fora concedida, e a mim e a Barnabé estenderam a mão em sinal de Comunhão. Assim ficou confirmado que nós trabalharíamos com os não judeus, e eles com os judeus." Gl 2,9
    Por isso, ele vai reclamar dos coríntios: "Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo Espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: 'Eu sou discípulo de Paulo'; 'eu, de Apolo'; 'eu, de Cefas'; 'eu, de Cristo'. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?" 1 Cor 1,10-13


     Há mais um importantíssimo capítulo sobre esse tema, chamado a Comunhão dos Santos. Para que tenhamos uma ideia do que significa, Jesus rezou ao Pai para que Sua Unidade com os Seus, quer estejam nos Céus ou na terra, jamais fosse interrompida: "Pai, aqueles que Tu Me deste, quero que eles estejam Comigo, onde Eu estiver, para que eles contemplem a Glória que Me deste, pois Me amaste antes da criação do mundo." Jo 17,24
    São Paulo também mencionou essa família que se encontra 'no Céu e na terra': "Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao Qual deve sua existência toda família no Céu e na terra..." Ef 3,14-15
    E completou: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que todo edifício se levanta, harmonicamente disposto, até formar um santo Templo no Senhor. É n'Ele que vós conjuntamente também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,19-22
    Na Carta aos Filipenses, referindo-se agora à razão dessa Comunhão, outra vez ele diz: "Nós, porém, somos cidadãos dos Céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao Seu Corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a Si toda criatura." Fl 3,20-21
    E no livro do Apocalipse, São João Evangelista teve uma visão das almas dos Santos no Céu, enquanto intercediam a Deus, quando lhes foi informado que outras almas ainda deveriam dar seus testemunhos: "Quando abriu o quinto selo, debaixo do altar vi as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: 'Até quando Tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar nosso sangue contra os habitantes da terra?' Então foi dada a cada um deles uma branca veste, e foi-lhes dito que ainda aguardassem um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que como eles estavam para ser mortos." Ap 6,9-11
    Mas também viu o sucesso da oração de Jesus ao Pai, apontando que os Santos já reinam sobre este mundo. Os anjos cantaram-Lhe: "Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado, e com Teu Sangue adquiriste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para Nosso Deus um Reino de Sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra." Ap 5,9-10


A INSTITUIÇÃO DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO POR JESUS

    Por isso, temos como a maior das alegrias a Comunhão com Cristo. Ele mesmo instituiu-a e pediu que a celebrássemos. São Lucas assim narrou:

    "Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa, e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes:
    - Muito tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer. Pois, digo-vos: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus.
    Pegando o cálice, deu graças e disse:
    - Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois, digo-vos: já não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus.
    Em seguida, tomou o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 
    - Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.
    Do mesmo modo tomou o cálice, depois de cear, dizendo:
    - Este Cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue, que é derramado por vós..." 
                                               Lc 22,14-20

    "Em comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"